NOREVISTA AGOSTO 2020
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S U M Á R I O<br />
<strong>AGOSTO</strong><br />
05<br />
31<br />
ENTREVISTA<br />
À MESA COM FRANCISCO<br />
RODRIGUES DOS SANTOS<br />
DESTAQUE<br />
FRASES DO MÊS<br />
47<br />
24<br />
55<br />
CRÓNICA<br />
JOÃO CASTRO<br />
CRÓNICA<br />
ORDEM DOS ENFERMEIROS DOS<br />
AÇORES<br />
34<br />
CRÓNICA<br />
RICARDO SILVA<br />
59<br />
CRÓNICA<br />
ANTÓNIO VENTURA<br />
39<br />
ENTREVISTA<br />
CÉSAR TOSTE<br />
65<br />
SÁTIRA<br />
O Turismo nos Tempos de<br />
DESIGUALDADES ÉTNICO-<br />
Covid-19<br />
RACIAIS EM TEMPOS DE<br />
de confiança na<br />
16 50 59<br />
PANDEMIA<br />
Webinar: “Uma questão<br />
hotelaria dos Açores”
E D I T O R I A L<br />
ELEIÇÕES REGIONAIS <strong>2020</strong><br />
À data do fecho desta edição<br />
de agosto, o nosso estimado<br />
e carismático Presidente da<br />
República ainda não tinha<br />
marcado a data para as<br />
eleições regionais. Depois de<br />
reunir com os partidos a 22 de<br />
julho ficou-se na expetativa,<br />
mas sem resultados.<br />
Ainda não sabemos o que<br />
pretende Marcelo Rebelo de<br />
Sousa com esta indefinição.<br />
Embora estejam os partidos<br />
na azáfama do costume,<br />
uns já em campanha, outros<br />
na constituição de listas, a<br />
própria Comissão Nacional de<br />
Eleições marcou reunião com<br />
os OCS’s para esclarecimento<br />
de dúvidas no próximo ato<br />
eleitoral regional.<br />
Por um lado, o Partido<br />
Socialista evoca a<br />
necessidade de marcar<br />
as eleições o mais breve<br />
possível, alegando questões<br />
de segurança perante a atual<br />
pandemia. Por outro lado,<br />
vozes do Partido Social<br />
Democrata proclamam o<br />
adiamento das mesmas.<br />
As razões de ambos são<br />
percetíveis e enquadramse<br />
nas suas próprias<br />
necessidades eleitoralistas.<br />
Se o Partido Socialista quer<br />
o quanto antes eleições,<br />
percebe-se que esta<br />
necessidade decorre do<br />
aperto das finanças públicas,<br />
no desgaste governativo e<br />
não menos expectante crise<br />
económica que se prevê para<br />
início de outubro com muitas<br />
empresas a encerrar. Do lado<br />
do Partido Social Democrata,<br />
a necessidade é no sentido<br />
oposto, pois a quarentena veio<br />
apagar o espaço da oposição<br />
e diminuir a popularidade de<br />
José Manuel Bolieiro. Logo,<br />
o adiamento iria proporcionar<br />
ao PSD um espaço de maior<br />
visibilidade e aproveitamento<br />
da crise que se avizinha.<br />
Perante este cenário,<br />
parece que o Presidente da<br />
República, sendo do PSD,<br />
terá uma grande inclinação<br />
para cair nesta tentação de<br />
esquecer que representa todos<br />
os portugueses e esperar<br />
por uma oportunidade para<br />
beneficiar as vontades da<br />
sua família política. Este<br />
tempo de espera só tem uma<br />
leitura. Marcelo Rebelo<br />
de Sousa está a fazer um<br />
compasso de espera na<br />
expetativa que a situação nos<br />
Açores se agrave, no quadro<br />
da pandemia, para ter uma<br />
desculpa consistente e adiar<br />
as eleições.<br />
FICHA TÉCNICA:<br />
ISSN 2183-4768<br />
PROPRIETÁRIO ASSOCIAÇÃO AGENDA DE NOVIDADES<br />
NIF 510570356<br />
SEDE DE REDAÇÃO RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,<br />
9500-093 PONTA DELGADA<br />
SEDE DO EDITOR RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,<br />
9500-093 PONTA DELGADA<br />
DIRETOR/EDITOR RUI MANUEL ÁVILA DE SIMAS CP3325A<br />
DIRETORA ADJUNTA CLÁUDIA CARVALHO TPE-288A<br />
REDAÇÃO CHEFE REDAÇÃO RUI SANTOS TPE-288 A,<br />
CLÁUDIA CARVALHO TPE-288 A, SARA BORGES, ANA SOFIA<br />
MASSA, ANA SOFIA CORDEIRO<br />
REVISÃO ANA SOFIA MASSA<br />
PAGINAÇÃO MÁRIO CORRÊA<br />
CAPTAÇÃO E EDIÇÃO DE IMAGEM RODRIGO RAPOSO E<br />
MIGUEL CÂMARA<br />
DEPARTAMENTO DE MARKETING, COMUNICAÇÃO E IMAGEM<br />
CILA SIMAS E RAQUEL AMARAL<br />
PUBLICIDADE RAQUEL AMARAL<br />
MULTIMÉDIA RODRIGO RAPOSO<br />
INFORMÁTICA JOÃO BOTELHO<br />
RELAÇÕES PÚBLICAS CILA SIMAS<br />
Nº REGISTO ERC 126 641<br />
COLABORADORES ANTÓNIO VENTURA, JOÃO CASTRO,<br />
RICARDO SILVA<br />
CONTACTOS MARKETING@AGENDADENOVIDADES.COM<br />
ESTATUTO EDITORIAL:<br />
A NO É UMA REVISTA DE ÂMBITO REGIONAL (NÃO FICANDO<br />
EXCLUÍDOS OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA E<br />
COMUNIDADES PORTUGUESAS ESPALHADAS PELO MUNDO).<br />
A NO DISPONIBILIZA INFORMAÇÃO INDEPENDENTE E<br />
PLURALISTA RELACIONADA COM A POLÍTICA, CULTURA<br />
E SOCIEDADE NUM CONTEXTO REGIONAL, NACIONAL E<br />
INTERNACIONAL.<br />
A NO É UMA REVISTA AUTÓNOMA, SEM QUALQUER<br />
DEPENDÊNCIA DE NATUREZA POLÍTICA, IDEOLÓGICA E<br />
ECONÓMICA, ORIENTADA POR CRITÉRIOS DE RIGOR, ISENÇÃO,<br />
TRANSPARÊNCIA E HONESTIDADE.<br />
A NO É PRODUZIDA POR UMA EQUIPA QUE SE COMPROMETE<br />
A RESPEITAR OS DIREITOS E DEVERES PREVISTOS NA<br />
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA; NA LEI DE<br />
IMPRENSA E NO CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS.<br />
A NO VISA COMBATER A ILITERACIA, INCENTIVAR O GOSTO<br />
PELA LEITURA E PELA ESCRITA, MAS ACIMA DE TUDO,<br />
PROMOVER A CIDADANIA E O CONHECIMENTO.<br />
A NO REGE-SE PELO CUMPRIMENTO RIGOROSO DAS NORMAS<br />
ÉTICAS E DEONTOLÓGICAS DO JORNALISMO E PELOS<br />
PRINCÍPIOS DE INDEPENDÊNCIA E PLURALISMO.<br />
04 NOAGO20
FRANCISCO RODRIGUES DOS SANTOS<br />
PRESIDENTE DO CDS - PP<br />
NOAGO20 05
E N T R E V I S T A<br />
ENTREVISTA EM<br />
VÍDEO NA VERSÃO<br />
DIGITAL<br />
06 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
Sejam bem-vindos a mais um À mesa com, na<br />
Associação Agrícola de São Miguel, com um<br />
convidado especial, o presidente do CDS-PP,<br />
Francisco Rodrigues dos Santos. Em linhas<br />
gerais, o que é que pretende que seja o CDS-PP?<br />
Pretendo que o CDS seja um partido futuro<br />
projetado na realidade portuguesa, de norte a sul<br />
e ilhas, que tenha a audácia de se armar como a<br />
verdadeira direita popular em Portugal, fronteira<br />
de todos os extremismos e experimentalismos que<br />
a história já provou serem falhados e com os testes<br />
do tempo demonstraram que não têm qualquer<br />
utilidade do ponto de vista democrático e que<br />
tenha um empenho generalizado em apresentar<br />
boas propostas para as pessoas, querer romper o<br />
elevador social para cada um, independentemente<br />
da zona onde nasce, poder vencer na vida e<br />
terem todas as ferramentas para isso, investir na<br />
sua educação, ter um Estado que seja focado no<br />
núcleo essencial das suas funções de soberania e<br />
que não falhe na saúde, na educação, nos sistemas<br />
sociais, para não deixar ninguém para trás, mas<br />
que não seja um sorvedouro de recursos, onde<br />
cada jovem não esteja sentenciado a ter que<br />
pagar uma dívida que não contraiu e que lhe vai<br />
subtraindo rendimentos ao longo do seu projeto<br />
prossional, que cá tenha oportunidades, que<br />
não seja obrigado a ter que emigrar para outras<br />
zonas do país ou até para o estrangeiro e que<br />
represente um projeto alternativo ao socialismo<br />
e aqui na Região Autónoma dos Açores podemos<br />
dizer que um voto ao CDS representa o m dos<br />
poderes absolutos perpetrados por maiorias<br />
indeterminadas do PS e antes disso, vinte anos<br />
também do Partido Social Democrata. Portanto,<br />
queremos uma aragem democrática de esperança<br />
e de renovação também na classe política com<br />
novos protagonistas que conciliem a juventude<br />
com a experiência com os tais cabelos brancos, de<br />
modo a que tenhamos um partido inter-geracional<br />
virado para o dia de amanhã e, por outro lado,<br />
um voto no CDS também representa um tampão<br />
NOAGO20 07
E N T R E V I S T A<br />
e um cartão vermelho a todas as ideologias mais<br />
radicais que o CDS sempre soube erguer o muro.<br />
Portanto, se nós conseguimos armar este CDS como<br />
um partido de valores seguros, conável, que as<br />
pessoas reconhecem uma utilidade porque consegue<br />
traduzir as suas propostas políticas em direitos<br />
para os portugueses e, neste caso concreto, para os<br />
açorianos que é reconhecido pelo seu trabalho e pelo<br />
seu mérito, eu acho que se houver justiça o CDS é um<br />
partido compensado pelo mérito das suas iniciativas,<br />
pela qualidade das suas propostas, mas também pela<br />
craveira e pela dimensão social e política dos seus<br />
intervenientes. Portanto, somos um partido que quer<br />
renascer, quer ser uma tal Primavera, que mais do<br />
que entrar num sistema viciado onde está sempre<br />
em causa uma alternância e não uma verdadeira<br />
alternativa no sistema entre o bloco cinzento do<br />
centrão, que come à mesa do Orçamento de Estado<br />
ou do Orçamento Regional. Nós queremos ser uma<br />
verdadeira mudança, alicerçada em valores, não<br />
somos um partido protesto, de um homem só, nem<br />
um chorrilho de incoerências ou de palavras de ordem<br />
e de protestos que vamos enunciando consoante as<br />
circunstâncias, não, somos um partido que tem uma<br />
vocação autónoma de poder, que está entroncado<br />
em valores perenes como a família, o valor da vida, o<br />
valor da subsidiariedade, um Estado que dá liberdade<br />
à iniciativa privada, que protege os contribuintes, que<br />
quer também a lei e a ordem porque infelizmente têm<br />
surgido alguns casos de criminalidade em Portugal e<br />
que coloca em causa também a autoridade das nossas<br />
forças de segurança e o respeito por quem tem o<br />
dever de defender a nossa liberdade, imprimindo um<br />
clima de segurança no nosso país e portanto somos<br />
um partido que está em constante armação, que<br />
quer credibilizar-se, crescer, a começar desde logo no<br />
próximo ciclo eleitoral aqui nos Açores.<br />
Depois de assumir a liderança do CDS-PP, o que<br />
esperava encontrar e o que encontrou da aceitação<br />
do seu projeto político, ou seja, depois de assumir,<br />
quais foram as conclusões?<br />
Bem, em primeiro lugar dizer que no Congresso,<br />
os órgãos nacionais do CDS foram eleitos com 65%<br />
dos votos dos congressistas naquele que foi o maior<br />
encontro magno, o maior congresso da história do<br />
CDS. Ao nível de adesão, tivemos cerca de 1500<br />
congressistas, portanto a legitimidade política<br />
08 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
desta direção do CDS, da qual o Artur Lima é<br />
vice-presidente nacional do partido e daqui está<br />
também bem expressa a importância e o relevo<br />
que nós damos aos Açores no quadro interno do<br />
nosso partido é verdadeiramente assumir esta<br />
conança e este mandato que os militantes nos<br />
deram que é inequívoco. De resto, eu sabia que iria<br />
encontrar um partido que não estava propriamente<br />
a atravessar a sua melhor fase. O CDS sofreu um<br />
dano reputacional muito grande, cou reduzido a 5<br />
deputados na Assembleia da República e a 4% dos<br />
votos. Foi o pior resultado de sempre da história<br />
do CDS e havia que reinventar o CDS com um<br />
discurso fresco, acutilante, que fale ao coração dos<br />
portugueses e que represente a nossa sociedade de<br />
forma transversal, que não seja um partido nicho e<br />
com bandeiras muito claras e que represente uma<br />
identidade. Um voto no CDS é proteger a nossa<br />
indústria, os nossos setores produtivos, a produção<br />
portuguesa, os nossos produtos e as nossas marcas.<br />
Também defender os nossos comerciantes, sejam<br />
os barbeiros, sejam os donos dos restaurantes,<br />
sejam os nossos agricultores, sejam os empresários<br />
por exemplo na área da montagem das estruturas<br />
dos eventos. Estamos a falar também de muitos<br />
portugueses que têm a loja aberta nesta altura e<br />
que não têm rendimentos, portanto é um discurso<br />
virado para quem quer empreender na vida, quem<br />
quer ter todas as ferramentas para ter os seus<br />
rendimentos e que não quer depender de terceiros,<br />
mas que nesta altura de crise pandémica têm tido<br />
muitas diculdades. É um partido que se quer<br />
armar como defensor das novas gerações, que<br />
aqueles que são mais jovens tenham oportunidade<br />
no seu país, que a educação esteja verdadeiramente<br />
democratizada, onde aqueles que têm menos<br />
NOAGO20 09
E N T R E V I S T A<br />
rendimentos terão as mesmas opções de apostar<br />
na sua educação do que as famílias que têm mais<br />
recursos e são mais ricas e que têm uma igualdade<br />
de oportunidades em Portugal. Um discurso<br />
virado também para a defesa das nossas tradições.<br />
O que é que o distingue de outros líderes?<br />
No fundo, eu acredito que sou um líder jovem<br />
e quero também conquistar o futuro por aí e as<br />
pessoas queixam-se que a política é um circuito<br />
fechado e mais do mesmo com os mesmos. Enm,<br />
eu acho que é um erro tomar sempre as mesmas<br />
opções e esperar resultados diferentes. Aquele<br />
que seja el e coerente com aquilo que habituou<br />
os portugueses, com discurso forte ao nível da<br />
segurança, ao nível da proteção dos rendimentos,<br />
ao nível dos contribuintes que estão esbulhados<br />
pelo Estado que é um servidor de recursos e de<br />
dinheiro que tira ao nal do mês depois não<br />
apresenta serviços públicos como retorno da<br />
quantidade de impostos que são colocados a<br />
favor da iniciativa privada, defende que o Estado<br />
deve ser bom a pagar a tempo e horas como é<br />
um fantástico cobrador, portanto o Estado não<br />
se pode atrasar indevidamente a pagar as nossas<br />
empresas mil e seiscentos e vinte quatro milhões<br />
de dívida a fornecedores que não está a pagar e<br />
que tem que pagar a tempo e horas e que tem de<br />
colocar este dinheiro a circular na economia. Do<br />
ponto de vista social, somos o partido que tem<br />
que olhar para a sua vertente humanista, ocupado<br />
sobretudo com os mais idosos, a esperança<br />
média de vida em Portugal está cada vez mais<br />
elevada e é preciso investir na nossa população<br />
sénior e aqui nos Açores também temos tomado<br />
boas medidas neste sentido como o caso do<br />
COMPAMID que é uma comparticipação social<br />
na compra de medicamentos para os pensionistas,<br />
para as pessoas que se defecientaram e que<br />
estão incapacitadas de exercer a sua atividade<br />
prossional cuja comparticipação subiu agora para<br />
25%. Portanto, somos um partido virado também<br />
para aqueles que mais precisam e que estão com<br />
diculdades, sobretudo cuidar de quem cuidou de<br />
nós, dos mais idosos e essa matriz social tem de<br />
estar bem denida. Portanto, procurando pegar<br />
nesta geometria de valores que são intrínsecos<br />
ao CDS é dar-lhes atualidade, mas sem fazer<br />
concessões porque esses valores são inegociáveis,<br />
não procurar agradar a todos porque, no fundo,<br />
10 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
é o primeiro passo para o insucesso na política<br />
e a ideia do CDS é esta, é mostrar-se útil, que<br />
consegue, independentemente da representação<br />
que o povo lhe dá, do seu espírito de compromisso<br />
de algo construtivo, conseguir atingir boas soluções<br />
que serve aos interesses do país ou da região,<br />
pedindo aos portugueses que nos deem mais<br />
força e capacidade para inuenciar as políticas<br />
porque se nós aqui nos Açores, com quatro<br />
deputados, conseguimos tomar medidas como o<br />
Vale Saúde, como o programa CIRUGE, como o<br />
COMPAMID, como o prémio de mérito para os<br />
estudantes que entram no ensino superior, como<br />
a comparticipação no pagamento das bolsas para<br />
estudantes carenciados ou, como por exemplo,<br />
observamos no apoio aos doentes oncológicos que<br />
vão sofrendo tratamentos noutra ilha ou mesmo<br />
no continente. Se nós, no quadro da força que<br />
os açorianos nos deram, conseguimos ter uma<br />
amplitude tão grande, uma ecácia política que<br />
ajuda os açorianos e lhes conquista mais direitos,<br />
eu gostava de pedir aos açorianos que dessem<br />
