SCMedia News | Revista | Julho & Agosto 2020
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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Jul’ <strong>2020</strong><br />
Ago’ <strong>2020</strong><br />
4,60€<br />
Mensal<br />
13<br />
1º Aniversário<br />
Volta ao mundo<br />
da Supply Chain em<br />
13 entrevistas
Formação IN-HOUSE<br />
Gestão de Stocks<br />
Negociação na Logística<br />
Gestão do Armazém<br />
Auditoria Logística<br />
Gestão de Compras<br />
Logística<br />
Compras<br />
Operações<br />
Workshops/Cursos<br />
Intra-Empresas<br />
estruturados e<br />
construídos à medida,<br />
realizados nas<br />
instalações da<br />
empresa, nos horários<br />
que forem mais<br />
convenientes.<br />
Procurement eficiente<br />
Seleção e avaliação de fornecedores<br />
O essencial da Gestão Logística e da Cadeia de Abastecimento<br />
Libertar e maximizar o potencial das equipas logísticas<br />
através da liderança eficaz<br />
Lean Logistics<br />
Gestão de Processos<br />
Facility Management<br />
Gestão de Rotas<br />
Gerir com sucesso a sua frota<br />
Como minimizar os custos de transporte<br />
Esta é uma oportunidade<br />
para reciclar<br />
conhecimentos, ampliar<br />
outros e alargar horizontes<br />
profissionais.<br />
Ferramentas de gestão logística para transitários<br />
Marcação de reuniões no Sector Transitário<br />
Sector Transitário - Formação em Vendas<br />
Formação Air & Sea - Vertente Comercial<br />
SAIBA MAIS EM:<br />
www.supplychainmagazine.pt/flow/<br />
flow@supplychainmagazine.pt<br />
Formação em Transporte Aéreo - Vertente Comercial<br />
Formação em Transporte Marítimo - Vertente Comercial<br />
Formação em Supply Chain<br />
Powered by
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
Dora Assis<br />
editorial<br />
Demos uma volta ao Sol<br />
“Não permitam que o ruído das opiniões dos outros<br />
abafe a vossa voz interior.”<br />
Steve Jobs, Junho 2005<br />
Esta é uma edição especial, pelo que<br />
marca e pelo conteúdo. Com este número<br />
assinalamos a história breve de uma revista<br />
que nasceu há um ano com a modesta<br />
convicção de, em papel e online, unir tudo o<br />
que já fazíamos - site noticioso, newsletter<br />
semanal de logística, newsletter quinzenal de<br />
procurement, conferências sectoriais - e vir a<br />
tornar-se a news magazine dos profissionais<br />
de logística e supply chain.<br />
Foram 12 meses de informação útil,<br />
rigorosa e de confiança, privilegiando<br />
um olhar atento sobre a actualidade, as<br />
empresas, os projectos e as pessoas mesmo,<br />
ou sobretudo, em tempos de pandemia.<br />
E assim demos uma volta ao Sol!<br />
Que o mundo hoje está diferente, já o<br />
sabemos. Contudo, nunca foi tão importante<br />
e urgente mostrar quem faz bem, o quê,<br />
onde e como e, exactamente por isso, o<br />
nosso papel é mais do que nunca levar<br />
aos profissionais a informação essencial.<br />
É também ajudá-los a focarem-se no que<br />
realmente importa. Esse continua a ser o<br />
nosso compromisso.<br />
Quisemos assinalar a data de forma<br />
especial, não olhar para o umbigo mas para<br />
o que nos rodeia, e fomos à procura de<br />
profissionais nacionais espalhados por esse<br />
mundo fora, a desenvolver carreira na Supply<br />
Chain. Se dúvidas havia, o resultado comprova<br />
que, de facto, Somos Cidadãos do Mundo,<br />
mas acima de tudo que quando gostamos e<br />
acreditamos no que fazemos Somos Capazes<br />
do Melhor.<br />
“Volta ao mundo da supply chain em 13<br />
entrevistas” poderia muito bem ser o título<br />
desta edição sem fronteiras, com um fio<br />
condutor claro e uma proposta irrecusável:<br />
levar até si 13 portugueses que trabalham na<br />
logística, nas operações e nas compras, que<br />
prontamente partilharam as suas experiências<br />
de carreira, em sociedades e culturas<br />
diferentes, desafiando-se e apostando em<br />
projectos altamente diferenciadores.<br />
Irlanda, Dinamarca, Bélgica, República<br />
Checa, Canadá, Austrália, Alemanha, Holanda,<br />
França… eis alguns dos destinos contemplados<br />
na viagem pelas páginas desta edição de<br />
aniversário, também ela maior do que o<br />
normal. Aceite o nosso convite e veja como os<br />
bons projectos, os bons profissionais e as boas<br />
ideias têm sempre lugar. Em qualquer parte do<br />
mundo.<br />
Próximo destino? Prepararmo-nos para os<br />
365 dias que aí vêm e seguir para mais uma<br />
volta ao Sol. Embarca connosco?
