Entrevista Labornews – Dos cinco tipos de hepatites conhecidas (A, B, C, D e E), no Brasil não é encontrada a de tipo E, e a D é pouco frequente. Quais são as mais comuns? Galoro - No Brasil, as hepatites virais mais comuns são as causadas pelos vírus A, B e C. Existem, ainda, os vírus D e E, esse último mais frequente na África e na Ásia. De 1999 a 2018, foram notificados mais de 600 mil casos de hepatites virais. Destes, 26% são referentes aos casos de hepatite A, 37% de hepatite B, 36% de hepatite C e 1% de hepatite D. L - O fato de os primeiros sintomas de hepatite serem inespecíficos (febres, náuseas e vômitos, urina escura e fezes esbranquiçadas), o diagnóstico deveria ser investigado antes dos sinais mais característicos, como a icterícia? Os profissionais de saúde fazem uma notificação satisfatória das ocorrências? Galoro - As hepatites virais são silenciosas na grande maioria dos casos, o que reforça a necessidade de ir ao médico regularmente e fazer os exames de rotina que detectam os vários tipos de hepatites. Quando os sintomas aparecem, geralmente a doença já está em estágio mais avançado. Os sintomas mais comuns são enjoo, vômitos, urina escura (cor de café); Icterícia (olhos e pele amarelados); Fezes esbranquiçadas (como massa de vidraceiro). As hepatites virais integram a Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória e os casos positivos devem ser notificados às autoridades de saúde por médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos e privados. Texto: Regina Prado As tendências da medicina laboratorial L – A hepatite, por ser silenciosa, o diagnóstico é normalmente feito na vida adulta? Ou o contágio ou sua progressão independe da idade do paciente? Galoro - Com exceção da Hepatite A, cuja faixa etária mais frequente para diagnóstico é inferior aos 10 anos, faixa etária mais frequente para diagnóstico das demais Hepatites é nos adultos jovens, entre os 30 e 50 anos para a Hepatite B e entre os 50 e 60 anos para a Hepatite C. Isto se justifica pelas diferentes formas de contágio destes tipos de hepatites. Para a Hepatite A, cuja principal via é a fecal-oral, a maioria dos casos acontece em crianças e adolescentes, enquanto para as Hepatites B e C, que possuem transmissão sanguínea e sexual, o contágio acontece em adultos. L – No caso da transmissão de mães para filhos, durante o parto, durante a gestação ou na amamentação, os bebês podem ter a doença latente e só se manifestar na vida adulta? Os bebês podem ser curados? Galoro - A transmissão vertical das hepatites B e C, de mãe para o filho, acontecem por via sanguínea, em sua maioria durante o parto, não havendo diferença caso o parto seja por via vaginal ou cesariana. O vírus das hepatites B (VHB) e C (VHC) não são transmitidos pelo leite materno e, portanto, a amamentação não deve ser contraindicada para recém-nascidos (RN) de mães infectadas por estes vírus. Caso não seja realizada a profilaxia, o risco de transmissão perinatal em mães infectadas pelo VHB depende da atividade de replicação viral da mãe. Para gestantes com HBsAg e HBeAg positivos, a transmissão ocorre em 90% dos casos, enquanto em gestantes apenas com o HBsAg positivo, a transmissão ocorre em 10% dos casos. A maioria dos recémnascidos infectados durante o parto serão assintomáticos, com diagnóstico apenas na vida adulta e 25% evoluirão com cirrose ou carcinoma hepático. As medidas de prevenção da transmissão vertical do VHB perinatal são altamente eficazes e envolvem a imunização ativa, com a vacina contra o VHB e passiva, com o uso de imunoglobulina humana hiperimune anti hepatite B, reduzindo-se a incidência de infecção em 85 a 95% dos casos. Para o vírus da hepatite C (VHC), a transmissão vertical é baixa, em torno de 5 a 6% dos casos e até o momento não há profilaxia para evitá-la, indicandose o seguimento das crianças, para diagnóstico e tratamento precoce. 4 Patologista Clínico Alex Galoro, gestor médico do Laboratório Franco do Amaral, fundado em 1950 em Campinas e desde 2017 associado ao Grupo Sabin, atualmente com 225 unidades no país. Alex Galoro presidiu a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial SBPC/ML (2016-2017), é especialista em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (TEPAC), possui MBA em Gerência da Saúde (2003) pela Fundação Getúlio Vargas, e doutorado em Ciências (2008) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Também atuou na Clinical Chemistry and Laboratory Management, no Jewish General Hospital, da Universidade McGill, em Montreal, Canadá. L – No caso das hepatites A e E, que podem ser adquiridas com a ingestão de alimentos contaminados, há maior risco em locais onde o saneamento básico não é satisfatório? Como é o contágio dos outros tipos? Galoro - A transmissão das hepatites varia conforme o tipo de vírus. Para os vírus A e E, o contágio é fecal-oral, devido a condições precárias de saneamento básico e água, de higiene pessoal e dos alimentos. Para os vírus B, C e D, a transmissão é sanguínea, pela prática de sexo desprotegido ou compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos que furam ou cortam; ou ainda da mãe para o filho durante a gravidez, o parto e a amamentação. L - Vemos que atualmente os jovens já não estão se protegendo de doenças sexualmente transmissíveis como deveriam. Já há registro do aumento de casos de hepatite de transmissão sanguínea, como a B e a C, no país? Há outras situações de risco para o contágio destes vírus? Galoro - A prevenção é diferente, conforme a forma de transmissão. Para as hepatites A e E, que têm transmissão fecal-oral, a prevenção deve ser com cuidados de higiene e saneamento básico porque a infecção acontece através da ingesta de água ou alimentos contaminados. Para as hepatites B, C e D, que têm transmissão sanguínea, as formas de prevenção também variam conforme o tipo de contágio: - para contágio através do sexo, recomenda-se a prática do sexo seguro, com uso de preservativos; - para o compartilhamento de objetos que possam estar contaminados, recomenda-se que isto não ocorra. O ideal é o uso de equipamentos próprios ou esterilizados, como no caso de alicates de unhas e lâminas de barbear, por exemplo; Cont. na pág. 6
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