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comprometeu o ato de amar a uma lógica
funcionalista, imediata de dependência, no
relacionamento com o outro. Em vez de se
emancipar precipitou-se em vertigem. A
função de educar o outro, enquanto ato de
Amor, não se resume apenas à transmissão
de conhecimento, mas à dotação de ferramentas
e competências humanas, valores
éticos, de consciência moral, que permitam
ao outro ser humano, se tornar melhor pessoa
e só desse modo, ousar sonhar e se
tornar capaz mudar o mundo. Parafraseando
Paulo Freire, “quando a educação não
é libertadora, o sonho do oprimido é ser
opressor.” E este mundo que primeiro nos
seduziu, determinou-nos na sua própria sedução,
como se tratasse de uma estratégia
de autolegitimação dos nossos próprios
erros históricos, que preferimos
esquecer, no encanto da sedução. Voltámos
a ter medo de amar, porque ficou
inculturado o medo de sofrer, o medo
de fracassar. Uma cultura de palimpsesto,
que tem medo de amar, o outro, o diferente,
o até então desconhecido, tantas
vezes tem escolhido semear o ódio,
a vingança, em vez de escolher construir
pontes de encontro entre a diferença,
entre Culturas. «Não tentemos satisfazer
a sede de liberdade bebendo da taça
da amargura e do ódio», apelava Martim
Luther King. Estamos conscientes das
transformações apocalípticas do planeta,
mas nada ousamos fazer. Quisemos
fundamentar uma apologética do Amor,
tratando-a como uma síntese incompleta
da sociologia das emoções, demonstrando
os seus fracassos históricos da
humanidade, como se preferissemos generalizar
o fracasso das utopias de Amor
incondicional, pelo outro ser humano,
para evitarmos sofrer, para não amar,
tão perdidamente. O que faz distar, por
isso, o ser humano das máquinas, é essa
capacidade tão bela de estar disposto a
amar tão irracionalmente, alguém, sem
qualquer contrapartida, matemática ou
natural. Zygmunt Bauman, escreve no
seu ensaio “Amor líquido” que, «aceitar
esse preceito – de Amar - é um ato de fé;
um ato decisivo, pelo qual o ser humano
rompe a couraça dos impulsos, ímpetos
e predileções "naturais" e assume uma
posição que se afasta da natureza, que é
contrária a esta.» O ser humano permanece
assim, pelo Amor, mais distantes
das feras, distinto ainda, dos anjos – na conceção
Aristotélica - mas talvez, mais próximo
deles e do Derradeiro. Mas até as feras,
também nutrem seus momentos de Amor…
faltou coragem, de tirar tantos seres humanos
da solidão que os fez aproximar de feras.
Parafraseando Bauman, «acredite – no
Amor - porque é absurdo» – e por isso, só
pode ser mesmo verdadeiro. Criaram-nos
a ilusão, de que o único modo de estar no
mundo, em sociedade, era corresponder a
tudo o quanto o mundo abstrato nos impele,
levando ao extremo a apócope do Amor
- fundamento contrário à própria natureza
animalesca do humano. Qual será afinal o
fundamento de amar incondicionalmente
O Pensador “Le Penseur” (1904). Auguste Rodin.
Escultura em bronze. Altura: 186.
O Pensador original encontra-se nas 'Rodin Gates'.
o próximo, o desconhecido, o outro como
nós? Sermos diferentes de animais, de máquinas,
ou de anjos, sermos autenticamente
genuínos, verdadeiros humanos, inocentes
como crianças, para que não mais importe
aquilo que somos, mas aquilo que de bom
podemos dar, ao outro, para transformar o
mundo. Somos apenas metade, à espera de
semelhante Amor. s
saber MAIO 2020
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