4<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 5<br />
#8 #22 #28 #40<br />
#80<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede, Administração e Redacção_<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direcção Geral_<br />
Filipe Barros<br />
Directora_<br />
Dora Assis<br />
Redacção_<br />
Ana Paiva, Fábio Santos<br />
índice<br />
Projecto gráfico_<br />
Maria João Carvalho<br />
Paginação _<br />
Daniela Moço<br />
Circulação & Eventos _<br />
Inês Ferreira<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Logística & Procurement<br />
Direcção Comercial _<br />
Filipe Barros<br />
O admirável mundo da supply chain 6<br />
“SCM é... Sucesso,<br />
Compromisso e Melhoria” 8<br />
“Procurement,<br />
na sua base, é um desafio” 14<br />
“Trabalhar sempre<br />
com motivo é a missão” 22<br />
“Às vezes é preciso dar um passo<br />
atrás para dar dois para a frente” 28<br />
“Sair, Conhecer e Melhorar” 34<br />
“As primeiras negociações<br />
foram um desafio” 40<br />
“Somos Cidadãos do Mundo” 46<br />
“Foi o procurement que abriu as<br />
portas a uma carreira internacional” 52<br />
“Sempre em Constante Movimento” 58<br />
“Um dia em procurement<br />
é sempre diferentes dos outros” 66<br />
“A felicidade não está no ter,<br />
mas sim no alcançar” 74<br />
“Eu não sou um comprador” 80<br />
“Com paciência e perseverança<br />
muito se alcança” 88<br />
carreira<br />
Profissional procura<br />
projecto com impacto para<br />
uma relação intensa 93<br />
Sales & Marketing _<br />
Margarida Matildes<br />
Impressão _<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem _<br />
3 mil exemplares<br />
Propriedade_<br />
SC Media Unipessoal, Lda.<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />
2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
NPC _<br />
514707143<br />
Capital Social_<br />
100,00€<br />
Participações sociais_<br />
Susana Silva<br />
Administração_<br />
Filipe Barros<br />
Registo na ERC n.º _<br />
127322<br />
Depósito Legal n.º _<br />
458604/19<br />
Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e<br />
imagens sem autorização expressa.<br />
Esta revista é escrita respeitando a grafia<br />
anterior ao Acordo Ortográfico
6 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
FACTOS<br />
& NÚMEROS<br />
SCM Supply Chain Magazine 7<br />
Texto: Dora Assis<br />
O admirável mundo<br />
da supply chain<br />
13 Edições<br />
entusiasmo pelo que fazem, sentem-se bem<br />
na sua pele e não temem os desafios, mesmo<br />
em tempos incertos. O importante é o tal do<br />
“amor à camisola”, gostar-se do que se faz e<br />
encontrar realização nesse trabalho. Quando<br />
assim é, cada tarefa é ímpar e cada dia único,<br />
incomparável.<br />
De acordo com um relatório da Morgan<br />
McKinely, relativo a 2019, os empregadores<br />
estão a proporcionar melhores oportunidades<br />
de aprendizagem e desenvolvimento,<br />
além de também estarem a atrair e reter<br />
talentos ao melhorar a imagem da indústria;<br />
garantir que as funções na supply chain<br />
são financeiramente compensadoras e ao<br />
envolverem o sector do ensino. No entanto,<br />
também devem estar cientes do que estes<br />
profissionais procuram. Segundo a mesma<br />
fonte, as principais metas de carreira para<br />
os profissionais de supply chain são: ganhar<br />
mais dinheiro (36%); melhorar a satisfação no<br />
trabalho (32%); melhorar o equilíbrio trabalho/<br />
vida pessoal (23%); progressão na carreira (9%).<br />
Em rigor e voltando ao princípio, pode<br />
considerar-se a profissão absolutamente<br />
rotineira: repetição constante de tarefas e<br />
experiências em prol da sobrevivência; mas<br />
também podemos olhar os dias como únicos,<br />
pois são-no. Há sempre surpresas na supply<br />
chain, como se tem provado e comprovado<br />
nestes últimos meses. Surpresas que podem<br />
mudar de forma radical o desenvolvimento<br />
e o fim da história. A meta dos nossos<br />
entrevistados é o percurso. Não sabem onde<br />
vão parar, mas sabem qual o caminho a<br />
seguir.•<br />
Alguma vez pensou como podem alguns<br />
espectáculos estar meses ou mesmo<br />
anos a fio em cartaz? Como conseguem<br />
os actores aguentar duas ou três sessões<br />
seguidas, semana após semana, ano após<br />
ano? A rotina do guião, as mesmas falas, o<br />
mesmo cenário, as mesmas cenas repetidas<br />
vezes sem conta, os suspiros, os sorrisos ou<br />
as exclamações da assistência nos momentos<br />
esperados... Mas não é só com os actores.<br />
Pense numa qualquer profissão. Pense na sua.<br />
