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SCMedia News | Revista | Julho & Agosto 2020

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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Jul’ <strong>2020</strong><br />

Ago’ <strong>2020</strong><br />

4,60€<br />

Mensal<br />

13<br />

1º Aniversário<br />

Volta ao mundo<br />

da Supply Chain em<br />

13 entrevistas


Formação IN-HOUSE<br />

Gestão de Stocks<br />

Negociação na Logística<br />

Gestão do Armazém<br />

Auditoria Logística<br />

Gestão de Compras<br />

Logística<br />

Compras<br />

Operações<br />

Workshops/Cursos<br />

Intra-Empresas<br />

estruturados e<br />

construídos à medida,<br />

realizados nas<br />

instalações da<br />

empresa, nos horários<br />

que forem mais<br />

convenientes.<br />

Procurement eficiente<br />

Seleção e avaliação de fornecedores<br />

O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />

Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />

através da liderança eficaz<br />

Lean Logistics<br />

Gestão de Processos<br />

Facility Management<br />

Gestão de Rotas<br />

Gerir com sucesso a sua frota<br />

Como minimizar os custos de transporte<br />

Esta é uma oportunidade<br />

para reciclar<br />

conhecimentos, ampliar<br />

outros e alargar horizontes<br />

profissionais.<br />

Ferramentas de gestão logística para transitários<br />

Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />

Sector Transitário - Formação em Vendas<br />

Formação Air & Sea - Vertente Comercial<br />

SAIBA MAIS EM:<br />

www.supplychainmagazine.pt/flow/<br />

flow@supplychainmagazine.pt<br />

Formação em Transporte Aéreo - Vertente Comercial<br />

Formação em Transporte Marítimo - Vertente Comercial<br />

Formação em Supply Chain<br />

Powered by


dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

editorial<br />

Demos uma volta ao Sol<br />

“Não permitam que o ruído das opiniões dos outros<br />

abafe a vossa voz interior.”<br />

Steve Jobs, Junho 2005<br />

Esta é uma edição especial, pelo que<br />

marca e pelo conteúdo. Com este número<br />

assinalamos a história breve de uma revista<br />

que nasceu há um ano com a modesta<br />

convicção de, em papel e online, unir tudo o<br />

que já fazíamos - site noticioso, newsletter<br />

semanal de logística, newsletter quinzenal de<br />

procurement, conferências sectoriais - e vir a<br />

tornar-se a news magazine dos profissionais<br />

de logística e supply chain.<br />

Foram 12 meses de informação útil,<br />

rigorosa e de confiança, privilegiando<br />

um olhar atento sobre a actualidade, as<br />

empresas, os projectos e as pessoas mesmo,<br />

ou sobretudo, em tempos de pandemia.<br />

E assim demos uma volta ao Sol!<br />

Que o mundo hoje está diferente, já o<br />

sabemos. Contudo, nunca foi tão importante<br />

e urgente mostrar quem faz bem, o quê,<br />

onde e como e, exactamente por isso, o<br />

nosso papel é mais do que nunca levar<br />

aos profissionais a informação essencial.<br />

É também ajudá-los a focarem-se no que<br />

realmente importa. Esse continua a ser o<br />

nosso compromisso.<br />

Quisemos assinalar a data de forma<br />

especial, não olhar para o umbigo mas para<br />

o que nos rodeia, e fomos à procura de<br />

profissionais nacionais espalhados por esse<br />

mundo fora, a desenvolver carreira na Supply<br />

Chain. Se dúvidas havia, o resultado comprova<br />

que, de facto, Somos Cidadãos do Mundo,<br />

mas acima de tudo que quando gostamos e<br />

acreditamos no que fazemos Somos Capazes<br />

do Melhor.<br />

“Volta ao mundo da supply chain em 13<br />

entrevistas” poderia muito bem ser o título<br />

desta edição sem fronteiras, com um fio<br />

condutor claro e uma proposta irrecusável:<br />

levar até si 13 portugueses que trabalham na<br />

logística, nas operações e nas compras, que<br />

prontamente partilharam as suas experiências<br />

de carreira, em sociedades e culturas<br />

diferentes, desafiando-se e apostando em<br />

projectos altamente diferenciadores.<br />

Irlanda, Dinamarca, Bélgica, República<br />

Checa, Canadá, Austrália, Alemanha, Holanda,<br />

França… eis alguns dos destinos contemplados<br />

na viagem pelas páginas desta edição de<br />

aniversário, também ela maior do que o<br />

normal. Aceite o nosso convite e veja como os<br />

bons projectos, os bons profissionais e as boas<br />

ideias têm sempre lugar. Em qualquer parte do<br />

mundo.<br />

Próximo destino? Prepararmo-nos para os<br />

365 dias que aí vêm e seguir para mais uma<br />

volta ao Sol. Embarca connosco?


4<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 5<br />

#8 #22 #28 #40<br />

#80<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede, Administração e Redacção_<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direcção Geral_<br />

Filipe Barros<br />

Directora_<br />

Dora Assis<br />

Redacção_<br />

Ana Paiva, Fábio Santos<br />

índice<br />

Projecto gráfico_<br />

Maria João Carvalho<br />

Paginação _<br />

Daniela Moço<br />

Circulação & Eventos _<br />

Inês Ferreira<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Logística & Procurement<br />

Direcção Comercial _<br />

Filipe Barros<br />

O admirável mundo da supply chain 6<br />

“SCM é... Sucesso,<br />

Compromisso e Melhoria” 8<br />

“Procurement,<br />

na sua base, é um desafio” 14<br />

“Trabalhar sempre<br />

com motivo é a missão” 22<br />

“Às vezes é preciso dar um passo<br />

atrás para dar dois para a frente” 28<br />

“Sair, Conhecer e Melhorar” 34<br />

“As primeiras negociações<br />

foram um desafio” 40<br />

“Somos Cidadãos do Mundo” 46<br />

“Foi o procurement que abriu as<br />

portas a uma carreira internacional” 52<br />

“Sempre em Constante Movimento” 58<br />

“Um dia em procurement<br />

é sempre diferentes dos outros” 66<br />

“A felicidade não está no ter,<br />

mas sim no alcançar” 74<br />

“Eu não sou um comprador” 80<br />

“Com paciência e perseverança<br />

muito se alcança” 88<br />

carreira<br />

Profissional procura<br />

projecto com impacto para<br />

uma relação intensa 93<br />

Sales & Marketing _<br />

Margarida Matildes<br />

Impressão _<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem _<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade_<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

NPC _<br />

514707143<br />

Capital Social_<br />

100,00€<br />

Participações sociais_<br />

Susana Silva<br />

Administração_<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º _<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º _<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e<br />

imagens sem autorização expressa.<br />

Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />

anterior ao Acordo Ortográfico


6 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

FACTOS<br />

& NÚMEROS<br />

SCM Supply Chain Magazine 7<br />

Texto: Dora Assis<br />

O admirável mundo<br />

da supply chain<br />

13 Edições<br />

entusiasmo pelo que fazem, sentem-se bem<br />

na sua pele e não temem os desafios, mesmo<br />

em tempos incertos. O importante é o tal do<br />

“amor à camisola”, gostar-se do que se faz e<br />

encontrar realização nesse trabalho. Quando<br />

assim é, cada tarefa é ímpar e cada dia único,<br />

incomparável.<br />

De acordo com um relatório da Morgan<br />

McKinely, relativo a 2019, os empregadores<br />

estão a proporcionar melhores oportunidades<br />

de aprendizagem e desenvolvimento,<br />

além de também estarem a atrair e reter<br />

talentos ao melhorar a imagem da indústria;<br />

garantir que as funções na supply chain<br />

são financeiramente compensadoras e ao<br />

envolverem o sector do ensino. No entanto,<br />

também devem estar cientes do que estes<br />

profissionais procuram. Segundo a mesma<br />

fonte, as principais metas de carreira para<br />

os profissionais de supply chain são: ganhar<br />

mais dinheiro (36%); melhorar a satisfação no<br />

trabalho (32%); melhorar o equilíbrio trabalho/<br />

vida pessoal (23%); progressão na carreira (9%).<br />

Em rigor e voltando ao princípio, pode<br />

considerar-se a profissão absolutamente<br />

rotineira: repetição constante de tarefas e<br />

experiências em prol da sobrevivência; mas<br />

também podemos olhar os dias como únicos,<br />

pois são-no. Há sempre surpresas na supply<br />

chain, como se tem provado e comprovado<br />

nestes últimos meses. Surpresas que podem<br />

mudar de forma radical o desenvolvimento<br />

e o fim da história. A meta dos nossos<br />

entrevistados é o percurso. Não sabem onde<br />

vão parar, mas sabem qual o caminho a<br />

seguir.•<br />

Alguma vez pensou como podem alguns<br />

espectáculos estar meses ou mesmo<br />

anos a fio em cartaz? Como conseguem<br />

os actores aguentar duas ou três sessões<br />

seguidas, semana após semana, ano após<br />

ano? A rotina do guião, as mesmas falas, o<br />

mesmo cenário, as mesmas cenas repetidas<br />

vezes sem conta, os suspiros, os sorrisos ou<br />

as exclamações da assistência nos momentos<br />

esperados... Mas não é só com os actores.<br />

Pense numa qualquer profissão. Pense na sua.<br />

A questão de fundo é: depois do fascínio<br />

inicial, ao fim de algum tempo, como podem<br />

as pessoas ser felizes e ter prazer com as<br />

tarefas rotineiras que já conhecem de cor?<br />

Da gestão de matérias-primas e de<br />

fornecedores à produção, ao transporte<br />

e distribuição, passando pela recepção e<br />

conferência de mercadorias, verificação<br />

de conformidades, preparação de pedidos,<br />

movimentação de mercadorias, tudo acontece<br />

repetida e religiosamente a cada começo e fim<br />

de dia (pensamos nós).<br />

Desengane-se. Pelos vistos, na supply chain<br />

não há rotina nem sequer repetição. Cada<br />

empresa, cada operação é singular, porque<br />

as pessoas são diferentes, os ambientes<br />

conspiram e inspiram de forma distinta e os<br />

estados de espírito e motivações são também<br />

incomparáveis.<br />

E, por isso, quem escolheu a supply chain,<br />

continua a defender que foi a melhor opção<br />

que fez. Pelo menos no caso das 13 histórias<br />

dos profissionais com quem falámos e que<br />

além de terem optado profissionalmente pela<br />

supply chain decidiram fazê-lo além-fronteiras<br />

e desenvolver carreira internacional.<br />

Têm outras coisas em comum: nutrem


8<br />

julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 9<br />

logística<br />

República Checa<br />

“SCM é…<br />

Sucesso,<br />

Compromisso<br />

e Melhoria”<br />

Nesta edição especial, decidimos posicionar o foco<br />

nos profissionais portugueses de supply chain<br />

espalhados pelo mundo. Apaixonados pela área de<br />

Supply Chain Management, os nossos entrevistados<br />

São Cidadãos do Mundo e partiram à conquista<br />

de novos mundos tanto no campo pessoal como<br />

profissional. Nem os milhares de quilómetros que<br />

os separam do seu país natal os impediu de correr<br />

atrás do sonho: uma carreira na supply chain. A<br />

viagem começa na República Checa, para conhecer a<br />

realidade de Miguel Martins da Silva.<br />

Texto: Ana Paiva<br />

que se origina no Compromisso<br />

e que determina uma constante<br />

“Sucesso<br />

Melhoria a cada dia”, é assim que se<br />

caracteriza Miguel Martins da Silva, group<br />

chief supply chain officer da Dr. Max BDC<br />

(Holding), na República Checa.<br />

Na sua carreira contabilizam-se mais de<br />

20 anos de projectos na área da logística<br />

e cadeias de abastecimento em diferentes<br />

áreas, desde a farmacêutica, passando<br />

pelas telecomunicações, até às industriais e<br />

alimentares, a construção de várias infra-<br />

-estruturas em mais de 20 países em<br />

diferentes continentes. Passado todo este<br />

tempo, a sua missão mantém-se: continuar<br />

“sempre a aprender e a evoluir”.<br />

Quando iniciou funções na supply chain,<br />

a logística fazia parte da área financeira da<br />

maioria das organizações e hoje, refere que se<br />

encontra ao mesmo nível nas administrações<br />

das grandes empresas e que “terá cada vez<br />

mais importância porque é uma função que<br />

exige uma compreensão profunda de todas as<br />

áreas das empresas e uma grande interacção<br />

com as restantes áreas funcionais”.<br />

Numa primeira fase, Miguel Martins da<br />

Silva, desempenhou funções a partir de<br />

Portugal e, mais tarde, mudou-se para o<br />

estrangeiro. Contudo, afirma que praticamente<br />

desde sempre trabalhou em ambientes<br />

internacionais, bem como os projectos em<br />

que participou. Actualmente, tem projectos a<br />

decorrer em mais de 10 países.<br />

Quando questionado sobre a adaptação a<br />

um país diferente, o profissional salienta que<br />

esta pergunta contém a resposta, sendo que<br />

“o segredo é mesmo a adaptação porque,<br />

cada país, cada empresa, cada projecto, cada<br />

equipa é diferente, e o que funciona num<br />

local não funciona no outro. A cultura come<br />

qualquer estratégia ao pequeno-almoço. Sem<br />

adaptação não há sucesso”. Dá como exemplo<br />

a construção de um centro de distribuição:


10<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 11<br />

o grau de conhecimento técnico necessário<br />

é igual em todo o lado, mas a diferença<br />

reside nas dimensões dos países onde são<br />

implementados, bem como as relações<br />

laborais, o enquadramento legal, a cultura da<br />

empresa e do país. Tudo é diferente. “Julgo ser<br />

fácil perceber que os desafios de lidar com um<br />

gestor português, alemão, russo, ou chinês são<br />

incomparáveis!”, confessa.<br />

Os desafios existem sempre, principalmente<br />

quando são comparados com a fase inicial<br />

da carreira. Miguel Martins da Silva revela<br />

que hoje realiza tarefas em meia hora que,<br />

quando começou, lhe podiam tomar vários<br />

o segredo é mesmo a<br />

adaptação porque, cada país,<br />

cada empresa, cada projecto,<br />

cada equipa é diferente, e o<br />

que funciona num local não<br />

funciona no outro. A cultura<br />

come qualquer estratégia<br />

ao pequeno-almoço. Sem<br />

adaptação não há sucesso<br />

dias. No entanto, acredita que essas mesmas<br />

tarefas podem ser feitas em apenas 15<br />

minutos, considerando que “há sempre um<br />

espaço de aprendizagem e progressão”. Ainda<br />

assim, existe uma grande pressão sobre os<br />

resultados, mas o responsável explica que sem<br />

ela “não se criam diamantes e um profissional<br />

é a soma dessas experiências, as boas e as<br />

menos boas”.<br />

Para os portugueses que trabalham no<br />

estrangeiro, é quase que impossível não fazer<br />

comparações ou, pelo menos, tentar perceber<br />

as diferenças, a nível laboral, entre os países.<br />

Neste caso, o group chief supply chain officer<br />

aponta a dimensão como a principal diferença,<br />

“Portugal é um país periférico e relativamente<br />

pequeno quando comparado com a maioria<br />

dos países europeus”. Dizer que muitos dos<br />

países da Europa Central são de dimensão<br />

semelhante ou ainda mais pequenos, não é<br />

uma afirmação correcta para o responsável,<br />

pois os projectos cobrem, na maioria, vários<br />

países. A dimensão permite potenciar o<br />

investimento, a tecnologia, a inovação e ainda<br />

aumentar a eficiência e a produtividade.<br />

A nível de mão-de-obra, o nosso país<br />

distingue-se, pois os gestores qualificados<br />

são altamente profissionais e têm um grau de<br />

flexibilidade e abrangência muito elevado, de<br />

acordo com Miguel Martins da Silva. Contudo,<br />

existem algumas restrições neste aspecto<br />

“dada a especificidade do país e as estratégias<br />

de desenvolvimento que têm sido seguidas por<br />

sucessivos governos e que nem sempre se têm<br />

revelado as mais adequadas”.


12 jUlho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 13<br />

Os requisitos para sobreviver<br />

ao COVID-19 e viver a supply<br />

chain<br />

A pandemia estendeu-se por todo o mundo.<br />

Estes profissionais sofreram pelo país-mãe<br />

e pelo país onde vivem a vida. Quer seja<br />

em Portugal ou no outro lado do mundo, o<br />

COVID-19 alterou os costumes pessoais, os<br />

costumes laborais, tendo gerado impactos<br />

positivos e negativos em todas as frentes.<br />

“As cadeias de abastecimento, no geral,<br />

mostraram a sua resiliência de forma<br />

muito clara durante a pandemia”, refere<br />

o profissional. Na sua área de actuação,<br />

a farmacêutica, todos os sectores desde<br />

os grossistas, retalhistas ou hospitais,<br />

demonstraram “grande solidez face a tão<br />

grande disrupção”.<br />

Uma das mudanças geradas pelo<br />

coronavírus, que passa até por uma aceleração<br />

da realidade actual, é a transformação da<br />

economia para o digital, como aponta Miguel<br />

Martins da Silva, dando os exemplos da<br />

transição do consumo do comércio tradicional<br />

para o online, o movimento dos trabalhadores<br />

para sistemas de home-office permanentes ou<br />

intermitentes, e mesmo a falência de muitas<br />

empresas não sustentáveis que têm agora<br />

uma oportunidade de transformação. Desta<br />

forma, “é fácil perceber que a tecnologia<br />

vai evoluir suportando o digital e o online,<br />

que os hábitos de consumo se alterarão por<br />

completo, que a mobilidade vai sofrer grandes<br />

transformações, e que as relações laborais<br />

vão ser profundamente afectadas”. Todas<br />

estas transformações trarão diversos riscos<br />

para as empresas que não sejam rápidas a<br />

tomar medidas que lhes permitam adaptar-<br />

-se à nova realidade. No entanto, “o risco traz<br />

consigo uma enorme oportunidade e veremos<br />

certamente os mais ágeis, os mais rápidos<br />

e os mais eficientes a beneficiar dos efeitos<br />

da disrupção actual causada pela pandemia”,<br />

incentiva o responsável.<br />

Para si, o maior desafio durante a crise<br />

foi gerir todos os projectos e equipas<br />

remotamente, uma vez que passa grande parte<br />

do seu tempo em vários países. Apesar de ter<br />

tido o auxílio da tecnologia, existe sempre<br />

a necessidade da componente humana.<br />

o risco traz consigo uma enorme oportunidade e veremos<br />

certamente os mais ágeis, os mais rápidos e os mais eficientes a<br />

beneficiar dos efeitos da disrupção actual causada pela pandemia<br />

a comunicação, a curiosidade<br />

e a atenção ao detalhe são<br />

características essenciais<br />

ao sucesso nesta área de<br />

actividade<br />

Confessa que “funcionou bem, apesar de<br />

alguns momentos de stress, dado que a área<br />

farmacêutica está na primeira linha de suporte<br />

às populações”.<br />

Miguel Martins da Silva mostra, através<br />

de um momento que aconteceu durante<br />

a pandemia, como se pode transformar<br />

uma adversidade numa vantagem. Neste<br />

momento, a sua empresa está a finalizar<br />

a implementação de um grande centro de<br />

distribuição em Praga, com um grau de<br />

automação muito elevado, o que requer<br />

conhecimentos de engenharia muito<br />

específicos que não existem em todos os<br />

países. “Quando as fronteiras fecharam, as<br />

equipas de engenharia baseadas na Áustria<br />

deixaram de poder aceder ao país e isso<br />

traria atrasos significativos ao projecto,<br />

gerando custos avultados por dia. A solução<br />

foi ‘construir’ uma casa adaptada dentro do<br />

novo edifício com camas, catering e até um<br />

barbecue, permitindo movimentar os técnicos<br />

para a República Checa, colocando-os em<br />

quarentena dentro do centro. Resultado: sem<br />

muito mais para fazer trabalharam noite e dia<br />

e o projecto avançou, provavelmente ainda<br />

com maior rapidez do que em circunstâncias<br />

normais”.<br />

Para os futuros profissionais da supply chain,<br />

Miguel Martins da Silva deixa um conselho,<br />

“desenvolvam os conceitos e conhecimentos<br />

técnicos necessários porque, sem isso, nunca<br />

poderão chegar longe dada a complexidade<br />

das estruturas actuais mas, ao mesmo<br />

tempo, não pensem que se pode gerir sem<br />

ir ao terreno ver os processos, os sistemas,<br />

interagir com os colegas operacionais e<br />

sem ouvir os clientes”, acrescentando que<br />

“a comunicação, a curiosidade e a atenção<br />

ao detalhe são características essenciais ao<br />

sucesso nesta área de actividade”. Dominar na<br />

perfeição os conceitos comerciais, financeiros<br />

e tecnológicos é uma das competências<br />

essenciais que aponta, pois com a evolução da<br />

digitalização, a sua importância vai aumentar<br />

significativamente.<br />

Olhando para os seus 20 anos de carreira,<br />

muitos são os projectos, os desafios, as<br />

conquistas. Refere que “só podemos ter noção<br />

do nosso sucesso quando chegamos a um<br />

determinado momento e olhamos para trás”.<br />

Apesar de já serem duas décadas de carreira<br />

na supply chain acredita que o momento mais<br />

marcante “é sempre o que ainda está para vir,<br />

o desejo constante de fazer mais, de construir<br />

mais e de aprender mais”. •


14 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 15<br />

procurement<br />

França<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“Procurement,<br />

na sua base, é um desafio”<br />

Como se diz, “quem corre por gosto não cansa”, e para Alexandra Póvoas já são<br />

mais de 13 anos a correr a mesma maratona, e como seria de esperar, foi longe,<br />

mais precisamente até à chamada “capital de Flandres”: Lille. É nesta cidade no<br />

