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PARADOXOS DA<br />
PATRICIA LABANDEIRO<br />
FELICIDADE<br />
Como primeira partilha para um projecto que<br />
convida a um “mergulho” no auto-conhecimento e<br />
desenvolvimento pessoal, tinha de ir ao cerne da<br />
questão! E, nem de propósito, estive há poucos dias<br />
num evento promovido pelo JN e pela CM de<br />
Ermesinde sobre “O Poder da Felicidade”. O<br />
conceito e formas de vivência da felicidade são<br />
dimensões da existência humana que sempre me<br />
cativaram. Cativam a atenção, a curiosidade, a<br />
vontade de saber mais mas também as angústias e<br />
os “vazios”! Julgo ser a questão fulcral da própria<br />
existência e dedico-lhe muito tempo de estudo mas<br />
também de concretização empírica. As viagens a<br />
países que colocam no topo das suas preocupações,<br />
os níveis de felicidade da população, como a<br />
Dinamarca e o Butão, são os meios de “análise” de<br />
que mais gosto. “Estudar” mais sobe a felicidade<br />
enquanto faço algo que me deixa tão feliz, viajar!<br />
Estas visões (e podíamos aqui focar o contraste de<br />
uma cultura de felicidade ocidental e uma cultura<br />
de felicidade oriental) são o pano de fundo e um<br />
plano mais macro daquilo que as sociedades, as<br />
comunidades e o poder político e estatal,<br />
perseguem enquanto objetivo comum. Mas importa<br />
também falar do particular, de como cada um de<br />
nós sente a felicidade e se ressente da falta dela.<br />
Neste encontro, foi ideia consensual que a<br />
felicidade não é um estado permanente e que<br />
poderá até implicar em si o conceito do oposto. A<br />
infelicidade como parte integrante da experiência<br />
de felicidade ou como necessidade de oposição que<br />
lhe dê sentido. É neste paradoxo que me quero<br />
focar. Creio que possam existir dois tipos diferentes<br />
de felicidade (e não me refiro a conteúdos e formas<br />
de se ser feliz, porque aí, teremos tantos quantos<br />
seres humanos existem, ou talvez mais, porquanto<br />
somos em muitos aspectos duais e construímos<br />
percepções diferentes ao longo da vida).<br />
Psicóloga e Coach. Exerceu<br />
Psicologia Clínica, mas sentiu que<br />
faltava o brilho da auto-realização e<br />
da auto-transcendência. Voltou ao<br />
estudo e descobriu a psicologia<br />
positiva e o desenvolvimento<br />
pessoal que dela deriva. Apaixonouse<br />
pelo Coaching e fez várias<br />
certificações, bem como uma Pós-<br />
Graduação específica para<br />
Psicólogos. Amante da natureza e<br />
do Caminho de Santiago. Criadora<br />
do projecto Despertar-Formação e<br />
Psicologia.<br />
Estes dois tipos de felicidade referem-se à<br />
“estrutura” do sentimento. Uma felicidade leve,<br />
sorridente, prazerosa, hedónica. Outra felicidade<br />
em que existe um certo peso, em que não rimos,<br />
em que não mergulhamos no prazer, em que<br />
abdicamos até desse prazer imediato como<br />
objetivo supremo… em que saber o sentido, em<br />
que cumprir os valores, em que fazer o correcto de<br />
acordo com o que nos define, em que servir algo<br />
maior que nós, nos leva um estado de felicidade<br />
existencial, não necessariamente terrena, não<br />
necessariamente visível nas expressões, nem<br />
quantificável em níveis de dopamina. Este é um<br />
tipo de felicidade transformador. Num exemplo<br />
bastante extremo mas tão comum nas nossas<br />
vidas, quando acompanhamos uma pessoa que<br />
amamos num processo de doença e, ainda mais<br />
extremo, no caminho até à morte, não estamos<br />
clara, obvia e inevitavelmente felizes na assunção<br />
generalista no termo. Mas sabermos que estamos a<br />
garantir os cuidados de que aquela pessoa precisa,<br />
que estamos presentes a minimizar dores, que<br />
estamos em guerra e vitória perante a solidão, que<br />
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