A questão de fundo é: depois do fascínio<br />
inicial, ao fim de algum tempo, como podem<br />
as pessoas ser felizes e ter prazer com as<br />
tarefas rotineiras que já conhecem de cor?<br />
Da gestão de matérias-primas e de<br />
fornecedores à produção, ao transporte<br />
e distribuição, passando pela recepção e<br />
conferência de mercadorias, verificação<br />
de conformidades, preparação de pedidos,<br />
movimentação de mercadorias, tudo acontece<br />
repetida e religiosamente a cada começo e fim<br />
de dia (pensamos nós).<br />
Desengane-se. Pelos vistos, na supply chain<br />
não há rotina nem sequer repetição. Cada<br />
empresa, cada operação é singular, porque<br />
as pessoas são diferentes, os ambientes<br />
conspiram e inspiram de forma distinta e os<br />
estados de espírito e motivações são também<br />
incomparáveis.<br />
E, por isso, quem escolheu a supply chain,<br />
continua a defender que foi a melhor opção<br />
que fez. Pelo menos no caso das 13 histórias<br />
dos profissionais com quem falámos e que<br />
além de terem optado profissionalmente pela<br />
supply chain decidiram fazê-lo além-fronteiras<br />
e desenvolver carreira internacional.<br />
Têm outras coisas em comum: nutrem
8<br />
julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 9<br />
logística<br />
República Checa<br />
“SCM é…<br />
Sucesso,<br />
Compromisso<br />
e Melhoria”<br />
Nesta edição especial, decidimos posicionar o foco<br />
nos profissionais portugueses de supply chain<br />
espalhados pelo mundo. Apaixonados pela área de<br />
Supply Chain Management, os nossos entrevistados<br />
São Cidadãos do Mundo e partiram à conquista<br />
de novos mundos tanto no campo pessoal como<br />
profissional. Nem os milhares de quilómetros que<br />
os separam do seu país natal os impediu de correr<br />
atrás do sonho: uma carreira na supply chain. A<br />
viagem começa na República Checa, para conhecer a<br />
realidade de Miguel Martins da Silva.<br />
Texto: Ana Paiva<br />
que se origina no Compromisso<br />
e que determina uma constante<br />
“Sucesso<br />
Melhoria a cada dia”, é assim que se<br />
caracteriza Miguel Martins da Silva, group<br />
chief supply chain officer da Dr. Max BDC<br />
(Holding), na República Checa.<br />
Na sua carreira contabilizam-se mais de<br />
20 anos de projectos na área da logística<br />
e cadeias de abastecimento em diferentes<br />
áreas, desde a farmacêutica, passando<br />
pelas telecomunicações, até às industriais e<br />
alimentares, a construção de várias infra-<br />
-estruturas em mais de 20 países em<br />
diferentes continentes. Passado todo este<br />
tempo, a sua missão mantém-se: continuar<br />
“sempre a aprender e a evoluir”.<br />
Quando iniciou funções na supply chain,<br />
a logística fazia parte da área financeira da<br />
maioria das organizações e hoje, refere que se<br />
encontra ao mesmo nível nas administrações<br />
das grandes empresas e que “terá cada vez<br />
mais importância porque é uma função que<br />
exige uma compreensão profunda de todas as<br />
áreas das empresas e uma grande interacção<br />
com as restantes áreas funcionais”.<br />
Numa primeira fase, Miguel Martins da<br />
Silva, desempenhou funções a partir de<br />
Portugal e, mais tarde, mudou-se para o<br />
estrangeiro. Contudo, afirma que praticamente<br />
desde sempre trabalhou em ambientes<br />
internacionais, bem como os projectos em<br />
que participou. Actualmente, tem projectos a<br />
decorrer em mais de 10 países.<br />
Quando questionado sobre a adaptação a<br />
um país diferente, o profissional salienta que<br />
esta pergunta contém a resposta, sendo que<br />
“o segredo é mesmo a adaptação porque,<br />
cada país, cada empresa, cada projecto, cada<br />
equipa é diferente, e o que funciona num<br />
local não funciona no outro. A cultura come<br />
qualquer estratégia ao pequeno-almoço. Sem<br />
adaptação não há sucesso”. Dá como exemplo<br />
a construção de um centro de distribuição:
10<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 11<br />
o grau de conhecimento técnico necessário<br />
é igual em todo o lado, mas a diferença<br />
reside nas dimensões dos países onde são<br />
implementados, bem como as relações<br />
laborais, o enquadramento legal, a cultura da<br />
empresa e do país. Tudo é diferente. “Julgo ser<br />
fácil perceber que os desafios de lidar com um<br />
gestor português, alemão, russo, ou chinês são<br />
incomparáveis!”, confessa.<br />
Os desafios existem sempre, principalmente<br />
quando são comparados com a fase inicial<br />
da carreira. Miguel Martins da Silva revela<br />