Norte de França, local de fundação da Decathlon, que a profissional se encontra<br />

há já uma década, hoje enquanto responsável das Competências Procurement<br />

da empresa.<br />

Licenciada em Engenharia Metalúrgica e<br />

de Materiais pela Universidade do Porto,<br />

Alexandra Póvoas começou o seu percurso<br />

numa PME portuguesa da área de Supply<br />

Chain, Hidromac SA (hoje SAICIPO, LDA), onde<br />

esteve durante menos de três anos enquanto<br />

Stock & Foreign Purchases Manager: “tratouse,<br />

na realidade, do meu primeiro emprego e<br />

do primeiro contacto que tive com a Supply<br />

Chain: foi uma área nova e uma descoberta<br />

fantástica, a qual me cativou imediatamente!”,<br />

comenta.<br />

“Apesar de a minha especialização em<br />

engenharia estar muito longe da Supply<br />

Chain ou do procurement, não senti qualquer<br />

dificuldade, nem de adaptação, nem de<br />

aprendizagem”, destaca a profissional,<br />

revelando que o desejo de descobrir mais<br />

sobre a área e de trabalhar novas vertentes de<br />

Supply Chain fez com que procurasse outras<br />

oportunidades, e surgiu uma para colaborar<br />

com “um grande grupo internacional, onde se<br />

trabalham todas as vertentes do retail, desde<br />

a concepção do produto até à sua chegada<br />

ao consumidor”, a Decathlon. “Como se pode<br />

deduzir, neste tipo de empresas, a Supply<br />

Chain é o seu coração!”, refere ainda.


16 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 17<br />

Apesar de a minha<br />

especialização em engenharia<br />

estar muito longe da Supply<br />

Chain ou do procurement, não<br />

senti qualquer dificuldade,<br />

nem de adaptação, nem de<br />

aprendizagem<br />

Início da caminhada<br />

Conta que iniciou as suas funções na<br />

empresa em 2007, como responsável de<br />

aprovisionamentos asiáticos para as fábricas<br />

de produção em Portugal, e 2 anos mais tarde<br />

“recebi uma proposta para gerir uma equipa<br />

de Supply Chain na sede da empresa, em Lille,<br />

França, na primeira fábrica detida pelo grupo”,<br />

uma experiência que conta ter sido bastante<br />

enriquecedora e que lhe permitiu iniciar a<br />

descoberta de novas vertentes da Supply<br />

Chain, mais concretamente do procurement.<br />

Pelo caminho, desde a sua chegada ao<br />

estrangeiro exerceu funções como supply<br />

chain manager, que envolvia a gestão da<br />

Supply Chain de todas as organizações<br />

mundiais da empresa da parte dos<br />

processos industriais “hard”, compradora<br />

estratégica, Costumer Procurement Manager<br />

(relativamente à gestão do procurement<br />

global) e finalmente responsável das<br />

Competências Procurement da Decathlon,<br />

também a nível mundial, função que<br />

desempenha actualmente.<br />

Revela que a cada função, novos momentos<br />

marcantes foram surgindo, sendo que<br />

um dos maiores que teve de enfrentar foi<br />

precisamente quando chegou a França: “não<br />

dominava o idioma nativo (e as equipas não<br />

dominavam o inglês…)”.<br />

Alexandra Póvoas explica que a sua função<br />

incluía, além da direcção da equipa Supply<br />

Chain da fábrica, “a implementação de uma<br />

Supply Chain adequada para poder entregar,<br />

em ‘Milk Run’, o produto produzido a todas<br />

as lojas, num raio de 150 quilómetros da<br />

unidade fabril, com um leadtime de um dia”.<br />

A dificuldade por trás deste objectivo era<br />

que o produto em questão eram bicicletas,<br />

que em média envolvem 80 componentes<br />

diferentes, fornecidos entre a Europa e a Ásia,<br />

e cujo leadtime chegava a atingir os 6 meses.<br />

“Sem sistemas de MRP adequados a estas<br />

variáveis, com previsões baseadas em níveis<br />

de incertezas entre os -70% e os +80%, foi<br />

um verdadeiro desafio para mim e para toda<br />

uma fábrica em plena iniciação!”, comenta a<br />

responsável.<br />

Actualmente, a sua função envolve “a<br />

construção da nova função dos Procurement<br />

Managers”, e “dada a mudança global de todas<br />

as ferramentas informáticas e sistemas de<br />

informação, a função de Procurement Manager<br />

foi reformulada a 90%”, explica, e enumera<br />

algumas dessas alterações sentidas: gestos,<br />

responsabilidades, direitos e deveres, KPI,<br />

gestão de métodos supply, interacção entre os<br />

actores supply… “tudo teve de ser reconstruído<br />

e definido para posteriormente ser passado<br />

ao terreno, fazendo o acompanhamento,<br />

a formação e o desenvolvimento das<br />

competências procurement a centenas de<br />

Procurement Managers em todo o mundo”.<br />

Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />

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informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />

facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />

encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />

físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />

dada a mudança global de todas<br />

as ferramentas informáticas e<br />

sistemas de informação, a função<br />

de Procurement Manager foi<br />

reformulada a 90%<br />

A pallet is red, red is a pallet


18<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 19<br />

Uma corrida de obstáculos<br />

Para Alexandra Póvoas, nesta profissão tudo<br />

é desafiante e sedutor, e afirma mesmo que<br />

“procurement, na sua base, é um desafio”, que<br />

envolve uma conjugação de todas as variáveis<br />

voláteis de forma a obter os melhores<br />

resultados, sem perder de vista o win / win<br />

entre as empresas e os clientes: “onde e como<br />

produzir, entregar, gerir stocks, preconizar<br />

taxas de câmbios, estratégia de compras<br />

ou definição de painel de fornecedores”,<br />

exemplifica.<br />

A responsável das Competências<br />

Procurement considera que “um dos pontos<br />

mais desafiantes nesta área é a sua constante<br />

evolução”. Nesse sentido, considera que<br />

“tomadas de decisão consideradas correctas<br />

neste momento podem, a curto prazo, tornarse<br />

obsoletas; o progresso das técnicas de<br />

produção, de novos materiais, os novos<br />

sistemas de gestão e as novas necessidades<br />

obrigam à constante reavaliação das decisões;<br />

a integração da Inteligência Artificial como<br />

meio de gestão com potencial de substituição<br />

de muitos trabalhos/cálculos/decisões<br />

manuais pode obrigar as empresas a repensar<br />

a sua estratégia Procurement, assim como<br />

toda a sua estrutura humana”.<br />

Destaca a grande variedade de assuntos<br />

que o Procurement engloba, que o tornam<br />

ainda mais interessante: “quando se aborda,<br />

falamos de métodos de produção, de painel<br />

de fornecedores, de meios de transporte, de<br />

taxas de câmbio, de materiais, de negociação,<br />

de relações humanas, de software… enfim, um<br />

sem número de variáveis!”, e como a profissão<br />

procura encontrar sempre soluções para esses<br />

desafios. “Arranjar uma ‘fórmula’ para conjugar<br />

todas [as variáveis], analisá-las, dissecá-las e<br />

utilizar cada uma delas da sua melhor forma<br />

para que a configuração final seja a mais<br />

adequada possível às necessidades é, sem<br />

dúvida, um desafio!”<br />

Um dos pontos mais<br />

desafiantes nesta<br />

área é a sua constante<br />

evolução<br />

Arranjar uma ‘fórmula’ para conjugar todas [as variáveis], analisálas,<br />

dissecá-las e utilizar cada uma delas da sua melhor forma<br />

para que a configuração final seja a mais adequada possível às<br />

necessidades é, sem dúvida, um desafio!<br />

Aos profissionais que pretendam seguir<br />

esta área, a responsável das Competências<br />

de Procurement deixa três conselhos que na<br />

sua opinião são importantes para desenvolver<br />

funções de procurement:<br />

- Qualidade de dados: “sem qualidade de<br />

dados é impossível a coerente análise<br />

e posterior tomada de decisões (níveis<br />

de Stock, TurnOver, custo de BOMs, etc,<br />

dependendo do tipo de Procurement e o<br />

output desejado)”;<br />

- Antecipação: “temos de estar dois passos<br />

à frente para poder reagir em caso de<br />

necessidade e para tornar a empresa mais<br />

competitiva (previsões de venda, taxas de<br />

câmbio, situações político-sociais, novas<br />

técnicas de produção)”;<br />

- Relações humanas: “o Procurement é o<br />

elo entre todos os actores da Supply Chain<br />

(apostar na assertividade, na competência e<br />

no “added value” da função)”.<br />

Diferenças luso-francesas<br />

Apesar de não ter desempenhado funções<br />

tão complexas em Portugal, tendo apenas a<br />

experiência ao nível dos aprovisionamentos<br />

em pequena escala e longe do centro de<br />

decisão, e ao nível de uma PME, consegue ver,<br />

de um ponto de vista geral, que este mindset<br />

está a crescer em Portugal, e que “as empresas<br />

(PME ou não) começam a ter em conta a<br />

importância do Procurement e dos benefícios<br />

que lhes pode trazer”.<br />

“Quer seja em procurement ou não, no<br />

estrangeiro ou em Portugal, desenvolver uma<br />

carreira requer esforço, dedicação e paixão!”,<br />

afirma Alexandra Póvoas, e considera que<br />

não é fácil construir uma reputação numa<br />

grande empresa, no caso, francesa, “requer<br />

também uma certa tenacidade para vencer os<br />

estereótipos que se criaram há muitas décadas<br />

sobre os emigrantes e sobre os géneros”.


20<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

Na sua óptica, o grande desafio a ultrapassar<br />

foi “o de uma mentalidade baseada em<br />

normas, regras e hierarquias um pouco<br />

‘portuguesas’”, comenta. Hoje trabalha com<br />

equipas de todo o mundo, e explica que é<br />

um ambiente em que “cada um tem a sua<br />

responsabilidade, mas onde se age como<br />

um todo”, sendo que ali a ideia passa por<br />

descentralizar a tomada de decisões e ir<br />

agindo em “advice process”, ao invés de impor<br />

regras.<br />

Espero que exista um<br />

antes e um depois – isso<br />

significa que estamos<br />

perante um processo<br />

de aprendizagem e que<br />

estaremos aptos a novos<br />

desafios<br />

COVID-19 participa na Tour du<br />

Monde<br />

A pandemia de COVID-19 deu uma grande<br />

volta às cadeias de abastecimento, e<br />

também afectou as negociações entre países.<br />

Questionada sobre se haveria um pré e um<br />

pós-COVID-19, Alexandra Póvoas diz apenas<br />

“espero que exista um antes e um depois<br />

– isso significa que estamos perante um<br />

processo de aprendizagem e que estaremos<br />

aptos a novos desafios”, destacando as<br />

seguintes formas de actuação:<br />

(re)implementando-as com periodicidade.<br />

“Se conseguirmos integrar este ‘update’<br />

constante do mundo no nosso quotidiano<br />

profissional, saberemos que as dificuldades<br />

nos fizeram crescer”, comenta ainda.<br />

Alexandra deixa ainda uma reflexão: “o<br />

procurement é uma conjugação de visão<br />

estratégica e análise – não é mais do que<br />

bom senso aliado a um ‘e se…?’”, concluindo<br />

que no sector é preciso “arriscar na inovação,<br />

reconhecer os erros e aprender com eles!” •<br />

- Aceitar que o mundo está a mudar e a agir<br />

em consequência;<br />

- Reconhecer que a reactividade é essencial<br />

num mundo em constante transformação;<br />

- Identificar as mudanças estratégicas a rever,


22 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 23<br />

logística<br />

Austrália<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“Trabalhar<br />

Sempre Com<br />

Motivo é a<br />

missão”<br />

A próxima paragem desta nossa viagem<br />

pelo mundo é na Austrália onde se<br />

encontra Gil Batista, head of supply chain<br />

AU da Marley Spoon. Há três anos e meio<br />

trocou Portugal pela cidade australiana de<br />

Sidney, decisão da qual não se arrepende<br />

nem um pouco, para seguir uma carreira na<br />

supply chain que tem dado os seus frutos.<br />

A<br />

história de Gil Batista na supply chain<br />

começa após a licenciatura em Engenharia<br />

e Gestão Industrial, na Universidade Nova<br />

de Lisboa. Sem ter grandes certezas da área<br />

em que queria ingressar, sabia que “para o meu<br />

primeiro trabalho queria algo que fosse muito<br />

intensivo em termos de desafios. Algo que me<br />

exigisse trabalhar a um ritmo alto e que fosse<br />

uma boa escola de trabalho”. Assim, surgiu<br />

o interesse na área da logística, mesmo sem<br />

saber bem no que consistia.<br />

Começou por trabalhar na Stef, durante um<br />

ano e meio, através de um estágio profissional<br />

e, em paralelo, realizou um programa de<br />

trainee que a empresa disponibilizava.<br />

Após este período, trabalhou na Plataforma<br />

Logística do Algarve durante quatro meses e,<br />

posteriormente, passou para Lisboa a trabalhar<br />

em turnos. Passados seis meses, seguiu para a<br />

área da Consultoria, na Logistema, onde teve a<br />

oportunidade de fazer a implementação de um<br />

warehouse management system em Portugal,<br />

Moçambique e Angola, caracterizando este<br />

como “um período da minha vida que adorei”.<br />

Mais tarde, surgiu a oportunidade na<br />

Marley Spoon, em Berlim, que consiste numa<br />

plataforma online que permite aos clientes<br />

subscrever um plano para receberem a<br />

quantidade exacta de alimentos em casa<br />

por semana, para reproduzirem receitas<br />

disponibilizadas pela marca. “Em comparação<br />

com um supermercado, em que existe 15 a<br />

20% de desperdício em tudo o que é fresco, nós<br />

conseguimos reduzir isso para menos de 1%, ou


24 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 25<br />

seja, é uma cadeia mais sustentável. Por outro<br />

lado, também não há desperdício em casa das<br />

pessoas porque em vez de enviarmos um quilo<br />

de arroz, enviamos 250 gramas, que é tudo o<br />

que a pessoa necessita para fazer a receita”,<br />

explica o responsável. Na Marley Spoon entrou<br />

para o departamento de Operation Excellence,<br />

onde realizava o apoio à produção, tendo<br />

desenvolvido vários projectos de produção,<br />

automação, entre outros. Não muito adepto<br />

do tempo frio que faz em Berlim, mudou-se<br />

para Sidney, na Austrália, através da mesma<br />

empresa que lhe propôs o cargo de supply<br />

chain manager, para o departamento de supply<br />

chain que ainda nem existia. Já instalado e<br />

com um departamento por criar, começou por<br />

implementar sistemas de inventário, tendo<br />

beneficiado do background que já tinha da área<br />

de Consultoria. Após três anos já cresceram<br />

quatro vezes, vendem quase cinco milhões de<br />

dólares por semana, e têm um departamento<br />

de logística com 20 pessoas, ao qual se juntou<br />

também o departamento de compras. De<br />

momento, o responsável coordena a área de<br />

compras, logística, packaging e os projectos<br />

transversais.<br />

“A Austrália é muito semelhante a Portugal,<br />

a única diferença é que aqui fala-se inglês e<br />

os salários são muito mais altos”, refere Gil<br />

Batista. A adaptação ao país foi muito fácil para<br />

o head of supply chain, uma vez que apesar<br />

das poucas, mas significativas, diferenças que<br />

apontou, são países semelhantes, “eu faço<br />

muitos paralelismos entre Sidney e Lisboa<br />

porque Sidney tem uma ponte grande no meio,<br />

tem um rio e praias dos dois lados”, conta. Foi<br />

graças a estas parecenças que a adaptação<br />

foi mais fácil, pois fê-lo sentir quase como se<br />

estivesse em casa. À empresa, o cenário não foi<br />

diferente, uma vez que considera que trabalhar<br />

num contexto de start-up e ter as bases do<br />

seu percurso profissional bem consolidadas,<br />

ajudou bastante neste sentido, “como trabalhei<br />

em logística numa empresa grande, e depois<br />

consegui fazer a transição para consultoria, vi,<br />

em todos os níveis, como é que as operações<br />

eram, e acabou por ser muito fácil”. Além disso,<br />

já se encontrava ligado a esta empresa a partir<br />

de Berlim, tendo, a transição para Sidney,<br />

melhorado a sua experiência em todos os<br />

aspectos.<br />

como trabalhei<br />

em logística numa<br />

empresa grande, e<br />

depois consegui fazer<br />

a transição para<br />

consultoria, vi, em<br />

todos os níveis, como é<br />

que as operações eram,<br />

e acabou por ser muito<br />

fácil<br />

“Tempestade Perfeita”<br />

Quando o COVID-19 surgiu, não houve nenhum<br />

país que não sofresse abalos. A verdade é<br />

que, dependente da área de actividade, umas<br />

empresas não resistiram, outras sobreviveram<br />

e algumas até lucraram, como é o caso da<br />

Marley Spoon. Gil Batista diz que “a nossa<br />

empresa está no lado bom da pandemia”, e<br />

explica porquê: “os supermercados acabaram<br />

com as entregas em casa e então as pessoas<br />

tiveram de se virar para quem estava a<br />

entregar comida em casa, e isso baixa muito<br />

o custo de marketing porque muita gente<br />

vem ter connosco sem termos de fazer nada,<br />

basta que saibam que nós existimos”. Desta<br />

forma, registou-se um decréscimo no custo<br />

de marketing e, por outro lado, houve um<br />

aumento de caixas na linha de produção o<br />

que gerou também um decréscimo dos custos<br />

operacionais, algo positivo para a empresa. “É<br />

uma tempestade perfeita”, afirma o head of<br />

supply chain.<br />

Antes da pandemia, a Marley Spoon ainda<br />

necessitava de investimento para chegar ao<br />

fim do mês, o que é natural em start-ups,<br />

segundo Gil Batista, e devido ao coronavírus,<br />

passaram a ter mais produtividade e a gerar


26<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 27<br />

lucro. Em duas ou três semanas conseguiram<br />

escalar a operação dentro dos custos,<br />

“alugámos um armazém novo, ajudámos os<br />

nossos parceiros logísticos com iniciativas<br />

para que conseguissem ter volume, fechámos<br />

janelas em dias de pico para conseguirmos<br />

nivelar o volume e servir toda a gente”, conta.<br />

O profissional não acredita que exista uma<br />

supply chian pré e pós-COVID-19, mas sim<br />

empresas. Muitas delas não estavam à espera<br />

de conseguir aumentar a produtividade em<br />

pouco tempo com os recursos de sempre.<br />

“Há uma lei antiga que diz que ‘o trabalho<br />

vai estender-se para o exacto momento de<br />

tempo que se quer que se estenda’, ou seja,<br />

se eu disser que algo tem de ser feito em três<br />

semanas, vão fazê-lo em três semanas”. Na<br />

empresa de Gil Batista, conseguiram em duas<br />

ou três semanas algo que, se fosse planeado,<br />

demorariam talvez quatro meses a fazer.<br />

Assim, muitas empresas devem ter percebido<br />

que a produtividade ainda não está ao nível do<br />

que poderia estar. No que diz respeito à supply<br />

chain, o que acontece é que as empresas<br />

perceberam a importância de minimizar o risco<br />

quando necessitam de importar produtos.<br />

No caso da Marley Spoon não houve muitos<br />

problemas deste tipo uma vez que a carne e os<br />

vegetais vêm da Austrália. No entanto, tiveram<br />

alguns constrangimentos no sourcing de<br />

produtos como arrozes-da-índia ou enlatados.<br />

fazer o que se acredita, não<br />

pensar logo no dinheiro e<br />

tentar acumular o máximo<br />

de conhecimento<br />

A carreira de Gil Batista já passou por altos<br />

e baixos, vários sítios e está recheada de<br />

tarefas diferentes, o que o ajudou a criar uma<br />

bagagem vital para esta viagem sem retorno<br />

com destino à Austrália. No seu trajecto,<br />

“o que mais me marcou foi esta aceleração<br />

da carreira que se consegue numa start-up,<br />

que acho que em Portugal nunca teria”. Para<br />

os futuros profissionais de supply chain, o<br />

responsável aconselha a “fazer o que se<br />

acredita, não pensar logo no dinheiro e tentar<br />

acumular o máximo de conhecimento”. Nos<br />

primeiros passos da sua carreira, sente que<br />

andou “sempre para o lado e nunca para cima”,<br />

mas fê-lo por áreas diferentes. Iniciou-se na<br />

parte operacional, passou pela parte técnica<br />

e trabalhou ainda na parte de automação e<br />

melhoria contínua, “isto permitiu-me ter uma<br />

perspectiva totalmente diferente”, conta.<br />

É através desta mentalidade que Gil Batista<br />

conduz a sua vida profissional: trabalhar em<br />

algo que lhe faça sentido e planear a carreira<br />

“Sempre Com Motivo”. •<br />

.