mais conança ao CDS para que o seu grau de<br />
participação e da preponderância na denição<br />
de políticas públicas seja ainda maior para poder<br />
ajudar os Açores a desenvolverem-se.<br />
No fundo, tudo isto, todas estas medidas que<br />
foram apresentadas e aprovadas pelo CDS-PP,<br />
com uma maioria do Governo socialista, querem<br />
dizer que os açorianos conam mais naquilo<br />
que o CDS tem feito. Francisco, é correto que a<br />
direita em Portugal está a esvaziar-se de espaço à<br />
esquerda e à catalogada extrema direita? Onde se<br />
posiciona o CDS-PP e o que é que pretende fazer<br />
para recuperar o seu espaço?<br />
Eu não concordo que a direita aqui em Portugal<br />
esteja a perder espaço porque aqueles que<br />
procuram a direita no PSD bateram à porta errada<br />
porque o PSD é um partido social democrata<br />
e a social democracia em qualquer país da<br />
Europa enquadra-se no centro esquerda e depois<br />
catalogados como direita. Vivemos numa altura<br />
de crise económica. Eu ouvi o CDS a defender o<br />
alargamento do lay-off simplicado para todos os<br />
sócios-gerentes como aconteceu aqui nos Açores, o<br />
aval tecnológico para todos os estudantes poderem<br />
ter ensino digital à distância, sobretudo aqueles<br />
que não têm rendimentos para pagar um tablet<br />
ou um computador, e o CDS conseguiu propor.<br />
NOAGO20 11
E N T R E V I S T A<br />
Não vejo esses partidos a apresentar por exemplo<br />
a ideia de uma duplicação do valor das linhas<br />
de crédito asseguradas a fundo perdido para o<br />
Estado poder recapitalizar as suas empresas e<br />
resolver os problemas de liquidez e de tesouraria<br />
que enfrentam. Não ouvi nenhum desses partidos<br />
apresentar propostas como um acerto de contas<br />
que obriga o Estado a pagar as suas dívidas aos<br />
fornecedores e aos contribuintes, sejam empresas<br />
ou pessoas singulares ou que cada um de nós possa<br />
ter direito a descontar no pagamento de impostos,<br />
as dívidas que o Estado tem em si. Olhe, no caso<br />
de matéria social, quando um açoriano falece<br />
noutra ilha porque foi deslocado para efeitos de<br />
tratamento numa cirurgia que acaba por correr<br />
mal, hoje em dia, é o Governo Regional que custeia<br />
a trasladação do corpo até aqui. Se não fosse o<br />
CDS não teria sido possível. Portanto, o que é que<br />
eu acho que é fundamental? Dizer o que é que<br />
representa esta direita popular em Portugal que<br />
o CDS quer liderar. É isto. É pegar nos valores do<br />
CDS na área da saúde, na área social, na área da<br />
educação. Eu falei há pouquinho do prémio de<br />
mérito, os Açores têm uma das taxas mais baixas<br />
de alunos que têm acesso ao ensino superior.<br />
Temos de promover esta aposta que cada um<br />
faz na sua formação. Um prémio de 500 euros é<br />
simbólico, mas é um estímulo ao conhecimento<br />
para que os jovens depois regressem ao arquipélago<br />
dos Açores e possam trazer um valor acrescentado<br />
ao seu conhecimento para desenvolver também a<br />
sua terra natal. Enm, eu acho que um partido que<br />
seja útil é isto que signica. É poder demonstrar<br />
que consegue apresentar políticas que tenham<br />
identidade, que possam rmar uma silhueta, uma<br />
imagem clara do partido de direita e não dizer<br />
apenas um conjunto de intenções ou de ideias que<br />
até podem agradar nas conversas de café, mas que<br />
não são políticas em si mesmo. Nós temos o líder<br />
do CDS Açores que é o Artur Lima, um homem,<br />
um reputado dentista, com imenso sucesso, com<br />
um sentido de missão e uma vocação que sempre<br />
esteve inerente até à sua própria atividade, que é<br />
homem experimental, com currículo, com provas<br />
dadas e que tem tornado o CDS um partido<br />
conável e tranquilo, uma escolha segura. O CDS<br />
não é de experimentalismos, não vamos ver no que<br />
é que dá, não é um tiro no escuro, é um partido<br />
12 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
de escolha segura dos açorianos que pode retirar<br />
a maioria absoluta ao Partido Socialista que é isto<br />
que se vai discutir nessas eleições, não tenhamos<br />
ilusões, vamos tirar a maioria absoluta ao Partido<br />
Socialista, precisamos sim de um partido que<br />
seja alternativo ao Partido Socialista e não uma<br />
alternância.<br />
Por falar em eleições, aproximam-se três atos<br />
eleitorais, as legislativas nos Açores em outubro<br />
deste ano, a presidência da República, em<br />
janeiro de 2021, e as autárquicas também em<br />
2021. Quais é que são os objetivos que pretende<br />
alcançar para as legislativas aqui nos Açores?<br />
O trabalho que o CDS desenvolveu ao longo de<br />
quatro anos foi de excelência no Parlamento. Bem,<br />
um partido que consegue fazer tanto com quatro<br />
deputados obviamente tem a expetativa de crescer,<br />
porque fez um bom trabalho e tem um líder<br />
experiente como o caso do Artur Lima que conjuga<br />
a sua maturidade, os seus cabelos brancos, com<br />
um convite à participação de uma nova geração de<br />
políticos altamente qualicados, ou seja, temos um<br />
político, o Alonso Miguel, que representa a nova<br />
geração do CDS nos Açores, doutorado, que é vicepresidente<br />
do Parlamento do Grupo Parlamentar<br />
do CDS, que é secretário do partido do CDS dos<br />
Açores, que conseguiu implementar o partido<br />
de forma extraordinária ao longo dos últimos<br />
dois anos. Temos mais estrutura elétrica, temos<br />
mais militantes, temos mais propostas aprovadas,<br />
conseguimos traduzir a estrutura do CDS no<br />
Parlamento Regional. Para os açorianos, nós somos<br />
uma escolha segura de quem quer uma alternativa<br />
ao socialismo. Não somos mais dos mesmos com<br />
os mesmos, não queremos discutir o centrão,<br />
queremos uma alternativa de direita, a única direita<br />
democrática e popular em Portugal.<br />
Eleições para a presidência da República. O<br />
CDS irá apresentar candidato próprio ou vai<br />
apoiar Marcelo Rebelo de Sousa caso este se<br />
recandidate?<br />
Esta é uma pergunta que me têm colocado por<br />
NOAGO20 13
E N T R E V I S T A<br />
diversas vezes e é muito pertinente. O meu pai<br />
ensinou-me que devemos encarar um objetivo de<br />
cada vez e, portanto, eu acho que seria desmerecer<br />
as eleições regionais dos Açores e até subtrair a<br />
importância e secundarizá-las, o que seria também<br />
um insulto para o povo açoriano se a voz estivesse<br />
a falar de presidenciais que só ocorrerão daqui<br />
a sensivelmente seis meses. Portanto, eu tenho<br />
dito várias vezes que numa altura em que o país<br />
enfrenta uma tremenda emergência social, seria<br />
até desnaturado estar a concentrar-me em eleições<br />
presidenciais que temos tempo para discutir no<br />
futuro e se quisermos nos concentrar estritamente<br />
no calendário eleitoral, temos primeiro umas<br />
eleições regionais nos Açores e isso sim é a nossa<br />
prioridade, pelo que passei esta última semana<br />
aqui na Região Autónoma dos Açores a apoiar o<br />
partido para compormos listas com gente com<br />
notoriedade, com currículo, com prestígio para<br />
dar a cara pelo CDS nas ilhas. Portanto, eu dirlhe-ia<br />
o seguinte: não é uma prioridade do CDS<br />
agora, é extemporânea essa discussão e tem sido o<br />
professor Marcelo Rebelo de Sousa, apoiado pela<br />
direita, inclusivamente pelo CDS, nós aguardamos<br />
serenamente que haja uma declaração de vontade<br />
do atual Presidente da República para saber se foi<br />
ou se não foi candidato e depois disso reuniremos<br />
os órgãos do partido e vamos tomar uma decisão<br />
sobre que apoio daremos.<br />
Por último, sobre não ter havido o Congresso<br />
Regional do CDS-PP do atual líder Artur Lima,<br />
perde alguma legitimidade democrática dentro<br />
do partido e por que razão é que não aconteceu<br />
este congresso? Qual é que é o seu ponto de vista<br />
sobre isto?<br />
Este calendário é fácil de explicar. O Congresso<br />
estava marcado para dezembro e o que acontece<br />
é que por contingências e atividade política<br />
nacional do partido à qual o partido do CDS<br />
Açores é alheio e, como sabe, nós herdámos uma<br />
situação nanceira muito difícil, tornou-se inviável<br />
a realização de um congresso do CDS Açores.<br />
Desencadeou-se imediatamente um processo de<br />
eleição interna nacional do CDS, não faria sentido<br />
rigorosamente nenhum estar a investir recursos em<br />
algo e a afetar verbas a um congresso dos Açores<br />
quando o partido estava sem liderança nacional e<br />
o conselho regional dos Açores deliberou adiar o<br />
congresso do CDS. Acho que foi uma decisão do<br />
14 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
mais elementar bom senso numa altura da nossa<br />
vida em que o bom senso deve presidir naquilo<br />
que são táticas de poder pessoal que existam nos<br />
partidos e eu aqui aprecio a prova de humildade<br />
do CDS Açores, concentrando esforços para que<br />
tivesse uma liderança refrescante, despoeirada,<br />
inovadora com juventude capaz de resgatar o<br />
partido. Portanto, a expetativa que há é que após<br />
as eleições legislativas regionais nós precisamos<br />
também de realizar o nosso congresso e creio<br />
que neste aspeto não vejo aqui grandes tumultos.<br />
O partido está sereno, temos uma liderança<br />
esclarecida, consolidada e o nosso cabeça de lista<br />
e candidato a Presidente do Governo Regional, a<br />
quem nós esperamos que tenha um bom resultado<br />
e tudo faremos para que o CDS tenha os meios<br />
necessários, a conança, o apoio, a energia e o<br />
ânimo da estrutura nacional para ter o melhor<br />
resultado, porque a gente que trabalhou, humilde,<br />
que não tem soberba, que não quer o poder por<br />
poder, que tem conança em si mesmo, tenha<br />
uma receita que é concorrente e alternativa ao<br />
socialismo. Não andamos aqui a fazer discursos de<br />
colaborações patrióticas que mais parecem uma<br />
espécie de coligações exóticas. Nós queremos de<br />
facto que os Açores se possam desenvolver e esse<br />
clima de alavancagem da qualidade das políticas<br />
regionais passa sobretudo pelo PS não ter maioria<br />
absoluta. E a quem é que vai ser entregue o voto<br />
que impede o PS de ter maioria absoluta? Eu acho<br />
que por uma questão de coerência é o partido que<br />
representa algo que é substancialmente diferente<br />
das políticas do partido socialista e que, tendo<br />
embora apenas quatro deputados, mais conseguiu<br />
inuenciar as políticas públicas da Região, dando<br />
mais direito aos açorianos na área social, na área da<br />
iniciativa privada empresarial, na saúde e na área<br />
da educação.<br />
PUB
R E P O R T A G E M<br />
O Turismo em<br />
tempos de COVID-19<br />
RUI SANTOS<br />
A perspetiva dos eurodeputados portugueses<br />
e da Confederação do Turismo de Portugal<br />
No dia 15 de julho, o Gabinete do Parlamento<br />
Europeu em Portugal realizou um webinar<br />
intitulado “O Turismo em tempo de Covid-19”,<br />
tendo como oradores os eurodeputados, membros<br />
da Comissão dos Transportes e do Turismo, Sara<br />
Cerdas, do Partido Socialista, Cláudia Monteiro<br />
de Aguiar, do Partido Social Democrata, João<br />
Ferreira, do Partido Comunista Português e o<br />
Vogal da Comissão Executiva da Confederação do<br />
Turismo de Portugal Nuno Bernardo, num debate<br />
que contou com a moderação da jornalista Rosália<br />
Amorim, Diretora do "Dinheiro Vivo".<br />
As temáticas a debate foram os desaos que<br />
a COVID-19 coloca ao turismo; o papel do<br />
Parlamento Europeu para mitigar os efeitos da<br />
pandemia no setor; as medidas que devem ser<br />
tomadas para garantir a sobrevivência do setor; a<br />
pandemia como oportunidade para modernizar<br />
o turismo na União Europeia (UE); os desaos de<br />
um plano de ação para o turismo da UE em 2021,<br />
e, por último, o apoio à transição ecológica e a<br />
digitalização do setor.<br />
De registar que, segundo dados da Comissão<br />
Europeia, o volume de negócios do turismo poderá<br />
ter uma redução de mais de 70% no segundo<br />
trimestre deste ano e as necessidades básicas de<br />
investimento neste setor deverão ascender a 161<br />
mil milhões de euros.<br />
Também, segundo o Turismo de Portugal, o<br />
setor do turismo é a maior atividade económica<br />
exportadora do país, tendo sido, em 2019,<br />
responsável por 52,3% das exportações de serviços<br />
16 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
e por 19,7% das exportações totais. As receitas<br />
turísticas registaram um contributo de 8,7% para o<br />
PIB nacional.<br />
No dia 19 de junho, o Parlamento Europeu<br />
propôs apoios adicionais ao setor do turismo. Em<br />
particular, os eurodeputados pediram medidas<br />
para assegurar que as empresas do setor do<br />
turismo consigam sobreviver à crise e para garantir<br />
a saúde e a segurança dos trabalhadores e dos<br />
turistas. Os eurodeputados reconhecem que o setor<br />
do turismo, que emprega 22,6 milhões de pessoas<br />
(11,2% do emprego total na UE) e que contribuiu<br />
com 9,5% para o PIB europeu em 2019, foi um dos<br />
mais afetados pela pandemia COVID-19, estando<br />
a UE e os Estados-Membros a prestarem um apoio<br />
nanceiro adicional a este setor.<br />
Sara Cerdas, eurodeputada do Partido Socialista,<br />
foi quem abriu o debate, começando por salientar<br />
que “o turismo está na ordem do dia”, constatando<br />
que “a meio de uma pandemia é o setor mais<br />
afetado”, alertando, com isto, para as “graves<br />
repercussões não apenas para as grandes empresas,<br />
para as pequenas e médias e microempresas no<br />
setor do turismo, mas também todos os outros<br />
setores estarão englobados nesse aspeto”.<br />
Esperando que o Conselho Europeu chegue a<br />
uma decisão acerca dos apoios e dos mecanismos<br />
de apoio para dar resposta a esta pandemia, a<br />
eurodeputada avançou que se tem discutido no<br />
Parlamento Europeu “a necessidade de ter uma<br />
estratégia para o turismo, a necessidade de olhar<br />
para o turismo como uma indústria de forma a<br />
ter apoios mais consistentes, também por via de<br />
ter a necessidade de criar a gestão de crises para<br />
o turismo em especíco”, considerando o setor<br />
“muito sensível a intempéries não apenas de saúde,<br />
mas também meteorológicas”.<br />
Sara Cerdas defende a criação de uma “linha de<br />
nanciamento especíca no Quadro Financeiro<br />
Plurianual (QFP)” para este setor. “Isto é o que<br />
temos vindo a desenvolver e a defender no<br />
Parlamento Europeu”, armou.<br />
Para a mesma, nos moldes atuais de apoio ao<br />
turismo para se ter nanciamento “têm que ir<br />
às mais diversas linhas do QFP e perceber se aí<br />
se coaduna uma candidatura para as diferentes<br />
empresas e entidades relacionadas com o turismo<br />
ou não, ao invés de ter uma linha especíca”,<br />
dicultando assim o acesso a esses mesmos apoios.<br />
A eurodeputada do Partido Socialista defende uma<br />
maior coordenação da UE, “fruto desta pandemia,<br />
com todos os estados membros para orientar de<br />
que forma é que depois as candidaturas aos fundos<br />
têm que acontecer. Se não chegarmos a uma<br />
NOAGO20 17
R E P O R T A G E M<br />
decisão muito em breve não irá existir liquidez,<br />
não irá existir mecanismos nanceiros que salvem<br />
o setor, porque não pode car tantos meses sem<br />
receitas”, alertou.<br />
Já Claúdia Monteiro de Aguiar, Eurodeputada<br />
do PSD, referiu que “muitas vezes dizemos que<br />
a Europa tem falhado nesta crise pandémica,<br />
no apoio direto aos estados membros e,<br />
nomeadamente, ao setor do turismo”, considerando<br />
“crucial” fazer uma destrinça daquilo que são<br />
as instituições europeias. “Do ponto de vista do<br />
Parlamento Europeu, quer do grupo de trabalho de<br />
turismo, que tem vindo ao longo do tempo, desde<br />
o início desta crise pandémica, apresentado um<br />
