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Revista Curinga Edição 23

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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pulação negra para os morros, decorrente dessa imigração<br />

europeia pós-escravidão. Para ela, a vinda dos brancos,<br />

que ocuparam postos de trabalho - seja em atividades industriais<br />

ou do campo - que poderiam ser realizados por<br />

brasileiros, significou ao negro a perda de seu próprio espaço.<br />

“Quando se deixa de ter a escravidão, passa-se esse<br />

processo e os brancos vêm pro Brasil, para trabalhar nessa<br />

roça, para trabalhar com o café, com o algodão, com<br />

o açúcar, eles perdem os empregos, então são deixados<br />

à margem (...) e são obrigados a subir os morros e é aí<br />

que começa a construção das favelas”.<br />

Até hoje, quando se considera a densidade demográfica<br />

dos aglomerados subnormais e periféricos, pretos e pardos<br />

ainda são maioria. De acordo com o censo do Instituto Brasileiro<br />

de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, cerca de<br />

11,4 milhões de brasileiros vivem em favelas e, destes, 68%<br />

são declarados negros. Muitos não contam com acesso a<br />

serviços de saneamento básico, como tratamento de esgoto<br />

e limpeza urbana. A periferização, além de prejudicar nas<br />

questões trabalhistas, ainda contribui para que as condições<br />

de vida sejam precarizadas, dificultando a ascensão.<br />

Raças marginalizadas<br />

Ao analisar a trajetória do afro-brasileiro, percebe-<br />

-se que o racismo foi instaurado e enraizado na história<br />

brasileira. O mito da democracia racial, ainda presente,<br />

revela o exercício de um racismo velado que encontra<br />

a justificativa de sua existência na afirmação de que a<br />

segregação já não existe mais no Brasil.<br />

Embora o país seja a nação com a maior população negra<br />

fora da África - 54% da população, de acordo com o<br />

IBGE - pouco se faz para preservar e valorizar a ancestralidade<br />

africana por aqui. Ações orquestradas pelo Estado,<br />

como a política de cotas raciais e a instituição do 20 de<br />

novembro como Dia da Consciência Negra (em homenagem<br />

ao líder quilombola Zumbi dos Palmares, morto nesta<br />

data em 1695) são pequenas iniciativas que, apesar de<br />

promissoras, se revelam insuficientes para reparar as consequências<br />

de mais de 300 anos de escravidão. “Quando<br />

colocam lá na vaga de secretária ‘ah, é uma pessoa bonita’.<br />

O que é uma pessoa bonita? O que é uma moça com<br />

boa aparência? É uma moça que tenha um padrão branco.<br />

Ela pode até ser parda, mas ela tem que ter o cabelo liso,<br />

ela tem que fazer uma progressiva. Só que essas coisas não<br />

estão colocadas para sociedade de forma clara e explícita.<br />

O racismo no país é um racismo que não é auto-declarado<br />

(é velado)”, completa Mayara.<br />

Ao analisar a história do Brasil, é possível perceber<br />

que essas duas etnias foram negligenciadas. O historiador<br />

Manoel acredita que é de extrema importância destacar<br />

o índio como vítima da colonização. “(...) Mas, também,<br />

não podemos ficar só nessa imagem, porque no final das<br />

contas, isso não os favorece. Só favorece uma imagem de<br />

que eles foram derrotados e que não têm mais força (...)”.<br />

O mesmo vale para o negro. O processo colonizador instituiu<br />

um contexto de marginalização para um grupo social,<br />

como questiona Amaral: “Por que a nossa sociedade<br />

não pode ser igualitária e se a filha da empregada quiser<br />

ser médica, quiser ser doutora, ela não pode ser doutora?<br />

Ela tem que ser no máximo, uma professora, porque<br />

é o que cabe pra classe e pra raça dela”.<br />

Hoje, movimentos de resistência e valorização da cultura<br />

negra e indígena contribuem para manter viva a tradição<br />

de ambas as etnias, que lutam diariamente para pertencer<br />

e ocupar seu lar de direito no Brasil. A mistura dos índios,<br />

negros e europeus deu origem ao brasileiro, o descendente<br />

que sustenta a exclusão de seus sucessores diretos.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>23</strong><br />

<strong>23</strong>

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