28 julho & agosto <strong>2020</strong><br />

procurement<br />

SCM Supply Chain Magazine 29<br />

Dinamarca<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“Às vezes é<br />

preciso dar<br />

um passo<br />

atrás para<br />

dar dois para<br />

a frente”<br />

Passeando por terras do cavaleiro<br />

mais famoso da literatura portuguesa<br />

encontrámos Sara Nandin de<br />

Carvalho, procurement and contracts<br />

manager da Maersk Decom, uma<br />

profissional portuguesa que há já<br />

cinco anos “embarcou” numa aventura<br />

além-fronteiras, mas ao contrário do<br />

que aconteceu na história de Sophia<br />

de Mello Breyner, este barco não teve<br />

um infeliz destino.<br />

Sara Nandin de Carvalho formou-se na área<br />

de contabilidade e administração, onde<br />

iniciou a sua carreira, mas o seu percurso<br />

levou-a a conhecer a área de procurement, e<br />

hoje ainda se encontra nela. “Não iniciei o meu<br />

percurso profissional na área de procurement,<br />

mas foi efectivamente uma escolha que<br />

fiz quando decidi investir numa carreira<br />

internacional”, conta-nos.<br />

“A cultura de trabalho nórdica é bastante<br />

diferente da cultura de trabalho do sul da<br />

Europa”, revela a responsável sobre a forma<br />

de trabalhar num novo país, “penso que cá<br />

no Norte é dado um enorme foco ao category<br />

management e ao desenvolvimento de<br />

estratégias para cada categoria específica”.<br />

Apesar de não ter tido uma experiência<br />

directa na área de procurement em Portugal,<br />

considera que no nosso país “o procurement é<br />

visto como uma área muito mais operacional<br />

e mais focada na pequena compra, mas posso<br />

estar totalmente enganada”.<br />

Uma viagem até ao Norte da<br />

Europa<br />

Esteve cerca de 13 anos na Galp Energia,<br />

onde desempenhou funções relacionadas<br />

com a sua formação base (contabilidade e<br />

tax management), e também de controlo<br />

financeiro, passando mais tarde à logística<br />

dos parques de armazenagem, distribuição<br />

e terminais petroleiros. Conta que em 2013<br />

foi convidada para a equipa de projeto<br />

onde a Galp iria pela primeira vez perfurar<br />

um poço de exploração de petróleo, o que<br />

também implicou uma mudança para a área<br />

de exploração e produção, que na altura<br />

estava no seu auge, e teve responsabilidades<br />

de comercial manager, com acesso a todos<br />

os stakeholders, desde empresas de well<br />

management, outros operadores em Marrocos<br />

e todos os fornecedores. “Foi durante estes<br />

2 anos que me apercebi da importância do<br />

procurement neste tipo de projetos e que<br />

seria uma excelente área para me desenvolver<br />

profissionalmente”, conta.<br />

Desde que se mudou para Copenhaga, em<br />

2015, desempenhou cinco posições


30 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine<br />

31<br />

Penso que cá no Norte é dado um enorme foco ao category management e<br />

ao desenvolvimento de estratégias para cada categoria específica<br />

diferentes, todas elas relacionadas com a área<br />

de procurement, começando por ser senior<br />

invoice controller na anteriormente chamada<br />

Dong Energy (Danish Oil and Natural Gas,<br />

hoje chamada Ørsted), onde era responsável<br />

pela validação contratual de todas as<br />

facturas relacionadas com os dois projetos<br />

de perfuração da altura. Sara Nandin de<br />

Carvalho reforça que a indústria de oil & gas<br />

é tradicionalmente muito rica, especialmente<br />

quando o preço do barril de petróleo se<br />

encontra acima dos 100 dólares por unidade.<br />

Realça também a importância da função como<br />

forma de controlar as despesas da empresa:<br />

“se os operadores não se focarem no controlo<br />

de facturas a probabilidade de pagarem<br />

mais do que aquilo que foi efectivamente<br />

negociado é muito muito elevada porque o<br />

engenheiro de perfuração irá validar se o<br />

serviço foi feito e não se o preço está correcto,<br />

ou se foi de facto negociado pagar por aquela<br />

ferramenta ou serviço”, explica. Hoje a Dong<br />

Energy chama-se Ørsted, após um spin-off<br />

da sua área de E&P para se dedicar a 100%<br />

às energias renováveis, é uma das maiores e<br />

mais internacionais empresas dinamarquesas<br />

e, segundo o Corporate Knights’ Global 100<br />

Sustainability Index, a mais sustentável do<br />

mundo.<br />

“Seis meses depois da minha mudança para<br />

Copenhaga fui convidada para as funções de<br />

contract manager”, comenta Sara Nandin de<br />

Carvalho, o que “veio provar que tinha sido<br />

uma boa aposta e que ‘às vezes é preciso dar<br />

um passo atrás para dar dois para a frente’”.<br />

Em 2016 foi responsável por renegociar<br />

o contrato de “helicopter transportation<br />

services”, tendo no final do processo mudado<br />

de fornecedor e sido convidados para ir<br />

“buscar” um novo helicóptero à sede da<br />

Airbus, em França, num voo inaugural entre<br />

o país e a Dinamarca. “Quase sete horas de<br />

helicóptero a sobrevoar parte da Europa será<br />

para sempre uma experiência inesquecível”,<br />

recorda. Apesar de considerar ter sido um<br />

“enorme contrato negociado com uma grande<br />

optimização operacional e comercial”, Sara<br />

Nandin de Carvalho decidiu que “estava<br />

na altura de dar um salto e mudar: queria<br />

continuar a trabalhar no procurement e até<br />

estava disponível para mudar de área (sair<br />

do sector da energia), mas isso provou ser<br />

muito difícil e hoje estou feliz que não tenha<br />

acontecido. O sector das energias offshore é<br />

imensamente interessante”.<br />

No Verão de 2017 teve uma proposta<br />

de emprego da Maersk Oil and Gas para<br />

uma posição de ‘contracts engineer’.<br />

“Pessoalmente, adoro este nome, que não<br />

significa mais que ‘procurement lead’ ou<br />

‘contracts manager’, é uma função muito<br />

associada ao Oil & Gas”. Sara Nandin de<br />

Se os operadores não se<br />

focarem no controlo de<br />

facturas a probabilidade<br />

de pagarem mais do que<br />

aquilo que foi efectivamente<br />

negociado é muito muito<br />

elevada porque o engenheiro<br />

de perfuração irá validar se<br />

o serviço foi feito e não se o<br />

preço está correcto, ou se foi<br />

de facto negociado pagar por<br />

aquela ferramenta ou serviço<br />

Carvalho estava entusiasmada com o projecto,<br />

até ser surpreendida com a venda da Maersk<br />

Oil à Total, e todas as suas actividades passam<br />

a ser relacionadas com a separação do Grupo<br />

Maersk e a integração no Grupo Total. Após<br />

um ano de reestruturação e muita mudança,<br />

e apesar de ter garantido uma posição na<br />

equipa de procurement em Copenhaga como<br />

responsável pela negociação de sinergias<br />

entre os contratos Maersk Oil/Total para todo<br />

o Mar do Norte, a responsável procurou voltar<br />

a casa: “decidi que a minha paixão pela cultura<br />

de trabalho dinamarquesa era mais forte do<br />

que uma função também interessante mas não<br />

definitiva em Copenhaga com a Total e pus-me<br />

em campo para voltar ao Grupo Maersk”.<br />

“E é assim que desde Dezembro de 2018<br />

sou procurement and contracts manager<br />

da Maersk Decom, uma joint venture do<br />

Grupo Maersk focada na oferta de serviços<br />

de decommissioning aos operadores de Oil<br />

& Gas”, revela Sara Nandin de Carvalho,<br />

explicando que nesta nova função “tenho<br />

a responsabilidade de contratar todos os<br />

serviços que oferecemos ao operador e<br />

que não são nosso core business tais como:<br />

drilling rigs, heavy lift vessels, subsea removal<br />

services, waste management and recycling,<br />

well services or logistical support”. Foi um<br />

longo percurso, mas o resultado foi bastante<br />

satisfatório, e não esconde essa felicidade:<br />

“não podia estar mais satisfeita!”.


32 julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 33<br />

“Têm sido cinco anos<br />

fantásticos, e parece que<br />

ainda estou a começar”<br />

Apesar de considerar que não está na função<br />

há muito tempo, adora o que faz, e considera<br />

que o mais desafiante da função é conquistar<br />

as equipas técnicas, e “fazê-los perceber a<br />

importância do procurement e de trabalhar<br />

em equipa para atingir os melhores resultados<br />

possíveis”. Sara Nandin de Carvalho considera<br />

“super gratificante” participar em reuniões<br />

técnicas, poder visitar fornecedores, ver<br />

as ferramentas, conhecer as sondas e os<br />

navios. “Um profissional de procurement<br />

deverá interessar-se ao máximo pelo sector<br />

onde desempenha funções para que possa<br />

contribuir para mais efectiva criação de valor,<br />

e eu sou uma apaixonada pela indústria<br />

offshore”, comenta.<br />

Dos momentos mais marcantes que deve na<br />

sua carreira, aponta pela negativa as várias<br />

fases de “downturn” do sector, onde assistiu<br />

a muitos despedimentos, mas pela positiva<br />

o facto de hoje ninguém negar que é uma<br />

profissional de procurement, apesar de só<br />

ter começado a trabalhar na área há cinco<br />

anos, num país diferente e numa área muito<br />

técnica: “são provas diárias que me fazem<br />

acordar todos os dias com vontade de ir para o<br />

escritório”.<br />

“Acho que é um sector muito desafiante,<br />

mas cujos desafios estão intrinsecamente<br />

relacionados com a área de procurement<br />

em que se trabalha”, explica Sara Nandin<br />

de Carvalho, “é muito fácil passarmos a ser<br />

vistos como um profissional de procurement<br />

de Oil & Gas / Energia, ou um profissional de<br />

procurement da indústria farmacêutica, e isso<br />

limitará muito as mudanças de sector”.<br />

Pela sua experiência, recomenda que “quem<br />

queira efectivamente seguir uma carreira<br />

de procurement deverá tentar trabalhar em<br />

diferentes indústrias para se tornar um activo<br />

de procurement em vez de um activo da<br />

indústria - o que é o meu caso”.<br />

Procurement num cenário<br />

pandémico<br />

“Em relação ao sector das energias o maior<br />

impacto do COVID-19 relaciona-se com custos<br />

adicionais relacionados essencialmente com<br />

todas a medidas impostas para garantir que a<br />

mudanças de tripulação on/offshore mantêm<br />

uma “tripulação limpa” de COVID-19 e também<br />

Um profissional de<br />

procurement deverá<br />

interessar-se ao máximo<br />

pelo sector onde desempenha<br />

funções para que possa<br />

contribuir para mais<br />

efectiva criação de valor, e<br />

eu sou uma apaixonada pela<br />

indústria offshore<br />

todas a negociações contratuais relacionadas<br />

com o setup em caso de emergência mesmo<br />

que não sejam COVID-19 relacionados”,<br />

esclarece a procurement and contracts<br />

manager, e recorda um caso em que esteve<br />

a trabalhar recentemente e que teve de ser<br />

cancelado porque o Governo da Mauritânia<br />

disse não ter capacidade de gerir uma possível<br />

emergência durante o período de pandemia.<br />

Sara Nandin de Carvalho defende existirem<br />

dois pontos de vista relativamente à<br />

pandemia: o operador e o contratual. Neste<br />

primeiro, “os impactos de CSR poderão<br />

também ser imensamente nefastos no caso de<br />

vir a público um navio que fique de quarentena<br />

ou que tenha de ser evacuado. Haverá por<br />

isso imensas novas medidas que impactarão<br />

os contratos negociados pós-COVID”, explica.<br />

Relativamente ao segundo, a responsável<br />

explica que esta área “vai querer proteger-se<br />

contratualmente de todos os possíveis custos<br />

adicionais que possam advir de uma eventual<br />

contaminação”.<br />

“Do ponto de vista contratual, a supply chain<br />

não vai esquecer a pandemia”, conclui. •


34 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 35<br />

logística<br />

Moçambique<br />

“Sair, Conhecer e<br />

Melhorar”<br />

A volta ao mundo através da supply chain leva-nos agora<br />

a Moçambique, a casa de Bruno Cipriano, operations<br />

manager da Sumol+Compal MZ, há pelo menos oito anos.<br />

No entanto, a sua viagem pela logística começou bem<br />

antes, ainda em Portugal de onde traz uma bagagem de<br />

experiências enriquecedoras. Agora, noutro continente,<br />

tem uma carreira marcada por várias conquistas e um<br />

grande desafio: o COVID-19.<br />

Texto: Ana Paiva<br />

O<br />

interesse pela área da logística para<br />

Bruno Cipriano, operations manager da<br />

Sumol+Compal MZ, não foi planeado.<br />

O “jogo e a dinâmica” foi o que mais o<br />

seduziu. Iniciou o contacto numa gestão de<br />

aprovisionamento de frescos e a vontade<br />

surgiu através da envolvência operacional e<br />

de gestão, nomeadamente da proximidade<br />

de negócio e “a mais básica responsabilidade<br />

de garantir a disponibilidade dos artigos no<br />

tempo e lugar certo, sem impactar custos”,<br />

conta. É esta a relação que Bruno Cipriano<br />

tem com a logística, que dura há mais de 15<br />

anos.<br />

A sua carreira começou no Carrefour,<br />

enquanto manager, no retalho moderno,<br />

“um sector muito exigente e com a sua base<br />

assente em cadeias de abastecimento e<br />

negociações fortes”, refere. Neste primeiro<br />

ano aprendeu muito sobre a cadeia de<br />

abastecimento, consumo e as principais<br />

métricas de desempenho. De seguida, agarrou<br />

a oportunidade para entrar no ambiente<br />

industrial, neste caso na Danone. Durante<br />

os dois anos que lá passou, desempenhou os<br />

cargos de technical project junior manager e<br />

manufacturing manager. Estar neste sector<br />

era “um objectivo pessoal desde que me<br />

lembro”. Caracteriza esta experiência como<br />

muito enriquecedora, pois, “permitiu-me<br />

afastar um pouco da logística, mas ganhar<br />

competências que até então não tinha<br />

desenvolvido em ambiente multinacional”,<br />

afirma. Uns anos depois, recebeu um<br />

convite para estar novamente ligado à área


36<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 37<br />

da logística, planeamento e controlo de<br />

produção, desta vez na Sumol+Compal, em<br />

Almeirim. Além daquilo que a função-base<br />

oferecia, teve oportunidade de gerir compras,<br />

negociações e aprovisionamentos. Conta que<br />

a área era de tal abrangência que a gestão<br />

dos projectos específicos também faziam<br />

parte. “Foi de facto o meu maior período<br />

de crescimento e aprendizagem”, salienta.<br />

Actualmente, mantém-se na empresa,<br />

mas numa geografia bem mais distante:<br />

Moçambique.<br />

Bruno Cipriano não sentiu dificuldades de<br />

adaptação ao cargo nos primeiros tempos<br />

em que se encontrava em Moçambique,<br />

pois diz que estava “bem preparado”.<br />

Contudo, surgiram muitas dúvidas, o que<br />

faz parte. “Quando passas um patamar de<br />

decisão percebes que são bastantes mais as<br />

variáveis a considerar”, acrescentando que “o<br />

importante é ouvir, analisar e depois decidir”.<br />

O segredo para se adaptar à realidade de<br />

viver noutro país passa por ter uma mente<br />

aberta para compreender os costumes e a<br />

cultura desse país e, muito importante, ser<br />

resiliente.<br />

O operations manager considera a<br />

experiência de desenvolver uma carreira<br />

internacional na supply chain como<br />

“extremamente positiva”. Os desafios<br />

obviamente que existem, mas segundo o<br />

responsável, não são muito diferentes dos<br />

que tinha em Portugal, como o serviço ao<br />

cliente, o controlo dos custos e o próprio<br />

planeamento. Ainda assim, destaca que<br />

a capacitação de profissionais é algo que<br />

necessita de ser potenciado, pois ainda se<br />

encontra numa fase embrionária. No entanto,<br />

“sabemos o que queremos, para onde<br />

queremos e como o vamos fazer”.<br />

Entre Portugal e Moçambique há<br />

muitas diferenças, não só pela cultura e<br />

costumes, mas mais por questões como<br />

o enquadramento legal e geográfico, a<br />

disponibilidade, a compatibilidade de<br />

tecnologias e equipamentos, entre outras.<br />

Ainda assim, no país africano, “o profissional<br />

tem de ser multidisciplinar, com experiência<br />

em várias áreas do conhecimento e tem de<br />

ter a capacidade de tomar decisões num<br />

curto intervalo de tempo e com pouco apoio”,<br />

explica.<br />

Uma carreira de desafios e<br />

conquistas<br />

Viver na era do COVID-19 em Moçambique,<br />

do ponto de vista profissional, foi um<br />

“desafio enorme” para Bruno Cipriano. Desde<br />

a insuficiência de meios de transporte, a<br />

tempos de trânsito extensos, passando por<br />

transportes multimodais, recorreram a tudo<br />

para colocar os produtos no sítio certo,<br />

sacrificando o tempo. Não foi nada fácil, mas<br />

“não existe outra forma que não seja a de<br />

continuar a caminhar em frente”, afirma.<br />

O que fica do pós-COVID-19 ainda ninguém<br />

ARRUDA DOS VINHOS<br />

ALVERCA<br />

sabe, mas há uma certeza: nada será igual e<br />

ninguém será o mesmo. “Estávamos todos<br />

tão focados em gerir e fazer acontecer que<br />

nos esquecemos que isto poderia passarse”,<br />

refere o operations manager. Ainda<br />

assim, acredita que esta pode ser uma<br />

oportunidade para se olhar para os lead<br />

times, pois muitas vezes sacrifica-se a<br />

optimização e a minimização do desperdício<br />

pelo factor tempo. Acrescenta que, até aqui,<br />

“vivíamos num mercado global e acredito<br />

que isso se possa alterar, fazendo com que<br />

as organizações considerem mais o mercado<br />

local, pelas mais diversas razões”.<br />

IMÓVEL PARA VENDA<br />

o profissional tem de ser multidisciplinar, com experiência<br />

em várias áreas do conhecimento e tem de ter a capacidade<br />

de tomar decisões num curto intervalo de tempo e com pouco<br />

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38 JuLho & agosto <strong>2020</strong><br />