conjunto de medidas, de ideias, de soluções para<br />
ajudar a combater esta crise no setor, o mesmo tem<br />
tido um papel completamente ativo na promoção<br />
de soluções. Depois a Comissão Europeia, numa<br />
primeira fase não identicou bem o problema,<br />
não deu o apoio como devia ter dado aos estados<br />
membros que no início sofreram imenso com as<br />
restrições que estavam a acontecer um pouco por<br />
toda a Europa”, relembrou.<br />
Para esta eurodeputada, o papel do Conselho<br />
Europeu é “fulcral” e, “neste momento, deve-se<br />
denir se este fundo de recuperação vai servir<br />
para apoiar o setor”, recomendando que o fundo<br />
de recuperação aloque “uns 10, 15 ou 20%” ao<br />
Turismo, Claúdia Monteiro disse, relativamente<br />
ao adiamento do Conselho Europeu de um fundo<br />
próprio de recuperação, que “não sabemos,<br />
aos dias de hoje, como é que vai ser este apoio<br />
nanceiro para o Turismo, portanto é fundamental<br />
que este seja o mais rápido possível e que<br />
chegue às empresas e à população em geral, aos<br />
trabalhadores que estão a ser afetados por esta<br />
crise que se acentuará economicamente depois do<br />
verão”, alertou.<br />
Relativamente à segmentação de apoios, a<br />
eurodeputada do PSD mencionou que o seu<br />
partido pediu “uma linha de nanciamento<br />
especíca para o Turismo”. Apesar de o Turismo<br />
não ser uma competência da UE, a eurodeputada<br />
arma que a UE “pode e deve coordenar todo o<br />
seu trabalho com os estados membros, portanto,<br />
achamos que é importantíssimo que esta linha de<br />
nanciamento surja e que aconteça também, não<br />
apenas no plano de recuperação, mas no próximo<br />
quadro nanceiro, porque se nós queremos que<br />
o setor recupere desta crise e que depois tenha<br />
18 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
caminho para andar para os próximos 5/10<br />
anos, precisa de ter um suporte nanceiro<br />
e, claramente, este suporte tem de vir do<br />
QFP”, concordando com as declarações da<br />
eurodeputada Sara Cerdas, e armando que “se é<br />
segmentado ou não, importa é que chegue”.<br />
Nuno Bernardo, Vogal da Comissão Executiva<br />
da Confederação do Turismo de Portugal<br />
(CECTP), lembrou que o ano de 2019 “foi<br />
um ano formidável para o Turismo de<br />
Portugal”, contudo a pandemia “veio paralisar<br />
o setor”, avançando que “as preocupações da<br />
Confederação e dos seus associados são muitas,<br />
nós estamos bastante pessimistas com a forma<br />
como tudo isto se vai processar, cada vez a<br />
retoma, na nossa perspetiva, é mais longínqua”.<br />
“Fomos das primeiras atividades a sentir o<br />
impacto da pandemia”, disse, demonstrando<br />
que, segundo dados do INE, publicados no<br />
mesmo dia, em que se realizou este webinar,<br />
os vários ramos do Turismo em Portugal<br />
sofreram perdas “acima dos 80%”, alertando<br />
para o facto de quando se registam perdas “tão<br />
avultadas, ou temos mecanismos que de alguma<br />
forma possam suster e apoiar a manutenção<br />
do emprego, ou vamos ter, daqui para a frente,<br />
uma crise económica mais acentuada e uma<br />
crise social”. Para Nuno Bernardo, que tem<br />
evitado esta crise social, “são algumas medidas<br />
que foram tomadas, não só em Portugal,<br />
mas sobretudo em Portugal”, nomeadamente<br />
o Layoff simplicado, contudo “o espectro,<br />
neste momento, é que o Layoff simplicado<br />
possa terminar já no nal do mês de julho”,<br />
avançando que a sua Confederação tem<br />
batalhado junto do Governo para que “esta<br />
medida se possa prolongar pelo menos até ao<br />
nal do ano, porque à exceção desta medida, e<br />
de algumas outras medidas do ponto de vista da<br />
capitalização das empresas, esta, em particular, é<br />
aquela que tem permitido suster o desemprego<br />
que está eminente. Neste momento, temos já<br />
empresas em pré insolvência e temos que ter<br />
aqui ferramentas de gestão de recursos humanos<br />
para fazer face a esta crise” salientou.<br />
“À medida que vamos avançando no tempo, esta<br />
medida (layoff) vai perdendo intensidade, ou<br />
seja, a expectativa é de que à medida que o ano<br />
NOAGO20 19
R E P O R T A G E M<br />
fosse avançando iríamos ter uma retoma. Logo, o<br />
esforço da Segurança Social poderia ir diminuindo<br />
e a intensidade da medida também, mas à medida<br />
que o tempo vai passando e na realidade daquilo<br />
que são os negócios, assistimos à situação do<br />
Reino Unido, à situação da Bélgica, ao tráfego<br />
aéreo que está completamente bloqueado, ao verão<br />
perdido e a seguir ao verão vem uma época baixa,<br />
já estamos a falar na Páscoa de 2021, e, portanto,<br />
ou nós temos esta medida para de alguma forma<br />
ajudarmos os empresário a manter o emprego ou<br />
vamos ter aqui uma crise social bastante grande”.<br />
Em relação ao Conselho Europeu, “a expectativa<br />
da Confederação, e nós já transmitimos isso ao<br />
Governo nas reuniões internas que fazemos, é que<br />
as coisas evoluem rapidamente”, armando que o<br />
que interessa “é que as medidas chegam”. O vogal<br />
da CECTP relembrou que o Plano de Estabilização<br />
Económica e Social (PEES) “em grande parte<br />
vai beber às fontes de nanciamento europeias,<br />
e, portanto, nós vamos chegar aqui a uma altura<br />
em que provavelmente o orçamento suplementar<br />
pode não ser suciente para fazer face às medidas<br />
que temos que implementar até ao nal do ano”,<br />
sublinhou.<br />
João Ferreira, Eurodeputado do PCP, disse que<br />
“obviamente o emprego é uma preocupação<br />
principal”, acrescentando que o setor do Turismo<br />
“tem particularidades do ponto de vista do<br />
emprego”, sublinhando a “fortíssima prevalência<br />
de mão de obra precária de baixos salários neste<br />
setor”, sendo que “o ténue o da precaridade é<br />
o primeiro a ser cortado e deixar milhares de<br />
trabalhadores numa situação muito vulnerável”.<br />
Para o eurodeputado do PCP, a resposta por parte<br />
do Fundo de Recuperação “é uma pequeníssima<br />
parte dos recursos que os 27 estados membros da<br />
União Europeia estão a mobilizar para responder<br />
a esta crise. O Fundo aponta para o valor dos 750<br />
mil milhões de euros, sendo 500 mil milhões de<br />
transferências diretas para os estados membros<br />
e 250 mil milhões para empréstimos, bastante<br />
mais do que isto foi já aprovado apenas por um<br />
estado membro, com a Alemanha, em ajudas<br />
de Estado com recursos nacionais, mobilizados<br />
internamente para acorrer à situação de diversos<br />
setores da sociedade e da sua economia”, explicou.<br />
Para o mesmo o que está a ser mobilizado no<br />
20 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
Plano Nacional, “que ultrapassa várias vezes aquilo<br />
que é o Fundo de Recuperação e aquilo que possa<br />
vir por via do QFP”, é suscetível de “vir a agravar<br />
diferenças enormes entre os Estados Membros e<br />
condições de concorrência muitíssimo difíceis”.<br />
“Nós vimos nos últimos dias, até pela atitude<br />
de alguns governos no que toca à abertura de<br />
fronteiras, o quão acirrada pode ser a competição<br />
internacional em determinados setores”, armou,<br />
advertindo para a distorção desta competição “nos<br />
próximos tempos por condições de nanciamento<br />
do Estado às respetivas economias e por condições<br />
de nanciamento das empresas, por exemplo nos<br />
mercados internacionais, na banca, indiretamente,<br />
porque a banca se nancia nos mercados<br />
internacionais, por condições que vão agravar<br />
muitíssimo, a desigualdade que já hoje existe ao<br />
nível de uma competição de uma concorrência que<br />
já é em grande medida falseada, apesar de se gostar<br />
de dizer que é livre e não falseada, mas vai ser<br />
muito mais agravada essa concorrência”, explicou.<br />
João Ferreira chamou atenção para “perigos<br />
evidentes de nós, como tem acontecido em<br />
Portugal, encaramos a resposta à situação<br />
económica e social que vivemos a partir<br />
unicamente dos recursos que consigamos<br />
mobilizar por via do orçamento da União Europeia<br />
ou do denominado Fundo de Recuperação”. Para<br />
o eurodeputado, passa por aí, “indiscutivelmente,<br />
uma parte da resposta”, contudo “desengane-se<br />
quem pense que se esgota aí, até do ponto de vista<br />
da mobilização de recursos nacionais, a resposta<br />
necessária, porque nós podemos enfrentar uma<br />
situação muitíssimo complicada em virtude do<br />
que referi, com o agravamento de situações de<br />
concorrência muitíssimo desiguais”, rematou.<br />
Claúdia Monteiro de Aguiar, concorda, em parte,<br />
com as declarações do eurodeputado João Ferreira,<br />
porque aquilo que disse “tem que ver com o<br />
esgotar-se este apoio com o Fundo de Recuperação<br />
e não pode, porque na minha primeira intervenção<br />
referi a importância do QFP, portanto, não vamos<br />
esgotar tudo neste apoio, precisamos que o QFP<br />
dê continuidade a todo o apoio que o setor do<br />
Turismo precisa”, frisou, realçando que o corte que<br />
está previsto no QFP 21/27 “acaba por aqui não<br />
fazer grande sentido”.<br />
“Se queremos dar continuidade a um turismo<br />
NOAGO20 21
R E P O R T A G E M<br />
sustentável, a uma transição de toda a indústria<br />
para uma digitalização mais assertiva para todo<br />
um setor mais alinhado como, por exemplo, o<br />
Pacto Ecológico Europeu na sustentabilidade, tudo<br />
isto tem de ter continuidade da maneira que são os<br />
apoios da União Europeia, e aí faz todo o sentido<br />
que o Quadro Financeiro Plurianual tenha esta<br />
continuidade de apoio”, aclarou, mencionando<br />
que o PPE (Partido Popular Europeu) onde está<br />
inserido o seu partido (PSD), na sua resolução<br />
que aprovou no Turismo, “fez também questão<br />
de pedir que parte deste nanciamento seja<br />
alocado também à formação dos trabalhadores,<br />
portanto, nós precisamos de qualicar e formar<br />
os trabalhadores para que possam garantir ou<br />
enveredar para novos postos de trabalho fruto<br />
da transformação que o Turismo vai sentir<br />
nos próximo anos. Por exemplo, o Grupo de<br />
Trabalho do Parlamento Europeu para o Turismo<br />
tem identicado estes problemas e tem pedido<br />
constantemente que, não apenas neste Fundo<br />
de Recuperação, mas que nos próximos anos,<br />
nomeadamente no Quadro Financeiro, surja<br />
uma linha de nanciamento especíca para estas<br />
questões que foram referidas pelo João e que<br />
também nós concordamos que tenha de ser uma<br />
forte aposta”, sublinhou.<br />
Por sua vez, Sara Cerdas proferiu que quando<br />
falamos da pandemia “caímos um pouco na<br />
tentação de olhar para o Covid-19 como um<br />
evento passado, sendo que estamos ainda numa<br />
fase semi-inicial”. Com um vírus que podemos<br />
ter que conviver “por muitos e largos meses”,<br />
no Turismo “precisamos de uma estratégia a<br />
curto, médio e a longo prazo”. A curto prazo<br />
“a eurodeputado do PS salientou uma medida<br />
vinculada pelo Governo português, o selo Clean<br />
and Safe “que estabelece um conjunto de medidas<br />
higieno-sanitárias que os estabelecimentos<br />
relacionados com o setor do turismo têm de<br />
cumprir e que estão de acordo com as normas<br />
técnico-cientícas da DGS (Direção Geral da<br />
Saúde)”.<br />
“Quem vem a Portugal tem todo um mecanismo,<br />
não apenas de quem está a prestar um serviço,<br />
mas depois se vier a ser infetado”. Na opinião<br />
de Sara Cerdas, estas medidas têm que ser<br />
coordenadas “com outros estados membros”,<br />
sendo que aqui a União Europeia tem “um papel<br />
importante para fazer esta coordenação, o que não<br />
aconteceu quando começamos com as medidas<br />
de connamento, e temos que garantir que este<br />
22 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
setor reinicie a sua atividade, mas com todas estas<br />
medidas”.<br />
Por seu turno, Nuno Bernardo esclareceu<br />
que a necessidade de “diferenciar o que é a<br />
sustentabilidade”, considerando que neste<br />
momento trata-se de “manter a oferta viva, manter<br />
postos de trabalho até que haja uma perspetiva<br />
temporal de que esta crise pandémica poderá<br />
desacelerar”.<br />
Do ponto de vista da sustentabilidade ambiental,<br />
“muitos e bons passos têm sido dados pela nossa<br />
estrutura o turismo em Portugal”, porém “agora<br />
temos que saber gerir a crise, não podemos estar<br />
a pensar em sustentabilidade ambiental, ou de<br />
uma outra qualquer forma, sem primeiro manter a<br />
oferta e manter postos de trabalho até ao nal desta<br />
crise”, rematou.<br />
De acordo com o vogal da CECTP, neste momento<br />
há que apostar “em diplomacia económica, e aí<br />
podíamos ter sido mais preventivos e não tão<br />
reativos, haviam problemas que se sabia que iam<br />
acontecer e demorarmos muito tempo a gerir”,<br />
criticou, destacando a falta de “uma concertação de<br />
medidas a nível europeu”, dado que “não basta nós<br />
Portugal fazermos as coisas bem feitas, também<br />
temos que contar com aquilo que os outros países<br />
estão a fazer, não podemos entrar nesta guerra<br />
política de bloqueios de voos de tráfego aéreo por<br />
exemplo”.<br />
“Neste momento, temos que inspirar segurança e<br />
conança e temos que comunicar de uma forma<br />
integrada”, armou, alertando para a construção<br />
de marcas como Lisboa ou Algarve que “demoram<br />
décadas” a construir e por uma “deciente<br />
comunicação” poder-se “deitar tudo a perder”.<br />
No caso de Barcelona, “ninguém ouve falar”, mas<br />
“as várias cidades ao largo de Barcelona estão<br />
todas connadas”, contudo “o destino turístico<br />
de Barcelona não aparece, e Lisboa começou<br />
a aparecer, porque comunicamos mal, porque<br />
soubemos passar mal o que que se passava, e agora<br />
temos o Algarve e podemos ter outros destinos<br />
NOAGO20 23
R E P O R T A G E M<br />
nacionais afetados por esta má perceção do turista”.<br />
“Temos que ter procedimentos muito concisos<br />
na chegada ao destino, temos que saber receber<br />
em segurança e sem burocracias desnecessárias”,<br />
recomendou Nuno Bernardo. Para este, “o ano<br />
de <strong>2020</strong> está perdido, o ano de 2021 será um ano<br />
muito envergonhado, vamos ter grande parte das<br />
nossas empresas fechadas até à Páscoa. Falamos de<br />
dois anos de retoma, temos um plano de dois anos<br />
no Turismo nacional para saber com o que é que<br />
vamos contar, até lá teremos que sobreviver”, disse.<br />
Em relação à Transportadora Aérea Portuguesa<br />
(TAP), “é determinante para a nossa economia e<br />
para o nosso turismo, para nós foi importante o<br />
acordo alcançado entre o Estado e os acionistas<br />
privados”. Nuno Bernardo lembrou que a TAP<br />
representa “um terço dos passageiros nos nossos<br />
aeroportos, são 10 mil empregos diretos, fora 100<br />
mil postos de trabalho indiretos, é um dos maiores<br />
compradores nacionais”. Do ponto de vista do<br />
acordo alcançado entre Estado e acionistas da<br />
transportadora, “camos satisfeitos, porque dá<br />
aqui uma perspetiva estratégica de que vamos<br />
poder continuar como a TAP, que vai abrir rotas e<br />
que vai ajudar na recuperação”.<br />
O Eurodeputado do PCP mostrou-se de acordo<br />
com as declarações de Nuno Bernardo em relação<br />
à TAP: “é evidentemente crucial ter a TAP como<br />
companhia aérea de bandeira e não como uma<br />
qualquer sucursal de uma outra companhia<br />
europeia, ao serviço de uma estratégia de<br />
desenvolvimento nacional que inclua o Turismo<br />
como elemento central”.<br />
João Ferreira destacou ainda a necessidade de “um<br />
novo aeroporto de Lisboa, não de um apeadeiro do<br />
Montijo, nos moldes que durante anos este país o<br />
estudou e chegou a uma solução no novo campo<br />
de tiro de Alcochete”.<br />
Para o eurodeputado, o Aeroporto da Portela<br />
não é solução “por variadíssimas razões que<br />
