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outubro-2019

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Entrevista<br />

Labornews – Dos cinco tipos de hepatites conhecidas<br />

(A, B, C, D e E), no Brasil não é encontrada a de tipo E, e a D<br />

é pouco frequente. Quais são as mais comuns?<br />

Galoro - No Brasil, as hepatites virais mais comuns são<br />

as causadas pelos vírus A, B e C. Existem, ainda, os vírus D e<br />

E, esse último mais frequente na África e na Ásia. De 1999 a<br />

2018, foram notificados mais de 600 mil casos de hepatites<br />

virais. Destes, 26% são referentes aos casos de hepatite A,<br />

37% de hepatite B, 36% de hepatite C e 1% de hepatite D.<br />

L - O fato de os primeiros sintomas de hepatite serem<br />

inespecíficos (febres, náuseas e vômitos, urina escura e<br />

fezes esbranquiçadas), o diagnóstico deveria ser investigado<br />

antes dos sinais mais característicos, como a icterícia? Os<br />

profissionais de saúde fazem uma notificação satisfatória<br />

das ocorrências?<br />

Galoro - As hepatites virais são silenciosas na grande<br />

maioria dos casos, o que reforça a necessidade de ir ao médico<br />

regularmente e fazer os exames de rotina que detectam os vários<br />

tipos de hepatites. Quando os sintomas aparecem, geralmente<br />

a doença já está em estágio mais avançado. Os sintomas mais<br />

comuns são enjoo, vômitos, urina escura (cor de café); Icterícia<br />

(olhos e pele amarelados); Fezes esbranquiçadas (como massa<br />

de vidraceiro). As hepatites virais integram a Lista Nacional<br />

de Doenças de Notificação Compulsória e os casos positivos<br />

devem ser notificados às autoridades de saúde por médicos,<br />

profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos<br />

de saúde, públicos e privados.<br />

Texto: Regina Prado<br />

As tendências da medicina laboratorial<br />

L – A hepatite, por ser silenciosa, o diagnóstico é<br />

normalmente feito na vida adulta? Ou o contágio ou sua<br />

progressão independe da idade do paciente?<br />

Galoro - Com exceção da Hepatite A, cuja faixa etária<br />

mais frequente para diagnóstico é inferior aos 10 anos, faixa<br />

etária mais frequente para diagnóstico das demais Hepatites<br />

é nos adultos jovens, entre os 30 e 50 anos para a Hepatite B e<br />

entre os 50 e 60 anos para a Hepatite C. Isto se justifica pelas<br />

diferentes formas de contágio destes tipos de hepatites. Para<br />

a Hepatite A, cuja principal via é a fecal-oral, a maioria dos<br />

casos acontece em crianças e adolescentes, enquanto para as<br />

Hepatites B e C, que possuem transmissão sanguínea e sexual,<br />

o contágio acontece em adultos.<br />

L – No caso da transmissão de mães para filhos, durante<br />

o parto, durante a gestação ou na amamentação, os bebês<br />

podem ter a doença latente e só se manifestar na vida<br />

adulta? Os bebês podem ser curados?<br />

Galoro - A transmissão vertical das hepatites B e C, de<br />

mãe para o filho, acontecem por via sanguínea, em sua<br />

maioria durante o parto, não havendo diferença caso o parto<br />

seja por via vaginal ou cesariana. O vírus das hepatites B<br />

(VHB) e C (VHC) não são transmitidos pelo leite materno e,<br />

portanto, a amamentação não deve ser contraindicada para<br />

recém-nascidos (RN) de mães infectadas por estes vírus.<br />

Caso não seja realizada a profilaxia, o risco de transmissão<br />

perinatal em mães infectadas pelo VHB depende da atividade<br />

de replicação viral da mãe. Para gestantes com HBsAg e<br />

HBeAg positivos, a transmissão ocorre em 90% dos casos,<br />

enquanto em gestantes apenas com o HBsAg positivo, a<br />

transmissão ocorre em 10% dos casos. A maioria dos recémnascidos<br />

infectados durante o parto serão assintomáticos,<br />

com diagnóstico apenas na vida adulta e 25% evoluirão com<br />

cirrose ou carcinoma hepático. As medidas de prevenção da<br />

transmissão vertical do VHB perinatal são altamente eficazes<br />

e envolvem a imunização ativa, com a vacina contra o VHB<br />

e passiva, com o uso de imunoglobulina humana hiperimune<br />

anti hepatite B, reduzindo-se a incidência de infecção em<br />

85 a 95% dos casos. Para o vírus da hepatite C (VHC), a<br />

transmissão vertical é baixa, em torno de 5 a 6% dos casos<br />

e até o momento não há profilaxia para evitá-la, indicandose<br />

o seguimento das crianças, para diagnóstico e tratamento<br />

precoce.<br />

4<br />

Patologista Clínico Alex Galoro, gestor médico do Laboratório<br />

Franco do Amaral, fundado em 1950 em Campinas e desde 2017<br />

associado ao Grupo Sabin, atualmente com 225 unidades no país.<br />

Alex Galoro presidiu a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/<br />

Medicina Laboratorial SBPC/ML (2016-2017), é especialista em<br />

Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (TEPAC), possui MBA<br />

em Gerência da Saúde (2003) pela Fundação Getúlio Vargas, e<br />

doutorado em Ciências (2008) pela Faculdade de Medicina da<br />

Universidade de São Paulo (USP). Também atuou na Clinical<br />

Chemistry and Laboratory Management, no Jewish General Hospital,<br />

da Universidade McGill, em Montreal, Canadá.<br />

L – No caso das hepatites A e E, que podem ser adquiridas<br />

com a ingestão de alimentos contaminados, há maior risco<br />

em locais onde o saneamento básico não é satisfatório?<br />

Como é o contágio dos outros tipos?<br />

Galoro - A transmissão das hepatites varia conforme<br />

o tipo de vírus. Para os vírus A e E, o contágio é fecal-oral,<br />

devido a condições precárias de saneamento básico e água,<br />

de higiene pessoal e dos alimentos. Para os vírus B, C e D, a<br />

transmissão é sanguínea, pela prática de sexo desprotegido ou<br />

compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear,<br />

alicates de unha e outros objetos que furam ou cortam; ou<br />

ainda da mãe para o filho durante a gravidez, o parto e a<br />

amamentação.<br />

L - Vemos que atualmente os jovens já não estão se<br />

protegendo de doenças sexualmente transmissíveis como<br />

deveriam. Já há registro do aumento de casos de hepatite de<br />

transmissão sanguínea, como a B e a C, no país? Há outras<br />

situações de risco para o contágio destes vírus?<br />

Galoro - A prevenção é diferente, conforme a forma de<br />

transmissão. Para as hepatites A e E, que têm transmissão<br />

fecal-oral, a prevenção deve ser com cuidados de higiene e<br />

saneamento básico porque a infecção acontece através da<br />

ingesta de água ou alimentos contaminados. Para as hepatites<br />

B, C e D, que têm transmissão sanguínea, as formas de<br />

prevenção também variam conforme o tipo de contágio:<br />

- para contágio através do sexo, recomenda-se a prática do<br />

sexo seguro, com uso de preservativos;<br />

- para o compartilhamento de objetos que possam estar<br />

contaminados, recomenda-se que isto não ocorra. O ideal é o uso de<br />

equipamentos próprios ou esterilizados, como no caso de alicates<br />

de unhas e lâminas de barbear, por exemplo;<br />

Cont. na pág. 6

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