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estamos a honrar a nossa história e relação com<br />
essa pessoa, que estamos a cumprir a nossa missão<br />
de cuidador, que estamos a trazer amor ao momento<br />
mais desafiante das nossas vidas… isso traz uma<br />
felicidade transformadora! Quando fazemos algo do<br />
que tipicamente dizemos que “gostamos”, isso traz<br />
alegria e é bom, é fantástico, queremos ficar neste<br />
estado ou lá voltar rapidamente. Mas será<br />
transformador? Trará novas dimensões da nossa<br />
existência? Mostrará mais do que somos? Trará uma<br />
elevação? Ambas são necessárias para o ser humano<br />
que quer crescer e expandir-se. Em Psicologia<br />
falamos de crescimento pós traumático como o<br />
fenómeno de aquisição de novas<br />
competências/capacidades e adopção de uma visão<br />
mais adaptativa da vida e seus desafios, como<br />
consequência da vivência de uma experiência<br />
potencialmente traumática. Esta felicidade<br />
transformadora poderá ser entendida como o<br />
movimento de levar a consciência deste potencial<br />
de crescimento para o momento presente em que a<br />
dor está a acontecer. Assim, equilibrar a<br />
dor/infelicidade do momento pela consciência de<br />
como isso nos está a elevar além do terreno. O<br />
crescimento a este nível é uma experiência<br />
existencial (espiritual para quem sentir a ligação a<br />
esta dimensão). A consciência dele no momento<br />
exigente (ex. quando damos a mão a quem amamos<br />
num momento de doença; quando nos superamos<br />
num momento de dor; quando por exemplo<br />
avançamos numa missão humanitária que nos<br />
coloca perante o sofrimento de outros…) poderá ser<br />
o caminho para uma visão mais consistente da vida<br />
como uma experiência de felicidade. É difícil<br />
imaginar que em contextos extremos por exemplo<br />
de guerra e caos, seja possível entrar em conexão<br />
com esta consciência superior. Mas incrivelmente,<br />
há quem o faça… Basta ler “Um Homem em busca<br />
de um sentido” que percebemos de que forma Viktor<br />
Frankl construiu um significado para sua<br />
experiência num campo de concentração Nazi e<br />
trouxe a consciência de como se elevaria e de como<br />
esta passagem dolorosa da sua vida seria um ponto<br />
de partida para uma concretização maior. Vivendo<br />
com a dor extrema e o terror, sua e de todos à sua<br />
volta, trouxe uma narrativa para essa experiência<br />
que lhe permitiu resistir e construir, com orgulho<br />
pessoal e momentos fugazes de uma improvável<br />
felicidade, um legado que o engradeceria. E<br />
engrandeceu. Esta não é a forma de transformação<br />
que procuramos, que desejamos, que escolhemos…<br />
o que buscamos é a felicidade hedónica, a leve, a<br />
que nos faz sorrir, aquela em que facilmente<br />
percebemos que a vida tem uma “força feliz” por si<br />
mesma! Mas a existência humana acarreta sempre<br />
os momentos de dor… esta felicidade de<br />
transformação será uma forma amadurecida,<br />
resiliente e emocionalmente inteligente de lidar<br />
com a inevitabilidade da infelicidade. A nossa luta<br />
poderá ser esta, a de buscar a felicidade leve mas<br />
aceitar o que nos traz a dor, como forma de nos<br />
superarmos e descobrirmos sentidos. Num<br />
contexto de dor, ser capaz de ver o amor, de ver os<br />
pequenos gestos, de estar grato pelos recursos<br />
internos e externos que temos disponíveis para<br />
lidar com essa situação, persistir no que está<br />
coerente com os nossos valores, prever que a dor<br />
não dura sempre e que depois disso fica o orgulho<br />
pessoal pela forma como lidamos com ela e ficam<br />
novas aprendizagens sobre nós, quem sabe novas<br />
competências. Se equilibrarmos estas duas<br />
dimensões da felicidade, será mais naturalmente<br />
assumida a tal resposta à fatídica questão: és feliz?<br />
“Sim, sou feliz, às vezes porque amo, sorrio, tenho<br />
prazer e me divirto e outras vezes porque me<br />
transformo. Sou feliz, também, quando me<br />
transformo.”<br />
PATRICIA LABANDEIRO<br />
PSICÓLOGA CLÍNICA E COACH<br />
gerencia@despertar.com.pt<br />
ww.despertar.com.pt<br />
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