Este período certamente que ficará<br />

marcado na carreira de Bruno Cipriano como<br />

um dos mais desafiantes. No entanto, o<br />

responsável conta quais os momentos mais<br />

marcantes que a profissão na supply chain<br />

lhe proporcionou, por ordem cronológica.<br />

Em primeiro lugar destaca a implementação<br />

da gestão por rádio-frequência no inbound,<br />

com as respectivas instruções operacionais<br />

e consumos nas ordens de produção tendo<br />

por base as listas técnicas. “Marcou-me<br />

não só pela dimensão e conhecimento que<br />

retirei do projecto, mas pela superação da<br />

minha equipa operacional. Deram-me ainda<br />

mais do que o muito que já me davam. Foi<br />

fantástico”, confessa. Depois, refere o facto<br />

de ter iniciado uma operação do zero, desde<br />

o inbound ao outbound passando por toda a<br />

cadeia, “arrancar com operações produtivas e<br />

logísticas é uma experiência que não aparece<br />

todos os dias na vida de um profissional.<br />

Tive muita sorte e agradeço a confiança<br />

que depositaram em mim para iniciar<br />

este projecto de grupo”. A última grande<br />

conquista, que se renova, “foi ter conseguido<br />

criar uma equipa de gestão e operacional<br />

empenhadíssima, responsável, com um<br />

sentimento de pertença fora do comum”,<br />

afirma com evidente orgulho na sua actual<br />

equipa.<br />

Um profissional com mais de 15 anos de<br />

carreira como Bruno Cipriano, tem alguns<br />

conselhos para ajudar os futuros profissionais<br />

da supply chain: “perceber que se trata de<br />

uma área exigente, competitiva e que é<br />

necessário darmos sempre o melhor de nós.<br />

Não existem fórmulas eternas ou longas no<br />

tempo, é preciso ter abertura para novas<br />

ideias, conceitos e vontade de abraçar<br />

a mudança”. Após já ter bebido muitos<br />

destes conselhos, o operations manager<br />

considera-se agora uma pessoa que acredita<br />

na melhoria e superação contínuas, e no<br />

potenciar das pessoas, pois são elas que<br />

fazem a diferença. Talvez daqui a uns anos, os<br />

profissionais do futuro possam caracterizar-se<br />

da mesma forma. •<br />

vivíamos num mercado<br />

global e acredito que<br />

isso se possa alterar,<br />

fazendo com que as<br />

organizações considerem<br />

mais o mercado local


40 <strong>Julho</strong> JULHO & agosto AGOSTO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine<br />

41<br />

procurement<br />

Países Baixos<br />

“As primeiras<br />

negociações<br />

foram um<br />

desafio”<br />

Por entre as túlipas holandesas encontrámos<br />

uma portuguesa, Diana Monteiro, european<br />

procurement of ficer at Hills Pet Nutrition<br />

na Colgate-Palmolive. Os ventos que a<br />

levaram até aos Países Baixos têm vindo a<br />

mover as pás dos moinhos desta aventura<br />

internacional que começou em finais de 2015,<br />

e que a convenceram a ficar. Quase cinco anos<br />

depois, e quase oito enquanto profissional de<br />

procurement, conta-nos a sua experiência e o<br />

percurso que fez até chegar ali.<br />

Texto: Fábio Santos<br />

Diana Monteiro formou-se em Engenharia<br />

Alimentar, e conta que tal como muitos<br />

outros licenciados deste curso, começou<br />

como Técnica de Controlo de Qualidade, no<br />

caso, na Nutrigreen, ainda durante o seu<br />

mestrado. Foi nesta empresa que teve o<br />

primeiro contacto com o procurement, ao<br />

ser promovida a supply chain manager, onde<br />

entre as restantes funções, era responsável<br />

pelo planeamento de entregas e compras<br />

de materiais de embalagem. Revela que “as<br />

primeiras negociações foram um desafio”, por<br />

em muitos casos não existirem especificações,<br />

mas após algum tempo conseguiu recolher<br />

a informação necessária para perceber a<br />

dinâmica do processo de negociação. “O apoio<br />

da equipa de gestão foi fundamental”, recorda.<br />

Mais tarde, em 2013, surgiu a oportunidade<br />

de integrar a equipa de compras da Nobre,<br />

como assistente de compras no departamento<br />

de Compras de Carnes. “Essa enriquecedora<br />

experiência foi a base para a minha paixão<br />

por procurement”, revela Diana Monteiro,<br />

acrescentando que isso se deveu ao processo<br />

“extremamente estimulante” e à rápida<br />

aprendizagem dentro do sector. “Devo muito<br />

daquilo que sou enquanto profissional aos<br />

que foram os meus professores e mentores<br />

naquela empresa - o apoio que recebi foi<br />

enorme!”, comenta a responsável, “foi uma<br />

posição à qual me dediquei muito desde início<br />

e foi com grande alegria que vi o meu esforço<br />

ser reconhecido quando fui promovida a<br />

responsável do Departamento de Compras de<br />

Carnes da Nobre. Um dos mais gratificantes<br />

desafios que recebi até hoje”.<br />

A ambição de crescer a nível internacional e<br />

de conhecer a cultura laboral de outros países<br />

surge nessa altura, e foi esse o motivo que<br />

levou Diana Monteiro a abraçar a oportunidade<br />

de se mudar para os Países Baixos e juntar-se<br />

ao departamento de procurement da empresa<br />

Colgate-Palmolive.


42 julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 43<br />

Essa enriquecedora<br />

experiência foi a base<br />

para a minha paixão por<br />

procurement<br />

Do seu percurso destaca um momento que<br />

a marcou, quando recebeu uma proposta de<br />

promoção pouco tempo após a conclusão<br />

do executive MBA na Antwerp Management<br />

School. “Conciliar um trabalho a tempo inteiro,<br />

que me obrigava a viajar cerca de 30% do<br />

meu tempo, com um programa de estudos<br />

bastante exigente, também ele com viagens,<br />

foi provavelmente um dos maiores desafios<br />

profissionais que enfrentei até hoje”, explica<br />

Diana Monteiro, acrescentando ainda que<br />

“foi com muito orgulho que vi a empresa<br />

reconhecer que, durante esse tempo, o meu<br />

desempenho superou as expectativas”.<br />

O aroma a procurement no ar<br />

A responsável da Colgate-Palmolive considera<br />

que a componente mais sedutora da profissão é<br />

“a forma como o procurement faz a interligação<br />

entre os diferentes stakeholders”, utilizando<br />

terceiros como forma de poder contribuir para<br />

implementação da estratégia definida pela<br />

empresa. “O facto de esta função estar exposta<br />

ao contacto com diversos departamentos,<br />

diferentes metodologias de trabalho e diversas<br />

dinâmicas de mercado, torna-a tão estimulante<br />

como desafiante”, comenta ainda Diana<br />

Monteiro.<br />

Considera que a experiência tem sido muito<br />

gratificante e que aprendeu imenso com<br />

este sector, tendo sido o seu maior desafio<br />

a integração num ambiente multicultural de<br />

uma multinacional. Explica que apesar de se<br />

encontrar nos Países Baixos contacta com<br />

diversas culturas, e que elas têm formas de<br />

comunicação totalmente distintas daquelas a<br />

que estava habituada. “Adaptar o meu estilo<br />

de comunicação a cada uma dessas culturas<br />

foi essencial para ser bem sucedida na minha<br />

função”, revela.<br />

Do meu ponto de vista, a valorização do procurement está<br />

maioritariamente associada à maturidade da empresa e às capacidades<br />

estratégicas da sua equipa de gestão de topo<br />

Maturidade do procurement<br />

Questionada quanto às diferenças sentidas<br />

entre Portugal e os Países Baixos, Diana<br />

Monteiro não considera justo comparar<br />

directamente as maturidades entre o nível de<br />

procurement de ambos os países baseando-se<br />

na sua experiência, e defende que a maturidade<br />

não advém do país, e sim da empresa. “Do meu<br />

ponto de vista, a valorização do procurement<br />

está maioritariamente associada à maturidade<br />

da empresa e às capacidades estratégicas<br />

da sua equipa de gestão de topo”, defende a<br />

responsável.<br />

Explica que em muitas empresas o<br />

procurement ainda é visto como uma função<br />

de suporte, e não de gestão, sendo que a<br />

função é “frequentemente ‘isolada’ e excluída<br />

da estratégia da empresa”, e que por isso<br />

mesmo “muitos profissionais de procurement<br />

encontram-se sobrecarregados com tarefas<br />

operacionais, não tendo tempo para se<br />

dedicar à componente estratégica da função<br />

(gestão de risco, inovação, etc.)”, comenta a<br />

european procurement Officer, e realça que a<br />

nível formativo “conheço poucos profissionais<br />

com formação académica especializada em<br />

procurement”.<br />

Por outro lado, considera que nas empresas<br />

mais estruturadas, “o procurement atinge uma<br />

dimensão muito mais interessante, sendo<br />

uma das partes activas das estratégias dessas<br />

empresas e trazendo mais valor para a função<br />

desempenhada”.<br />

Conheço poucos profissionais<br />

com formação académica<br />

especializada em procurement<br />

Ventos de mudança<br />

Com a chegada da pandemia, o sector também<br />

foi afectado. Considera que vai haver um pré e<br />

um pós-COVID-19, e que mais do que nunca foi<br />

essencial criar soluções alternativas e encontrar<br />

back-ups. “Durante a pandemia as únicas<br />

empresas que cresceram foram aquelas que<br />

demonstraram ter uma supply chain resiliente e<br />

com capacidade de adaptação”, comenta Diana<br />

Monteiro, afirmando que as mais afectadas<br />

foram as empresas que dependiam totalmente<br />

da China.<br />

“Acredito que esta crise revelou<br />

oportunidades e falhas no procurement<br />

de todas as empresas, e essas devem ser<br />

corrigidas o mais rapidamente possível, mas<br />

principalmente, a pandemia salientou a<br />

importância de ter uma sólida estratégia de<br />

procurement”, defende ainda a responsável,


44 julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />

acrescentando que, neste mesmo sentido,<br />

“trouxe algo que muitos profissionais<br />

esperavam há muito tempo, o reconhecimento<br />

da componente estratégica da função e da<br />

sua essencial contribuição para o sucesso da<br />

empresa”.<br />

O impacto sentido pelas empresas levou o<br />

procurement de “uma função maioritariamente<br />

vista como ‘necessária’ ” a ser agora vista como<br />

“uma parte essencial da solução para assegurar<br />

a continuidade de negócio”, o que Diana<br />

Monteiro considera ter forçado as empresas a<br />

repensar a sua estratégia e a encontrar formas<br />

de agilizar as suas supply chains.<br />

“É impossível segregar áreas de risco<br />

simplesmente porque o risco está em todo o<br />

lado”, defende, “todos os dias surgem novos<br />

casos de empresas que foram obrigadas a<br />

suspender ou reduzir funções devidos a casos<br />

de COVID-19 entre os seus funcionários”.<br />

Por estas razões, considera que o<br />

procurement se encontra mais focado na<br />

inovação, na criação e manutenção de parcerias<br />

estratégicas e na manutenção do risco, tendo<br />

como objectivo a criação de uma cadeia de<br />

valor com alto nível de resiliência de modo a<br />

assegurar a continuidade do negócio. “Acredito<br />

que esta continuará a ser uma das principais<br />

tarefas desempenhadas pelo procurement a<br />

longo prazo”, comenta.<br />

A pandemia salientou a<br />

importância de ter uma sólida<br />

estratégia de procurement<br />

Aprendizagem contínua<br />

Diana Monteiro defende que “o procurement,<br />

tal como muitas funções, requer aprendizagem<br />

contínua”, e que um profissional desta<br />

área tem de conseguir assegurar “não só o<br />

desenvolvimento de técnicas de negociação,<br />

mas também a criação de ferramentas que<br />

permitam analisar a informação de forma<br />

eficiente, identificando os pontos fortes e<br />

fracos da cadeia de fornecimento”.<br />

A própria função requer melhoria contínua,<br />

criatividade e uma enorme capacidade de<br />

adaptação e, para se ser bem sucedido nesta<br />

área, “é crucial saber identificar quais os pontos<br />

que necessitam urgentemente de atenção, sem<br />

perder o foco e sem descurar as prioridades da<br />

estratégia de procurement definida”. •<br />

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46 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine<br />

47<br />

logística<br />

Irlanda<br />

“Somos<br />

Cidadãos do<br />

Mundo”<br />

Vasco Lemos é um profissional que faz jus ao título: com mais de 14 anos de carreira, já<br />

passou por países como Brasil, Itália ou México. Actualmente, está na Irlanda, em Dublin, e<br />

é european integrated supply planning director na Kellogg Company. Se há pessoa que nos<br />

pode contar como é viver a supply chain no mundo, é ele.<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Para todos os que estão para agarrar uma<br />

oportunidade de viver no estrangeiro, ou<br />

para aqueles que poderão vir a fazê-lo<br />

no futuro, este é o conselho de Vasco Lemos,<br />

que há alguns anos trocou Portugal pelo<br />

mundo: “na minha experiência, os primeiros<br />

seis meses são sempre de adaptação e de uma<br />

maior exigência a todos os níveis, pessoal<br />

e profissional. Cada país tem a sua cultura<br />

com diferentes formas de encarar o negócio,<br />

de gerir pessoas e enfrentar crises”, mas não<br />

desesperem, nem mudem já de ideias. O<br />

profissional mostra o que é necessário para<br />

sobreviver esses seis meses: “é fundamental<br />

manter o espírito positivo, ter tenacidade<br />

e capacidade de adaptação. Não podemos<br />

mudar tudo, temos de nos adaptar à cultura<br />

local se queremos atingir os nossos objectivos,<br />

mas não podemos ceder nos nossos princípios<br />

e objectivos se queremos ter sucesso”.<br />

A história profissional de Vasco Lemos<br />

começa em Portugal, numa fábrica de<br />

indústria automóvel na área da Engenharia<br />

de Processos. O primeiro contacto com<br />

a logística surge na Reckitt Benckiser<br />

através de um projecto de revisão das<br />

operações logísticas decorrentes da<br />

expansão de uma fábrica, que consistira no<br />

redimensionamento dos armazéns, formação<br />

de equipas, externalização da operação e


48<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 49<br />

Não podemos mudar tudo, temos de nos adaptar à cultura local se<br />

queremos atingir os nossos objectivos, mas não podemos ceder nos<br />

nossos princípios e objectivos se queremos ter sucesso<br />

desenvolvimento de uma operação de circuito<br />

fechado. Posteriormente, assume a função de<br />

gestão de transportes e customer service e é<br />

neste momento que começa a ter exposição<br />

internacional dentro da organização, “algo<br />

que foi fundamental, tendo em conta que<br />

sempre tive como objectivo trabalhar no<br />

exterior”, conta. Dois anos depois, dá-se<br />

a primeira oportunidade internacional,<br />

em Itália, enquanto gestor de logística da<br />

mesma empresa, onde ficou responsável pela<br />

integração de um novo negócio das operações<br />

e, em simultâneo, do desenvolvimento de um<br />

projecto de redução de custo fixo. Em 2013,<br />

altura em que a operação crescia acima de<br />

dois dígitos, dá o salto até ao Brasil. Contudo,<br />

todos os processos e operações logísticas<br />

estavam ultrapassados, com os custos fora de<br />

controlo e níveis de serviço inaceitáveis, “era<br />

necessário uma completa reestruturação”,<br />

refere. Em 2016, após ter cumprido o ‘3 Years<br />

Plan’, através da redefinição da network,<br />

abrindo e fechando mais de 10 armazéns,<br />

e iniciando operações de health care, fica<br />

responsável pela reestruturação da área de<br />

IBP, com o desenvolvimento de um novo<br />

processo de S&OP. Um ano depois, realizou<br />

uma tarefa de três meses no México para a<br />

implementação de um software SAP “que<br />

se revelou uma experiência extremamente<br />

exigente sob todos os pontos de vista,<br />

operacional, liderança e pessoal”, afirma. Já<br />

em 2019 iniciou o seu projecto na Kellogg<br />

Company enquanto director europeu<br />

de logística, onde fez uma completa<br />

reestruturação da network e iniciou a jornada<br />

do digital com a implementação de novos<br />

sistemas de controlo de transportes e WMS.<br />

Este ano foi promovido a european integrated<br />

supply planning director.<br />

Caminhos e trajectos à parte, a vontade de<br />

querer pertencer à área da logística surgiu<br />

com base na sua formação em Engenharia<br />

Mecânica, pois “muito cedo na minha carreira<br />

me interessei pela capacidade de optimizar<br />

operações através de um planeamento<br />

estratégico, lógico e sempre em busca de<br />

maiores eficiências nos processos”, revela.<br />

De país em país: vira o disco,<br />

mas não toca o mesmo<br />

Superar grandes desafios, formar equipas<br />

de alta performance e desenvolver pessoas<br />

são algumas das competências que Vasco<br />

Lemos foi adquirindo durante o seu percurso,<br />

salvaguardando a ideia de que “em qualquer<br />

país ou cultura, o grande diferencial são<br />

sempre as pessoas”.<br />

Ainda assim, “qualquer país ou cultura” tem<br />

as suas especificidades, o que pode, por vezes,<br />

gerar desafios adicionais à adaptação a nível<br />

pessoal ou profissional. O responsável refere,<br />

que desenvolver uma carreira internacional<br />

na supply chain, traz dois grandes desafios: o<br />

primeiro é, precisamente, entender o contexto<br />

e especificidade de cada país, dando o<br />

exemplo que no Brasil existe “a complexidade<br />

extrema” e na Alemanha e em Itália há “rigidez<br />

de processos”. Em segundo lugar, são as<br />

diferentes formas de motivar e liderar equipas<br />

com contextos culturais completamente<br />

distintos, “se nos países da América Latina,<br />

a proximidade pessoal a cada elemento é<br />

quase crucial para atingir os objectivos, nos<br />

países Anglo-saxónicos é fundamental manter<br />

o rigor nos processos e uma gestão mais<br />

formal”, conta. Ainda assim, considera que em<br />

ambas as situações, o rigor e a exigência são<br />

fundamentais.<br />

em qualquer país ou cultura, o<br />

grande diferencial são sempre<br />

as pessoas<br />

Falamos das diferenças culturais entre<br />

países como o Brasil, Alemanha ou Itália, mas,<br />

e em Portugal, o que difere? Vasco Lemos<br />

refere que “tendo em conta as estruturas/<br />

equipas mais reduzidas decorrentes de um<br />

menor volume de negócio, somos desafiados<br />

a desempenhar uma multiplicidade de<br />

funções, que vão desde a concepção de<br />

projectos, implementação e execução<br />

dos mesmos, passando pela negociação<br />

directa com fornecedores e clientes, até<br />

ao desenvolvimento de relatórios para as<br />

mais diversas áreas de gestão do negócio”.<br />

Esta abrangência de funções conduz a um<br />

elevado sentido de propriedade do negócio,<br />

possibilitando também um conhecimento<br />

detalhado das diferentes variáveis da<br />

supply chain. Finalmente, sublinha ainda a<br />

importância de uma comunicação efectiva<br />

com as diversas funções/departamentos e<br />

parceiros/clientes a qual, apesar de menos<br />

formal, é claramente um dos elementos-chave<br />

para o sucesso em geral.<br />

E foi precisamente pela comunicação que o<br />

european integrated supply planning director<br />

iniciou a sua adaptação a nível internacional,<br />

pois só assim conseguiria comunicar. Revela<br />

que o italiano e o espanhol são idiomas<br />

fáceis de aprender, graças às semelhanças<br />

com o português, e que conseguiu sempre<br />

adaptar-se bem aos países por onde<br />

passou e às respectivas culturas. Também<br />

considera importante conhecer as formas de<br />

comunicação e culturas locais, para entender<br />

qual a melhor forma de aproximação às<br />

equipas e poder assim motivá-las.