24 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
não são apenas de tráfego, representa hoje um<br />
constrangimento fortíssimo sobre a capital do país<br />
que mais tarde ou mais cedo tem que ser removido<br />
e esperemos que mais cedo do que mais tarde”.<br />
Em relação à ferrovia portuguesa,<br />
“indiscutivelmente tem de estar entre as grandes<br />
prioridades de investimento do país. Deixamonos<br />
atrasar durante anos na ferrovia, zemos<br />
um caminho de declínio, quando outros países<br />
apostavam fortemente na ferrovia, e temos de<br />
contrariar isso. Não se pense que aquilo que há<br />
de vir da União Europeia serve para tudo, não<br />
serve, temos de pensar na mobilização de recursos<br />
endógenos, como os vamos por ao serviço de uma<br />
estratégia de desenvolvimento?”.<br />
Em relação aos apoios direcionados para o setor,<br />
João Ferreira salientou a clareza que tem que haver<br />
em relação aos mesmos: “temos que apoiar? Sim,<br />
seguramente, os trabalhadores do setor do Turismo,<br />
nomeadamente aqueles que vão car numa situação<br />
de desemprego, temos que apoiar os rendimentos<br />
destes trabalhadores e das suas famílias. Temos<br />
que apoiar a solvência de algumas empresas, mas<br />
é necessário critérios muito claros com apoios<br />
muito focados, não devemos tratar da mesma<br />
forma a micro e pequena empresa como tratamos a<br />
multinacional, que está a aproveitar-se de recursos<br />
públicos que mais falta fazem se fossem bem<br />
focados em empresas que estão a sentir bem mais<br />
diculdades”.<br />
O eurodeputado do PCP realçou o “fortíssimo<br />
peso” da procura externa no turismo em Portugal:<br />
“creio que à volta de dois terços”, enfatizando a<br />
necessidade de pensar, “para os tempos que aí vêm,<br />
numa estratégia de desenvolvimento do setor por<br />
ganhar cota no mercado nacional”. Segundo João<br />
Ferreira e de acordo com os últimos dados do<br />
Eurostat, “em Portugal 41% dos portugueses não<br />
tinham rendimento suciente para passar uma<br />
semana de férias, este número na média dos países<br />
da União Europeia está abaixo dos 30% a 28%”.<br />
Para Sara Cerdas, existe a necessidade de uma<br />
estratégia, “não apenas em termos nacionais, mas<br />
também para as diferentes regiões”. A eurodeputada<br />
do PS realçou a importância de “não focar apenas<br />
em determinadas marcas, está a demorar muito<br />
tempo em estabelecer essa marca no mercado, mas<br />
a verdade é que o Algarve, a Madeira e também os<br />
Açores têm a sua marca bem estabelecida junto de<br />
importantes mercados nacionais”.<br />
NOAGO20 25
R E P O R T A G E M<br />
“Fomos afetados com estas medidas muito<br />
injustas pelo Governo do Reino Unido e de vários<br />
outros governos e aqui quero dar importância<br />
à coordenação e a importância que a Comissão<br />
Europeia tem que ter na uniformização das<br />
medidas de desconnamento e também nos<br />
critérios epidemiológicos”, armou.<br />
“Se formos olhar para a situação epidemiológica<br />
dos países, o Reino Unido está muito pior”,<br />
explicando que “não podemos comparar países<br />
quando falamos em surtos”, em vez disso “temos é<br />
que comparar regiões ou locais. É muito diferente<br />
ter dois mil casos no Algarve do que ter dois mil<br />
casos numa pequena localidade, numa situação<br />
temos muitos casos, mas não há transmissão<br />
comunitária e na outra situação já há transmissão<br />
comunitária”, exemplicou. “Estas características<br />
têm que se ter em conta, e também a importância<br />
da uniformização dos dados epidemiológicos entre<br />
países. Temos diferentes tipos de dados a serem<br />
reportados, não apenas no número de novos casos<br />
por dia, mas também temos esse número de novos<br />
casos por dia tendo em conta o número de testes<br />
que são realizados”. Exemplicando com o caso da<br />
ilha da Madeira onde surgem “1 a 2 casos positivos<br />
diariamente, mas são casos que estão controlados,<br />
estão connados, e há diferença aqui entre um<br />
caso que é muito rapidamente identicado pelas<br />
autoridades de saúde e os casos que não têm<br />
capacidade de vigilância por parte das autoridades<br />
de saúde e que dão aso a transmissão comunitária”.<br />
Em termos de conança para o setor do Turismo,<br />
Sara Cerdas elogiou o trabalho das autoridades<br />
nacionais e também regionais, da Madeira e dos<br />
Açores: “estão bem coordenadas para fazer uma<br />
boa vigilância epidemiológica”, comparando-as<br />
com o resto da Europa: “não sendo o caso talvez<br />
noutras regiões da Europa”. A eurodeputada do<br />
PS referiu que “é esta diplomacia que tem de ser<br />
necessária garantir nestas regiões com menos<br />
26 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
casos de Covid-19 e com menos transmissão<br />
comunitária, e isto é importante também<br />
transmitir a quem nos visita, porque nós temos<br />
boas condições de receção, o nosso setor está<br />
a reiniciar a sua atividade e estamos com boas<br />
medidas higieno-sanitárias”.<br />
Por sua parte, Claúdia Monteiro de Aguiar,<br />
concordando com Nuno Bernardo, armou que<br />
“temos que passar uma imagem positiva, do todo<br />
nacional, a nível internacional. Aquilo que não<br />
podemos fazer é, perante os dados que nós temos,<br />
dizer que Portugal está bem, porque Portugal não<br />
está bem, concretamente na região de Lisboa que<br />
acaba por prejudicar regiões como o Algarve,<br />
como a Madeira, como o Porto”, considerou. “Não<br />
podemos ter uma marca Portugal a ser vendida<br />
lá fora com casos como Lisboa com números<br />
elevadíssimos. O que está a falhar aqui também, do<br />
meu ponto de vista, é a questão da diplomacia, que,<br />
no caso do Reino Unido, devia ter funcionado de<br />
uma forma mais premente e positiva”.<br />
Como em Portugal, “a nível europeu pedimos que<br />
exista um selo sanitário, porque nós precisamos<br />
também que o mercado externo, com países<br />
terceiros, seja retomado, portanto o todo europeu<br />
tem de funcionar como uma região safe and clean<br />
também”, apontou.<br />
A nível nacional, a eurodeputada criticou o facto<br />
de cada aeroporto ter uma estratégia distinta no<br />
combate à pandemia, “e isto não pode acontecer,<br />
porque se existem regras que foram delineadas<br />
para o funcionamento das entradas no país, não<br />
pode estar o aeroporto do Porto a funcionar de<br />
uma forma, o de Lisboa de outra e não haver<br />
qualquer tipo de controlo à entrada”.<br />
Em relação à TAP, “precisamos de saber quais são<br />
os termos desta reestruturação, o cidadão precisa<br />
de saber como é que será feita”, avançando ter<br />
algumas dúvidas “de como a TAP benecia o todo<br />
português, porque benecia, efetivamente, Lisboa,<br />
NOAGO20 27
R E P O R T A G E M<br />
mas depois se calhar já não dá resposta efetiva a<br />
que deve dar ao Porto, ao Algarve, e de que forma<br />
é que vai garantir o tal serviço público visto que<br />
será nacionalizada?”.<br />
Em relação aos testes realizados à chegada,<br />
como acontece no aeroporto da Madeira e dos<br />
Açores, segundo Nuno Bernardo “quanto melhor<br />
transmitirmos que tudo está a ser feito dentro das<br />
contingências para, de alguma forma, protegermos<br />
quem nos visita e as suas famílias, eu acho que<br />
isso é positivo”. Para o vogal da CECTP, “do ponto<br />
de vista macro, falta que os estados membros ou<br />
os estados mundiais a nível planetário trabalhem<br />
em conjunto”, mencionando ainda que “há sempre<br />
uma diculdade muito grande, quando vivemos<br />
crises, de haver uma concertação. Há sempre uma<br />
grande inércia dos grandes governantes mundiais<br />
de se concertarem nestes momentos de grande<br />
aição”.<br />
De acordo com Nuno Bernardo, nestas situações<br />
há que haver uma “capacidade de decisão rápida”,<br />
aliada a uma boa comunicação. Do ponto de vista<br />
do europeu “é muito mais fácil nós comunicarmos<br />
que a Europa está a desenvolver todos os esforços,<br />
através de regras muito rígidas, transparentes e<br />
ecazes no sentido de proteger quem nos visita.<br />
É essa imagem europeia que temos que prestar,<br />
porque é muito mais difícil Portugal, Espanha,<br />
França, isoladamente fazerem esse trabalho”.<br />
Da parte dos empresários portugueses, Nuno<br />
Bernardo referiu que “estão a cumprir tudo aquilo<br />
que está ao alcance deles, com investimentos<br />
avultados nesta fase em que não há dinheiro,<br />
em que não há aspeto de muito curto prazo de<br />
negócio, estão a fazer investimentos no sentido de<br />
proteger as pessoas. Quanto melhor soubermos<br />
transmitir esta imagem de segurança mais as<br />
pessoas vão ter conança em nos visitar”.<br />
Com uma opinião semelhante à dos<br />
eurodeputados, o vogal da CECTP declarou que<br />
o Turismo em Portugal quer, do ponto de vista<br />
europeu, um envelope nanceiro especíco para o<br />
setor “de acordo com a importância que o Turismo<br />
tem, porque não estamos só a falar do Turismo,<br />
estamos a falar de um conjunto de atividades que<br />
sobrevivem à conta do Turismo, e estamos a ver<br />
28 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
agora a diculdade que estas atividades estão a ter”.<br />
“Queremos ter um orçamento próprio, queremos<br />
ter concursos e avisos próprios e queremos ter<br />
domínios temáticos para os quais nos possamos<br />
concorrer, mas que sejam proporcionais ao peso<br />
do Turismo. A nível nacional não podemos estar<br />
a concorrer ao Compete em concorrência com a<br />
indústria e outros setores”, acrescentou.<br />
Na opinião de Claúdia Monteiro de Aguiar,<br />
“não será só com o turismo nacional que<br />
conseguiremos sobreviver, precisamos muito dos<br />
outros mercados”, salientando a “forte ligação” que<br />
Portugal tem com outros mercados como Reino<br />
Unido que é “um dos que nos é mais importante”,<br />
interligando isto com o facto de “haver<br />
concorrência ou não entre destinos”.<br />
A seu ver o que o Reino Unido “fez foi baseado<br />
também em factos e em números, portanto, se<br />
Portugal estava no terceiro pior lugar europeu<br />
em termos epidemiológicos, julgo que aqui não<br />
havia volta a dar, o que havia a fazer era do ponto<br />
de vista do Governo que falhou na diplomacia,<br />
entrou no modo retaliação, entrou num discurso<br />
político errático, pediu que os turistas aterrassem<br />
em Espanha e viessem de carro até Portugal, acho<br />
que a diplomacia entre estados não funciona<br />
assim, deveria ter funcionado de uma forma mais<br />
positiva”, frisou.<br />
Para mitigar isto, “primeiro que tudo temos que<br />
resolver o problema sanitário do país, enquanto<br />
não for resolvida esta situação obviamente que<br />
tudo o resto irá ser prejudicado”, armou.<br />
A eurodeputada do PSD disse que apesar do<br />
sistema de saúde nacional não ter colapsado,<br />
“entrou em níveis de stress que todos nós<br />
conhecemos. É preciso saber se o sistema de saúde<br />
está preparado e apto a dar resposta para que,<br />
resolvendo a parte sanitária, (…) o Turismo de<br />
Portugal e o Governo de Portugal trabalhem nos<br />
dois ministérios que são necessários, o da Saúde e<br />
o da Economia e Educação, porque ambos têm de<br />
estar em consonância para que a Saúde permita<br />
que a marca Portugal seja vendida de forma<br />
positiva lá fora”, acrescentou.<br />
Sara Cerdas mencionou que “o Turismo é por<br />
si um setor de contacto e de experiências”,<br />
NOAGO20 28
R E P O R T A G E M<br />
sublinhando a “grande adaptação” do setor,<br />
no entanto “não foi possível reavisar em várias<br />
vertentes o teletrabalho”, destacando ainda<br />
“importância da digitalização na transformação do<br />
setor”, como também a importância de “torná-lo<br />
mais verde e sustentável” como as duas vertentes<br />
para a retoma do mesmo.<br />
Para João Ferreira, existe uma questão<br />
“incontornável” que é a decisão que vai ser tomada<br />
sobre o orçamento da União Europeia até 2027,<br />
o chamado Quadro Financeiro Plurianual, e o<br />
chamado Fundo de Recuperação, “essa é a grande<br />
decisão que vai ser tomada nos próximos meses”.<br />
O eurodeputado do PCP lembrou que “estamos<br />
a trabalhar com cenários perspetivos que<br />
comportam níveis de incerteza ainda elevados,<br />
não sabemos ainda quão fundas e por quanto<br />
tempo vão-se prolongar as restrições às viagens<br />
internacionais, não sabemos se vamos ter uma<br />
evolução que, embora lenta, seja contínua, não<br />
sabemos se vamos ter retrocessos, ou seja, há um<br />
quadro de incerteza muito grande”.<br />
O mesmo disse que a situação “não se trata da<br />
ilusão que o turismo nacional vai, de um dia para o<br />
outro, substituir a procura externa, não tenhamos é<br />
a ilusão contrária que é a que podemos prescindir<br />
de incrementar o turismo nacional”. Porém, “temos<br />
que defender os rendimentos da população, temos<br />
que ter salários dignos em Portugal”, lembrando<br />
os 41% dos portugueses que não têm rendimento<br />
para passar uma semana de férias, e armando<br />
que “o potencial de o fazermos é maior a partir do<br />
turismo nacional. No processo de resposta à crise<br />
é essencial que em geral haja uma preocupação<br />
muito forte com a defesa dos rendimentos das<br />
famílias, e que em particular no que ao Turismo<br />
diz respeito haja a preocupação de incorporar um<br />
fortíssimo desenvolvimento do turismo nacional<br />
na estratégia de saída”.<br />
Quanto à questão do envelope especíco para<br />
o Turismo, “o que interessa são os recursos<br />
que chegam a Portugal e ao setor. Havendo um<br />
30 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
envelope, em primeiro lugar temos que atentar<br />
à repartição por estados membros, e a existir<br />
um envelope nacional, há uma questão que se<br />
levanta desde logo, estamos a falar de uma gestão<br />
partilhada ou de uma gestão centralizada na União<br />
Europeia? Estamos a falar de um envelope que viria<br />
com o envelope nacional dos fundos estruturais<br />
e de coesão ou de um programa que caria de<br />
gestão centralizada da Comissão Europeia com<br />
o que isso teria de inerente de uma muito maior<br />
concorrência dos agentes nos vários países para<br />
aceder a essa dotação? Temos que pensar num<br />
conjunto de outras condições de utilização dessa<br />
linha especíca a existir que vão determinar em<br />
última instância se os nossos agentes conseguem<br />
ou não aceder e em que condições, e é isso que nos<br />
deve preocupar”, explicou.<br />
De acordo com João Ferreira, “não interessa tanto<br />
se o dinheiro vem da coesão, mas se chegar ao<br />
Turismo porque não? O importante é que chegue<br />
às empresas que dele necessitam, com critério, de<br />
forma focada e orientada”.<br />
“Estamos empenhados em que a decisão que seja<br />
tomada seja o mais positiva possível para Portugal”,<br />
garantiu, lembrando, porém, que a perspetiva do<br />
Quadro Financeiro Plurianual “é cortar na política<br />
de coesão”.<br />
Relativamente aos fundos estruturais, Claúdia<br />
Monteiro referiu que “Bruxelas no início desta<br />
pandemia exibilizou os auxílios de estado e<br />
também permitiu a reprogramação dos fundos<br />
estruturais”, levantando a questão: “será que os<br />
estados membros e Portugal tiveram isso em<br />
consideração e orientaram para as prioridades que<br />
têm de ser denidas para o turismo? Há todo um<br />
conjunto de exibilizações que foram efetuadas<br />
que está na mão dos estados membros dar as<br />
prioridades para os diferentes setores”, concluiu.<br />
NOAGO20 31
“A empresa, a sua nova administração e os trabalhadores<br />
da SATA estão a fazer o seu caminho para ultrapassar<br />
os efeitos provocados por uma crise sem precedentes<br />
na aviação comercial mundial. Cabe-nos dar um voto de<br />
confiança e todo o apoio de que precisam”<br />
José Ávila, deputado do PS/A.<br />