que hoje realiza tarefas em meia hora que,<br />
quando começou, lhe podiam tomar vários<br />
o segredo é mesmo a<br />
adaptação porque, cada país,<br />
cada empresa, cada projecto,<br />
cada equipa é diferente, e o<br />
que funciona num local não<br />
funciona no outro. A cultura<br />
come qualquer estratégia<br />
ao pequeno-almoço. Sem<br />
adaptação não há sucesso<br />
dias. No entanto, acredita que essas mesmas<br />
tarefas podem ser feitas em apenas 15<br />
minutos, considerando que “há sempre um<br />
espaço de aprendizagem e progressão”. Ainda<br />
assim, existe uma grande pressão sobre os<br />
resultados, mas o responsável explica que sem<br />
ela “não se criam diamantes e um profissional<br />
é a soma dessas experiências, as boas e as<br />
menos boas”.<br />
Para os portugueses que trabalham no<br />
estrangeiro, é quase que impossível não fazer<br />
comparações ou, pelo menos, tentar perceber<br />
as diferenças, a nível laboral, entre os países.<br />
Neste caso, o group chief supply chain officer<br />
aponta a dimensão como a principal diferença,<br />
“Portugal é um país periférico e relativamente<br />
pequeno quando comparado com a maioria<br />
dos países europeus”. Dizer que muitos dos<br />
países da Europa Central são de dimensão<br />
semelhante ou ainda mais pequenos, não é<br />
uma afirmação correcta para o responsável,<br />
pois os projectos cobrem, na maioria, vários<br />
países. A dimensão permite potenciar o<br />
investimento, a tecnologia, a inovação e ainda<br />
aumentar a eficiência e a produtividade.<br />
A nível de mão-de-obra, o nosso país<br />
distingue-se, pois os gestores qualificados<br />
são altamente profissionais e têm um grau de<br />
flexibilidade e abrangência muito elevado, de<br />
acordo com Miguel Martins da Silva. Contudo,<br />
existem algumas restrições neste aspecto<br />
“dada a especificidade do país e as estratégias<br />
de desenvolvimento que têm sido seguidas por<br />
sucessivos governos e que nem sempre se têm<br />
revelado as mais adequadas”.
12 jUlho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 13<br />
Os requisitos para sobreviver<br />
ao COVID-19 e viver a supply<br />
chain<br />
A pandemia estendeu-se por todo o mundo.<br />
Estes profissionais sofreram pelo país-mãe<br />
e pelo país onde vivem a vida. Quer seja<br />
em Portugal ou no outro lado do mundo, o<br />
COVID-19 alterou os costumes pessoais, os<br />
costumes laborais, tendo gerado impactos<br />
positivos e negativos em todas as frentes.<br />
“As cadeias de abastecimento, no geral,<br />
mostraram a sua resiliência de forma<br />
muito clara durante a pandemia”, refere<br />
o profissional. Na sua área de actuação,<br />
a farmacêutica, todos os sectores desde<br />
os grossistas, retalhistas ou hospitais,<br />
demonstraram “grande solidez face a tão<br />
grande disrupção”.<br />
Uma das mudanças geradas pelo<br />
coronavírus, que passa até por uma aceleração<br />
da realidade actual, é a transformação da<br />
economia para o digital, como aponta Miguel<br />
Martins da Silva, dando os exemplos da<br />
transição do consumo do comércio tradicional<br />
para o online, o movimento dos trabalhadores<br />
para sistemas de home-office permanentes ou<br />
intermitentes, e mesmo a falência de muitas<br />
empresas não sustentáveis que têm agora<br />
uma oportunidade de transformação. Desta<br />
forma, “é fácil perceber que a tecnologia<br />
vai evoluir suportando o digital e o online,<br />
que os hábitos de consumo se alterarão por<br />
completo, que a mobilidade vai sofrer grandes<br />
transformações, e que as relações laborais<br />
vão ser profundamente afectadas”. Todas<br />
estas transformações trarão diversos riscos<br />
para as empresas que não sejam rápidas a<br />
tomar medidas que lhes permitam adaptar-<br />
-se à nova realidade. No entanto, “o risco traz<br />
consigo uma enorme oportunidade e veremos<br />
certamente os mais ágeis, os mais rápidos<br />
e os mais eficientes a beneficiar dos efeitos<br />
da disrupção actual causada pela pandemia”,<br />
incentiva o responsável.<br />
Para si, o maior desafio durante a crise<br />
foi gerir todos os projectos e equipas<br />
remotamente, uma vez que passa grande parte<br />
do seu tempo em vários países. Apesar de ter<br />
tido o auxílio da tecnologia, existe sempre<br />
a necessidade da componente humana.<br />
o risco traz consigo uma enorme oportunidade e veremos<br />
certamente os mais ágeis, os mais rápidos e os mais eficientes a<br />
beneficiar dos efeitos da disrupção actual causada pela pandemia<br />