50 julho & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine<br />

51<br />

Vasco Lemos é uma pessoa que acredita<br />

no poder das pessoas e das equipas, não<br />

só por se esforçar em motivá-las para que<br />

o desempenho melhore, e que sejam mais<br />

felizes com isso, mas também por serem<br />

incluídas em projectos em que, através do<br />

trabalho conjunto, alcança-se o sucesso. Foi<br />

com um exemplo destes que o profissional<br />

registou o momento mais marcante do seu<br />

trajecto profissional. No Brasil, desenvolveram<br />

um projecto de um complexo logístico, “em<br />

tempo record”, sem impactos de serviço, num<br />

momento difícil da história da empresa em<br />

que estava. Desde a concepção à conclusão,<br />

“conseguimos trabalhar com fornecedores,<br />

clientes e parceiros como uma grande equipa”,<br />

acrescentando que “cada imprevisto foi<br />

tratado em conjunto, sempre com o foco total<br />

no objectivo final”. Este foi o projecto com<br />

maior sucesso de todos os pontos de vista para<br />

o profissional, referindo até que “é ainda hoje<br />

a chave do sucesso das operações no Brasil”. É<br />

o exemplo de que com empenho, dedicação e<br />

trabalho de equipa tudo é possível.<br />

Manter o espírito de equipa em altura de<br />

pandemia, não só se mostrou importante mas<br />

mesmo um factor de sobrevivência, mas não<br />

foi fácil.<br />

Vasco Lemos acredita que o que fica num<br />

pós-pandemia é uma alteração “drástica” de<br />

como se faz negócio e se gerem operações.<br />

Desde cedo que foi necessário tomar medidas<br />

nos armazéns, para garantir a segurança dos<br />

colaboradores, e tiveram ainda de arranjar<br />

forma de liderar e comunicar com as equipas<br />

em teletrabalho. Estas foram algumas das<br />

alterações na Kellogg Company.<br />

A nível geral, também os hábitos dos<br />

consumidores se alteraram e hoje, o maior<br />

desafio é “entender quais os novos padrões<br />

de procura, qual o novo baseline e, com isso,<br />

adequar o nosso forecast, capacidades das<br />

fábricas e investimentos a médio e longo<br />

prazo”, refere.<br />

O trabalho remoto revelou-se um “duplo<br />

desafio”, de disciplina e de liderança. De<br />

disciplina porque é necessário entender<br />

que “estando sempre em casa, não estamos<br />

sempre a trabalhar, e são necessárias pausas<br />

para relaxar, manter a actividade física e<br />

o equilíbrio familiar”. De liderança, pois<br />

é fundamental manter o contacto com os<br />

membros da equipa e perceber que cada um<br />

responde de forma diferente ao isolamento,<br />

sendo imprescindível garantir a coesão e<br />

motivação de todos.<br />

ter sempre curiosidade<br />

em procurar uma forma<br />

diferente de superar os<br />

desafios constantes<br />

Esta é a história de Vasco Lemos, alguém<br />

que já pisou muitas terras, que agarrou várias<br />

oportunidades na supply chain e que tem<br />

vindo a superar grandes desafios, sempre com<br />

distinção. Considera as pessoas como parte<br />

fulcral de qualquer projecto e acredita que “ter<br />

sempre curiosidade em procurar uma forma<br />

diferente de superar os desafios constantes”<br />

é um dos segredos para trabalhar no incrível<br />

mundo da supply chain. •


52 julho & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 53<br />

procurement<br />

Irlanda<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“Foi<br />

procurement<br />

que abriu<br />

as portas a<br />

uma carreira<br />

internacional<br />

e me permitiu<br />

continuar a<br />

evoluir”<br />

Segundo contam as lendas irlandesas, os<br />

leprechauns, pequenas criaturas míticas<br />

desse país, trazem sempre consigo uma<br />

moeda mágica que volta imediatamente<br />

à sua bolsa quando é gasta. As mesmas<br />

lendas também contam que eles são<br />

considerados guardiões ou conhecedores<br />

de vários tesouros escondidos, geralmente<br />

o famoso pote de ouro, e que se os virmos<br />

antes de eles nos verem a nós serão mais<br />

cooperativos e poderão levar-nos a um<br />

deles, mas também têm a capacidade<br />

de desaparecer no ar caso os percamos<br />

de vista. Esta é talvez uma das melhores<br />

metáforas para ilustrar o procurement.<br />

Não foi preciso capturar um desses<br />

pequenos duendes ou procurar por um<br />

pote de ouro para Ivo Guerra perceber<br />

que o seu encontro com procurement foi uma<br />

sorte que o levou além-fronteiras. Tendo por<br />

base académica a área de Gestão, Ivo Guerra<br />

lançou-se na área de Supply Chain desde o<br />

primeiro dia para iniciar a sua carreira, tendo<br />

começado logo pela área de Fast-Moving<br />

Consumer Goods (FMCG), mas passando<br />

rapidamente para o sector farmacêutico, onde<br />

ainda hoje se encontra.<br />

Durante o seu percurso foi caminhando lado<br />

a lado com o procurement, e aos poucos esta<br />

área foi ganhando uma maior relevância, até<br />

ser convidado, em Junho do ano passado, para<br />

a posição actual de senior director, global<br />

direct procurement da Perrigo Company plc<br />

em Dublin, na Irlanda.<br />

O caminho para o pote de<br />

ouro?<br />

A sua breve passagem pela área de FMCG foi a<br />

porta de entrada para a Supply Chain, mas foi<br />

na indústria farmacêutica que encontrou um<br />

caminho a seguir e se estabilizou, há 14 anos,<br />

quando entrou para a Pfizer, inicialmente com<br />

o cargo de logistics & planning. Passou ainda<br />

pela farmacêutica Angelini durante cerca de<br />

cinco anos até ter chegado ao grupo Perrigo<br />

em 2013, através da Omega Pharma Portugal,<br />

onde começou por ser supply chain manager<br />

e depois director. Em 2015 abre-se uma nova<br />

porta e entra para a Perrigo Company plc, e<br />

após uma passagem como director ibérico<br />

de supply chain, e mais tarde também pela<br />

Turquia, chega ao actual cargo global, “onde<br />

procurement é o centro do meu mundo<br />

profissional”, aponta Ivo Guerra. Se encontrou<br />

o pote de ouro, só o próprio saberá dizer, mas<br />

pelo que tudo indica é possível que sim.<br />

“Foi procurement que abriu as portas a<br />

uma carreira internacional e me permitiu<br />

continuar a evoluir, experienciar dinâmicas<br />

globais e trabalhar em vários pontos do<br />

mundo”, comenta o responsável da Perrigo,<br />

acrescentando que esta área hoje lhe<br />

proporciona “um conjunto de experiências<br />

profissionais e pessoais das quais disfruto<br />

diariamente”


54<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 55<br />

Ao mesmo tempo, comenta que ao nível<br />

de uma nova experiência existe sempre um<br />

processo que requer alguma adaptação, e<br />

esta não foi uma excepção. “Apesar de ter<br />

surgido naturalmente e progressivamente, não<br />

existindo uma mudança abrupta, continua a<br />

ser um processo de adaptação e aprendizagem<br />

constante. Especialmente no momento que<br />

vivemos actualmente”, reflecte Ivo Guerra.<br />

A chegada a um procurement<br />

global<br />

O responsável da Perrigo considera que esta<br />

experiência “está a ser bastante gratificante,<br />

com um ritmo muito intenso e de rápida<br />

progressão”, e que a exposição internacional<br />

“proporciona experiências que nos<br />

desenvolvem a nível pessoal e profissional,<br />

que de outra forma seria mais lenta”.<br />

Apesar das muitas vantagens, conta que<br />

a carreira internacional também lhe coloca<br />

alguns desafios, nomeadamente relativos<br />

ao equilíbrio entre as exigências de agenda<br />

profissionais com a vida pessoal, “dado que<br />

a componente de viagem é elevada e os<br />

períodos ausentes do ambiente familiar podem<br />

ser longos e frequentes. Muita disciplina e<br />

planeamento são essenciais para conseguir um<br />

bom equilíbrio”, comenta.<br />

Aponta ainda que “o multiculturalismo<br />

da arena global e os diferentes requisitos<br />

que daí advêm são também um desafio e<br />

requerem muita versatilidade e capacidade<br />

de aprendizagem”, e explica que é diferente<br />

fazer negócios no continente asiático ou nos<br />

continentes Americano ou Europeu, “não só<br />

pelo idioma, mas por toda uma matriz cultural<br />

que altera dinâmicas, expectativas e reacções<br />

ao mesmo tipo de eventos”.<br />

A este nível, Ivo Guerra revela que o que<br />

a sua profissão lhe proporciona de mais<br />

desafiante e sedutor é “um aglomerado de<br />

vários elementos: dinâmica global, caracter<br />

estratégico, exposição a outros executivos<br />

e indústrias e o impacto e diferença para<br />

melhor que a nossa função pode fazer para o<br />

negócio”, destacando a importância que esta<br />

tem precisamente no momento de pandemia<br />

em que nos encontramos, e que considera ser<br />

o momento mais marcante do sector até ao<br />

momento.<br />

A quem pretenda seguir esta carreira,<br />

o responsável deixa uma mensagem de<br />

incentivo: “procurement é e será um dos<br />

sectores com mais oportunidades e com<br />

crescente procura”. Recomenda que o<br />

profissional de procurement tenha foco em<br />

“assumir iniciativas e responsabilidades,<br />

entender o que é sucesso para a organização<br />

e desenvolver uma estratégia em sintonia<br />

com a mesma. Foco na “big picture”, mas<br />

controlo granular sobre as estruturas de custo<br />

e por último Benchmark, muito Benchmark, o<br />

mundo e em particular a nossa área está em<br />

constante mudança e é fundamental saber<br />

onde estamos e o que precisamos de redefinir<br />

para poder competir no mercado e proteger os<br />

interesses do nosso negócio”.<br />

O sector da saúde e o<br />

problema de saúde global<br />

O impacto que a pandemia está a ter na sua<br />

vida profissional não passa apenas “pelo<br />

impacto imediato e tensão que colocou na<br />

supply chain global de qualquer indústria,<br />

mas também pela forma como está a afectar<br />

comportamentos e hábitos de consumo e a<br />

forma como estes são afectar as estruturas<br />

e cadeias de abastecimento no futuro”,<br />

considera o responsável.<br />

“Existe claramente um antes e um depois<br />

de COVID-19. Creio que o presente momento<br />

trouxe a supply chain e o procurement para<br />

Todos os ‘set up’,<br />

estratégias e planos<br />

serão revistos como<br />

importantes conclusões<br />

e lições do momento que<br />

estamos a viver


56<br />

<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

MOBILE APPLICATIONS AND TECHNOLOGIES<br />

FOR PROFESSIONAL SERVICES?<br />

o centro de todas as agendas, sejam elas de<br />

empresas, países ou regiões”, defende Ivo<br />

Guerra, apontando que a recente sucessão<br />

de eventos veio reforçar a importância<br />

de supply chain, “mas sobretudo expor a<br />

interdependência e globalização da mesma no<br />

mundo actual, e quanto isso pode impactar<br />

o nosso modelo de vida em aspectos básicos<br />

como o acesso a bens e serviços”.<br />

Após a pandemia, o senior director, global<br />

direct procurement considera que “todos os<br />

‘set up’, estratégias e planos serão revistos<br />

como importantes conclusões e lições do<br />

momento que estamos a viver”, mas que para<br />

já “trouxe procurement ainda mais para o topo<br />

da agenda corporate das empresas”.<br />

Ivo Guerra aponta que “a turbulência que<br />

ainda se sente nas cadeias de abastecimento,<br />

mas que em particular foi evidente nas<br />

primeiras semanas do lockdown global,<br />

puseram em evidência a importância das<br />

estruturas de compras e das estratégias<br />

de mitigação das mesmas”, e as empresas<br />

perceberam cada vez mais o potencial de<br />

algumas áreas, entre as quais se encontra as<br />

compras.<br />

“Por outro lado, está a mudar perfis, hábitos<br />

de consumo e a precipitar mudanças que<br />

pensávamos estar a decorrer a um ritmo<br />

moroso”, e considera que isso terá impacto<br />

no design e nas expectativas das cadeias<br />

de abastecimento actuais. “Creio que a<br />

globalização que antes era imparável, enfrenta<br />

agora medidas proteccionistas regionais,<br />

que certamente irão afectar as agendas de<br />

procurement”, comenta ainda.<br />

“Pessoalmente, creio que <strong>2020</strong> e a pandemia<br />

global ficarão para a história e influenciarão<br />

muitos casos de estudo, incluindo<br />

procurement”, conclui Ivo Guerra. •<br />

Thank you to the ones that challenge us.<br />

Thank you to the ones that support us in these challenges.<br />

To present reliable and cost-effective solutions is our commitment.<br />

Creio que a globalização que antes era imparável, enfrenta agora<br />

medidas proteccionistas regionais, que certamente irão afectar as<br />

agendas de procurement”<br />

Rua Guilherme Braga 101-105 Porto<br />

Alameda dos Oceanos, 21 Esc 1 Lisboa<br />

+351 229 392 660<br />

info@codeone.pt<br />

www.codeone.pt


58 <strong>Julho</strong> JULHO julho & agosto <strong>Agosto</strong> AGOSTO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 59<br />

logística<br />

Canadá<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“Sempre em<br />

Constante<br />

Movimento”<br />

A história de Luís São Marcos não começa<br />

com um grande amor pela logística, ou com<br />

o sonho que sempre teve de se tornar um<br />

profissional nesta área. As voltas da vida<br />

trocaram-lhe as voltas e passou de uma<br />

licenciatura em Línguas para uma carreira<br />

internacional enquanto warehouse<br />

manager, no Canadá. Pode não ter sido<br />

amor à primeira vista, mas daqui resultou<br />

uma história inspiradora sobre como os<br />

caminhos para o sucesso nem sempre são<br />

os mais directos.<br />

O<br />

Canadá é o próximo destino a bordo da<br />

carreira de Luís São Marcos, warehouse<br />

manager da Blue Giant Equipment<br />

Corporation, em Mississauga. A supply chain<br />

não fazia parte dos seus planos e uma função a<br />

nível internacional muito menos.<br />

O seu percurso na logística começou<br />

“um pouco por acaso”, pois tinha acabado<br />

de abandonar a licenciatura em Línguas e<br />

Literaturas Modernas na Universidade de<br />

Aveiro, e decidiu procurar trabalho, tendo<br />

começado num armazém de materiais de<br />

construção. Um ano mais tarde ingressou<br />

na área da manufactura e acabou por se<br />

“apaixonar” pelo Lean Manufacturing Kaizen.<br />

Refere que um dos factores decisivos foi<br />

ter um director que “ousou apostar em<br />

mim, motivando-me a aprender e evoluir<br />

diariamente”. Uns anos mais tarde, entrou no<br />

ramo da energia renovável, particularmente<br />

energia eólica e compósitos, iniciando assim<br />

o percurso que o levaria até ao Canadá três<br />

anos e meio mais tarde: “fazer parte do<br />

‘nascimento’ de uma unidade fabril, não uma,<br />

mas duas vezes, deu-me uma bagagem enorme<br />

na medida em que me mostrou as virtudes e<br />

dificuldades de montar uma operação de tais<br />

dimensões”, conta.<br />

Sabemos que mudar pode não ser fácil em<br />

termos de adaptação. A nível pessoal, são<br />

os hábitos e costumes que mudam. A nível<br />

profissional são as relações e a comunicação<br />

que, por vezes, podem levar algum tempo a<br />

consolidar.


60 julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 61<br />

fazer parte do ‘nascimento’ de uma unidade fabril,<br />

não uma, mas duas vezes, deu-me uma bagagem<br />

enorme na medida em que me mostrou as virtudes<br />

e dificuldades de montar uma operação de tais<br />

dimensões<br />

Relativamente à adaptação ao cargo, o<br />

responsável afirma que, dado o seu percurso,<br />

“quando se começa por baixo há sempre<br />

uma curva de aprendizagem bastante<br />

significativa que, embora difícil e exigente, é<br />

extremamente compensadora, uma vez que<br />

permite estabelecer bases sólidas. Aprende-<br />

-se sobretudo ‘fazendo’”. Desta forma, existe<br />

uma maior compreensão sobre as dificuldades<br />

com que as equipas lidam diariamente no<br />

terreno. Revela que apesar de o ritmo ser<br />

“extremamente exigente”, os prazos serem<br />

apertados e os meios, muitas vezes, reduzidos,<br />

o retorno e a satisfação que se obtém desse<br />

percurso e aprendizagem, compensa “os dias<br />

longos e as noites que, por vezes, parecem<br />

intermináveis”. Um dos desafios que se colocou<br />

com a vinda do responsável para o Canadá<br />

foi, dado o seu conhecimento de processos<br />

e produtos, ter de repensar a abordagem em<br />

diversas situações, uma vez que “recriar” o<br />

que já tinha visto/feito antes não seria eficaz.<br />

Depois, sentiu, numa fase inicial, que “de um<br />

modo algo generalizado, não há o mesmo<br />

sentimento de pertença à organização, aquele<br />

‘amor à camisola’, é mais difícil de encontrar,<br />

pelo menos no Sul de Ontário”, conta. Ainda<br />

assim, destaca aspectos positivos, como a<br />

proximidade entre a direcção e os restantes<br />

colaboradores, proporcionando uma melhor<br />

comunicação e uma facilitação do trabalho<br />

em equipa, tornando os objectivos mais fáceis<br />

de alcançar. A multiculturalidade foi ainda<br />

outro aspecto que exigiu alguma adaptação,<br />

“em Portugal a abordagem e interacção com<br />

as equipas é, de um modo generalizado,<br />

ligeiramente mais descomprometida, mais<br />

directa, ao passo que, por cá, o background<br />

de cada um pode implicar a necessidade de<br />

abordagens diferentes com respeito a vários<br />

assuntos”, refere.<br />

Por sua vez, a nível pessoal, impuseram-se<br />

três desafios de adaptação ao país: os horários,<br />

o trânsito e o clima. Numa fase inicial foi difícil<br />

libertar-se de alguns costumes tipicamente<br />

portugueses. “O dia começa e acaba muito mais<br />

cedo por cá”, conta, acrescentando que a hora<br />

de jantar foi algo que o chocou, uma vez que no<br />

Canadá se define entre as 17:30h e as 18:30h.<br />

Neste país há a tendência para madrugar e<br />

recolher a casa mais cedo, visto que o “horário<br />

de escritório” dura das 08:00h às 16:30h. Já<br />

o trânsito, o profissional caracteriza como<br />

“completamente infernal”, pois o volume de<br />

tráfego origina, por vezes, “circular a 20 km/h<br />

ou mesmo ficar preso por vários minutos em<br />

filas de trânsito numa auto-estrada de quatro<br />

faixas em cada sentido”. O clima apresentou-se<br />

como uma dificuldade acrescida, “duas semanas<br />

após a minha chegada, vivi o meu primeiro<br />

nevão que trouxe cerca de 15 centímetros<br />

de neve para, logo de seguida, baixar a<br />

temperatura mínima para os -22 graus celsius”.<br />

Tudo isto para explicar que a transição para um<br />

país e continente diferentes pode mostrar-se<br />

como um desafio difícil, mas não impossível de<br />

superar.<br />

Food Service Logistics<br />

O seu parceiro de negócio<br />

quando se começa por<br />

baixo há sempre uma<br />

curva de aprendizagem<br />

bastante significativa<br />

que, embora difícil e<br />

exigente, é extremamente<br />

compensadora, uma vez que<br />

permite estabelecer bases<br />

sólidas. Aprende-se sobretudo<br />

‘fazendo’<br />

HAVI.COM


62 juLHO & AGOSTO <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 63<br />