“AGORA, MAIS DO QUE NUNCA, OS ÓRGÃOS DE GOVERNO PRÓPRIO<br />
DA REGIÃO TÊM DE OLHAR PELOS BOMBEIROS DOS AÇORES. PELO<br />
QUE É URGENTE SABER QUANDO PODERÃO AS CORPORAÇÕES DE<br />
BOMBEIROS DA REGIÃO CONTAR EFETIVAMENTE COM O APOIO<br />
APROVADO PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA”<br />
CARLOS FERREIRA, DEPUTADO DO PSD/A.<br />
“Realço o que já referi, é fundamental que todos percebam<br />
que o sucesso da estratégia que implementamos depende<br />
sempre, em grande medida, do comportamento de cada um<br />
de nós. Não podemos facilitar. Se todos fizerem a sua parte,<br />
será mais fácil ultrapassar esta fase em segurança”<br />
Berto Messias, Secretário Regional Adjunto da<br />
Presidência para os Assuntos Parlamentares.<br />
“É preciso muita persistência, muita reivindicação, para que<br />
este governo e esta maioria socialista olhem para São Jorge,<br />
e esse é um trabalho que só o CDS tem feito no parlamento,<br />
fazendo ouvir, sem desistir, a voz dos jorgenses e fazendo<br />
aprovar medidas que procuram resolver os seus problemas”<br />
CATARINA CABECEIRAS, DEPUTADA DO CDS/A.<br />
32 NOAGO20
PUB
C R Ó N I C A<br />
Por Ricardo Silva<br />
“Becoming - A minha história”, de Michelle<br />
Obama<br />
O meu interesse por este livro residiu no facto de saber à partida<br />
que não estávamos perante uma narrativa de memória política<br />
tradicional, feita em termos de balanço de uma vida, mas uma<br />
de cariz mais pessoal, de experiência de uma situação, daquelas<br />
em que a nossa vida se tornou diferente por um conjunto de<br />
circunstâncias. Neste sentido, não me enganei porque estamos<br />
perante um registo biográco interessante, de uma mulher<br />
corajosa e aberta a vida.<br />
Alicerçada na sua celebridade mundial, Michelle Obama,<br />
não deixa de fazer um sério esforço para com rigor e o maior<br />
pormenor possível realizar, com uma equipa de investigação e<br />
apoio, a melhor resposta ao desao que a editora lhe fez: quem<br />
sou eu e qual foi o meu percurso de vida até hoje.<br />
A excelente fotograa da capa do livro, que mereceu divulgação<br />
mundial, indicia a personalidade de uma mulher conante,<br />
lutadora face aos desaos que se propõe ter e generosa no seu<br />
relacionamento com os outros. Fruto da sua capacidade de<br />
trabalho e sacrifício conseguiu formar-se pela universidade de<br />
Princeton e pela Faculdade de Direito de Harvard, iniciando<br />
a sua carreira como advogada no escritório da empresa de<br />
advogados da Sidley & Austin, em Chicago, onde viria a<br />
conhecer o seu futuro marido, Barack Obama. Trabalhou<br />
depois no Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de<br />
Chicago, na Universidade de Chicago e no Centro Médico da<br />
universidade. Fundou, em Chicago, a delegação da Public Alies,<br />
uma organização que prepara jovens para exercerem carreiras<br />
de serviço público.<br />
Chega-se ao m das perto de 500 páginas do livro com a<br />
verdadeira noção de estarmos perante uma mulher de grande<br />
qualidade humana, determinada, reexiva e muito generosa.<br />
Ela própria confessa que: “Aos cinquenta e quatro anos,<br />
ainda progrido e espero estar sempre a progredir. Para mim,<br />
transformação não signica chegar a algum lado ou realizar<br />
determinado objetivo. Encaro-o, pelo contrário, como um<br />
34 NOAGO20
C R Ó N I C A<br />
movimento em frente, um meio de evoluir, uma<br />
forma de tentarmos chegar ao melhor eu.”<br />
Organizado em quatro grandes capítulos, fora o<br />
Prefácio e os Agradecimentos, o “Eu”, reserva-nos<br />
todo o seu percurso pessoal, familiar e prossional<br />
até conhecer Barack Obama. É um capítulo intenso,<br />
emocional, desde o seu nascimento até à conquista<br />
do seu escritório de advogada no centro de Chicago.<br />
Escrito numa linguagem muito simples, direta, sem<br />
procura de qualquer preocupação estilística a não<br />
ser a narração dos factos passados. Nascida numa<br />
grande família de negros, não a nuclear, mas a<br />
extensa – só tios eram doze! – com uma diversidade<br />
de personagens com caraterísticas muito diferentes,<br />
desde cedo encontrou na escola um meio de<br />
armação pessoal, querendo sempre ser a primeira,<br />
mas estudando para isso. Encontrou em casa sempre<br />
o seu porto seguro, tanto pela parte da mãe como<br />
incentivadora de uma autonomia responsável ou<br />
como pela parte do pai que lhe estimulava os sonhos<br />
de ir mais além. Organizada, metódica, planeadora,<br />
rigorosa, as suas decisões foram sempre orientadas<br />
por um sentido de aprendizagem, alimentado por<br />
um lado competitivo muito forte. Este primeiro<br />
capítulo é cativante pela descrição do ambiente<br />
familiar, da Chicago dos anos 80, da vida pobre<br />
e difícil nos bairros negros, da juventude pujante<br />
que habitava neles e dos muitos atos racistas que<br />
a população e ela própria foram vítimas. Só a sua<br />
força, conança e inteligência nunca deixaram que o<br />
fracasso dominasse quer como sentimento ou como<br />
resultado deste.<br />
O “Nós” inicia-se com o gentil pedido de um<br />
enamorado beijo de Barack Obama, estagiário<br />
na empresa da sua orientadora Michelle, abrindo<br />
um capítulo bonito que leva os Obama até à<br />
presidência dos Estados Unidos. Não deixa de<br />
ser inspiradora a forma como o casal progrediu<br />
mutuamente, enfrentando decisões que, sobretudo<br />
Michelle, tiveram de tomar devido à vocação<br />
política de Obama. Decisões de ordem prossional<br />
– abandonar a advocacia – pessoal – ter lhos – e<br />
políticas – apoiar as campanhas do marido e o<br />
custo familiar deste apoio – são tudo aspetos de um<br />
relato absorvente e motivador. O ambiente político<br />
nos Estados Unidos, embora com muitas loas à sua<br />
democracia, é tóxico – podemos ver como o seu<br />
atual Presidente o é – tudo valendo para se derrubar<br />
adversários, quando para mais quando se é negro,<br />
culto e se luta contra preconceitos seculares. Só uma<br />
dupla de gigantes o conseguiu até hoje atingir a mais<br />
alta e a maior posição política do país e não foi por<br />
acaso! Este ambiente é-nos relatado por uma voz<br />
que o viveu e o sentiu como ninguém.<br />
A vida na Casa Branca vem no “Mais”, capítulo<br />
revelador da forma empolgante e determinada como<br />
os Obama marcaram a diferença face a todos os<br />
seus predecessores brancos. Desde as preocupações<br />
em ser uma primeira dama com intervenção<br />
social e em que domínios – embora não seja um<br />
cargo ocial, é um bom palanque para se medir<br />
os compromisso civis das ditas -, a educação das<br />
lhas, o querer tornar a Casa Branca mais aberta e<br />
menos elitista, as relações com o pessoal de serviço,<br />
inclusive o de segurança, a metodologia de trabalho<br />
de Obama e as preocupações do mesmo em termos<br />
de politica interna e externa, o radicalismo de<br />
oposição dos republicanos, a morte de Osama bin<br />
Laden, e, nalmente, a saída da Casa Branca como<br />
outra pessoa e outra mulher, são tudo temáticas<br />
deveras interessantes num livro estimulante de ler,<br />
sobretudo, porque camos a conhecer uma mulher<br />
de grande classe e qualidade humana. Sem dúvida,<br />
que este Verão é uma boa oportunidade para ir ao<br />
encontro desta primeira dama. Esta sim!<br />
A leitura vale a pena!<br />
NOAGO20 35
A ÁGUA QUE<br />
ORDENA O<br />
TERRITÓRIO<br />
www.iroa.pt<br />
facebook.com/iroaazores<br />
Paulo Filipe Silva Borges<br />
Licenciado em Geologia<br />
Mestre em Geociências, ramo<br />
do Ambiente e Ordenamento<br />
As águas subterrâneas são, porventura, o recurso geológico que mais<br />
condiciona o Ordenamento do Território pela continuidade da distribuição<br />
das rochas onde estão contidas (os aquíferos), pela vulnerabilidade à<br />
poluição e pela importância que revestem para a vida das populações e dos<br />
ecossistemas. Os recursos hídricos subterrâneos são suscetíveis a alterações<br />
de origem natural e/ou antrópica, relacionada com a topograa, o clima, a<br />
geologia e o uso dos solos.<br />
Para entender melhor a importância das águas subterrâneas no ordenamento<br />
do território é necessário entender como este recurso se manifesta no<br />
ambiente, sua ocorrência, circulação e armazenamento.<br />
Comecemos por uma nascente, é um ponto de<br />
exsurgência de água do solo que ocorre quando o<br />
nível freático do aquífero atinge a superfície, ou<br />
seja, é o ponto de ligação direta com o reservatório<br />
subterrâneo de água. Este local tem elevada<br />
importância ambiental, pois dada a sua natureza<br />
é de elevada vulnerabilidade à poluição das<br />
águas, quer à saída para o consumo, quer para a<br />
preservação do aquífero.<br />
Para esta água exsurgir deste reservatório, foi<br />
necessário a acumulação de água nas rochas e nos<br />
seus interstícios/espaços. O tempo de residência<br />
da água nestes corpos hídricos subterrâneos é<br />
variável e consequentemente a sua concentração<br />
em minerais (obtidos através das rochas durante<br />
a sua circulação e armazenamento) também é<br />
variável. Se as rochas trespassam para a água os<br />
seus elementos, sais e minerais, a ocorrência de<br />
contaminantes também terá o mesmo efeito.<br />
A água para chegar ao seu reservatório teve de<br />
percorrer uma certa distância, num dado percurso,<br />
podendo ser: movimento vertical, no caso de<br />
inltração direta da superfície para o aquífero;<br />
ou sub-horizontal no caso de ter uma origem<br />
mais distante, esta distância poderá ir de poucos<br />
metros a vários quilómetros; Outras situações<br />
são identicadas pela circulação inter-aquíferos,<br />
onde se entende que as bases dos aquíferos não<br />
36 NOAGO20
n o | w w w . n o r e v i s t a . p t<br />
são totalmente impermeáveis, possibilitando a<br />
continua inltração de água, embora numa taxa<br />
menor, atingindo aquíferos a cotas inferior. Nesta<br />
lógica os aquíferos que ocorrem a menor altitude, e<br />
de inuências de água mais distantes, serão os que<br />
apresentaram águas mais mineralizadas.<br />
Antes de serem consideradas ‘águas subterrâneas’,<br />
estas águas dominavam os territórios superciais.<br />
Na superfície encontra-se em lagos, lagoas e<br />
charcos, acumulando a água à superfície antes de<br />
se inltrar nos solos ou evaporar de novo para a<br />
atmosfera; nos rios, ribeiras e grotas onde uma<br />
parte inltra nos solos e outra desagua na foz. Estes<br />
troços hídricos, normalmente, são alimentados<br />
de inverno pelas águas subterrâneas, mas de<br />
verão favorecem a inltração para o ambiente<br />
subterrâneo. Assim, com estes ambientes hídricos<br />
superciais e as áreas de maior precipitação,<br />
percebemos quais as zonas de inltração<br />
preferenciais de água nos solos, ou seja, quais as<br />
áreas favorecidas para recarregar os aquíferos.<br />
Tendo em consideração este percurso das<br />
águas e as áreas de recarga aquífera, podemos<br />
identicar quais as zonas mais vulneráveis<br />
e suscetíveis à degradação da qualidade das<br />
águas subterrâneas, sendo locais que carecem<br />
de maior atenção e preservação. Salva-se que as<br />
vulnerabilidades das águas subterrâneas variam<br />
ainda com a profundidade (distância entre a<br />
superfície contaminante e o nível freático) e<br />
com a capacidade de penetração das substâncias<br />
contaminantes.<br />
Considera-se, portanto, “contaminação” quando há<br />
em causa uma excessiva acumulação de substâncias<br />
que têm uma decomposição lenta, ou que não se<br />
decompõe de forma natural, ou quando estas são<br />
substâncias tóxicas (são prejudiciais para a saúde e<br />
ambiente mesmo em pequenas quantidades).<br />
NOAGO20 37
n o | w w w . n o r e v i s t a . p t<br />
Quanto ao ordenamento e uso antrópico dos solos<br />
podem ser: urbano, agrícola, pecuário e industrial,<br />
todos são de alguma forma contaminantes das<br />
águas subterrâneas. Mas salva-se que apenas<br />
quando são aplicados maus usos dos solos, quando<br />
isto ocorre denomina-se os impactos antrópicos<br />
nas massas de água subterrâneas. Exemplos:<br />
Ocorrência de fugas nas águas residuais públicas;<br />
excessiva utilização de fertilizantes químicos,<br />
inseticidas e herbicidas; explorações intensivas na<br />
criação de animais em grande escala, geram uma<br />
produção muito elevada de excrementos líquidos<br />
chamados de purinas; nas zonas industriais com<br />
despejos residuários com conteúdo de substâncias<br />
tóxica.<br />
A proteção e preservação do meio ambiente é<br />
fundamental, assim como a proteção e valorização<br />
dos pontos de exsurgência de água e das respetivas<br />
áreas de recarga. Promovendo uma água de<br />
qualidade e segura para todo e qualquer uso que<br />
a necessite. Por m, é de saudar o trabalho de<br />
ordenamento do território, tendo uma gestão<br />
equilibrada e garantia de boas práticas no uso dos<br />
solos, preservando assim o meio ambiente e os<br />
seus ecossistemas associados.<br />
PUB
CLÁUDIA CARVALHO<br />
O que o fez ingressar pela vida<br />
política? Quais eram as suas<br />
expectativas?<br />
A minha entrada na vida política<br />
começou em 2005 com um convite<br />
de uma equipa de lajenses para fazer<br />
parte de uma lista candidata à Junta<br />
de Freguesia da Vila das Lajes. Após<br />
8 anos como elemento na Assembleia<br />
de Freguesia candidatei-me tendo<br />
sido eleito Presidente da Junta de<br />
Freguesia no ano 2013. Estou neste<br />
momento no segundo mandato.<br />
Antes de dizer que sim, também<br />
me questionei e pensei na má<br />
imagem que atualmente a política<br />
e os políticos têm, mas obtive uma<br />
resposta que fez-me dizer sim.<br />
As palavras do Papa Francisco,<br />
que respondeu a um jovem numa<br />
questão sobre a política armando<br />
que «envolver-se na política é uma<br />
obrigação para um cristão. (…)<br />
A política é uma das formas mais<br />
elevadas da caridade, visto que<br />
procura o bem comum». É fácil atirar<br />
culpas... mas eu, que faço? Trabalhar<br />
para o bem comum é um dever do<br />
cristão».<br />
As minhas expetativas no serviço<br />
da política é o serviço ao outro, o de<br />
colocar a render os dons que Deus<br />
nos dá, o meu contributo para o<br />
desenvolvimento da nossa terra e<br />
da nossa região e o trabalhar para o<br />
bem-comum.<br />
Desde o início das suas funções<br />
como deputado, qual considera ter<br />
sido a intervenção que destacasse ou<br />
a proposta que tenha levado a cabo<br />
que o tenha feito sentir-se orgulhoso<br />
enquanto pessoa e deputado?<br />
No exercício das minhas funções<br />
como deputado z parte de uma<br />
grande equipa de colegas, assessores,<br />
administrativos que enalteço e<br />
agradeço tudo o que me ensinaram.<br />
NOAGO20 39
E N T R E V I S T A<br />
Na luta pela Terceira enalteço o trabalho dos meus<br />
colegas, Mónica Seidi e Luís Rendeiro. Juntos<br />
defendemos os terceirenses apontando falhas da<br />
governação socialista, mas também apresentando<br />
propostas.<br />
Existiram muitas intervenções que me zeram<br />
sentir útil para a minha terra, nomeadamente, na<br />
defesa da minha ilha, da cultura e da enfermagem.<br />
Na defesa da minha ilha relembro o debate sobre a<br />
Execução do Plano Regional anual de 2017 quando<br />
referi algo que para mim continua atual:<br />
“Qualquer cidadão comum que queira fazer uma<br />
casa um conjunto de pressupostos, prazos e leis que<br />
deve obedecer. Se não o zer está sujeito a coimas.<br />
Olha o Governo Regional que deve ser um<br />
exemplo para os cidadãos, infelizmente é o<br />
primeiro a não cumprir o que apresenta aos<br />
açorianos.<br />
Para o Governo Regional não importa o ano que<br />
termina. Mais ano menos ano. Mais cem menos<br />
cem, mais milhão menos milhão.<br />
Que credibilidade podemos retirar daqui? Os<br />
terceirenses estão fartos disso. Os terceirenses estão<br />
