SaúdeOnline nº 03
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XXXII Congresso de Pneumologia<br />
ESPECIAL<br />
XXXII CONGRESSO DE PNEUMOLOGIA<br />
O papel das associações<br />
terapêuticas no tratamento da<br />
DPOC<br />
Dr. Ian Naya<br />
Diretor científico global para a área<br />
respiratória da GSK<br />
Estamos preparados para a dupla<br />
broncodilatação na terapêutica da<br />
DPOC?<br />
Foi a partir desta pergunta que o<br />
Dr. Ian Naya, conduziu a apresentação<br />
no simpósio organizado pela GSK.<br />
O especialista começou por lembrar<br />
que, nos últimos anos, as linhas de<br />
orientação GOLD – Global Initiative<br />
for Chronic Obstructive Lung Disease<br />
– já recomendavam a terapêutica<br />
individualizada, nomeadamente a<br />
dupla broncodilatação com antagonistas<br />
do recetor muscarínico M3<br />
(LAMA) e agonistas beta-2 de longa<br />
ação (LABA), em doentes fortemente<br />
sintomáticos, mas apenas como escolha<br />
alternativa à monoterapia.<br />
Todavia, recordou o especialista, “a<br />
evidência está em constante mudança”<br />
e a revisão das normas GOLD<br />
irá trazer mudanças que apontam<br />
para “um aumento da importância<br />
da terapêutica combinada”. Isto<br />
porque, explicou o palestrante, as<br />
novas orientações clínicas emanadas<br />
da European Respiratory Society deverão<br />
“centrar-se mais nos sintomas<br />
e reduzir a ênfase posta até aqui<br />
na perda da função pulmonar na<br />
DPOC”<br />
Esta mudança de perspetiva vem<br />
ao encontro dos resultados observados<br />
no trabalho publicado em<br />
2011 por Dransfield MT et al no<br />
Primary Care Respiratory Journal.<br />
Este ensaio, conduzido em 56 centros<br />
nos Estados Unidos da América<br />
incluiu 1084 doentes em monoterapia<br />
broncodilatadora com tiotrópio<br />
ou outro broncodilatador de ação<br />
prolongada e concluiu que metade<br />
dos indivíduos avaliados, mesmo<br />
os considerados de risco moderado,<br />
continuavam “altamente sintomáticos<br />
com um score mMRC [do Medical<br />
Research Council] de dois ou<br />
superior”. No mesmo trabalho, nos<br />
doentes considerados de risco, a percentagem<br />
de indivíduos em monoterapia<br />
que mantinha quadros sintomatológicos<br />
expressivos subia para<br />
os 59%.<br />
O Dr. Ian Naya recordou também<br />
os resultados do estudo ECLIPSE,<br />
publicado em 2013 por Agusti A et<br />
al no European Respiratory Journal,<br />
que veio demonstrar, igualmente,<br />
que “os doentes que tinham patologia<br />
moderada apresentavam risco<br />
acrescido se tivessem sintomatologia<br />
significativa”.<br />
Tendo em conta estes dois trabalhos,<br />
sublinhou o orador, “ficou claro que<br />
os doentes em maior risco são os<br />
doentes com mais sintomatologia<br />
e não os que apresentavam exacerbações<br />
frequentes”, o que se reflete<br />
no número de hospitalizações e na<br />
sobrevivência dos doentes. Sendo<br />
assim, defendeu, a sintomatologia<br />
deve passar a ser tida em consideração<br />
na determinação do risco do<br />
doente com DPOC e não apenas<br />
as exacerbações.<br />
RACIONAL CIENTÍFICO<br />
PARA O USO DA<br />
ASSOCIAÇÃO DE<br />
BRONCODILATADORES<br />
A utilização da dupla broncodilatação<br />
pode ser uma aliada do controlo<br />
da sintomatologia do doente com<br />
DPOC, nomeadamente a associação<br />
umeclidínio/vilanterol (UMEC/<br />
VI). Isto porque, explicou o Dr. Ian<br />
Naya, o umeclidínio, um antagonista<br />
do recetor muscarínico M3, vai<br />
bloquear a contração<br />
do músculo liso das<br />
vias respiratórias, ao<br />
mesmo tempo que o<br />
vilanterol, um agonista<br />
beta-2 de longa<br />
ação, vai estimular<br />
o relaxamento do<br />
músculo liso das vias<br />
respiratórias, sustentando<br />
desta forma o<br />
conceito de otimização da broncodilatação,<br />
na utilização conjunta destes<br />
dois fármacos.<br />
Sobre a seleção de doentes para<br />
receber a terapêutica dupla, os dados<br />
demonstram que há sempre<br />
espaço para uma evolução positiva<br />
com a dupla broncodilatação.<br />
Isso mesmo ficou demonstrado<br />
com o estudo de Donohue JF et<br />
al, publicado no jornal Respiratory<br />
Medicine (Resp Med), que<br />
avaliou a utilização da monoterapia<br />
com vilanterol e umeclidínio<br />
e da associação fixa das duas<br />
«A insuflação<br />
pulmonar é o<br />
fator que melhor<br />
se correlaciona<br />
com a intolerância<br />
ao esforço»<br />
moléculas. Ficou claro neste trabalho<br />
que “com terapêutica dupla<br />
há sempre espaço para uma melhoria<br />
de desempenho da função respiratória<br />
dos doentes. E não podemos<br />
excluir doentes apenas porque num<br />
primeiro momento respondem bem<br />
à monoterapia”, sublinhou o orador.<br />
Outros trabalhos também demonstraram<br />
que a variabilidade<br />
da resposta dos doentes é menor<br />
com a terapêutica combinada.<br />
Foi o caso do trabalho publicado<br />
por Maleki-Yazdi M et al. no Resp<br />
Med e do artigo da autoria de Decramer<br />
et al publicado na Lancet<br />
Respiratory Medicine que compararam<br />
a associação UMEC/VI vs.<br />
tiotrópio em doentes<br />
com dispneia moderada<br />
e grave. Ambas<br />
as investigações<br />
demonstraram “que<br />
houve uma melhoria<br />
da função pulmonar<br />
e que essa melhoria<br />
foi consistente” com<br />
uma variabilidade<br />
a rondar os 3% nos<br />
grupos que receberam a terapêutica<br />
combinada, ao invés da variabilidade<br />
de respostas entre 38% e<br />
60% obtidas no grupo de doentes<br />
que recebeu tiotrópio. Na perspetiva<br />
do especialista “isto significa que<br />
ao usar uma monoterapia, como o<br />
tiotrópio, temos menos garantia da<br />
resposta que teremos ao tratamento<br />
do que com a dupla broncodilatação”,<br />
sendo que, acrescentou, com a<br />
dupla broncodilatação é possível alcançar<br />
objetivos terapêuticos que nunca<br />
tinham sido observados com monoterapia.<br />
Dr. Ian Naya