ENTREVISTAFranciscoFernandesDulcina BrancoMaria do Céu FernandesCarolina rodrigues4 saber maio 2020
Quisemos saber como, ou de queforma, os dias da pandemia afetaramautores e escritores, e assimsurgiu esta conversa em jeito de análiseà atualidade a que muito amavelmenteFrancisco Fernandes nos respondeu viaemail a partir da sua casa, no Funchal.Os livros e a atualidade na análise desteantigo professor que se formou emEconomia, Mestre em Gestão do Desporto,Doutor em Motricidade Humana naespecialidade de Ciências do Desporto eDoutor ‘Honoris Causa’ em AdministraçãoPública. A sua bibliografia conta trêsdezenas de obras nas áreas da investigaçãoem Gestão do Desporto, biografia,dramaturgia (narrativa e romance)e literatura infanto-juvenil.Como é que a pandemia afetou a produçãoliterária, de uma forma geral?- Para os que se dedicam à escrita, creioque tem sido um momento de inspiração ecriatividade. No que a mim diz respeito, fuidesafiado a produzir um conto passado noPorto Santo, e o contexto não foge à pandemiae às restrições e mobilidade. Na áreade escrita para um público infantojuveniltêm mesmo surgido inéditos aos quais otema da pandemia não é alheio. Mas há,efetivamente um reflexo ao nível do mercadolivreiro que se tem procurado adaptaràs vendas online, os alfarrabistas mostram--se mais ativos e com sites ou blogues maisatrativos. Claro que, a atividade editorial foireduzida, as Feiras do Livro adiadas, as atividadesdas bibliotecas escolares suspensas,mas é, espero, apenas uma pausa quese resolverá com a retoma... Adiei váriasidas às escolas, algo que faço com frequênciae que espero retomar no próximo anoletivo, no âmbito das iniciativas à volta dolivro, da leitura e da escrita criativa. O que énecessário, por agora, é que se reforcem oshábitos de leitura, que se dê lugar ao contojunto dos mais novos, que se ocupe o tempocom livros, que se estabeleçam diálogosentre o autor e o leitor. Recentemente desafieicom conjunto de autores que publicaramna Madeira e vários contadores dehistórias, a gravarem vídeos com os seuscontos, e criámos em conjunto um canalno youtube, o Canal Contos, https://www.youtube.com/channel/UCBoRkoUBON_xdNL2DFhvDZw/videos que já reuniu maisde vinte vídeos que ajudam as crianças eas famílias a preencher esta pausa social eescolar.Será mais complicado para os artistas,escritores, agentes culturais, retomarema sua atividade do que outros setores?- Creio que sim. Quando se fala na atividadeeconómica e no emprego, o trabalho naárea artística e cultural raramente aparecena lista das preocupações mas os seusagentes têm experiência de se fazer ouvire vão marcar a sua presença. Se há algoque a pandemia traz é uma maior atençãoaos outros e ao que nos rodeia. O distanciamento,que quanto a mim erradamentese vem chamando de social, é apenas distanciamentode contacto físico. As pessoasnão se distanciaram nem se esqueceramumas das outras, pelo contrário, desejamardentemente aproximar-se. Vamos comcalma! Imagino que os agentes culturais sevão transformar num mecanismo privilegiadode aproximação das pessoas.Como é que será o regresso à “normalidade”?- Temo que possa ser “explosivo” num primeiromomento, e até que haja um “sobressaltopandémico” que nos leve a assumircoletivamente que o problema nãoacabou. Mesmo que haja um passo atrás,e que voltem a ser impostas restrições,terá o efeito benéfico de ajudar à assunçãocoletiva do problema e à sua verdadeiradimensão. Com a minha experiência deproximidade ao desporto de competição,permito-me comparar esta situação àquelade uma equipa que ganha sempre e, nodia que perde um jogo, o treinador, diz: “estávamosmesmo a precisar disto!”. Esperoque não seja necessário “perder um jogo”, eque todas as campanhas e recomendaçõessurtam o efeito desejado. Normalidade,mesmo, só depois da vacina e, ainda assim,tardará a chegar a todos, nunca será 100%eficaz e será preciso lidar com os “anti-vacina”… Basta olhar para o que se passa comoutras doenças, designadamente a gripecomum, muito mais devastadora do que oCovid19, e para a qual já existe, desde hámuito, vacina, e continua a ser menosprezadae desconsiderada por muitos.Para os que se dedicam àescrita, creio que tem sidoum momento de inspiraçãoe criatividadesaber maio 20205