a comunicação, a curiosidade<br />
e a atenção ao detalhe são<br />
características essenciais<br />
ao sucesso nesta área de<br />
actividade<br />
Confessa que “funcionou bem, apesar de<br />
alguns momentos de stress, dado que a área<br />
farmacêutica está na primeira linha de suporte<br />
às populações”.<br />
Miguel Martins da Silva mostra, através<br />
de um momento que aconteceu durante<br />
a pandemia, como se pode transformar<br />
uma adversidade numa vantagem. Neste<br />
momento, a sua empresa está a finalizar<br />
a implementação de um grande centro de<br />
distribuição em Praga, com um grau de<br />
automação muito elevado, o que requer<br />
conhecimentos de engenharia muito<br />
específicos que não existem em todos os<br />
países. “Quando as fronteiras fecharam, as<br />
equipas de engenharia baseadas na Áustria<br />
deixaram de poder aceder ao país e isso<br />
traria atrasos significativos ao projecto,<br />
gerando custos avultados por dia. A solução<br />
foi ‘construir’ uma casa adaptada dentro do<br />
novo edifício com camas, catering e até um<br />
barbecue, permitindo movimentar os técnicos<br />
para a República Checa, colocando-os em<br />
quarentena dentro do centro. Resultado: sem<br />
muito mais para fazer trabalharam noite e dia<br />
e o projecto avançou, provavelmente ainda<br />
com maior rapidez do que em circunstâncias<br />
normais”.<br />
Para os futuros profissionais da supply chain,<br />
Miguel Martins da Silva deixa um conselho,<br />
“desenvolvam os conceitos e conhecimentos<br />
técnicos necessários porque, sem isso, nunca<br />
poderão chegar longe dada a complexidade<br />
das estruturas actuais mas, ao mesmo<br />
tempo, não pensem que se pode gerir sem<br />
ir ao terreno ver os processos, os sistemas,<br />
interagir com os colegas operacionais e<br />
sem ouvir os clientes”, acrescentando que<br />
“a comunicação, a curiosidade e a atenção<br />
ao detalhe são características essenciais ao<br />
sucesso nesta área de actividade”. Dominar na<br />
perfeição os conceitos comerciais, financeiros<br />
e tecnológicos é uma das competências<br />
essenciais que aponta, pois com a evolução da<br />
digitalização, a sua importância vai aumentar<br />
significativamente.<br />
Olhando para os seus 20 anos de carreira,<br />
muitos são os projectos, os desafios, as<br />
conquistas. Refere que “só podemos ter noção<br />
do nosso sucesso quando chegamos a um<br />
determinado momento e olhamos para trás”.<br />
Apesar de já serem duas décadas de carreira<br />
na supply chain acredita que o momento mais<br />
marcante “é sempre o que ainda está para vir,<br />
o desejo constante de fazer mais, de construir<br />
mais e de aprender mais”. •
14 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 15<br />
procurement<br />
França<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“Procurement,<br />
na sua base, é um desafio”<br />
Como se diz, “quem corre por gosto não cansa”, e para Alexandra Póvoas já são<br />
mais de 13 anos a correr a mesma maratona, e como seria de esperar, foi longe,<br />
mais precisamente até à chamada “capital de Flandres”: Lille. É nesta cidade no<br />
Norte de França, local de fundação da Decathlon, que a profissional se encontra<br />
há já uma década, hoje enquanto responsável das Competências Procurement<br />
da empresa.<br />
Licenciada em Engenharia Metalúrgica e<br />
de Materiais pela Universidade do Porto,<br />
Alexandra Póvoas começou o seu percurso<br />
numa PME portuguesa da área de Supply<br />
Chain, Hidromac SA (hoje SAICIPO, LDA), onde<br />
esteve durante menos de três anos enquanto<br />
Stock & Foreign Purchases Manager: “tratouse,<br />
na realidade, do meu primeiro emprego e<br />
do primeiro contacto que tive com a Supply<br />
Chain: foi uma área nova e uma descoberta<br />
fantástica, a qual me cativou imediatamente!”,<br />
comenta.<br />
“Apesar de a minha especialização em<br />
engenharia estar muito longe da Supply<br />
Chain ou do procurement, não senti qualquer<br />
dificuldade, nem de adaptação, nem de<br />
aprendizagem”, destaca a profissional,<br />
revelando que o desejo de descobrir mais<br />
sobre a área e de trabalhar novas vertentes de<br />
Supply Chain fez com que procurasse outras<br />
oportunidades, e surgiu uma para colaborar<br />
com “um grande grupo internacional, onde se<br />
trabalham todas as vertentes do retail, desde<br />
a concepção do produto até à sua chegada<br />
ao consumidor”, a Decathlon. “Como se pode<br />
deduzir, neste tipo de empresas, a Supply<br />
Chain é o seu coração!”, refere ainda.
