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Revista Dr Plinio 240

Março de 2018

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Carlos L M C da Cruz (CC3.0)<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

O resto, simplicíssimo. Uma simples janela, como costumam<br />

ter as guaritas, cuja pobreza, nudez e singeleza<br />

lembram a primeira e última janelas acima comentadas.<br />

Considerem as ameias da torre. É um alto terraço circular<br />

destinado, evidentemente, a verificar o que dia e<br />

noite se passa ao redor. A torre é concebida para se defender<br />

ela mesma contra um ataque do adversário. Mostrarei,<br />

em breve, os aspectos militares da torre.<br />

No que seria o parapeito, a torre tem uma série de<br />

brasões das casas fidalgas ilustres de Portugal. Cada<br />

uma dessas pontas é um brasão, lembrando as glórias<br />

das casas aristocráticas portuguesas. Uma porta dá<br />

acesso para um salão interno, onde os guardas descansavam<br />

e tomavam refeição.<br />

É muito bonita a altaneria e dignidade dessas várias<br />

divisas lembrando as glórias de Portugal. Assim, ao invés<br />

dos muros “dentados”, como costumam ser as edificações<br />

deste tipo da Idade Média, os “dentes” são representados<br />

por esses emblemas. Reparem como eles têm<br />

uma dignidade, um peso, um tamanho e uma força extraordinários.<br />

No intervalo entre um brasão e outro, o<br />

soldado atirava setas e, mais raramente, projéteis de armas<br />

de fogo primitivas que, na época em que a torre foi<br />

construída, apenas começavam a ser usadas. Feito o disparo,<br />

os combatentes se escondiam atrás dos brasões de<br />

pedra, de maneira a não serem facilmente apanhados.<br />

Vemos, assim, como a beleza artística coincide com a<br />

utilidade militar. O fato mesmo de haver tão poucas janelas<br />

é para defesa, limitando a entrada na torre. Por isso<br />

também a janela de baixo é muito simples e não tem<br />

terraço, para ninguém se pendurar e ficar atacando para<br />

dentro. Ademais, é janela com grade. Tudo com a preocupação<br />

de fazer da torre um uso militar.<br />

O unum se perde no céu<br />

No centro da torre ergue-se um torreão menor do que<br />

ela a fim de dar espaço para a ronda. Há, portanto, duas<br />

rondas: uma no alto, e outra embaixo. Há nisso uma razão<br />

militar muito boa, pois amplia muito o campo de visão<br />

e a possibilidade do acerto nos disparos.<br />

Mas além da razão militar existe uma vantagem estética.<br />

A torre assim como está impressiona muito, mas<br />

deixa na vista uma ilusão que resolve o seguinte problema:<br />

vemos a parte mais larga da torre e, acima dela, a<br />

mais estreita. Entretanto, em cima não existe um unum.<br />

Ora, tudo nesse monumento pede que haja um unum; essas<br />

guaritas pedem um unum. Onde ele está?<br />

A ideia é que o unum se perde no céu. É um unum meio<br />

imaginário, como seria e do cone do Fuji-Yama. Essa ideia<br />

é insinuada pela diferença da largura entre as duas partes<br />

da torre. A parte menor cria na imaginação, subconscientemente,<br />

a ilusão de outras menores que se sucedem, perdendo-se<br />

no céu, o que tem, portanto, uma grande beleza.<br />

Se considerarmos esse terraço na base da torre, que<br />

é a primeira linha da defesa dessa fortificação, percebemos<br />

mais uma vez os escudos e as guaritas repetindo o<br />

elemento ornamental de cima. Embaixo vemos janelas<br />

gradeadas, que dão para o calabouço, pois no porão da<br />

torre existiam prisões.<br />

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