fartos de promessas de 10 anos e mais.<br />
Os terceirenses querem verdade e que o Governo<br />
seja sério quando apresenta um plano regional aos<br />
açorianos.<br />
Não querem que no corte das tas pareça que está<br />
tudo bem e que obras prometidas sucessivamente<br />
prometidas gastam milhões dos contribuintes dos<br />
açorianos com atrasos e derrapagens.”<br />
No âmbito da cultura sempre defendi a cultura<br />
popular dos Açores. Defendi que “quando um<br />
açoriano pede um apoio a nível cultural, seja de<br />
uma larmónica, teatro, dança, é-lhe exigido uma<br />
série de documentação e é -lhe atribuído um apoio<br />
com prazos, exigências e mais documentação.<br />
São 1000, 2000, 3000, enm pouco dinheiro em<br />
comparação com as centenas, milhares e milhões<br />
de euros que o governo rege.<br />
Os açorianos gerem este dinheiro com cuidado.<br />
Pensam, organizam-se para gerir o pouco dinheiro<br />
público que lhes é atribuído e respeitam os prazos e<br />
40 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
tudo o que lhe é pedido.<br />
Os açorianos gerem melhor o dinheiro da cultura<br />
do que o seu próprio governo.<br />
Os açorianos fazem melhor cultura com pouco<br />
dinheiro do que o seu próprio governo.<br />
Os açorianos são um exemplo que o governo<br />
regional devia seguir.”<br />
Relativamente à Enfermagem tive a honra de<br />
enaltecer a Enfermagem açoriana num voto no<br />
âmbito do Ano <strong>2020</strong>- Ano Internacional dos<br />
Enfermeiros. Os enfermeiros são verdadeiros<br />
heróis elevando a saúde açoriana. No nascimento<br />
e na morte estão lá 24 sobre 24 horas. No contato<br />
diário com os doentes, fazem experiência do<br />
trauma que o sofrimento provoca na vida duma<br />
pessoa. São homens e mulheres que optaram por<br />
dizer «sim» a uma vocação especíca: ser bons<br />
samaritanos que se ocupam da vida e das feridas<br />
do próximo. Os enfermeiros açorianos são gente<br />
que cuida de gente, mas também precisam ser<br />
cuidados.<br />
Enquanto deputado constatei nas diversas ilhas<br />
o trabalho dos enfermeiros que continuam a ser<br />
desrespeitados pelo Governo Regional. Quem quer<br />
valorizar a saúde dos açorianos tem de ser justo<br />
com os prossionais de saúde. Existe dinheiro<br />
para tudo até para pagar os prejuízos da Saudaçor<br />
que com a sua extinção deixou uma dívida de 728<br />
milhões de euros para todos os açorianos pagarem.<br />
O PSD denunciou as injustiças na valorização<br />
das carreiras da classe de enfermagem e propôs<br />
a revalorização remuneratória dos trabalhadores<br />
da carreira especial de enfermagem, tendo sido<br />
chumbada pelo Partido Socialista.<br />
Porquê representar o PSD/A e não outro partido<br />
político?<br />
Quando iniciei em 2005 as minhas funções<br />
políticas era independente. Ao longo do tempo fui<br />
percebendo a matriz do Partido Social Democrata<br />
e os valores a ele inerentes. Na identicação com<br />
estes valores e com muitas pessoas que dão voz ao<br />
partido liei-me.<br />
Não procuro fazer carreira política. Seja como<br />
Deputado, Presidente da Comissão Política<br />
Concelhia da Praia da Vitória ou como Presidente<br />
de Junta procuro servir as pessoas. Este ano ndo<br />
NOAGO20 41
E N T R E V I S T A<br />
a minhas funções como Deputado na<br />
Assembleia Regional e volto à minha<br />
prossão, Enfermagem.<br />
As outras funções um dia também terão<br />
um m e continuarei a servir como sempre<br />
o z em instituições e grupos da minha<br />
terra.<br />
Tendo sido eleito pelo círculo da Terceira,<br />
acha que o PSD/A tem conseguido dar<br />
voz aos cidadãos Terceirenses? Se sim, de<br />
que forma?<br />
Sim temos conseguido dar voz aos<br />
terceirenses. Falo no plural porque a defesa<br />
é realizada num trabalho de equipa dos<br />
três deputados eleitos pelo PSD na Ilha<br />
Terceira.<br />
Realizamos projetos de resolução,<br />
requerimentos, intervenções no plenário,<br />
conferências de imprensa, inúmeras<br />
visitas a instituições, associações e grupos,<br />
auscultações aos eleitos locais, entre outros.<br />
Mas perante 24 anos de governação<br />
socialista vivemos numa sociedade apática<br />
e conformista.<br />
Vivemos numa sociedade dependente do<br />
poder político e com medo de represálias.<br />
Vivemos numa maioria socialista que<br />
acerta o relógio da sua atividade mediante<br />
os seus interesses.<br />
Constatamos injustiças, denunciamos<br />
e zemos propostas. Relembro quando<br />
denunciamos a atitude do Governo da<br />
República perante o Plano de Revitalização<br />
Económica da Ilha Terceira. O Ministro<br />
dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos<br />
Silva, armou que reivindicações dos<br />
Açores para revitalização económica da<br />
Ilha Terceira após a reestruturação da Base<br />
das Lajes valiam zero.<br />
Propusemos um protesto a estas e<br />
outras declarações e o Partido Socialista<br />
chumbou.<br />
Denunciamos a falta de cobertura total<br />
aos médicos de família na Ilha Terceira. A<br />
resposta socialista foi promessa atrás de<br />
promessa empurrando com a barriga para<br />
42 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
frente. Findará a legislatura e não teremos médicos<br />
de família para todos os terceirenses.<br />
Denunciamos a situação da radioterapia na Ilha<br />
Terceira. Um exemplo claro da má gestão socialista<br />
que faz e desfaz e gasta dinheiro dos açorianos sem<br />
pensar.<br />
Denunciamos a falta de condições da escola<br />
Vitorino Nemésio e Jerónimo de Andrade.<br />
Propusemos reforço da dotação nanceira das<br />
obras. Algumas, entretanto, concluídas e outras em<br />
obras sem m à vista.<br />
Questionamos, denunciamos e apresentamos<br />
propostas para o Porto da Praia e para o Aeroporto<br />
das Lajes.<br />
O estado da governação socialista está bem à<br />
vista dos terceirenses. Uma cultura de promessas<br />
que se arrastam nos anos e que atrasam o<br />
desenvolvimento da nossa ilha.<br />
Sabemos que a situação em que atravessamos<br />
afetou todos os prossionais, mas em especial os<br />
prossionais de saúde. Enquanto prossional da<br />
área, como é que viu a aprovação das propostas<br />
do PSD/A que premeiam os prossionais de<br />
saúde no combate à pandemia?<br />
A aprovação da proposta do PSD/A foi positiva.<br />
Num tempo em que os prossionais de saúde<br />
açorianos deram exemplo de heroísmo e sacrifício<br />
o que receberam foi apenas uma salva de palmas.<br />
Este prémio é o mínimo que lhe podemos dar.<br />
Sei que os enfermeiros açorianos não estão à espera<br />
de palmas ou prémios, mas sim da revalorização<br />
justa da sua carreira. Foram tratados por bestas no<br />
passado por lutarem pelos seus direitos, hoje são os<br />
melhores e amanhã “heróis esquecidos”.<br />
Sei que o PSD lutou para a valorização da carreira<br />
de enfermagem.<br />
Sei que o PS enganou os enfermeiros e continua a<br />
enganar e empurrar com a barriga para a frente.<br />
Cabe os enfermeiros darem cartão vermelho a este<br />
governo.<br />
Na edição de junho da NO, Pedro Soares,<br />
Presidente do Conselho Diretivo Regional<br />
da Secção Regional da Região Autónoma dos<br />
Açores da Ordem dos Enfermeiros dizia que,<br />
NOAGO20 43
E N T R E V I S T A<br />
nos Açores, “continua a haver um estágio<br />
prossional para enfermeiros que não faz outra<br />
coisa que não seja aproveitamento de mão de<br />
obra barata e temporária. Devemos mesmo<br />
ser um case study sobre este assunto, visto que<br />
Portugal Continental e Madeira já aboliram a<br />
sua versão do Estagiar L para enfermeiros, mas<br />
os Açores não”. Qual é a sua opinião sobre este<br />
assunto?<br />
Concordo que o estagiar L na classe de<br />
Enfermagem deveria terminar.<br />
O ensino de Enfermagem já contempla os seus<br />
estágios clínicos e quando os enfermeiros recebem<br />
a cédula prossional estão aptos a trabalharem.<br />
Um enfermeiro licenciado ao entrar no Estagiar<br />
L presta as mesmas funções que os outros<br />
enfermeiros.<br />
Não é correto prestarem as mesmas funções<br />
ganhando muito menos que os colegas.<br />
Depois da pandemia, acha que os enfermeiros<br />
continuarão a ser apelidados como “heróis”?<br />
A classe de Enfermagem esteve e está na linha<br />
da frente de combate a Covid-19, num exemplo<br />
de responsabilidade, sentido de dever, civismo,<br />
entrega, esforço e solidariedade.<br />
Para muitas pessoas os enfermeiros são e<br />
continuarão a ser heróis. Quem recebeu ou<br />
observou os cuidados de enfermagem prestados<br />
pelos enfermeiros açorianos percebe a sua<br />
excelência.<br />
Quem olha para os enfermeiros sem perceber a<br />
sua importância no contexto da saúde e o risco da<br />
prossão, certamente vai esquecer da mais valia da<br />
44 NOAGO20
E N T R E V I S T A<br />
Enfermagem.<br />
Mas mais do que as palavras ofensivas estão os<br />
atos. Temos um Governo Regional que deu palmas<br />
aos enfermeiros. O mesmo que os iludiu com<br />
promessas de justiça relativamente às carreiras e<br />
vencimentos.<br />
É importante que as pessoas saibam que os<br />
enfermeiros não estão a pedir aumentos, mas<br />
sim que se faça justiça ao reposicionamento das<br />
carreiras e dos salários previstos na lei.<br />
Quais os assuntos que, na sua opinião, mereciam<br />
maior atenção política durante estes três últimos<br />
meses?<br />
Existem muitos assuntos que merecem a atenção<br />
política, no entanto, a pandemia COVID-19<br />
continuará a ser o assunto principal, pois afeta<br />
áreas fulcrais do nosso quotidiano.<br />
Estamos à beira das eleições regionais e não<br />
podemos dizer: prá frente é que é caminho -<br />
esquecendo o passado.<br />
Os açorianos já ultrapassaram por muitas crises<br />
e demonstraram coragem para ultrapassar os<br />
problemas.<br />
Vivemos em 9 ilhas onde é notório a falta de<br />
desenvolvimento harmonioso e uma coesão<br />
territorial ecaz.<br />
Os açorianos precisam de respostas urgentes na<br />
saúde, nos transportes e na educação.<br />
Há alguma mensagem que queira deixar aos<br />
nossos leitores?<br />
Primeiro: Agradecer à NO Revista a entrevista<br />
desejando a continuação de um excelente trabalho<br />
na missão de informar de forma rigorosa, isenta,<br />
transparente e honesta.<br />
Segundo: Foi uma honra ser deputado regional da<br />
Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos<br />
Açores e defender a nossa terra e as nossas gentes.<br />
Terceiro: Vote! Não contribua para a abstenção. É<br />
um direito, mas também um DEVER CÍVICO que<br />
devemos cumprir.<br />
Quarto: Participe na vida comunitária da sua terra.<br />
Contribua para o bem comum!<br />
Quinto: Faça alguém feliz!<br />
NOAGO20 45
PUB
C R Ó N I C A<br />
JOÃO F. CASTRO<br />
PROFESSOR MESTRADO EM GESTÃO PORTUÁRIA<br />
joaocastro@sapo.pt<br />
As Regiões Autónomas, dos Açores e da Madeira,<br />
conferem a Portugal uma profundidade oceânica<br />
ímpar, que nos distingue, no contexto Europeu e<br />
Mundial.<br />
A Lei nº 17/2014, de 10 de abril, Lei de<br />
Ordenamento e Gestão do Espaço Marítimo<br />
Nacional (LOGEMN), frequentemente designada<br />
por Lei do Mar, regula o ordenamento e gestão do<br />
mar português.<br />
A Assembleia da República, no passado dia 23 de<br />
julho, aprovou a alteração à LOGEMN , mediante<br />
iniciativa da Assembleia Legislativa da Região<br />
Autónoma dos Açores (ALRAA), introduzindo<br />
alterações expressivas, ao nível da “participação”<br />
e no conceito de “gestão partilhada”, entre a<br />
administração central e regional.<br />
Importa recordar que “estávamos” na presença<br />
de uma desarticulação legislativa, no quadro<br />
legal em vigor, que se “impunha” corrigir, entre a<br />
Constituição da República Portuguesa (CRP), o<br />
1 Proposta de Lei nº 179/XIII - Altera a Lei n.º 17/2014, de 10 de abril, que estabelece as bases da política de ordenamento e de gestão do Espaço Marítimo<br />
Nacional (https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=43341)<br />
NOAGO20 47
C R Ó N I C A<br />
Estatuto Político Administrativo (EPARAA) e a<br />
LOGEMN.<br />
A CRP confere, às regiões autónomas, o poder de<br />
“…participar na denição das políticas respeitantes<br />
às águas territoriais, à zona económica exclusiva e<br />
aos fundos marinho contíguos” .<br />
O EPARAA refere que “…os demais poderes<br />
reconhecidos ao Estado Português sobre as<br />
zonas marítimas sob soberania ou jurisdição<br />
nacional adjacentes ao arquipélago dos Açores,<br />
nos termos da lei e do direito internacional, são<br />
exercidos no quadro de uma gestão partilhada<br />
com a Região, salvo quando esteja em causa a<br />
integridade e soberania do Estado” , bem como<br />
que se consideram respeitantes à região as normas<br />
que incidam sobre “as águas interiores, o mar<br />
territorial, a zona contígua, a zona económica<br />
exclusiva e a plataforma continental contíguas ao<br />
arquipélago” .<br />
A LOGEMN determina(va) que “os instrumentos<br />
de ordenamento do espaço marítimo nacional<br />
(…) são elaborados pelo Governo, com consulta<br />
prévia dos órgãos de governo próprio das<br />
regiões autónomas (…), bem como que “(…)<br />
Os instrumentos de ordenamento do espaço<br />
marítimo nacional que respeitem à plataforma<br />
continental para além das 200 milhas marítimas<br />
são elaborados pelo Governo, ouvidas as regiões<br />
autónomas (…)”<br />
Em síntese, parece(ia) evidente a necessidade de<br />
articulação entre a LOGEMN quando restringia, a<br />
intervenção das regiões autónomas, a uma consulta<br />
prévia ou a uma mera audição, que podiam ou não<br />
ser tidas em conta, numa limitação objetiva do<br />
poder de participação, conferido pela CRP, ou de<br />
gestão partilhada, conforme o EPARAA.<br />
Neste processo, destacamos quatro momentos ,<br />
que se nos parece poderão merecer registo: 1) a<br />
proposta de alteração nº 179/XIII, da iniciativa<br />
da ALRAA, que deu entrada na Assembleia da<br />
República em janeiro de 2019, tendo merecido<br />
aprovação na generalidade em 18/06/2019;<br />
2) o processo, de discussão e votação, na<br />
especialidade em sede de Comissão de Agricultura<br />
e Mar (comissão competente), considerando os<br />
contributos, em conexão, das Comissão de Direitos<br />
Liberdades e Garantias, Comissão de Defesa<br />
Nacional e Comissão de Negócios Estrangeiros;<br />
3) a votação nal global, em plenário da AR, no<br />
dia 23 de julho de <strong>2020</strong>, tendo sido aprovada por<br />
maioria, apesar de aprovado por unanimidade na<br />
ALRAA; 4) a promulgação, em curso, pelo Senhor<br />
Presidente da República e respectiva publicação<br />
para entrada em vigor.<br />
A proposta aprovada salvaguarda a participação<br />
efetiva das regiões autónomas nos instrumentos<br />
2 CRP – alínea s), artigo 227º - Poderes das regiões autónomas.<br />
3 Lei nº 2/2009 de 12 de janeiro – Aprova a terceira revisão do Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma dos Açores (EPARAA).<br />
4 EPARAA – ponto 3, artigo 8º – Direitos da Região sobre as zonas marítimas portuguesas<br />
5 EPARAA – alínea a), ponto 2, artigo 116º – Audição sobre o exercício de competências legislativas<br />
6 Lei nº 17/2014, de 10 de abril – nº 1, artigo 8º.<br />
7 Lei nº 17/2014, de 10 de abril – nº3, artigo 8º.<br />
8 Proposta de Lei nº 179/XIII - Altera a Lei n.º 17/2014, de 10 de abril, que estabelece as bases da política de ordenamento e de gestão do Espaço Marítimo<br />
Nacional (https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=43341)<br />
48 NOAGO20
C R Ó N I C A<br />
de ordenamento e gestão. Em resumo, atribui<br />
competências de propositura à administração<br />
regional, até às 200 milhas marítimas, mediante<br />
parecer vinculativo da administração central em<br />
matérias de soberania e segurança. Por outro<br />
lado, para além das 200 milhas marítimas, atribui<br />
competências de propositura à administração<br />