16 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 17<br />
Apesar de a minha<br />
especialização em engenharia<br />
estar muito longe da Supply<br />
Chain ou do procurement, não<br />
senti qualquer dificuldade,<br />
nem de adaptação, nem de<br />
aprendizagem<br />
Início da caminhada<br />
Conta que iniciou as suas funções na<br />
empresa em 2007, como responsável de<br />
aprovisionamentos asiáticos para as fábricas<br />
de produção em Portugal, e 2 anos mais tarde<br />
“recebi uma proposta para gerir uma equipa<br />
de Supply Chain na sede da empresa, em Lille,<br />
França, na primeira fábrica detida pelo grupo”,<br />
uma experiência que conta ter sido bastante<br />
enriquecedora e que lhe permitiu iniciar a<br />
descoberta de novas vertentes da Supply<br />
Chain, mais concretamente do procurement.<br />
Pelo caminho, desde a sua chegada ao<br />
estrangeiro exerceu funções como supply<br />
chain manager, que envolvia a gestão da<br />
Supply Chain de todas as organizações<br />
mundiais da empresa da parte dos<br />
processos industriais “hard”, compradora<br />
estratégica, Costumer Procurement Manager<br />
(relativamente à gestão do procurement<br />
global) e finalmente responsável das<br />
Competências Procurement da Decathlon,<br />
também a nível mundial, função que<br />
desempenha actualmente.<br />
Revela que a cada função, novos momentos<br />
marcantes foram surgindo, sendo que<br />
um dos maiores que teve de enfrentar foi<br />
precisamente quando chegou a França: “não<br />
dominava o idioma nativo (e as equipas não<br />
dominavam o inglês…)”.<br />
Alexandra Póvoas explica que a sua função<br />
incluía, além da direcção da equipa Supply<br />
Chain da fábrica, “a implementação de uma<br />
Supply Chain adequada para poder entregar,<br />
em ‘Milk Run’, o produto produzido a todas<br />
as lojas, num raio de 150 quilómetros da<br />
unidade fabril, com um leadtime de um dia”.<br />
A dificuldade por trás deste objectivo era<br />
que o produto em questão eram bicicletas,<br />
que em média envolvem 80 componentes<br />
diferentes, fornecidos entre a Europa e a Ásia,<br />
e cujo leadtime chegava a atingir os 6 meses.<br />
“Sem sistemas de MRP adequados a estas<br />
variáveis, com previsões baseadas em níveis<br />
de incertezas entre os -70% e os +80%, foi<br />
um verdadeiro desafio para mim e para toda<br />
uma fábrica em plena iniciação!”, comenta a<br />
responsável.<br />
Actualmente, a sua função envolve “a<br />
construção da nova função dos Procurement<br />
Managers”, e “dada a mudança global de todas<br />
as ferramentas informáticas e sistemas de<br />
informação, a função de Procurement Manager<br />
foi reformulada a 90%”, explica, e enumera<br />
algumas dessas alterações sentidas: gestos,<br />
responsabilidades, direitos e deveres, KPI,<br />
gestão de métodos supply, interacção entre os<br />
actores supply… “tudo teve de ser reconstruído<br />
e definido para posteriormente ser passado<br />
ao terreno, fazendo o acompanhamento,<br />
a formação e o desenvolvimento das<br />
competências procurement a centenas de<br />
Procurement Managers em todo o mundo”.<br />
Centro Logístico da LPR, Warrington, Inglaterra<br />
Red is<br />
making<br />
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Com a LPR consegue facilmente gerir as suas<br />
encomendas e monitorizar os seus stocks online<br />
A LPR apresenta as soluções adequadas para uma gestão mais eficiente do<br />
seu parque de paletes. Todos os nossos serviços logísticos e de gestão de<br />
informação são automáticos. Para além disso, no nosso Portal poderá<br />
facilmente acompanhar toda a sua atividade: visualizar os fluxos de paletes,<br />
encomendas, stocks, inspeções de qualidade, rentabilizando tempo, espaço<br />
físico e custos de transporte. Para mais informações visite a LPR.eu<br />
dada a mudança global de todas<br />
as ferramentas informáticas e<br />
sistemas de informação, a função<br />
de Procurement Manager foi<br />
reformulada a 90%<br />
A pallet is red, red is a pallet
18<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 19<br />
Uma corrida de obstáculos<br />
