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magnífico, que é uma expressão da ogiva e, embaixo, uma<br />
porta ogival profunda. Em cima há algo parecido com<br />
aquela diminuição da Torre de Belém e, depois, também<br />
um terraço como no alto daquela torre. Essas guaritas no<br />
canto lembram igualmente a Torre de Belém. Não creio<br />
que isso tenha sido inspirado nela, mas são afinidades de<br />
estilo, muito compreensíveis entre Espanha e Portugal.<br />
A meu ver, o bonito dessa porta é que ela tem qualquer<br />
coisa de monumental. As torres têm uma altivez, levantam-se<br />
do chão com muita decisão e galhardia. Temos<br />
a impressão de que elas seguram o chão como se<br />
fossem garras, e sobem ao céu com uma segurança, uma<br />
inteira despreocupação do perigo de cair, e que sustentam<br />
o peso em cima com uma completa facilidade. Mais<br />
ainda, tenho a impressão de que elas olham do alto de<br />
si mesmas para a terra e para os pobres transeuntes, de<br />
cima para baixo, numa atitude de desafio, quase como<br />
quem diz: “Se ousas, experimenta. Só pela minha fisionomia,<br />
te afugento. É assim que eu sinto a terra.”<br />
Modos inocentes de aproveitar a vida<br />
Notem como esses arcos, que são arrimos das torres,<br />
foram transformados em verdadeiros ornatos pelos arquitetos<br />
muito artísticos do tempo.<br />
Há qualquer coisa de porta de fortaleza nesse magnífico<br />
portal. É uma característica muito sensível para<br />
mim, agrada-me muito essa fusão. Uma fortaleza meio<br />
eclesiástica e uma igreja meio fortaleza realizam a síntese<br />
de que eu gosto, isto é, os mais altos valores do espírito<br />
defendidos pela força e postos dentro da luta, com a<br />
entrega do homem e o risco da vida.<br />
É, por exemplo, a guerra religiosa, a guerra das almas e<br />
dos corpos, com uma integridade que constitui sua beleza.<br />
Um minúsculo pormenor característico da Península Ibérica<br />
é a palmeirinha, tão presente no Sul da Itália, da Espanha,<br />
de Portugal, mais rara no restante da Europa, frequente<br />
no litoral da África do Norte, tão comum no Brasil.<br />
Outra coisa também minúscula, mas que compõe o<br />
ambiente e o panorama: esse chafariz que provavelmente<br />
servia para os cavalos beberem água.<br />
Termino com um pequeno comentário a respeito das<br />
árvores. Em Granada se vê muito isso: no interior do<br />
Alhambra, aquelas partes muito bonitas, com os chafarizes<br />
cantando. Mais ainda: da fonte vêm sulcos para dentro<br />
dos quartos, com regozinhos que fazem com que a<br />
água brinque e corra em pequenos sulcos dentro do próprio<br />
quarto. Para um lugar quente, que maravilha! Esses<br />
são modos inocentes de aproveitar a vida, que tiram a mania<br />
e a obsessão de impureza. Por causa disso a Revolução<br />
combate o quanto pode para fazer com que a vida virtuosa<br />
seja sem graça. Contra isso, devemos nos levantar. ❖<br />
(Extraído de conferência de 15/1/1977)<br />
Smiley.toerist (CC3.0)<br />
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