E, já que falamos em semelhanças e<br />

diferenças, existem muitos pontos distintos<br />

entre Portugal e o estrangeiro a nível laboral, e<br />

o nosso interlocutor confirma isso. No Canadá,<br />

há quem possa ter a ideia de que “tudo é muito<br />

mais relaxado em Portugal”, mas de acordo<br />

com a experiência profissional de Luís São<br />

Marcos, o cenário é o contrário, “pode estar<br />

relacionado com as empresas por onde passei,<br />

nas quais o ritmo era bastante intenso, e,<br />

diariamente, se faziam milagres no sentido de<br />

atingir os objectivos propostos”, revela. No que<br />

diz respeito a questões legais, o warehouse<br />

manager refere que no estrangeiro, “o ónus é<br />

maior no caso do empregador ao passo que<br />

em Portugal, o sentimento geral é de que são<br />

as entidades patronais quem mais beneficia da<br />

legislação em vigor”. Dá o exemplo do sector<br />

dos transportes em que, no Canadá, a lei é mais<br />

permissiva, de um modo geral, e acredita que<br />

“na Europa se está sujeito a um maior escrutínio<br />

por parte das autoridades competentes e<br />

o grau de rigor, sobretudo no que toca à<br />

documentação, é mais elevado”. E, como já<br />

se referiu, o clima pode mostrar-se como um<br />

grande desafio, pois o Inverno canadiano<br />

implica outro tipo de meios e soluções no que<br />

diz respeito a armazenamento, equipamentos,<br />

custos de manutenção, entre outros aspectos.<br />

foi um período de muita<br />

aprendizagem, em que<br />

acabei completamente<br />

sozinho, responsável<br />

pelo edifício, com a<br />

tarefa de coordenar<br />

a expedição de grande<br />

parte do equipamento<br />

e com um inventário de<br />

produto acabado no valor<br />

de 15 milhões de euros.<br />

Produto esse que teve de<br />

ser novamente sujeito a<br />

controlo de qualidade,<br />

retrabalho e finalmente<br />

expedição<br />

“Não há problemas, apenas<br />

desafios e contratempos”<br />

Luís São Marcos acredita que, de facto, existe<br />

um ‘antes’ e um ‘depois’ do COVID-19, porque<br />

não só os mercados mudaram de forma<br />

abrupta, como as empresas mudaram a forma<br />

de estar no mercado. No que toca à circulação<br />

e interacção de pessoas e bens, alterou-se<br />

muito, “há cerca de três/quatro meses, as<br />

transportadoras tentavam desesperadamente<br />

encontrar motoristas para levar produto para os<br />

EUA, e os motoristas profissionais recusavam-<br />

-se a atravessar a fronteira em direcção a Nova<br />

Iorque”, conta. Tudo isto gerou um grande<br />

impacto na cadeia de abastecimento.<br />

Na Blue Giant Equipment Corporation<br />

sentiu-se inicialmente uma quebra de ritmo,<br />

momento que aproveitaram para se reorganizar<br />

do ponto de vista operacional. “O facto de<br />

fabricarmos essencialmente rampas de carga e<br />

descarga, bem como equipamentos e acessórios<br />

de movimentação de cargas, o que nos torna<br />

um negócio essencial, manteve-nos à ‘tona<br />

de água”, explica. Enquanto que no início<br />

sofreram uma redução nas vendas, actualmente<br />

encontram-se a 90% da capacidade.<br />

Os imprevistos acontecem e, inevitavelmente,<br />

as empresas devem estar minimamente<br />

preparadas para lidar com o risco. Assim, um<br />

dos conselhos que Luís São Marcos dá a quem<br />

pretende ingressar no mundo da supply chain<br />

é: “estar preparado”, acrescentando que “é<br />

necessário planear bem, seja a curto, médio<br />

ou longo prazo, mas, de igual modo, há que<br />

estar preparado para deitar os planos fora e<br />

improvisar”. Quando os imprevistos acontecem,<br />

e todos os planos parecem falhar, é preciso<br />

“manter a calma, respirar fundo e simplesmente<br />

pensar ‘fora da caixa’ e procurar soluções<br />

que frequentemente aparecem onde menos<br />

se espera”, continua. É preciso pensar que<br />

existe sempre uma ou mais soluções para cada<br />

problema, desde que se mantenha a calma, o<br />

bom humor e o espírito auto-crítico. “Costumo<br />

dizer que não há problemas, apenas desafios e<br />

contratempos”.<br />

E foi precisamente através de um desafio<br />

que Luís São Marcos encarou aquele que foi<br />

o momento mais marcante da sua carreira<br />

até ao momento. Após um ano na actual<br />

empresa, recebeu a notícia de que o grupo<br />

iria suspender as operações no país, uma vez<br />

que o governo provincial tinha cessado os<br />

apoios às energias renováveis que são, de<br />

certo modo, um grande tabu no Canadá. “O<br />

choque inicial foi terrível, dado que ainda me<br />

encontrava com visto de trabalho e estava<br />

vinculado única e exclusivamente à empresa,<br />

não podendo, legalmente, trabalhar para outra<br />

entidade”, conta o profissional. O processo de<br />

cessação de actividade e encerramento das<br />

instalações durou cerca de dois anos e “foi um<br />

período de muita aprendizagem, em que acabei<br />

completamente sozinho, responsável pelo


64 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 65<br />

edifício, com a tarefa de coordenar a expedição<br />

de grande parte do equipamento e com um<br />

inventário de produto acabado no valor de 15<br />

milhões de Euros. Produto esse que teve de<br />

ser novamente sujeito a controlo de qualidade,<br />

retrabalho e finalmente expedição”, explica.<br />

Apesar de exaustiva e desgastante, esta foi<br />

uma “aventura extremamente interessante”<br />

que lhe proporcionou um enorme crescimento<br />

profissional e pessoal.<br />

A vida profissional de Luís São Marcos nunca<br />

teria acontecido assim se não fosse a sua<br />

resiliência e empenho. Arriscou, passou por<br />

contratempos, superou os desafios e, de todas<br />

as experiências boas e menos boas, retirou<br />

aprendizagens para a vida. Para si é importante<br />

estar sempre em constante movimento, porque,<br />

“parar é morrer”.<br />

Acredita que é importante estabelecer novas<br />

metas com frequência, encontrar um propósito<br />

para nos superarmos, manter a busca por<br />

novos conhecimentos e soluções e interagir<br />

com pessoas diferentes que nos tragam novos<br />

pontos de vista, “se pensarmos bem, é disso<br />

que trata a supply chain e logística: bens e<br />

serviços em constante movimento, gerando e<br />

adicionando valor”, salienta. Refere ainda que<br />

se nos mantivermos em constante movimento<br />

nas diversas áreas da nossa vida, tudo é mais<br />

fácil, pois não existe o período de “voltar à<br />

acção” porque o mais difícil é começar. Depois<br />

disso, “é uma questão de manter o ritmo e<br />

procurar novos desafios que nos mantenham<br />

motivados. Só temos de colocar a nós próprios<br />

a seguinte questão: Até onde queremos ir<br />

hoje?”. •<br />

se pensarmos bem, é disso que trata a supply chain e logística: bens<br />

e serviços em constante movimento, gerando e adicionando valor


66 julho & agosto <strong>2020</strong><br />

procurement<br />

SCM Supply Chain Magazine 67<br />

Bélgica<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“Um dia em<br />

procurement é sempre<br />

diferente dos outros”<br />

É comum ouvir falar maravilhas da<br />

cerveja e do chocolate belgas, mas e<br />

sobre o procurement? Procurámos ser<br />

diferentes e conhecer que mais de bom<br />

existe neste país e de que raramente se<br />

ouve falar. Rui Cardoso, Head of Global<br />

Manufacturing Procurement da UCB,<br />

chegou recentemente à Bélgica, mas esta é<br />

a sua terceira internacionalização: ao longo<br />

da sua carreira já foi desafiado a ir para<br />

França, Reino Unido e agora Bélgica.<br />

Rui Cardoso tem três mestrados, em<br />

Engenharia e Ciências Materiais, em<br />

Engenharia Industrial e em Administração<br />

de Negócios. O seu primeiro contacto com o<br />

procurement ocorreu já com cerca de 10 anos<br />

de experiência profissional, ligado à parte<br />

estratégica da empresa, como optimização de<br />

custos, melhorias de portefólios de produtos,<br />

e áreas de gestão, negócio e operações, na<br />

altura, na indústria automóvel. Conta que<br />

esta primeira oportunidade começou numa<br />

idade jovem, através de uma proposta de<br />

expatriação que surgiu dentro da mesma<br />

organização, no caso, o Grupo General Motors,<br />

onde esteve em quatro localizações diferentes.<br />

Entretanto voltou a Portugal, durante 10<br />

anos, onde trabalhou na Hovione, também<br />

dentro da área de procurement, numa função<br />

a nível global, antes de se lançar novamente à<br />

aventura.<br />

O segundo contacto de externalização<br />

surgiu através de um Head Hunter, e explica<br />

que “no mercado da área do procurement, pela<br />

exposição e pelo impacto que tem, é normal<br />

que as organizações procurem os recursos<br />

que melhor se adaptam às suas necessidades<br />

dentro dos vários mercados, e os mercados<br />

são globais”.


68 julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine<br />

69<br />

Área transversal e de<br />

aprendizagem contínua<br />

Rui Cardoso considera que a diversidade<br />

dos desafios diários, são sempre diferentes,<br />

o que faz com que a função não tenha uma<br />

determinada monotonia presente noutras<br />

áreas: “os desafios que nos vão aparecendo<br />

ao longo dos tempos são completamente<br />

diferentes, quer eles sejam relacionados com<br />

a própria operação, com pessoas ou com<br />

processos, e acaba por nos criar experiências<br />

e problemas que temos de resolver e que são<br />

bastante diversificados”, acrescentando ainda<br />

que estes são ainda “motivos de crescimento<br />

pessoal e profissional muito grandes”.<br />

O responsável da UCB considera que<br />

o sector do procurement é uma área<br />

que envolve aprendizagem contínua,<br />

e que é muito transversal a todas as<br />

organizações, especialmente quando se<br />

fala da indústria, independentemente de<br />

Os desafios que nos vão<br />

aparecendo ao longo dos tempos<br />

são completamente diferentes,<br />

quer eles sejam relacionados<br />

com a própria operação, com<br />

pessoas ou com processos<br />

A área do procurement<br />

é das poucas funções<br />

que tem um impacto<br />

tão generalizado nas<br />

organizações<br />

qual seja. “Essa transversalidade advém da<br />

ligação muito grande com os mercados”,<br />

explica o responsável, seja ao nível da<br />

operação, planeamentos e supply chain,<br />

desenvolvimento de produto, ou relativamente<br />

às equipas de engenharia.<br />

“Se quisermos realmente ter um impacto<br />

grande temos de trabalhar de montante a<br />

jusante em todo o processo, é importante<br />

perceber muito bem o produto de que<br />

estamos a falar, e perceber os mercados”,<br />

destacando o impacto da componente<br />

técnica, principalmente quando se trabalha<br />

na indústria, pela sua importância e ajuda no<br />

desenvolvimento de competências próprias e<br />

comerciais de cada pessoa.<br />

Atracção pelas compras<br />

“Eu costumo dizer que a área do procurement<br />

é das poucas funções que tem um impacto<br />

tão generalizado nas organizações”, comenta<br />

Rui Cardoso. Explica que isso se sente porque<br />

trabalham ao nível do custo, qualidade e<br />

inovação, e que “são poucas as funções que<br />

dentro de uma organização nos permitem<br />

trabalhar estas três vertentes”.<br />

O responsável defende que quanto mais as<br />

indústrias forem integradas, mais importante<br />

é a área do procurement, “porque mais<br />

IMOVEIS PARA VENDA<br />

influência ele tem na parte da rentabilidade”,<br />

uma área que considera ser “extremamente<br />

desafiante” por permitir crescer com uma<br />

grande panóplia de actividade e impacto<br />

que podem ter na organização, “não nos<br />

circunscrevendo e sermos específicos a uma<br />

determinada actividade”. Rui Cardoso enumera<br />

que podem trabalhar nas áreas de “qualidade,<br />

cotação, sustentabilidade, optimização de<br />

eficiências, produtividade ou custos”, o que<br />

depois gera resultados do ponto de vista<br />

financeiro com impacto quase directo.<br />

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70 julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 71<br />

Destaca que esta área é constituída “por<br />

pessoas com algum tipo de resiliência e de<br />

combatividade”, devido à grande exposição e<br />

impacto que tem nas organizações, “sempre<br />

muito na parte do front-office”, e que isso gera<br />

“uma dinâmica e flexibilidade que é necessário<br />

transportar para as equipas que trabalham na<br />

área do procurement”.<br />

Dar o passo além-fronteiras<br />

Rui Cardoso explica que o passo para a<br />

internacionalização faz parte da “evolução<br />

natural de uma pessoa que queira continuar a<br />

desenvolver a sua carreira”, especialmente no<br />

seio de grandes organizações, e em Portugal<br />

restam poucas alternativas senão olhar para<br />

as oportunidades que “estão quase sempre<br />

fora do país” e abraçá-las. A nível nacional,<br />

comenta que “infelizmente nós não temos<br />

assim tão grandes empresas a operar no país,<br />

e aquelas que temos, os centros de decisão<br />

estão normalmente fora”, pelo que por vezes é<br />

necessário olhar além-fronteiras.<br />

Apesar de tudo, considera ser uma<br />

experiência bastante positiva, tanto a nível<br />

pessoal como profissional, e mesmo para a<br />

família que o acompanha, que a pessoa abrace<br />

estes desafios ‘lá fora’. “Esta é a minha terceira<br />

experiência internacional, e as duas primeiras<br />

acho que foram muito importantes, depois<br />

voltei um bocadinho à realidade de Portugal<br />

durante dez anos, mesmo sendo uma função<br />

a nível global com o centro de decisão em<br />

Portugal”, conta-nos o responsável da UCB.<br />

“Agora a questão da escala é completamente<br />

diferente”, comenta Rui Cardoso, “se nós<br />

queremos crescer e ter funções que são<br />

verdadeiramente globais e com grande escala,<br />

resta-nos poucas possibilidades senão abraçar<br />

estes desafios fora”.<br />

Procurement em contexto de<br />

pandemia<br />

O profissional considera que a pandemia<br />

não trouxe grandes disrupções às cadeias de<br />

abastecimento industriais, e que “estávamos<br />

a viver uma situação, já anterior à própria<br />

pandemia, que estava já a ser um caso de<br />

um mercado turbulento”, destacando a crise<br />

ambiental que estava a decorrer na Ásia.<br />

Considera que “com excepção de um ou<br />

outro produto” ao nível das commodities que<br />

possam ter tido uma maior procura e mesmo<br />

uma insuficiência pontual, a pandemia não foi<br />

realmente disruptora para a indústria a níveis<br />

gerais. Nesses casos excepcionais, aponta<br />

que rapidamente se preencheu esse buraco<br />

na oferta. e “as organizações estão mais<br />

preparadas e falam mais de risco, e de gestão<br />

de risco, do que há alguns anos, e quanto<br />

maior ele for, mais protegidas elas estão do<br />

ponto de vista da sua mitigação”.<br />

“Eu não acho que a questão pandémica<br />

tenha realmente alterado muito esse modus<br />

operandis das indústrias como um todo”,<br />

defende, mas sim que “há uma percepção<br />

diferente por parte do ponto de vista das<br />

organizações para a questão da gestão do<br />

As [organizações] que<br />

estavam preparadas para<br />

isso se calhar passaram<br />

por esta fase com alguma<br />

suavidade<br />

risco e da dependência que continua a ser<br />

elevada em alguns mercados, nomeadamente<br />

da Ásia”.<br />

Rui Cardoso considera que a maior mudança<br />

sentida é a percepção das organizações<br />

relativamente ao risco, e afirma que “as<br />

que estavam preparadas para isso se<br />

calhar passaram por esta fase com alguma<br />

suavidade”. Ao nível da indústria farmacêutica,<br />

e mesmo a generalidade das organizações,<br />

considera que se encontravam preparadas<br />

para responder a este tipo de eventos e para<br />

a gestão do risco, mas que “há-de haver<br />

exemplos de outras indústrias que não<br />

estavam tão preparadas e que tenham tido<br />

outro tipo de problemas”.<br />

Se nós queremos crescer e ter funções que são verdadeiramente<br />

globais e com grande escala, resta-nos poucas possibilidades senão<br />

abraçar estes desafios fora


72 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 73<br />

O que esperar desta função no<br />

futuro?<br />

“Eu acho que a actividade do procurement<br />

vai continuar a crescer, assim como ela tem<br />

crescido ao longo dos anos, para ser um<br />

elemento preponderante nas organizações”,<br />

começa por defender o responsável,<br />

“porque actualmente as actividades que<br />

são totalmente integradas já não existem,<br />

portanto as empresas tendem a focar-se<br />

naquilo que são as actividades core e a<br />

externalizar as não-core”.<br />

Comenta que essas actividades não-core<br />

continuam a ter um peso muito grande,<br />

seja ao nível dos custos, da qualidade ou da<br />

inovação das empresas, “e essas áreas não<br />

podem ser descuradas, e têm de ser equipadas<br />

com recursos que são qualificados, pessoas<br />

que realmente têm uma boa visão, são bons<br />

comunicadores, resilientes e que acabam por<br />

trabalhar em projectos de diversas naturezas,<br />

com stakeholders muito diversificados, e que<br />

acabam por conduzir mudança dentro das<br />

próprias organizações”.<br />

No futuro, antevê que a área continuará a<br />

ser valorizada, e compara o que é hoje com o<br />

que era “há 15 ou 20 anos”, e que agora tem<br />

uma maior importância e já é compreendida<br />

de maneira diferente dentro das empresas,<br />

defendendo que hoje conta com “elementos<br />

novos que trazem muito valor, quer do ponto<br />

de vista da sustentabilidade, quer do ponto<br />

de vista da responsabilidade social, e de tudo<br />

o que rodeia a organização como um todo e<br />

o seu meio ambiente”, actividades que são<br />

geridas pela área de procurement, explica.<br />

“São actividades que mexem no low core<br />

da empresa, mas que na realidade a empresa<br />

necessita delas para continuar a operar e<br />

para continuar a fazer os produtos de forma<br />

diferenciadora e competitiva”, conclui Rui<br />

Cardoso. •<br />

a actividade do procurement vai continuar a crescer,<br />

assim como ela tem crescido ao longo dos anos, para<br />

ser um elemento preponderante nas organizações


74 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 75<br />

logística<br />

França<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“A felicidade não está<br />