central, reservando às regiões autónomas a emissão<br />
de parecer vinculativo.<br />
Parece-nos estar na presença de uma solução<br />
equilibrada, que inclusive mantém as competências<br />
e os princípios perseguidos pela lei atualmente<br />
em vigor, claricando e concretizando uma<br />
participação efetiva das regiões autónomas e da<br />
administração central, no desenvolvimento do<br />
conceito de gestão partilhada.<br />
Estamos no momento de promulgação pelo<br />
Senhor Presidente da República. Algumas<br />
opiniões, quer de deputados a título individual,<br />
quer de partidos políticos que não votaram<br />
favoravelmente a alteração proposta, expressam<br />
dúvidas “entusiásticas”, sobre a constitucionalidade<br />
do aprovado. Dúvidas essas que não encontravam<br />
no anterior quadro legal, mesmo sem concretizar<br />
qualquer proposta, sobre o que manifestam<br />
discordância. Expressam uma visão centralista,<br />
de um Portugal governado a partir do Terreiro<br />
do Paço, esquecendo as competências de um<br />
poder regional autónomo, consagrada na CRP.<br />
Antecipam, aparentemente com receio, uma<br />
posição do TC, caso seja solicitada, como se essa<br />
pronúncia, não fosse exatamente função do TC,<br />
assegurando o indispensável respeito pela CRP.<br />
Por último, importa relembrar que, mesmo depois<br />
de conhecida a proposta de alteração da ALRAA,<br />
este processo foi sufragado nas últimas eleições<br />
legislativas nacionais, constando do programa<br />
do XXII Governo Constitucional, aprovado na<br />
AR, que propõe (…) “concretizar uma maior<br />
intervenção das regiões autónomas em sede<br />
de gestão e exploração dos espaços marítimos<br />
respetivos, através da alteração da Lei de Bases<br />
da Política de Ordenamento e Gestão do Espaço<br />
Marítimo Nacional.<br />
E…bem!!!<br />
NOAGO20 49
R E P O R T A G E M<br />
DESIGUALDADES<br />
ÉTNICO-RACIAIS EM<br />
TEMPOS DE PANDEMIA<br />
SARA BORGES<br />
A pandemia que se alastra pelos diversos países<br />
atingiu diversos setores e grupos sociais da<br />
sociedade de formas distintas, em especíco<br />
aqueles que a priori se encontravam em situações<br />
de fragilidade e incerteza sentiram a posteriori o<br />
agravamento das suas condições de sobrevivência.<br />
É neste cenário que se encontram as minorias<br />
raciais e étnicas, pois o impacto desproporcional<br />
da Covid-19 resulta de múltiplos fatores, de entre<br />
os quais se pode destacar a marginalização, a<br />
discriminação e a falta de acesso à saúde.<br />
Segundo Michelle Bachelet, alta-comissária da<br />
ONU para os direitos humanos, “os dados nos<br />
mostram um impacto devastador da COVID-19<br />
sobre pessoas de ascendência africana, bem como<br />
minorias étnicas em alguns países, incluindo<br />
Brasil, França, Reino Unido e Estados Unidos”. A<br />
comissária refere que este é um padrão expetável<br />
em diversos países, mas que, no entanto, não pode<br />
armar devido à falta de informação e dados.<br />
De acordo com Bachelet, “não podemos armar<br />
com certeza, dado que informações sobre raça<br />
e etnia simplesmente não estão sendo coletadas<br />
ou relatadas”, sendo nesta situação, o de falta de<br />
dados e informação, sobre o impacto da Covid nas<br />
minorias étnico-raciais, que Portugal se encontra.<br />
Foi neste contexto que Cristina Roldão, professora<br />
convidada da Escola Superior de Educação no<br />
Instituto Politécnico de Setúbal e Investigadora<br />
no CIES-IUL, abordou, durante a 17ª entrevista<br />
da rubrica "Um olhar sociológico sobre a crise<br />
COVID-19", uma iniciativa do Observatório<br />
das Desigualdades. Nesta pequena conversa, a<br />
investigadora refere que a falta de dados étnicoraciais<br />
não permite fazer uma análise sobre a<br />
realidade das minorias em Portugal, acrescentando<br />
que em outros países, como por exemplo os EUA,<br />
as desigualdades entre a população branca e a<br />
população latino-americana ou negra são enormes<br />
quer do ponto de vista do contágio, quer das<br />
mortes associadas a este vírus, o que remete para<br />
o lugar dessas populações na estrutura económica<br />
dessas sociedades, mas também surge uma<br />
outra dimensão, a territorial, especicamente os<br />
processos de segregação étnico-racial que existem.<br />
Assim, esta crise veio agravar as desigualdades,<br />
dando-lhes uma maior amplitude e<br />
recongurando-as. Neste sentido, Cristina Roldão<br />
refere que podemos observar isto de diversos<br />
pontos de vista, como por exemplo, as narrativas<br />
políticas sobre o Estado-Nação, sobre quem são<br />
os portugueses, sobre quem são os cidadãos aos<br />
quais o Estado e as políticas públicas têm de dar<br />
resposta. Sendo neste aspeto que vamos encontrar,<br />
50 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
em diferentes parte do mundo, discursos<br />
xenófobos ou mesmo racistas, como no caso da<br />
América com o seu atual Presidente que designou<br />
o Covid-19 como “o vírus chinês” e teve várias<br />
consequências para a população asiática que vive<br />
no EUA e noutras partes do mundo.<br />
A investigadora realça também algumas<br />
declarações de responsáveis políticos no âmbito<br />
da saúde, como em França, por exemplo, que<br />
colocaram a hipótese de testar as vacinas em<br />
África, colocando este continente como um local<br />
privilegiado de cobaia da cura do Covid-19. Esta<br />
ideia tem, por detrás, um conceito de inferioridade<br />
dos indivíduos africanos e que, como vários<br />
autores têm mencionado, é a forma como o outro<br />
é racializado, é uma construção negativa em<br />
contraposição ao que está no centro, numa posição<br />
privilegiada. Portanto, é uma construção do outro<br />
desumanizado.<br />
Por outro lado, Cristina Roldão destaca o<br />
discurso do Estado de Emergência declarado pelo<br />
Presidente Marcelo de Rebelo de Sousa, no qual<br />
recorreu à ideia muito particular e marcada pela<br />
“branquitude” sobre quem são os portugueses.<br />
Neste discurso, houve uma exaltação do povo<br />
português como um povo com vários séculos de<br />
existência e que perduraram no tempo enquanto<br />
que outros povos do mundo acabaram por<br />
desaparecer e criando essa clivagem entre o nós e<br />
os outros para garantir uma certa ideia de coesão<br />
nacional num momento em que as desigualdades<br />
se adensam. Portanto, Cristina Roldão questiona<br />
se será que nesse imaginário dos portugueses<br />
que existem há vários séculos estão incluídos<br />
as comunidades ciganas? As comunidades<br />
afrodescendentes, comunidades asiáticas e outras<br />
que existem em Portugal? Por outro lado, surge<br />
a ideia de connamento de comunidades étnicoraciais<br />
especícas e aqui quer com discursos<br />
claros de extrema direita, neste caso do partido<br />
Chega com o André Ventura com a ideia de que as<br />
comunidades ciganas deviam ter o connamento<br />
especíco.<br />
Portanto, a pandemia e toda esta crise coloca<br />
importantes desaos desde logo do ponto de<br />
vista das narrativas políticas que vão acabando<br />
por circular e depois há também as próprias<br />
desigualdades objetivas na exposição à doença,<br />
na possibilidade ou não de connamento.<br />
Cristina Roldão destaca que nem todos têm<br />
o mesmo direito ao connamento e que entre<br />
as comunidades racializadas muito menos. A<br />
investigadora refere a estrutura social e económica<br />
em que a população negra, como também cigana<br />
vivem. Estes indivíduos estão recorrentemente<br />
em setores que não só são mal remunerados, que<br />
detêm os piores vínculos laborais, como também,<br />
são os mais desqualicados, e refere que estes<br />
NOAGO20 51
R E P O R T A G E M<br />
indivíduos não podem ter o “privilégio” de fazer o<br />
connamento.<br />
As desigualdades étnico-raciais interligamse<br />
a outras formas de desigualdades. Por<br />
exemplo, em Portugal, uma parte da população<br />
negra especialmente exposta ao Covid-19 são<br />
as mulheres que trabalham de forma subrepresentada<br />
nos serviços de limpeza, nos serviços<br />
de cuidados a idosos, nos serviços de restauração e<br />
que, neste momento, estão sujeitas ao desemprego<br />
total ou então à exposição de contágio nos<br />
transportes públicos e nos seus locais de trabalho.<br />
Neste sentido, a categoria raça ou a origem<br />
étnico-racial não é algo biológico, mas uma<br />
construção social e enquanto tal é importante para<br />
compreender as desigualdades que atravessam<br />
as nossas sociedades, e se não conseguirmos<br />
dar visibilidade a essas desigualdades, há um<br />
bloqueio na nossa capacidade de compreender<br />
sociologicamente as sociedades em que vivemos,<br />
mas também de conceber as sociedades em que<br />
queremos viver no futuro.<br />
Por outro lado, a segregação territorial causa<br />
diversos efeitos, porque o território é uma<br />
dimensão transversal que inuencia o acesso<br />
a diferentes tipos de políticas públicas, como<br />
também tem consequências a nível da educação. A<br />
existência destes contextos territoriais, os bairros<br />
de alojamento social e escolas que correspondem<br />
predominantemente a estes públicos, encontramse<br />
sob o programa “Territórios educativos de<br />
intervenção prioritária”. Assim, com o Covid estes<br />
contextos são particularmente marcados, quer<br />
porque as famílias não têm os meios tecnológicos<br />
para poder garantir que os seus lhos, por vezes<br />
vários em diferentes anos de escolaridade, possam<br />
acompanhar à distância as aulas, quer porque<br />
mesmo tendo esses equipamentos não existe<br />
um quadro doméstico-familiar que permita o<br />
acompanhamento que é necessário no ensino<br />
à distância. Desta forma, falta saber de que<br />
forma estes territórios, ou em que nível estes<br />
territórios caram ainda mais excluídos do que<br />
já eram. Como é que está a comunidade cigana<br />
52 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
neste momento? Como é que estão os alunos e<br />
estudantes afrodescendentes nesta pandemia na<br />
sua relação com a escola?<br />
Por último, a segregação étnico-racial acaba por<br />
estar na base da forma como o Covid se expande<br />
e o seu contágio, mas também na forma como<br />
o estado intervém neste tipo de territórios,<br />
profundamente criminalizados e por isso mesmo<br />
legitimando um conjunto de intervenções policiais<br />
que suspendem os direitos dessas populações,<br />
cando elas numa condição de internos suspeitos.<br />
Cristina Roldão refere que é evidente um exercício<br />
marcado pelo preconceito racial por parte de<br />
agentes da autoridade, a maneira também como<br />
se corresponde ao Covid nesses territórios passa<br />
muito mais por cercas sanitárias garantido por<br />
outro cerco policial do que propriamente por<br />
uma política de proteção e de reconhecimento<br />
destes cidadãos como todos os outros, com plenos<br />
direitos de cidadania e proteção social.<br />
VIDEO<br />
PROMOCIONAL<br />
NOAGO20 53
PUB
C R Ó N I C A<br />
EQUIPA DE APOIO INTEGRADO<br />
DOMICILIÁRIO E SUA INTERVENÇÃO<br />
EM CONTEXTO COVID-19<br />
Zélia de Fátima Lima Martins (Secção<br />
Regional da Região Autónoma dos Açores)<br />
Na Região Autónoma dos Açores, à semelhança<br />
da tendência demográca nacional, verica-se<br />
o aumento do envelhecimento da população o<br />
que é uma realidade incontornável, resultado do<br />
aumento da esperança média de vida, diminuição<br />
da natalidade, aumento das doenças crónicas<br />
e/ou incapacitantes, imigração da população<br />
adulta/jovem e o déce de camas hospitalares<br />
impõem uma abordagem diferente da prestação de<br />
cuidados.<br />
Temos mais idosos cada vez mais dependentes,<br />
o que acarreta um aumento dos custos da saúde;<br />
os internamentos são caros e, muitas vezes, a<br />
vida prossional dos familiares não lhes permite<br />
acompanhar os doentes como seria desejável.<br />
Este facto determina o aparecimento de novas<br />
necessidades de saúde e sociais, urge, portanto, a<br />
necessidade de colmatar esta carência, que tem um<br />
grande impacto social e de importância crescente<br />
em termos de saúde pública.<br />
De acordo com o Decreto Legislativo Regional<br />
(DLR) nº16/2008/A Neste contexto é criada a Rede<br />
Regional de Cuidados Continuados Integrados<br />
tendo em vista a melhoria da operacionalização<br />
dos Serviços de Cuidados Continuados Integrados<br />
existentes, de forma a garantir a articulação entre<br />
as unidades de saúde e as unidades de apoio social.<br />
Como forma de operacionalizar estas novas<br />
necessidades foi reestruturado o projeto inicial<br />
da Unidade de Cuidados Domiciliários de modo<br />
a conceber uma Equipa de Apoio Integrado<br />
Domiciliário (EAID).<br />
Surgem então os cuidados no domicílio que, além<br />
NOAGO20 55
C R Ó N I C A<br />
de assegurarem a qualidade dos tratamentos e<br />
ajudarem a reduzir a despesa, proporcionam<br />
conforto e bem-estar a quem deles necessita -<br />
tratados em casa, os doentes sentem-se melhor,<br />
mais acompanhados, e a sua recuperação é<br />
francamente melhor.<br />
Equipa multidisciplinar constituída por diversos<br />
prossionais, tais como: enfermeiros, sendo na sua<br />
maioria especialistas em diversas áreas; médicos;<br />
sioterapeutas; psicóloga; nutricionista; técnico<br />
superior de serviço social; assistentes técnicos<br />
e operacionais. Esta equipa presta cuidados<br />
de convalescença, recuperação e reintegração<br />
de utentes agudos e crónicos, em situação de<br />
dependência funcional, doença terminal, em<br />
situações que não requerem internamento, mas<br />
que não podem deslocar-se de forma autónoma<br />
independentemente da causa e da idade, bem<br />
como cuidados de suporte psicológico, formativo<br />
aos familiares/prestadores de cuidados.<br />
Esta equipa prima pela prevenção da doença,<br />
promoção dos processos de readaptação e de<br />
transição bem como a reabilitação e reinserção<br />
familiar. Prevenindo complicações através da<br />
prestação de cuidados da EAID em contexto<br />
domiciliário, com uma dotação adequada de<br />
recursos humanos, logísticos e materiais.<br />
Horário e funcionamento do serviço: Segunda a<br />
Sexta-feira das 8h30m às 20h e Sábados, Domingos<br />
e Feriados das 8h30m às 15h30m.<br />
A nalidade desta equipa é prestar cuidados de<br />
excelência para com o utente e família/cuidador,<br />
promovendo o seu bem-estar físico, psicológico<br />
e social, de modo a minimizar as repercussões<br />
inerentes ao seu processo de doença, reduzindo o<br />
seu impacto para com o utente e família/cuidador.<br />
Prestados cuidados domiciliários decorrentes<br />
da avaliação integral, de cuidados médicos, de<br />
enfermagem, de reabilitação e de apoio social,<br />
ou outros, a pessoas em situação de dependência<br />
funcional, doença terminal, por vezes com<br />
ações paliativas, são parte integrante da prática<br />
prossional, qualquer que seja a doença, a fase da<br />
sua evolução ou em processo de convalescença,<br />
com rede de suporte social, cuja situação não<br />
requer internamento mas que não podem deslocarse<br />
de forma autónoma. Apoia-se nos recursos<br />
locais disponíveis, no âmbito de cada centro de<br />
saúde, conjugados com os serviços comunitários,<br />
nomeadamente as autarquias locais.<br />
Para melhor perceber a essência dos cuidados<br />
domiciliários é fundamental reetir sobre o<br />
cuidar, não é apenas uma emoção, uma atitude,<br />
ou um simples desejo, cuidar é o ideal moral<br />
em enfermagem, uma vez que a sua nalidade<br />
é proteger, promover e manter a dignidade<br />
humana, comportando todo um conjunto de<br />
56 NOAGO20
C R Ó N I C A<br />
valores, vontade, um compromisso para o cuidar<br />
e conhecimentos cientícos através dos quais se<br />
preserva o corpo nas diferentes etapas da vida.<br />
O enfermeiro sempre que seja o mais adequado<br />