Para Alexandra Póvoas, nesta profissão tudo<br />
é desafiante e sedutor, e afirma mesmo que<br />
“procurement, na sua base, é um desafio”, que<br />
envolve uma conjugação de todas as variáveis<br />
voláteis de forma a obter os melhores<br />
resultados, sem perder de vista o win / win<br />
entre as empresas e os clientes: “onde e como<br />
produzir, entregar, gerir stocks, preconizar<br />
taxas de câmbios, estratégia de compras<br />
ou definição de painel de fornecedores”,<br />
exemplifica.<br />
A responsável das Competências<br />
Procurement considera que “um dos pontos<br />
mais desafiantes nesta área é a sua constante<br />
evolução”. Nesse sentido, considera que<br />
“tomadas de decisão consideradas correctas<br />
neste momento podem, a curto prazo, tornarse<br />
obsoletas; o progresso das técnicas de<br />
produção, de novos materiais, os novos<br />
sistemas de gestão e as novas necessidades<br />
obrigam à constante reavaliação das decisões;<br />
a integração da Inteligência Artificial como<br />
meio de gestão com potencial de substituição<br />
de muitos trabalhos/cálculos/decisões<br />
manuais pode obrigar as empresas a repensar<br />
a sua estratégia Procurement, assim como<br />
toda a sua estrutura humana”.<br />
Destaca a grande variedade de assuntos<br />
que o Procurement engloba, que o tornam<br />
ainda mais interessante: “quando se aborda,<br />
falamos de métodos de produção, de painel<br />
de fornecedores, de meios de transporte, de<br />
taxas de câmbio, de materiais, de negociação,<br />
de relações humanas, de software… enfim, um<br />
sem número de variáveis!”, e como a profissão<br />
procura encontrar sempre soluções para esses<br />
desafios. “Arranjar uma ‘fórmula’ para conjugar<br />
todas [as variáveis], analisá-las, dissecá-las e<br />
utilizar cada uma delas da sua melhor forma<br />
para que a configuração final seja a mais<br />
adequada possível às necessidades é, sem<br />
dúvida, um desafio!”<br />
Um dos pontos mais<br />
desafiantes nesta<br />
área é a sua constante<br />
evolução<br />
Arranjar uma ‘fórmula’ para conjugar todas [as variáveis], analisálas,<br />
dissecá-las e utilizar cada uma delas da sua melhor forma<br />
para que a configuração final seja a mais adequada possível às<br />
necessidades é, sem dúvida, um desafio!<br />
Aos profissionais que pretendam seguir<br />
esta área, a responsável das Competências<br />
de Procurement deixa três conselhos que na<br />
sua opinião são importantes para desenvolver<br />
funções de procurement:<br />
- Qualidade de dados: “sem qualidade de<br />
dados é impossível a coerente análise<br />
e posterior tomada de decisões (níveis<br />
de Stock, TurnOver, custo de BOMs, etc,<br />
dependendo do tipo de Procurement e o<br />
output desejado)”;<br />
- Antecipação: “temos de estar dois passos<br />
à frente para poder reagir em caso de<br />
necessidade e para tornar a empresa mais<br />
competitiva (previsões de venda, taxas de<br />
câmbio, situações político-sociais, novas<br />
técnicas de produção)”;<br />
- Relações humanas: “o Procurement é o<br />
elo entre todos os actores da Supply Chain<br />
(apostar na assertividade, na competência e<br />
no “added value” da função)”.<br />
Diferenças luso-francesas<br />
Apesar de não ter desempenhado funções<br />
tão complexas em Portugal, tendo apenas a<br />
experiência ao nível dos aprovisionamentos<br />
em pequena escala e longe do centro de<br />
decisão, e ao nível de uma PME, consegue ver,<br />
de um ponto de vista geral, que este mindset<br />
está a crescer em Portugal, e que “as empresas<br />
(PME ou não) começam a ter em conta a<br />
importância do Procurement e dos benefícios<br />
que lhes pode trazer”.<br />
“Quer seja em procurement ou não, no<br />
estrangeiro ou em Portugal, desenvolver uma<br />
carreira requer esforço, dedicação e paixão!”,<br />
afirma Alexandra Póvoas, e considera que<br />
não é fácil construir uma reputação numa<br />
grande empresa, no caso, francesa, “requer<br />
também uma certa tenacidade para vencer os<br />
estereótipos que se criaram há muitas décadas<br />
sobre os emigrantes e sobre os géneros”.
