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Carlos L M C da Cruz (CC3.0)<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
O resto, simplicíssimo. Uma simples janela, como costumam<br />
ter as guaritas, cuja pobreza, nudez e singeleza<br />
lembram a primeira e última janelas acima comentadas.<br />
Considerem as ameias da torre. É um alto terraço circular<br />
destinado, evidentemente, a verificar o que dia e<br />
noite se passa ao redor. A torre é concebida para se defender<br />
ela mesma contra um ataque do adversário. Mostrarei,<br />
em breve, os aspectos militares da torre.<br />
No que seria o parapeito, a torre tem uma série de<br />
brasões das casas fidalgas ilustres de Portugal. Cada<br />
uma dessas pontas é um brasão, lembrando as glórias<br />
das casas aristocráticas portuguesas. Uma porta dá<br />
acesso para um salão interno, onde os guardas descansavam<br />
e tomavam refeição.<br />
É muito bonita a altaneria e dignidade dessas várias<br />
divisas lembrando as glórias de Portugal. Assim, ao invés<br />
dos muros “dentados”, como costumam ser as edificações<br />
deste tipo da Idade Média, os “dentes” são representados<br />
por esses emblemas. Reparem como eles têm<br />
uma dignidade, um peso, um tamanho e uma força extraordinários.<br />
No intervalo entre um brasão e outro, o<br />
soldado atirava setas e, mais raramente, projéteis de armas<br />
de fogo primitivas que, na época em que a torre foi<br />
construída, apenas começavam a ser usadas. Feito o disparo,<br />
os combatentes se escondiam atrás dos brasões de<br />
pedra, de maneira a não serem facilmente apanhados.<br />
Vemos, assim, como a beleza artística coincide com a<br />
utilidade militar. O fato mesmo de haver tão poucas janelas<br />
é para defesa, limitando a entrada na torre. Por isso<br />
também a janela de baixo é muito simples e não tem<br />
terraço, para ninguém se pendurar e ficar atacando para<br />
dentro. Ademais, é janela com grade. Tudo com a preocupação<br />
de fazer da torre um uso militar.<br />
O unum se perde no céu<br />
No centro da torre ergue-se um torreão menor do que<br />
ela a fim de dar espaço para a ronda. Há, portanto, duas<br />
rondas: uma no alto, e outra embaixo. Há nisso uma razão<br />
militar muito boa, pois amplia muito o campo de visão<br />
e a possibilidade do acerto nos disparos.<br />
Mas além da razão militar existe uma vantagem estética.<br />
A torre assim como está impressiona muito, mas<br />
deixa na vista uma ilusão que resolve o seguinte problema:<br />
vemos a parte mais larga da torre e, acima dela, a<br />
mais estreita. Entretanto, em cima não existe um unum.<br />
Ora, tudo nesse monumento pede que haja um unum; essas<br />
guaritas pedem um unum. Onde ele está?<br />
A ideia é que o unum se perde no céu. É um unum meio<br />
imaginário, como seria e do cone do Fuji-Yama. Essa ideia<br />
é insinuada pela diferença da largura entre as duas partes<br />
da torre. A parte menor cria na imaginação, subconscientemente,<br />
a ilusão de outras menores que se sucedem, perdendo-se<br />
no céu, o que tem, portanto, uma grande beleza.<br />
Se considerarmos esse terraço na base da torre, que<br />
é a primeira linha da defesa dessa fortificação, percebemos<br />
mais uma vez os escudos e as guaritas repetindo o<br />
elemento ornamental de cima. Embaixo vemos janelas<br />
gradeadas, que dão para o calabouço, pois no porão da<br />
torre existiam prisões.<br />
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