para o utente deve, prestar cuidados em parceria<br />
com este e com a sua família/cuidadores tendo<br />
como vantagens:<br />
O respeito pela dignidade e autonomia do utente, o<br />
que leva a uma maior responsabilização deste pela<br />
sua saúde;<br />
A manutenção dos vínculos familiares, a<br />
preparação e aprendizagem destes para a<br />
continuação dos cuidados no domicílio;<br />
A promoção da partilha de informações e<br />
identicação dos recursos disponíveis e melhor<br />
forma de os utilizar;<br />
Contribuindo para a auto-realização pessoal<br />
e prossional, para uma maior valorização da<br />
instituição de saúde e para a melhoria da saúde em<br />
geral.<br />
Os Cuidados domiciliários em contexto COVID-1.<br />
A COVID19 decorre da infeção pelo novo<br />
coronavírus (SARS-CoV-2), a transmissão pode<br />
ocorrer por gotículas respiratórias, contato com<br />
secreções respiratórias infeciosas, com fezes e<br />
superfícies contaminadas e por via aérea durante<br />
a realização de procedimentos geradores de<br />
aerossóis.<br />
A atual situação epidemiológica impõe a adoção<br />
de medidas rigorosas de prevenção de contágio<br />
entre as pessoas nomeadamente o distanciamento<br />
social, higienização das mãos e a utilização correta<br />
e racional de Equipamentos de Proteção Individual<br />
(EPI).<br />
O EPI deve ser usado tendo em consideração a<br />
prevenção das infeções cruzadas entre domicílios a<br />
transmissão do SARS-CoV-2, bem como o risco de<br />
exposição<br />
A equipa dos cuidados domiciliários destacados<br />
para a visita domiciliária inclui 2 enfermeiros,<br />
devidamente treinados no colocação e remoção<br />
do EPI, deslocam-se em viatura do serviço<br />
devidamente equipada e atendendo ao controlo de<br />
infeção todos os utentes devem ser considerados<br />
suspeitos são efetuados visitas domiciliárias a todos<br />
os utentes de quarentena provenientes de outras<br />
instituições ou chegadas de Portugal ou outros<br />
países. Como também nos casos positivos que não<br />
necessitam de cuidados hospitalares.<br />
Nas restantes visitas domiciliarias há contato<br />
telefónico prévio ao utente e/ou cuidador/familiar<br />
de forma a planear a entrada de equipa de saúde<br />
NOAGO20 57
C R Ó N I C A<br />
no domicílio, avaliar a existência de contato do<br />
utente com suspeito, internamentos em hospital<br />
ou existência de sintomatologia compatível com<br />
COVID-19 e orientar utente/cuidador/familiar<br />
para a colocação de máscara cirúrgica antes da<br />
entrada da equipa no domicílio.<br />
Os atos de enfermagem, sobretudo no que se<br />
refere às atividades, autónomas, seguem uma<br />
metodologia cientíca de trabalho, nas etapas<br />
de identicação de necessidades e diagnósticos<br />
de enfermagem, hierarquização e planeamento,<br />
execução e avaliação.<br />
Com a nossa realidade há necessidade de se pensar<br />
o envelhecimento ao longo do ciclo vital, sendo um<br />
desao individual e coletivo consiste em promover,<br />
tanto quanto possível e até ao m, o bem-estar e<br />
qualidade de vida do utente e família.<br />
58 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
Webinar:<br />
“Uma questão<br />
de confiança<br />
na hotelaria<br />
dos Açores”<br />
ANA MASSA<br />
A 4 de junho, a Bensaude Hotels Collection<br />
promoveu um webinar dedicado à temática do<br />
turismo na Região, cujo tema principal residia na<br />
conança na hotelaria dos Açores. Este webinar foi<br />
moderado por Pedro Salazar, Diretor Comercial da<br />
Bensaude Hotels Collection, com a participação de<br />
João Luís Cogumbreiro, Diretor do Hotel Marina<br />
Atlântico, Manuel Goes, General Manager do<br />
Furnas Boutique Hotel e Paulo Limão, Diretor do<br />
Azoris Garden Hotel.<br />
Em primeiro lugar, o moderador questionou o que<br />
mudou, que novos procedimentos foram adotados<br />
a nível de estadia, check-in, circulação do hotel,<br />
restauração, etc. Paulo Limão começou por armar<br />
que “a experiência e a jornada do consumidor<br />
vai ser alterada porque todo um conjunto de<br />
processos, procedimentos, mimos, mordomias”<br />
têm de ser reformulados, isto é, a maneira como<br />
recebem os clientes tem de mudar, embora<br />
tentando ao máximo possível que a experiência<br />
do cliente não seja afetada. “A m ao cabo, estar<br />
na hotelaria é isso mesmo, é acolher bem, é<br />
mimar quem nos visita, tratar bem, fazer sentir<br />
bem-vindo e isso tem de ser privilegiado a todo o<br />
custo”, armou. Paulo Limão crê, no entanto, que o<br />
hóspede será agora muito mais autónomo.<br />
O Diretor do Azoris Garden Hotel considera<br />
os três meses em que a sua unidade hoteleira<br />
esteve fechada como uma mais-valia, uma vez<br />
que foi tempo suciente para preparar e testar<br />
novos procedimentos, dando especial relevo<br />
à transparência que a sua equipa e das demais<br />
unidades terão que dar relativamente ao tópico<br />
da higiene, algo recorrente e indispensável antes<br />
da pandemia. “Aquilo que nós tentávamos antes<br />
fazer sem ele ver, digamos assim, que era todo o<br />
processo de limpeza e de higiene, manter tudo<br />
limpo, tudo impecável, tentávamos fazê-lo sem que<br />
o hóspede desse por isso. Neste momento, eu acho<br />
que o próprio hóspede espera ver isso”, sublinhou<br />
Paulo Limão.<br />
Relativamente ao check-in, dá nota que será<br />
privilegiado o pré check-in online, realçando a<br />
digitalização e a autonomia na experiência do<br />
consumidor. Apesar destas restrições sanitárias<br />
impostas pela Autoridade Regional de Saúde, Paulo<br />
Limão arma que isto não deverá signicar uma<br />
restrição “de serviço e de qualidade do serviço que<br />
NOAGO20 59
R E P O R T A G E M<br />
prestamos”.<br />
Manuel Goes, General Manager do Furnas<br />
Boutique Hotel, por sua vez, arma que a hotelaria<br />
sempre foi “obcecada” pela limpeza e pela higiene,<br />
realçando, no entanto, que “não podemos<br />
transformar os nossos hotéis em hospitais ou em<br />
clínicas” e que o principal objetivo é minimizar o<br />
impacto da estadia normal dos hóspedes. Manuel<br />
Goes dá o exemplo do momento da reserva,<br />
para o qual criaram uma série de tarifas e maior<br />
exibilidade, como menor tempo de cancelamento,<br />
tarifas que podem ser remarcadas. A ideia do<br />
pré check-in, anteriormente feito pela unidade<br />
hoteleira, terá ainda uma maior incidência. O<br />
serviço de rooming, que consiste em acompanhar<br />
o cliente até ao seu quarto e inclusive transportar<br />
a sua bagagem será também limitado. “Não vamos<br />
deixar de ter esse serviço, mas vamos deixar<br />
a decisão do lado do hóspede, enquanto que<br />
anteriormente era algo obrigatório”. Manuel Goes<br />
confessa que o maior desao será o uso constante<br />
de máscara por parte da equipa, uma vez que o<br />
“sorriso sempre foi aqui muito importante na<br />
criação da primeira impressão e é óbvio que sem<br />
o sorriso vamos ter que nos desaar e arranjar<br />
outras formas de passar esta empatia, passando<br />
a mensagem do distanciamento físico que não<br />
pode, todavia, ser um distanciamento emocional”,<br />
armou. Relativamente à restauração, as salas de<br />
refeição serão redimensionadas, o hóspede terá<br />
de reservar a sua presença antecipadamente e os<br />
buffets deixam de existir, privilegiando o serviço<br />
à carta, cujo menu poderá ser facilmente acedido<br />
através do telemóvel do hóspede. “De uma forma<br />
geral, o resto mantém-se”.<br />
João Luís, Diretor do Hotel Marina Atlântico, um<br />
dos poucos hotéis que não encerraram, realça a<br />
importância de “sorrir com os olhos” e explica<br />
a situação de paridade entre o funcionário e o<br />
cliente, ambos de máscara, havendo, portanto,<br />
60 NOAGO20
R E P O R T A G E M<br />
alguma proximidade entre os dois. No que diz<br />
respeito ao selo “Clean & Safe Azores”, João Luís<br />
arma que este se encontrará à entrada, de forma<br />
a mostrar ao cliente que a sua unidade fornecerá<br />
uma garantia de serviço e de segurança de acordo<br />
com “os cânones novos que temos em cima da<br />
mesa”. O diretor sublinha a questão da informação<br />
e da comunicação que se revelam ser essenciais<br />
nesta fase, pois “temos que lembrar os hóspedes<br />
das regras, do protocolo, das práticas que somos<br />
obrigados a cumprir”. Outra questão importante<br />
para João Luís é a educação e a “evangelização”<br />
de toda a equipa que será, segundo o mesmo,<br />
um “coach” do cliente. A tecnologia será também<br />
uma forma ecaz de “evangelizar” o cliente, sendo<br />
agora o telemóvel uma ferramenta indispensável.<br />
O diretor anuncia que foi criada uma app (BHC)<br />
com todos os conteúdos necessários, como a<br />
informação da receção, do check-in, ementas,<br />
tarifas do hotel, informação atualizada do COVID,<br />
serviços de room service, alguma agenda cultural<br />
e, ainda, informação meteorológica. Para além<br />
disso, será criado um chat, no qual o cliente<br />
poderá interagir com a equipa.<br />
Quando questionado por Pedro Salazar,<br />
moderador do webinar, sobre quais as reais<br />
preocupações dos clientes, Manuel Goes arma<br />
que há que valorizar a transparência para com<br />
os hóspedes e “não embelezar o cenário”. O<br />
aeroporto será uma grande preocupação, tanto na<br />
saída como na chegada, e “nós temos que passar<br />
uma sensação de segurança, tudo o que fazíamos<br />
e escondíamos dos hóspedes, temos de fazê-lo<br />
mais vezes e à frente do hóspede porque agora ele<br />
vai estar preocupado com a limpeza”. Este é, de<br />
facto, o tema recorrente neste webinar: a limpeza.<br />
João Luís, por sua vez, crê que uma possível<br />
preocupação do cliente será o outro cliente, pois<br />
“o comportamento dos outros hóspedes pode ser<br />
uma ajuda ou não”. Desta forma, os prestadores<br />
de serviços terão de atuar como “mediadores e<br />
neutralizadores em relação a alguma situação<br />
crítica para clientes mais agressivos e impacientes”.<br />
O aspeto mais importante para João Luís é a<br />
inversão de posicionamento “em que o cliente era<br />
muito mais o ator, o que fazia, se servia, escolhia<br />
a mesa, a hora que queria, de um momento para<br />
o outro não é o cliente a tomar decisões. O cliente<br />
NOAGO20 61
R E P O R T A G E M<br />
agora vai ser o rei sentado na cadeira”. Retomando<br />
o tópico iniciado pelo General Manager do Furnas<br />
Boutique Hotel acerca de evitar que as unidades<br />
hoteleiras se transformem em hospitais ou clínicas,<br />
Paulo Limão responde que é fundamental fazer<br />
transparecer que “o distanciamento seja físico, mas<br />
que uma barreira de acrílico não nos afasta das<br />
pessoas”.<br />
Por m, é solicitado aos convidados uma<br />
mensagem nal aos seus clientes. Paulo Limão<br />
arma que é importante passar a mensagem de<br />
que são bem-vindos e que o hotel está mais do que<br />
preparado para os acolher. Manuel Goes pretende<br />
demonstrar essa ansiedade em voltar a receber<br />
hóspedes e também quis passar uma mensagem<br />
para a sua equipa, pois esta também necessita<br />
sentir segurança “para quando vão para casa junto<br />
dos seus”. “Eu acho que todos os hóspedes, locais<br />
ou não, vão ter uma atitude cumpridora daquilo<br />
que são as regras e cá temos que receber as pessoas<br />
de uma forma positiva e o turismo é importante<br />
para a região e não devemos fazer do turismo<br />
um bicho papão”. Por último, o diretor do Hotel<br />
Marina pretende dar a entender ao cliente que a<br />
sua unidade foi capaz de se reinventar e inovar,<br />
adotando novas tecnologias e estabelecendo<br />
novos canais de comunicação com o cliente, de<br />
forma a estabelecer melhores ligações com ele.<br />
“Temos de ser o agente da mudança para que ela se<br />
movimente para o sentido que nós queremos e que<br />
podemos controlar”, concluiu.<br />
VIDEO<br />
PROMOCIONAL<br />
62 NOAGO20
C R Ó N I C A<br />
António Ventura<br />
Deputado pelo PSD Açores<br />
na Assembleia da republica<br />
Esta semana terminam, de forma ocial, os trabalhos<br />
na Assembleia da República, porque nda a Sessão<br />
Legislativa. Sendo assim, importa dar conta,<br />
genericamente, do que transita para a nova Sessão<br />
Legislativa, por não ter sido cumprido.<br />
São temáticas que ainda não têm uma solução ou<br />
cumprimento, por parte do Governo da República, e<br />
que são essenciais para o desenvolvimento dos Açores.<br />
Temáticas que, inclusive, estavam inscritas na célebre<br />
Declaração Conjunta assinada entre os dois Governos,<br />
a 30 de abril de 2016. Declaração que serviu para uma<br />
manobra de propaganda política, tendo em conta<br />
a sua falta de materialização. Ademais, o PS e os<br />
Governantes, tanto a nível Regional como Nacional,<br />
zeram “tábua rasa” deste documento, pois este<br />
desapareceu dos discursos e dos debates.<br />
Importa, assim, recordar os assuntos que passam sem<br />
terem sido cumpridos, como sejam, a indenição<br />
da Base das Lajes, a grave contaminação dos solos<br />
e aquíferos que precisa de uma resposta abrangente<br />
e responsável, o Plano de Revitalização Económico<br />
da Ilha Terceira (PREIT) que não sai do papel, a<br />
necessidade da existência dos radares meteorológicos,<br />
reativar o da Serra de Santa Bárbara e a construir um<br />
em São Miguel, o Programa POSEI e a problemática da<br />
agricultura, as diculdades nas pescas, a instalação do<br />
GNL para abastecimento de navios no Porto da Praia<br />
da Vitória, os vários acordos globais da União Europeia<br />
e os seus impactos nos Açores, como o MERCOSUL, o<br />
reconhecimento da posição geostratégica e geopolítica<br />
da Região, a construção da Cadeia de Ponta Delgada, as<br />
negociações da nova Política Agrícola Comum (PAC),<br />
os CTT, as ligações da TAP e o apoio à mobilidade<br />
que precisa de simplicidade, a falta de agentes da<br />
PSP e as suas reivindicações salariais, a deterioração<br />
do património da República e os serviços públicos<br />
nos Açores, a imprescindível atenção política ao<br />
progresso da nossa Autonomia, o apoio diferenciado<br />
à Universidade dos Açores, o aprofundamento<br />
do conceito de Região Ultraperiférica, a segunda<br />
tripulação para os helicópteros Merlin para busca e<br />
salvamento, a instalação dos recursos da Marinha<br />
nos Açores, o avião cargueiro, a criação do Grupo de<br />
Trabalho para a Sismologia, o Cabo Submarino, entre<br />
outros temas.<br />
Estes e outros assuntos continuarão a merecer da nossa<br />
parte todo o empenho, acompanhamento e persistência<br />
política no Parlamento Nacional.<br />
Estes problemas são reais e não vale a pena escondê-los,<br />
como alguns responsáveis políticos do PS nos Açores<br />
e em Lisboa tentam fazer, passando a perceção que<br />
está tudo bem e que muito foi realizado e está a ser<br />
executado. Com esta postura estão a prestar um mau<br />
serviço aos Açorianos e à democracia. O primeiro passo<br />
para solucionar um problema é reconhecê-lo.<br />
Espero, também, que o Governo Regional não se<br />
remeta ao tradicional silêncio, para proteger o PS. Esta<br />
cumplicidade política prejudica os Açorianos e em nada<br />
contribui para um bom exemplo de governação.<br />
Mais do que nunca os Açores necessitam da atenção<br />
política da República no cumprimento do prometido.<br />
Com a infeliz e desastrosa Pandemia que nos está a<br />
afetar, a economia da Região urge por recuperação<br />
e sustentação. Estão em causa milhares de postos de<br />
trabalho.<br />
Em setembro, regressa o Parlamento e estaremos lá,<br />
os Deputados do PSD, eleitos pelos Açores, para fazer<br />
recordar todos os dias que os Açores são igualmente<br />
uma parte de Portugal, como aliás temos feito até agora.<br />
Estaremos no Parlamento para sermos críticos,<br />
proponentes e presentes.<br />
Contem connosco.<br />
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