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Mindset magazine Janeiro 2019A

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PARADOXOS DA<br />

PATRICIA LABANDEIRO<br />

FELICIDADE<br />

Como primeira partilha para um projecto que<br />

convida a um “mergulho” no auto-conhecimento e<br />

desenvolvimento pessoal, tinha de ir ao cerne da<br />

questão! E, nem de propósito, estive há poucos dias<br />

num evento promovido pelo JN e pela CM de<br />

Ermesinde sobre “O Poder da Felicidade”. O<br />

conceito e formas de vivência da felicidade são<br />

dimensões da existência humana que sempre me<br />

cativaram. Cativam a atenção, a curiosidade, a<br />

vontade de saber mais mas também as angústias e<br />

os “vazios”! Julgo ser a questão fulcral da própria<br />

existência e dedico-lhe muito tempo de estudo mas<br />

também de concretização empírica. As viagens a<br />

países que colocam no topo das suas preocupações,<br />

os níveis de felicidade da população, como a<br />

Dinamarca e o Butão, são os meios de “análise” de<br />

que mais gosto. “Estudar” mais sobe a felicidade<br />

enquanto faço algo que me deixa tão feliz, viajar!<br />

Estas visões (e podíamos aqui focar o contraste de<br />

uma cultura de felicidade ocidental e uma cultura<br />

de felicidade oriental) são o pano de fundo e um<br />

plano mais macro daquilo que as sociedades, as<br />

comunidades e o poder político e estatal,<br />

perseguem enquanto objetivo comum. Mas importa<br />

também falar do particular, de como cada um de<br />

nós sente a felicidade e se ressente da falta dela.<br />

Neste encontro, foi ideia consensual que a<br />

felicidade não é um estado permanente e que<br />

poderá até implicar em si o conceito do oposto. A<br />

infelicidade como parte integrante da experiência<br />

de felicidade ou como necessidade de oposição que<br />

lhe dê sentido. É neste paradoxo que me quero<br />

focar. Creio que possam existir dois tipos diferentes<br />

de felicidade (e não me refiro a conteúdos e formas<br />

de se ser feliz, porque aí, teremos tantos quantos<br />

seres humanos existem, ou talvez mais, porquanto<br />

somos em muitos aspectos duais e construímos<br />

percepções diferentes ao longo da vida).<br />

Psicóloga e Coach. Exerceu<br />

Psicologia Clínica, mas sentiu que<br />

faltava o brilho da auto-realização e<br />

da auto-transcendência. Voltou ao<br />

estudo e descobriu a psicologia<br />

positiva e o desenvolvimento<br />

pessoal que dela deriva. Apaixonouse<br />

pelo Coaching e fez várias<br />

certificações, bem como uma Pós-<br />

Graduação específica para<br />

Psicólogos. Amante da natureza e<br />

do Caminho de Santiago. Criadora<br />

do projecto Despertar-Formação e<br />

Psicologia.<br />

Estes dois tipos de felicidade referem-se à<br />

“estrutura” do sentimento. Uma felicidade leve,<br />

sorridente, prazerosa, hedónica. Outra felicidade<br />

em que existe um certo peso, em que não rimos,<br />

em que não mergulhamos no prazer, em que<br />

abdicamos até desse prazer imediato como<br />

objetivo supremo… em que saber o sentido, em<br />

que cumprir os valores, em que fazer o correcto de<br />

acordo com o que nos define, em que servir algo<br />

maior que nós, nos leva um estado de felicidade<br />

existencial, não necessariamente terrena, não<br />

necessariamente visível nas expressões, nem<br />

quantificável em níveis de dopamina. Este é um<br />

tipo de felicidade transformador. Num exemplo<br />

bastante extremo mas tão comum nas nossas<br />

vidas, quando acompanhamos uma pessoa que<br />

amamos num processo de doença e, ainda mais<br />

extremo, no caminho até à morte, não estamos<br />

clara, obvia e inevitavelmente felizes na assunção<br />

generalista no termo. Mas sabermos que estamos a<br />

garantir os cuidados de que aquela pessoa precisa,<br />

que estamos presentes a minimizar dores, que<br />

estamos em guerra e vitória perante a solidão, que<br />

M I N D S E T M A G A Z I N E | 5 9

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