OPINIÃOHélder SpínolaBiólogo/Professor UniversitárioCulturae NaturezaEntendendo-a à luz de quem a definiupela primeira vez, o antropólogo inglêsEdward Tylor, no seu livro CulturaPrimitiva, publicado em 1871, e, aliás,como uma das definições que se pode encontrarno Dicionário Infopédia da LínguaPortuguesa, da Porto Editora, ‘cultura’ é umsistema complexo de códigos e padrões partilhadospor uma sociedade ou um gruposocial e que se manifesta nas normas, crenças,valores, criações e instituições que fazemparte da vida individual e coletiva dessa sociedadeou grupo. Seguindo a tendência antropocêntricadas civilizações humanas, o conceitode cultura foi-se afirmando como algoque nos distingue da restante natureza e quese opõe a ela, ignorando na maior parte dasvezes que, na verdade, a diversidade culturalé consequência dos diferentes ambientes emque as respetivas populações se foram fixando.No Arquipélago da Madeira, tal como emmuitas outras realidades, identificamos comalguma facilidade aspetos culturais específicosque estão intimamente associados aoseu contexto natural. A gastronomia é ricaem exemplos, como a utilização do Peixe-espada-preto(Aphanopus carbo) ou a espetadaem espeto de Louro (Laurus novocanariensis),mas a adaptação ao relevo acidentadoda ilha é também marcante da especificidadecultural madeirense, destacando-se aconstrução de muros de pedra aparelhadapara suporte dos solos agrícolas em socalcose uma extensa rede de canais (levadas)para transporte de água até aos campos decultivo. Assim, a relação entre cultura e naturezarevela um paradoxo que se define pelacontradição entre a realidade fatual de interdependênciae a visão antropocêntrica deafastamento de ambos os conceitos. Mesmoquando se afirma que a cultura é o que nostorna humanos, distinguindo-nos dos outrosanimais, não podemos esquecer que outrasespécies, em particular de primatas, tambémrevelam as suas culturas, mesmo que queiramosclassificá-las de rudimentares. Destaforma, por mais que queiramos nos distinguire afirmar em relação à restante natureza,a realidade da espécie humana só poderáser factualmente entendida como a sua continuidade.A humanidade, e tudo o que elafaz e cria, também é natureza. Apesar de seralgo tão óbvio, ou talvez por isso, o estudo darelação entre as culturas e a natureza só seaprofundou nas últimas décadas, trazendo àtona o conceito de ‘culturas da natureza’ e revelandoque o que consideramos ser natural,o valor que lhe conferimos e a forma comoo entendemos varia culturalmente. Ao contráriodo que possa parecer, a forma comoentendemos a natureza em cada cultura nãoé uma questão menor, pois é essa visão quedetermina o nosso relacionamento com ela,nomeadamente através da legislação queaprovamos e das instituições que criamos,entre muitos outros aspetos que condicionamo nosso impacte ambiental. O conceito‘culturas da natureza’ surge para desconstruira separação entre natureza e sociedade,muito presente nas culturas Ocidentaismodernas, e para evidenciar a inter-relaçãoe conexão entre o mundo humano e o nãohumano. Este conceito é definido como agrupamentosde crenças, práticas e suposições,histórica e geograficamente situados, subjacentesà relação entre pessoas e organismosvivos não humanos ou matéria inanimada.Assim, todos estão imbuídos de uma determinadacultura na forma como estão socializadospara pensar e agir sobre o território ea vida natural. Necessariamente, as diversascomunidades humanas revelam diferentesculturas da natureza e, enquanto em algumasainda subsistente uma visão mais espirituale ecossistémica, nas sociedades ocidentalizadaspredomina uma visão utilitarista doambiente, qual manancial de recursos a explorar.Claude Lévi-Strauss caracterizou bemeste contexto, concluindo que as sociedadesprimitivas de caçadores-recolectores, e mesmode agricultores e pastores, refletiam nasua ideologia o facto de estarem fortementedependentes da natureza, vendo-a não comosua propriedade, mas sim como um territórioespiritual que para além de os nutrir tambémpermitia o contacto com antepassados, espíritose deuses. O primeiro ato de mutilaçãoda espécie humana sobre a natureza foi asua própria separação, um processo gradualfortemente influenciado pela maioria das religiõesmonoteístas, pelas Descobertas, pelaRevolução Industrial, pelo crescimento das cidadese pela revolução científica e tecnológica,tendo sido fortemente globalizado com aexpansão da civilização Ocidental. Derrubadoo sentimento de pertença à natureza, e munidode ferramentas tecnológicas poderosas,a maior parte da humanidade sentiu-se legitimadaa explorar intensivamente o ambienteem função de interesses muito imediatos,traduzindo-se rapidamente nos desequilíbriosglobais que hoje são bem evidentes.s18 saber MAIO 2020
DECORAÇÃODe que cor veste o seu chão?Os tapetes são um elemento fundamental na decoração deum espaço. Além de protegerem o soalho e as zonas demaior movimento, oferecem um calor convidativo e ajudama tornar o espaço mais acolhedor. Há tapetes paratodos os gostos. Redondos, quadrados, retangulares ou até octogonais,em lã, juta ou poliéster, lisos ou com padrões, as opções sãoinfinitas e fazem a diferença no ambiente de qualquer lar. Para oquarto, opte por um tapete de pelo comprido e macio para que possaestar sempre confortável. Para uma zona de passagem, selecioneum tapete mais resistente e com padrão, para disfarçar o desgaste.Para o quarto das crianças, escolha um tapete colorido ou comum padrão divertido e para uma divisão de tons neutros quebre amonotonia com um tapete com um padrão marcante ou com umformato original. sTânia Tadeu (taniatadeu@taylor365.pt), Dora Sousa (dorasousa@redoute.pt) newsredoute.com/fotosnewsredoute.com/fotossaber MAIO 202019