no ‘ter’, mas sim no<br />

‘alcançar’”<br />

Esta é uma viagem com retorno. Miguel Monteiro, country<br />

supply chain director da L’Oréal passou oito anos em França a<br />

cargo da mesma empresa, mas o ano passado retornou ao país<br />

de origem e está cá desde então. Contudo, durante o tempo<br />

que passou no estrangeiro, o profissional ganhou uma grande<br />

bagagem de aprendizagem que irá partilhar connosco.<br />

“À<br />

medida que me fui apercebendo<br />

do impacto da logística na vida das<br />

pessoas e o quanto podia fazer para<br />

optimizar processos e melhorar o quotidiano<br />

de equipas e clientes, ficou cada vez mais claro<br />

para mim que esta é a área onde queria fazer<br />

carreira”. Foram estes os motivos que elevaram<br />

a vontade de Miguel Monteiro, licenciado em<br />

Engenharia e Gestão Industrial, em pertencer<br />

à área da supply chain. No entanto, quando<br />

se iniciou no mundo do trabalho, a sua<br />

vontade era trabalhar na área de consultoria.<br />

Seguiu esta vontade, tendo começado em<br />

IT, mas rapidamente se apercebeu que não o<br />

entusiasmava como deveria.<br />

A sua jornada na L’Oréal acontece a seguir,<br />

através de um programa de management<br />

trainee e, nos primeiros quatro anos, trabalhou<br />

na área de Distribuição Física e Transporte<br />

em diferentes projectos e com níveis de<br />

responsabilidade crescentes. Em 2011, dáse<br />

a oportunidade de iniciar uma carreira<br />

internacional em França, a cargo da mesma<br />

empresa, onde integrou o departamento<br />

responsável pela gestão e optimização dos<br />

fluxos físicos e de informação entre as fábricas<br />

na Europa, e as diferentes filiais do grupo. Mais<br />

tarde, assumiu o cargo de director de supply<br />

chain dos Novos Mercados, uma unidade de<br />

negócio baseada em Paris que tinha como


76 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 77<br />

missão desenvolver o negócio da empresa no<br />

Norte de África e África Subsariana através<br />

de parcerias com distribuidores locais. Em<br />

Dezembro de 2019 regressou a Portugal<br />

para assumir a Direcção de Operações da<br />

filial portuguesa e, desde Abril, é igualmente<br />

responsável local pelo programa de<br />

sustentabilidade do grupo: ‘L’Oréal For the<br />

Future’.<br />

Quando iniciou a sua carreira na L’Oréal,<br />

queria aplicar todos os conceitos teóricos que<br />

tinha aprendido na faculdade, e no final de<br />

cada dia fazia ‘to-do-lists’ detalhadas para o<br />

dia seguinte, “ao fim de duas semanas já tinha<br />

sido ultrapassado pela realidade do dia-adia<br />

e tive de, rapidamente, aprender a gerir<br />

a complexidade e a estabelecer prioridades”,<br />

conta.<br />

Refere que um dos pontos mais gratificantes<br />

de trabalhar na L’Oréal é o facto de saber que<br />

“seremos ‘atirados para a piscina’ desde muito<br />

cedo”, ou seja, rapidamente percebem ao que<br />

vão e são expostos, desde os primeiros dias, aos<br />

desafios das missões que lhes foram confiadas.<br />

Além disso, desde que chegou à L’Oréal, teve<br />

o privilégio de gerir equipas, algo que acredita<br />

que só se aprende verdadeiramente praticando,<br />

“por muitos livros que se possa ler sobre o<br />

assunto”, salienta. Desde cedo se apercebeu<br />

de que “nada de extraordinário será possível<br />

sem uma equipa motivada, sem empatia e<br />

compreensão pelas diferentes pessoas, e<br />

sem uma relação de confiança com clientes e<br />

fornecedores”, confessa.<br />

“Agilidade é, mais do que<br />

nunca, uma palavra-deordem”<br />

Do ponto de vista profissional, desenvolver<br />

uma carreira internacional na supply chain tem<br />

os seus desafios, e o maior deles é “ter uma<br />

logística operante e proactiva num contexto<br />

em permanente evolução e cada vez mais<br />

instável (revolução digital, Brexit, embargos<br />

políticos, taxas alfandegárias, COVID-19, etc..)”,<br />

segundo Miguel Monteiro. Considera que a<br />

supply chain necessita de estar em constante<br />

adaptação e o mais rápido possível, pois a<br />

“agilidade é, mais do que nunca, uma palavrade-ordem”.<br />

Continua a ser preciso ter processos<br />

sólidos, mas obrigatoriamente mais flexíveis e<br />

com um IT forte que acompanhe a era digital,<br />

uma vez que a evolução da supply chain está<br />

interligada com a evolução digital.<br />

Ainda assim, não existem só desafios. Há<br />

nada de extraordinário será<br />

possível sem uma equipa<br />

motivada, sem empatia e<br />

compreensão pelas diferentes<br />

pessoas, e sem uma relação<br />

de confiança com clientes e<br />

fornecedores<br />

aspectos bastante positivos para o profissional,<br />

como a oportunidade de trabalhar com pessoas<br />

muito diferentes e oriundas de vários cantos do<br />

mundo, “sinto que me tornei uma pessoa mais<br />

aberta e tolerante, e capaz de olhar para um<br />

mesmo problema sob diferentes perspectivas”,<br />

revela.<br />

No que diz respeito à supply chain em<br />

Portugal ou no estrangeiro, o responsável não<br />

acha que os desafios sejam tão distintos assim.<br />

Contudo, há aspectos diferenciadores entre o<br />

nosso país e França, começando pelas pessoas<br />

e pela forma de trabalhar. Apesar de considerar<br />

16227 Toyota Empilhadores TYRO 180x134mm.pdf 1 21/07/<strong>2020</strong> 10:05<br />

os franceses mais fechados e individualistas, e<br />

menos colaborativos num primeiro contacto em<br />

relação aos portugueses, a vertente humana<br />

acaba por ser a mesma em qualquer parte do<br />

mundo. O importante é “ter respeito e fazer um<br />

esforço para conhecer as pessoas para além<br />

do estereótipo que construímos nas primeiras<br />

interacções”. Por outro lado, a comunicação<br />

pode revelar-se um desafio quando não se<br />

domina a língua, e este é um aspecto-chave.<br />

No entanto, “nada como o bom espírito do<br />

‘desenrasca’ português para se fazer entender e<br />

levar a água ao seu moinho”, revela.


78 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 79<br />

sinto que me tornei uma pessoa<br />

mais aberta e tolerante, e capaz<br />

de olhar para um mesmo problema<br />

sob diferentes perspectivas<br />

Durante o tempo que viveu em França alguns<br />

momentos ficaram-lhe na memória, como a sua<br />

passagem pela unidade de negócio dos Novos<br />

Mercados, pelo desafio técnico e humano que<br />

representou, mas igualmente pelo momento da<br />

sua vida pessoal em que ocorreu: quando viria<br />

tornar-se pai. Além disso, coincidiu ainda com<br />

o seu primeiro cargo de direcção, “se até então<br />

o sucesso do meu trabalho dependia sobretudo<br />

de mim e das minhas competências técnicas, a<br />

partir dali passava a ser bem mais importante<br />

a capacidade de delegar na equipa, de dar<br />

voz à supply chain no Comité de Direcção e<br />

de influenciar o negócio e os nossos parceiros<br />

nas tomadas de decisão”, explica. Aquele<br />

foi um momento importante para Miguel<br />

Monteiro também devido à complexidade do<br />

negócio, quer pela variedade de fluxos físicos<br />

que tinham de gerir, quer pelos mais de 60<br />

países/territórios com que trabalhavam, numa<br />

região onde as oportunidades existem, mas<br />

os meios são escassos. “Fazer acontecer com<br />

tão pouco aguça o espírito criativo”, confessa.<br />

Revela ainda que um dos maiores privilégios<br />

que teve na sua carreira até hoje, foi ajudar a<br />

criar e a fazer crescer a filial do grupo na Costa<br />

do Marfim que começou com apenas quatro<br />

pessoas que encaravam as dificuldades com um<br />

extraordinário optimismo e força de vontade,<br />

segundo o profissional.<br />

A nível pessoal foi fundamental ter o apoio<br />

da família, principalmente da sua mulher que<br />

embarcou consigo nesta aventura, pois “juntos<br />

superámos os momentos menos bons e as<br />

dificuldades iniciais”. Ainda assim considera<br />

que “ir para fora e viver numa bolha não é<br />

bom”. Desta forma, foi importante o esforço em<br />

dominar a língua francesa, conhecer a cultura e<br />

os costumes locais, e estar a par da actualidade<br />

política e social do país.<br />

Sempre Conseguir Mais/<br />

Melhor<br />

Quando a pandemia COVID-19 se instalou<br />

no mundo, Miguel Monteiro já se encontrava<br />

em Portugal. Na supply chain da L’Oréal,<br />

a prioridade foi assegurar a continuidade<br />

do negócio e a protecção de todos os<br />

colaboradores, especialmente os que trabalham<br />

nas fábricas ou nos centros logísticos e<br />

não tinham a possibilidade de recorrer<br />

ao teletrabalho. Mobilizaram-se também<br />

para ajudar os seus parceiros (clientes e<br />

fornecedores), e os profissionais de saúde<br />

através de doações de produtos de higiene ou<br />

de gel hidra-alcoólico produzido nas fábricas<br />

em linhas adaptadas para o efeito. Este foi “sem<br />

dúvida, o maior desafio até agora”, revela.<br />

Ainda assim, para o profissional, é excessivo<br />

falar de uma supply chain pré e pós-COVID-19:<br />

“é certo que a pandemia colocou a nu as<br />

deficiências de algumas cadeias logísticas e<br />

o perigo/inconveniente dos países estarem<br />

excessivamente dependentes de terceiros no<br />

que diz respeito ao fornecimento de bens ou<br />

serviços essenciais, mas os grandes desafios<br />

permanecem fundamentalmente os mesmos”.<br />

No caso da L’Oréal, a pandemia veio sobretudo<br />

reforçar e acelerar algumas tendências que<br />

já existiam antes, como o e-commerce ou<br />

as preocupações com a sustentabilidade<br />

ambiental e social da actividade da empresa.<br />

Apesar de a pandemia ter desacelerado a<br />

economia e ter feito muitas empresas recuarem,<br />

aos poucos, a normalidade vai assentando.<br />

Contudo, é importante ter em conta os riscos<br />

e, de acordo com Miguel Monteiro, “o trabalho<br />

na supply chain é interminável e, por cada<br />

objectivo superado surgem logo mais dois ou<br />

três”. Assim, caracteriza-se como uma pessoa<br />

que se bate por sempre conseguir mais/melhor.<br />

“A felicidade não está no ‘ter’, mas sim no<br />

‘alcançar’”, revela, pelo que nesta área, o que<br />

mais adora é o desafio constante e a busca<br />

permanente pelo chegar mais longe e cada vez<br />

mais rápido, o que conjuga bem como o lema<br />

da L’Oréal Portugal: ‘shoot for the stars’.<br />

Para seguir uma carreira na supply chain,<br />

o profissional dá alguns conselhos que são<br />

essenciais. Em primeiro lugar, é importante<br />

demonstrar curiosidade e vontade genuína<br />

de aprender, ser resiliente, ter capacidade<br />

para trabalhar sob pressão, ser humilde para<br />

reconhecer que não se sabe tudo e que nem<br />

tudo está escrito nos livros, e que “alguns<br />

dos melhores professores encontram-se<br />

hierarquicamente abaixo de nós”.<br />

Como um antigo chefe lhe dizia “uma não<br />

decisão é, muitas vezes, pior do que uma má<br />

decisão”, o que significa que, na área da supply<br />

chain é frequente ser-se confrontado com<br />

situações que exigem tomadas de decisão<br />

rápidas, sem que se tenha toda a informação<br />

ao dispor. “Nunca podemos controlar tudo, por<br />

isso, saber usar a melhor informação disponível<br />

no momento, ter espírito crítico e estar bem<br />

informado sobre os diferentes domínios é<br />

essencial”, aconselha. •<br />

o trabalho na supply chain é interminável e, por cada objectivo<br />

superado surgem logo mais dois ou três


80 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 81<br />

procurement<br />

Alemanha<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“eu não<br />

sou um<br />

comprador”<br />

Durante a nossa caminhada pelo mundo,<br />

encontrámos Filipe Ramos, director global<br />

procurement de Data & Analytics da<br />

adidas, um português que veio da área<br />

financeira e que através do seu interesse<br />

pelo Data & Analytics chegou a uma área<br />

que o permitiu pensar estrategicamente.<br />

Procurement foi um desafio que aos poucos<br />

passou a ver como uma oportunidade,<br />

e hoje, após dois anos e meio no cargo<br />

considera ser uma peça vital para as<br />

empresas.<br />

Licenciado em Economia pela Universidade<br />

Nova de Lisboa, Filipe Ramos iniciou<br />

o seu percurso profissional ainda em<br />

Portugal, primeiro na Deloitte e depois na<br />

KPMG, na área financeira. Em 2012 decide<br />

partir à aventura em busca de uma carreira<br />

internacional, no sector do retalho desportivo,<br />

começando pela Puma, mantendo-se nas<br />

finanças numa função de controlling e<br />

reporting, passando mais tarde para a adidas,<br />

onde se encontra de momento.<br />

Está na adidas desde o final de 2014,<br />

onde passou novamente pelos cargos de<br />

responsabilidade financeira e por uma área<br />

de vendas corporativas, ou seja, de análise<br />

de dados, tendências e market research, com<br />

o objectivo de encontrar um posicionamento<br />

estratégico para a marca e para alguns dos<br />

seus produtos. “Esse foi realmente o leverage<br />

que eu tive para me juntar ao procurement”,<br />

revela.<br />

Destaca a importância que a ligação do<br />

procurement à área financeira teve para<br />

ele, com “um certo perfil diverso, mas<br />

também muito relacionado com a parte<br />

financeira, que me permitiu conhecer alguns<br />

sistemas de reporting”. Segundo Filipe<br />

Ramos, o procurement vai muito para além<br />

da negociação, é sim “uma assistência, ou<br />

suporte, para os meus colegas” através do<br />

departamento de Procurement Excellence. “Eu<br />

não sou um comprador”, reforça.


82 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 83<br />

Primeiro contacto com o<br />

procurement<br />

O desafio de se juntar ao departamento de<br />

procurement surgiu em conversa com Paula<br />

Martinez, a anterior vice president global<br />

Procurement e CPO da adidas. “Apercebime<br />

de que era uma pessoa que valorizava a<br />

parte de data & analytics e que queria utilizar<br />

algumas das melhores ferramentas que<br />

existem neste momento no mercado como<br />

forma de alavancar a tomada de decisão em<br />

procurement baseada em dados”, afirma o<br />

responsável da empresa, e explica ainda que<br />

através desse encontro de vontades concorreu<br />

ao cargo e procurou desenvolver carreira<br />

nessa área.<br />

“Não tinha muita experiência nem muito<br />

conhecimento na área de procurement.<br />

Entretanto, necessariamente, comecei a<br />

evoluir, e agora a parte que me falta será<br />

mais ao nível da negociação”, e defende que<br />

apesar de concordar que parcialmente é a<br />

parte crítica, também considera importante ter<br />

o mindset e a predisposição necessários para<br />

encarar o sector, pois “o procurement não se<br />

esgota no momento da negociação, vai muito<br />

para além disso”. Nesse sentido, Filipe Ramos<br />

considera que “cada vez mais caminhamos<br />

para um mundo onde importante é ter o<br />

conhecimento, saber o que se precisa, o que<br />

se pode oferecer e o que se pode contratar e<br />

perceber de que forma se pode ir ao encontro<br />

das necessidades”.<br />

O procurement não se esgota<br />

no momento da negociação, vai<br />

muito para além disso<br />

Apesar de não se sentir inicialmente tentado<br />

pela área de Procurement, explica que<br />

durante a conversa com a então CPO foi crítico<br />

perceber de que forma é que ela tinha vontade<br />

de iniciar uma conversação com os potenciais<br />

fornecedores e gerir o procurement numa<br />

empresa tão grande como a adidas.<br />

“A adaptação correu bastante bem, porque<br />

tive oportunidade de aprender, e trabalho com<br />

colegas que me deram essa oportunidade.<br />

No fim de um ano já me sentia perfeitamente<br />

confortável na minha posição”, recorda.<br />

O que o motiva?<br />

“Sou um fanático por data, por informação”,<br />

explica Filipe Ramos, “e diria que com a<br />

quantidade de informação e os conceitos da<br />

IoT e o Big Data a aparecer, as organizações<br />

têm cada vez mais informação, e mais<br />

dificuldade em lidar com ela”.<br />

Acredita que a adaptação depende de cada<br />

pessoa, mas considera que “não tive grande<br />

receio em me juntar ao procurement porque<br />

achava que tinha o skill set necessário, e<br />

continuo convencido disso”, revelando que<br />

ao longo do tempo foi aprendendo, o que<br />

considera ser um valor acrescentado, tanto<br />

em termos de carreira como do ponto de vista<br />

pessoal.<br />

Após começar a desempenhar a função viu-<br />

-se perante uma realidade que não conhecia,<br />

percebendo que, afinal, o procurement tinha<br />

mais para oferecer do que o que aparentava<br />

de início. “Há aqui uma noção de valor<br />

acrescentado em procurement que eu com<br />

muita franqueza não tinha antes de me juntar<br />

à equipa, mas em que acredito cada vez mais”,<br />

reflecte.<br />

21, 22 e 23 de <strong>Julho</strong> das 10h30 às 12h30<br />

Agora, mais de dois anos e meio depois,<br />

comenta que “continuo a aprender todos os<br />

dias”. Confessa, no entanto, que ainda se<br />

sente atraído pela área de analytics, porque<br />

“requer que a pessoa esteja em constante<br />

desenvolvimento, que vá adquirindo novos<br />

skills”.<br />

“Não sei o que é que poderia ter acontecido<br />

caso se tivesse optado por outro tipo<br />

de caminho. Este tem-me trazido valor<br />

acrescentado”, comenta relativamente às<br />

possibilidades que poderiam ter ocorrido caso<br />

tivesse tomado outras decisões.<br />

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84 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 85<br />

Procurement global<br />

A adidas compra milhares de milhões de<br />

euros em indirect procurement, e o que é<br />

considerado material atinge níveis muito altos,<br />

por vezes acima das dezenas de milhares de<br />

euros. Considera importante diminuir esse<br />

valor, saber consolidar os fornecedores, as<br />

compras e a transparência nos contratos e<br />

nas relações comerciais, exemplificando que<br />

no caso da adidas “um dos grandes desafios<br />

é ter a certeza de que se consegue ter uma<br />

noção completa e abrangente de todo o<br />

enquadramento de uma relação comercial<br />

com os seus fornecedores estratégicos, entre<br />

os quais se encontram algumas das maiores<br />

empresas a nível mundial, como a Google ou a<br />

Amazon.<br />

Considera que ao nível das compras, estas<br />

não devem ser avaliadas apenas pelo valor<br />

monetário envolvido e sim ter em conta a<br />

qualidade ou criticidade do que está a ser<br />

comprado, pois “é muito mais importante o<br />

âmbito do produto e do serviço que estão a<br />

ser comprados do que propriamente o valor<br />

que está envolvido”.<br />

“Temos de considerar o procurement como<br />

sendo um braço forte do espectro financeiro<br />

de uma empresa”, considera Filipe Ramos,<br />

e defende que, em muitas organizações, o<br />

procurement deveria ser considerado um<br />

departamento stand-alone.<br />

“É crítico ter alcance e a capacidade de<br />

agregar a informação que está disponível,<br />

estruturá-la e facultá-la de forma a que a<br />

que os meus colegas que estão directamente<br />

envolvidos na parte negocial tenham acesso<br />

a toda a informação”, comenta ainda o<br />

responsável.<br />

Nesse sentido, Filipe Ramos conta que teve<br />

dois momentos que destaca como sendo<br />

“duas grandes vitórias” na área, relativas à<br />

transparência da informação, que ocorreram<br />

quando implementaram dois sistemas novos<br />

que lhes permitiram actualizar o software<br />

anterior que continha informação menos<br />

actualizada e que como tal não era valorizada<br />

pelos colegas. Com estes dois softwares,<br />

um para a categorização de gastos, que lhes<br />

ofereceu um conjunto de ferramentas que<br />

lhes permite ter mais transparência sobre<br />

o que estão a gastar; e outro relativamente<br />

à visibilidade, para que os colegas tenham<br />

essa informação disponível de forma gráfica,<br />

tendo também lançado uma ferramenta<br />

de visualização de dados, que apesar de<br />

ser relativamente pequena e enquadrada<br />

especificamente para a adidas, permite a todos<br />

os seus colegas verificarem em tempo quase<br />

real todos os investimentos, gastos, procura,<br />

etc.<br />

É muito mais importante o âmbito do produto e do serviço que estão<br />

a ser comprados do que propriamente o valor que está envolvido<br />

Temos de considerar<br />

o procurement como<br />

sendo um braço forte do<br />

espectro financeiro de<br />

uma empresa<br />

O impacto da pandemia<br />

No que diz respeito ao impacto da pandemia,<br />

o departamento adaptou-se para fazer outras<br />

tarefas em que estavam menos expostos,<br />

como evitar gastos desnecessários, fazer<br />

revisão de contratos, priorizar investimentos<br />

sobre outros, fazer uma reverificação<br />

significativa dos seus contratos, entre outros.<br />

A nível pessoal, ajudou no processo, mas<br />

enquanto enabler: “o COVID-19 teve um<br />

impacto menos significativo na forma como eu<br />

trabalho. Ajudou a prioritizar algumas tarefas<br />

sobre outras, mas no sentido em que o foco é<br />

implementar as melhores práticas, situações<br />

momentâneas, ou irregulares, têm menor<br />

relevância no meu dia-a-dia do que possam ter<br />

tido num comprador que tenha entrado num<br />

modo de renegociador”, explica.<br />

Para isso foi necessário compreender em<br />

que estão completamente comprometidos e<br />

o que são valores variáveis que possam ser<br />

renegociados, que tipo de contratos possam<br />

ser adiados, etc.<br />

“Eu acho que não há necessariamente um<br />

pré e um pós-COVID-19, eu acho que é uma<br />

questão extraordinária e regressaremos mais<br />

ou menos à rotina quando o COVID-19 passar”,<br />

comenta, esclarecendo de seguida que “há<br />

demasiados impactos em demasiadas áreas<br />

para que este comentário seja aplicável em<br />

todas, eu estou a falar aqui em termos macroeconómicos<br />

e com gastos de procurement<br />

indirecto”.<br />

Considera, no entanto, que vai haver uma<br />

diferença significativa após o COVID-19,<br />

nomeadamente ao nível das organizações<br />

e da importância que o procurement tinha<br />

para elas, que se revelou mais relevante,<br />

dependendo da maturidade dos seus<br />

departamentos, o que não foi o caso da adidas.<br />

Esta crise provocada pelo COVID-19 criou<br />

uma diminuição da rede e do stream de<br />

receitas em todas as empresas que se viram<br />

com necessidades acrescidas às quais o<br />

procurement sabia responder, nomeadamente<br />

através da necessidade de evitar custos,<br />

renegociar contratos onde possivel e optimizar<br />

termos de pagamento, entre outras. “Tudo isso<br />

fez com que o procurement fosse visto como<br />

uma organização que teve uma capacidade<br />

para ir de encontro àquilo que a empresa mais<br />

necessitava no momento, e isso vai fazer com<br />

que procurement tenha muito mais visibilidade<br />

do que tinha até agora”, antecipa.


