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Mindset magazine Janeiro 2019A

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estamos a honrar a nossa história e relação com<br />

essa pessoa, que estamos a cumprir a nossa missão<br />

de cuidador, que estamos a trazer amor ao momento<br />

mais desafiante das nossas vidas… isso traz uma<br />

felicidade transformadora! Quando fazemos algo do<br />

que tipicamente dizemos que “gostamos”, isso traz<br />

alegria e é bom, é fantástico, queremos ficar neste<br />

estado ou lá voltar rapidamente. Mas será<br />

transformador? Trará novas dimensões da nossa<br />

existência? Mostrará mais do que somos? Trará uma<br />

elevação? Ambas são necessárias para o ser humano<br />

que quer crescer e expandir-se. Em Psicologia<br />

falamos de crescimento pós traumático como o<br />

fenómeno de aquisição de novas<br />

competências/capacidades e adopção de uma visão<br />

mais adaptativa da vida e seus desafios, como<br />

consequência da vivência de uma experiência<br />

potencialmente traumática. Esta felicidade<br />

transformadora poderá ser entendida como o<br />

movimento de levar a consciência deste potencial<br />

de crescimento para o momento presente em que a<br />

dor está a acontecer. Assim, equilibrar a<br />

dor/infelicidade do momento pela consciência de<br />

como isso nos está a elevar além do terreno. O<br />

crescimento a este nível é uma experiência<br />

existencial (espiritual para quem sentir a ligação a<br />

esta dimensão). A consciência dele no momento<br />

exigente (ex. quando damos a mão a quem amamos<br />

num momento de doença; quando nos superamos<br />

num momento de dor; quando por exemplo<br />

avançamos numa missão humanitária que nos<br />

coloca perante o sofrimento de outros…) poderá ser<br />

o caminho para uma visão mais consistente da vida<br />

como uma experiência de felicidade. É difícil<br />

imaginar que em contextos extremos por exemplo<br />

de guerra e caos, seja possível entrar em conexão<br />

com esta consciência superior. Mas incrivelmente,<br />

há quem o faça… Basta ler “Um Homem em busca<br />

de um sentido” que percebemos de que forma Viktor<br />

Frankl construiu um significado para sua<br />

experiência num campo de concentração Nazi e<br />

trouxe a consciência de como se elevaria e de como<br />

esta passagem dolorosa da sua vida seria um ponto<br />

de partida para uma concretização maior. Vivendo<br />

com a dor extrema e o terror, sua e de todos à sua<br />

volta, trouxe uma narrativa para essa experiência<br />

que lhe permitiu resistir e construir, com orgulho<br />

pessoal e momentos fugazes de uma improvável<br />

felicidade, um legado que o engradeceria. E<br />

engrandeceu. Esta não é a forma de transformação<br />

que procuramos, que desejamos, que escolhemos…<br />

o que buscamos é a felicidade hedónica, a leve, a<br />

que nos faz sorrir, aquela em que facilmente<br />

percebemos que a vida tem uma “força feliz” por si<br />

mesma! Mas a existência humana acarreta sempre<br />

os momentos de dor… esta felicidade de<br />

transformação será uma forma amadurecida,<br />

resiliente e emocionalmente inteligente de lidar<br />

com a inevitabilidade da infelicidade. A nossa luta<br />

poderá ser esta, a de buscar a felicidade leve mas<br />

aceitar o que nos traz a dor, como forma de nos<br />

superarmos e descobrirmos sentidos. Num<br />

contexto de dor, ser capaz de ver o amor, de ver os<br />

pequenos gestos, de estar grato pelos recursos<br />

internos e externos que temos disponíveis para<br />

lidar com essa situação, persistir no que está<br />

coerente com os nossos valores, prever que a dor<br />

não dura sempre e que depois disso fica o orgulho<br />

pessoal pela forma como lidamos com ela e ficam<br />

novas aprendizagens sobre nós, quem sabe novas<br />

competências. Se equilibrarmos estas duas<br />

dimensões da felicidade, será mais naturalmente<br />

assumida a tal resposta à fatídica questão: és feliz?<br />

“Sim, sou feliz, às vezes porque amo, sorrio, tenho<br />

prazer e me divirto e outras vezes porque me<br />

transformo. Sou feliz, também, quando me<br />

transformo.”<br />

PATRICIA LABANDEIRO<br />

PSICÓLOGA CLÍNICA E COACH<br />

gerencia@despertar.com.pt<br />

ww.despertar.com.pt<br />

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