86 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 87<br />

Desenvolvemos, implementamos e integramos<br />

software para suportar o seu negócio<br />

Se a parte mais importante de uma empresa é vender, a parte<br />

seguinte é provavelmente a de comprar, porque para vender é<br />

preciso comprar, e é preciso comprar bem<br />

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Uma visão de procurement<br />

“O procurement pretende que se encontre<br />

um bom negócio através de um encontro<br />

de vontades, não necessariamente à custa<br />

de alguém, mas no melhor entendimento<br />

e no ponto intermédio entre a vontade do<br />

comprador e do vendedor”, para que seja feito<br />

de forma sustentável, começa por explicar<br />

Filipe Ramos.<br />

“Do lado dos nossos fornecedores há sempre<br />

um comercial, que à partida sabe vender,<br />

mas habitualmente do lado de cá não está<br />

necessariamente um comprador, está um<br />

utilizador”, que está preocupado com coisas<br />

mais utilitárias como a sua utilização ou que<br />

tipo de ferramenta tem.<br />

Filipe Ramos comenta que “procurement é<br />

uma área de oportunidades”, e tem uma visão<br />

de que esta área “tem funcionado ate agora,<br />

um bocadinho como uma startup dentro<br />

das empresas, é um departamento ao qual<br />

as empresas só recentemente começaram<br />

a atribuir a relevância que tem, e acho que<br />

tem muitíssima”, remata. “Se a parte mais<br />

importante de uma empresa é vender, a parte<br />

seguinte é provavelmente a de comprar,<br />

porque para vender é preciso comprar, e é<br />

preciso comprar bem”, e que é isso que traz<br />

o valor acrescentado. Considera ainda que<br />

as empresas se focavam muito na venda e se<br />

perdiam um pouco nas restantes áreas.<br />

Ao final do dia, conclui que “o que é<br />

importante é dizer que temos a nossa<br />

informação financeira, informação de análise<br />

de suppliers, credit rating, etc. sob controlo, e<br />

é nesta ‘construção desconstruída’ que vamos<br />

encontrando o sentido para criar valor em<br />

procurement, e eu particularmente adoro isso,<br />

e considero estar a fazer a minha parte para<br />

acrescentar valor e para melhorar a empresa<br />

no seu conjunto”. •<br />

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88 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />

logística<br />

SCM Supply Chain Magazine 89<br />

Países Baixos<br />

Texto: Ana Paiva<br />

“Com<br />

Paciência e<br />

Perseverança<br />

muito se<br />

Alcança”<br />

A frase é de Théophile Gautier, escritor<br />

Francês, mas aplica-se perfeitamente<br />

à história de João Neves, global supply<br />

& logistics manager na Grandvision,<br />

que através destas duas características<br />

alcançou os seus objectivos. Directamente<br />

dos Países Baixos para Portugal, o seu<br />

testemunho retrata como tem sido a<br />

experiência de viver neste país a bordo da<br />

supply chain. Já tem algumas histórias para<br />

contar, das quais fazem parte a adaptação<br />

ao novo país, a forma como lidou com o<br />

COVID-19 na sua empresa, e as superações<br />

que marcam o seu trajecto profissional.<br />

“O há cerca de uns 20 anos. Ficava<br />

primeiro impulso de curiosidade foi<br />

quando estava na indústria automóvel,<br />

curioso com a gestão JIT dos nossos clientes<br />

(fabricantes de carros) e pensava sempre o<br />

quão importante a logística era para o sucesso<br />

de uma fábrica com linhas de produção JIT”,<br />

conta João Neves. Foi assim que suscitou o<br />

interesse pela área da supply chain e, a partir<br />

daí, nunca mais parou. Todos os caminhos da<br />

sua carreira vão dar aos Países Baixos, país<br />

onde desempenha o cargo de global supply &<br />

logistics manager, na Grandvision.<br />

Todas as histórias começam pelo início, e<br />

esta não é excepção. João Neves licenciouse<br />

em Engenharia de Produção, no ramo de<br />

Gestão Industrial e, após isso, iniciou a sua<br />

carreira na indústria de polímeros e, mais tarde,<br />

de automóveis onde desempenhou funções<br />

relacionadas com a gestão e supervisão da<br />

produção. Depois de ter concluído a pósgraduação<br />

em Gestão da Distribuição e<br />

Logística, o profissional seguiu para a Makro<br />

Cash&Carry, onde as suas responsabilidades<br />

integravam uma grande vertente de logística,<br />

mas abrangiam toda a gestão da cadeia de<br />

abastecimento. Foi nesta empresa que João<br />

Neves assumiu, pela primeira vez, funções<br />

de direcção de um departamento. Mais tarde,<br />

ingressou numa “viagem pelo mundo do<br />

retalho” sempre com funções na mesma área,<br />

tendo passado primeiro pela Fnac e depois


90 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 91<br />

pela Grandvision Portugal, empresa que detém<br />

MultiOpticas, GrandOptical e Solaris. Após três<br />

anos na filial portuguesa, mudou-se para a sede<br />

da empresa nos Países Baixos onde permanece<br />

enquanto global supply & logistics manager.<br />

Para o profissional, a adaptação à nova<br />

realidade noutro país não foi fácil, “senti<br />

dificuldades, pois tudo era novo: o espaço físico,<br />

a equipa, a chefia, os colegas… e o facto de<br />

trabalhar e viver 24 horas sempre a falar uma<br />

língua que não a nativa, não ajuda em nada.<br />

Felizmente nos Países Baixos toda a gente fala<br />

inglês”, conta. Ainda por cima, no momento<br />

em que a integração já estava a tornar-se<br />

consolidada, quando já memorizava caras e<br />

nomes, teve de passar duas semanas na China<br />

e “quando voltei, parecia que tinha começado<br />

naquele dia e não semanas antes”, revela. No<br />

entanto, tudo acabou por melhorar. No final<br />

do primeiro mês já se sentia perfeitamente<br />

adaptado às pessoas, ainda que não com a<br />

confiança necessária nos processos, uma vez<br />

que tudo era explicado através de inúmeros<br />

acrónimos. “Lembro-me que saía de cada<br />

reunião com listas deles e que, posteriormente,<br />

tentava esclarecer, mas não estava a funcionar.<br />

Então decidi que iria passar a interromper e<br />

perguntar o que cada um queria dizer. Criavamse<br />

sempre momentos engraçados, quer fosse<br />

durante reuniões ou em conversas mais<br />

informais”, relembra.<br />

A nível pessoal revela que está a ser uma<br />

“experiência muito gratificante”. Considera aos<br />

Países Baixos um “país maravilhoso” onde tudo<br />

funciona como está definido. Conta que todos<br />

os dias sai de casa e reconhece onde é investido<br />

o dinheiro que paga de impostos, o que “dá<br />

tranquilidade e gera uma disponibilidade<br />

mental para que o cidadão se possa centrar<br />

em si, na família, amigos e trabalho. Ninguém<br />

precisa de se preocupar com os outros, pois<br />

todos cumprem com a sua parte e com o que<br />

deles se espera”.<br />

Um dos factores que tornou a experiência de<br />

construir uma carreira internacional na supply<br />

chain ainda mais positiva para João Neves, foi<br />

o facto de estar baseado na sede da empresa,<br />

uma vez que está em contacto diário com mais<br />

de 50 nacionalidades e tem a oportunidade de<br />

conhecer, todos os dias, algo mais sobre um<br />

país diferente, seja a nível cultural ou social.<br />

O convívio inter-cultural está ainda a ajudar o<br />

profissional a “perceber melhor as prioridades e<br />

objecções (muitas vezes, na prática, são apenas<br />

aspectos culturais) dos meus ‘clientes internos’,<br />

que são os colegas locais baseados nos mais de<br />

40 países de destino das nossas mercadorias”,<br />

refere. Ainda assim, têm existido alguns<br />

desafios nesta viagem. O maior, até agora, tem<br />

sido a escala e o impacto das decisões, “quando<br />

se está numa organização local, as decisões<br />

têm todas o seu impacto localmente, mas numa<br />

escala que pode ser sempre compensada pelos<br />

restantes países, caso não tenha sido a melhor<br />

decisão, quando se está numa função global<br />

a escala é ‘N’ vezes superior e o impacto será<br />

em ‘N’ países. Portanto se for uma má decisão,<br />

dificilmente poderá ser compensada”, explica.<br />

No entanto, o profissional caracteriza-se como<br />

uma pessoa que é sempre capaz de mais,<br />

portanto, é nas adversidades que consegue<br />

dar a volta por cima, tornando os desafios em<br />

conquistas.<br />

Em relação a Portugal, o global supply &<br />

logistics manager aponta várias diferenças,<br />

embora considere os portugueses como<br />

“excelentes profissionais”, independentemente<br />

do país onde estão inseridos. No entanto, no<br />

que diz respeito à capacidade de gestão dos<br />

assuntos diários e à capacidade de decisão,<br />

seja a que nível da organização for, já não<br />

tem a mesma opinião, “falta escala ao país,<br />

logo, torna-nos demasiado detalhistas em<br />

Portugal mesmo quando não devemos, menos<br />

pragmáticos e, por consequência, pouco<br />

eficientes ao alocar tempo às prioridades e<br />

ao exigir/apresentar resultados e soluções, o<br />

que depois gera desmotivação, ineficiências<br />

e demasiadas horas nos locais de trabalho”.<br />

No que toca à gestão do capital humano, nos<br />

Países Baixos, o responsável confessa que<br />

“tem sido uma agradável surpresa ver como os<br />

profissionais de qualquer ramo têm um enorme<br />

perceber melhor as<br />

prioridades e objecções<br />

(muitas vezes, na prática, são<br />

apenas aspectos culturais)<br />

dos meus ‘clientes internos’,<br />

que são os colegas locais<br />

baseados nos mais de 40<br />

países de destino das nossas<br />

mercadorias<br />

suporte por parte das suas entidades patronais<br />

e, por norma, existe um modelo meritocrático”.<br />

Quer seja em Portugal, nos Países Baixos ou<br />

em qualquer outra parte do mundo, João Neves<br />

deixa um conselho para quem pretende fazer<br />

da supply chain a sua profissão, que passa por<br />

se iniciarem, sempre que possível, numa área<br />

operacional, pois essas bases serão necessárias<br />

e, simultaneamente, serão o melhor suporte<br />

da carreira. “Sem experimentar e entender as<br />

operações, tudo se torna mais difícil”, remata.


92 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />

SCM Supply Chain Magazine 93<br />

carreira<br />

Sem experimentar e entender as<br />

operações, tudo se torna mais difícil<br />

O que mudará no pós-COVID-19?<br />

O impacto do COVID-19 não deixou ninguém<br />

indiferente e muitas empresas sofreram<br />

grandes recuos económicos. O profissional<br />

acredita que agora sim, as empresas se<br />

irão focar em duas grandes áreas a nível<br />

estratégico. Em primeiro lugar no Business<br />

Continuity Plan. Algumas delas já tinham<br />

esta estratégia desenhada, embora nunca<br />

numa perspectiva testada, ou seja, achavam<br />

que nunca a iriam utilizar. Em segundo lugar<br />

o desenho de sistemas de Double Sourcing<br />

que, provavelmente, nunca serão para<br />

100% da sua capacidade, pois, com algumas<br />

excepções, num novo cenário de pandemia,<br />

o consumo reduz, mas João Neves acredita<br />

que para as suas matérias-primas e produtos<br />

mais críticos, este tópico será uma realidade.<br />

Assim, “a forma como se desenharão as cadeias<br />

de abastecimento para suportar aqueles<br />

objectivos estratégicos será dos desafios mais<br />

extraordinários que os profissionais deste<br />

ramo terão pela frente”, afirma. Já a nível<br />

operacional, mais do que uma mudança foi a<br />

confirmação de que a omnicanalidade passou a<br />

ser um “commodity” no mundo do retalho e o<br />

garante que fornecedores e as suas indústrias<br />

continuam com portas abertas num novo<br />

cenário de crise sanitária, de acordo com o<br />

global supply & logistics manager.<br />

Para João Neves houve alguns desafios<br />

durante a fase mais crítica do COVID-19, uma<br />

vez que nunca tinha gerido uma equipa à<br />

distância, bem como a relação com os seus<br />

pares, chefia, departamentos de suporte e<br />

parceiros de negócio. A principal adversidade<br />

foi a gestão do tempo e da agenda profissional,<br />

“tudo passou a demorar mais tempo, todos os<br />

assuntos passaram a ter que ser preparados<br />

com muito mais detalhe do que anteriormente,<br />

pois a discussão, negociação e alinhamento<br />

tornou-se mais rígida devido à distância física e<br />

ao facto de, nem sempre, o nosso interlocutor<br />

estar mentalmente disponível, uma vez que<br />

o espaço físico de trabalho passou a ser<br />

partilhado com a família”, explica.<br />

Apesar de não ter sido fácil para ninguém,<br />

este fica marcado como um desafio que não<br />

só a Grandvision, mas muitas outras tiveram<br />

de ultrapassar. Umas melhor que outras. Mas,<br />

de certo, que ficará na memória de João Neves<br />

como um dos períodos mais desafiantes da sua<br />

carreira. Ainda assim, destaca outros que, por<br />

diferentes motivos, estão também marcados<br />

no seu percurso como conquistas. Um deles é o<br />

projecto de implementação da omnicanalidade<br />

na Fnac e, o mais recente, um projecto na<br />

empresa actual, onde transformaram a fábrica<br />

e o centro logístico de Vila Nova de Gaia num<br />

Regional Fulfillment Hub para as lojas de vários<br />

países do Grupo Grandvision. “Este último, sem<br />

dúvida, que foi uma conquista pessoal que<br />

sem superação pessoal e de toda a equipa de<br />

projecto, nunca teria acontecido”, confessa João<br />

Neves. •<br />

Profissional<br />

procura<br />

projecto com<br />

impacto para<br />

uma relação<br />

intensa<br />

Emprego. Profissão. Carreira. Termos<br />

que nos habituar a considerar sagrados e<br />

imutáveis como uma dimensão essencial<br />

da nossa vida. Que, em si, encerram<br />

significados e realidades consolidados<br />

nos últimos 2 séculos, com a expansão<br />

global da primeira revolução industrial.<br />

Significados estes que se podem sintetizar<br />

numa frase simples: ter uma profissão<br />

definida, que vai sendo desenvolvida a<br />

tempo inteiro numa organização, com<br />

horário e salário regulados. Palavras<br />

que, porventura, não terão nas próximas<br />

décadas o significado que (ainda) têm<br />

hoje para a grande maioria da população…<br />

e que, provavelmente, correm para a<br />

extinção.<br />

A revolução no<br />

trabalho<br />

Carlos Sezões, Partner da Stanton Chase Portugal<br />

Inúmeros fenómenos, uns mais estruturantes,<br />

outros mais conjunturais, estão a erodir<br />

este paradigma atrás descrito. Da revolução<br />

tecnológica (digitalização e robotização)<br />

em curso à mudança sócio-cultural (novas<br />

gerações, novos valores), da globalização à<br />

crescente exposição e transparência da nossa<br />

sociedade, da valorização da responsabilidade<br />

social e ambiental à procura de modelos de<br />

trabalho que valorizem a dimensão pessoal<br />

e familiar. Ou das pandemias que aceleram a<br />

adoção do teletrabalho à “horizontalização”<br />

das empresas, cada vez menos carentes de<br />

chefias intermédias, que pouco adicionam à<br />

autonomia crescente dos profissionais.<br />

Emprego? Já não é, como sabemos, para<br />

toda a vida. Nem é uniforme, no clássico


94 julho & agosto <strong>2020</strong><br />

modelo das “9 às 6”. Múltiplas modalidades<br />

materializam diferentes afectações de tempo,<br />

regularidade, presença física ou relação<br />

contratual. Do freelancer ao trabalhador<br />

temporário, sazonal ou por projecto, tanta<br />

diversidade se acrescentou ao venerável<br />

conceito de emprego.<br />

Profissão? Já não é, desde há muito, uma<br />

sequência lógica da formação inicial, técnica<br />

ou superior. Nem imutável. Nem estanque.<br />

Cada vez mais indefinível, com o incremento<br />

de competências, saberes, responsabilidades,<br />

tarefas e enquadramentos organizacionais em<br />

que estamos inseridos.<br />

Carreira? Já não é linear, ascendente,<br />

previsível e definida no tempo. “Fazer carreira”,<br />

ainda muito em voga, será uma expressão em<br />

declínio.<br />

O que fica? O que virá? Sem veleidades<br />

de profeta, vejo as tendências globais a<br />

afunilarem num novo mundo do trabalho.<br />

Em que empresas e outras organizações<br />

procurarão comunicar a sua razão de existir<br />

e os seus objectivos e impactos – e que<br />

competências necessitam para os produzir.<br />

E atrairão talento, para colaborações mais<br />

longas ou mais pontuais, com outputs bem<br />

definidos.<br />

Em que cidadãos afectarão os seus<br />

recursos, tempo, energia e talento para<br />

prover determinados bens sociais, no seio<br />

de uma organização ou “a solo”. Aqui ou<br />

do outro lado do mundo. Procurando ter<br />

impacto e realizações pessoais com o seu<br />

trabalho. Aprendendo ao máximo. Sendo<br />

remunerados financeiramente por isso. Mais<br />

que um emprego, procurarão ter determinados<br />

skillsets – portefólios de conhecimentos e<br />

competências - nos quais tenham interesse<br />

intelectual e envolvimento emocional e, claro,<br />

que sejam relevantes. Acrescentando valor<br />

a uma “força de trabalho” maioritariamente<br />

constituída por máquinas e algoritmos.<br />

Sim, os melhores projectos “profissionais”<br />

serão intensos e impactantes, provavelmente<br />

limitados no tempo.<br />

Estamos apenas no início… a revolução no<br />

trabalho segue dentro de momentos. •<br />

Carreira? Já não é linear,<br />

ascendente,<br />

previsível e definida no tempo.<br />

“Fazer carreira”,<br />

ainda muito em voga, será uma<br />

expressão em<br />

declínio.


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