20<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
Na sua óptica, o grande desafio a ultrapassar<br />
foi “o de uma mentalidade baseada em<br />
normas, regras e hierarquias um pouco<br />
‘portuguesas’”, comenta. Hoje trabalha com<br />
equipas de todo o mundo, e explica que é<br />
um ambiente em que “cada um tem a sua<br />
responsabilidade, mas onde se age como<br />
um todo”, sendo que ali a ideia passa por<br />
descentralizar a tomada de decisões e ir<br />
agindo em “advice process”, ao invés de impor<br />
regras.<br />
Espero que exista um<br />
antes e um depois – isso<br />
significa que estamos<br />
perante um processo<br />
de aprendizagem e que<br />
estaremos aptos a novos<br />
desafios<br />
COVID-19 participa na Tour du<br />
Monde<br />
A pandemia de COVID-19 deu uma grande<br />
volta às cadeias de abastecimento, e<br />
também afectou as negociações entre países.<br />
Questionada sobre se haveria um pré e um<br />
pós-COVID-19, Alexandra Póvoas diz apenas<br />
“espero que exista um antes e um depois<br />
– isso significa que estamos perante um<br />
processo de aprendizagem e que estaremos<br />
aptos a novos desafios”, destacando as<br />
seguintes formas de actuação:<br />
(re)implementando-as com periodicidade.<br />
“Se conseguirmos integrar este ‘update’<br />
constante do mundo no nosso quotidiano<br />
profissional, saberemos que as dificuldades<br />
nos fizeram crescer”, comenta ainda.<br />
Alexandra deixa ainda uma reflexão: “o<br />
procurement é uma conjugação de visão<br />
estratégica e análise – não é mais do que<br />
bom senso aliado a um ‘e se…?’”, concluindo<br />
que no sector é preciso “arriscar na inovação,<br />
reconhecer os erros e aprender com eles!” •<br />
- Aceitar que o mundo está a mudar e a agir<br />
em consequência;<br />
- Reconhecer que a reactividade é essencial<br />
num mundo em constante transformação;<br />
- Identificar as mudanças estratégicas a rever,
22 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 23<br />
logística<br />
Austrália<br />
Texto: Ana Paiva<br />
“Trabalhar<br />
Sempre Com<br />
Motivo é a<br />
missão”<br />
A próxima paragem desta nossa viagem<br />
pelo mundo é na Austrália onde se<br />
encontra Gil Batista, head of supply chain<br />
AU da Marley Spoon. Há três anos e meio<br />
trocou Portugal pela cidade australiana de<br />
Sidney, decisão da qual não se arrepende<br />
nem um pouco, para seguir uma carreira na<br />
supply chain que tem dado os seus frutos.<br />
A<br />
história de Gil Batista na supply chain<br />
começa após a licenciatura em Engenharia<br />
e Gestão Industrial, na Universidade Nova<br />
de Lisboa. Sem ter grandes certezas da área<br />
em que queria ingressar, sabia que “para o meu<br />
primeiro trabalho queria algo que fosse muito<br />
intensivo em termos de desafios. Algo que me<br />
exigisse trabalhar a um ritmo alto e que fosse<br />
uma boa escola de trabalho”. Assim, surgiu<br />
o interesse na área da logística, mesmo sem<br />
saber bem no que consistia.<br />
Começou por trabalhar na Stef, durante um<br />
ano e meio, através de um estágio profissional<br />
e, em paralelo, realizou um programa de<br />
trainee que a empresa disponibilizava.<br />
Após este período, trabalhou na Plataforma<br />
Logística do Algarve durante quatro meses e,<br />
posteriormente, passou para Lisboa a trabalhar<br />
em turnos. Passados seis meses, seguiu para a<br />
área da Consultoria, na Logistema, onde teve a<br />
oportunidade de fazer a implementação de um<br />
warehouse management system em Portugal,<br />
Moçambique e Angola, caracterizando este<br />
como “um período da minha vida que adorei”.<br />
Mais tarde, surgiu a oportunidade na<br />
Marley Spoon, em Berlim, que consiste numa<br />
plataforma online que permite aos clientes<br />
subscrever um plano para receberem a<br />
quantidade exacta de alimentos em casa<br />
por semana, para reproduzirem receitas<br />
disponibilizadas pela marca. “Em comparação<br />
com um supermercado, em que existe 15 a<br />
20% de desperdício em tudo o que é fresco, nós<br />
conseguimos reduzir isso para menos de 1%, ou
24 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 25<br />
seja, é uma cadeia mais sustentável. Por outro<br />
lado, também não há desperdício em casa das<br />
pessoas porque em vez de enviarmos um quilo<br />
de arroz, enviamos 250 gramas, que é tudo o<br />
que a pessoa necessita para fazer a receita”,<br />
explica o responsável. Na Marley Spoon entrou<br />
para o departamento de Operation Excellence,<br />
onde realizava o apoio à produção, tendo<br />
desenvolvido vários projectos de produção,<br />
automação, entre outros. Não muito adepto<br />
do tempo frio que faz em Berlim, mudou-se<br />
para Sidney, na Austrália, através da mesma<br />
empresa que lhe propôs o cargo de supply<br />
chain manager, para o departamento de supply<br />
chain que ainda nem existia. Já instalado e<br />
com um departamento por criar, começou por<br />
implementar sistemas de inventário, tendo<br />
beneficiado do background que já tinha da área<br />
de Consultoria. Após três anos já cresceram<br />
quatro vezes, vendem quase cinco milhões de<br />
dólares por semana, e têm um departamento<br />
de logística com 20 pessoas, ao qual se juntou<br />
também o departamento de compras. De<br />
momento, o responsável coordena a área de<br />
compras, logística, packaging e os projectos<br />
transversais.<br />
“A Austrália é muito semelhante a Portugal,<br />
a única diferença é que aqui fala-se inglês e<br />
os salários são muito mais altos”, refere Gil<br />
Batista. A adaptação ao país foi muito fácil para<br />
o head of supply chain, uma vez que apesar<br />
das poucas, mas significativas, diferenças que<br />
apontou, são países semelhantes, “eu faço<br />
muitos paralelismos entre Sidney e Lisboa<br />
porque Sidney tem uma ponte grande no meio,<br />
tem um rio e praias dos dois lados”, conta. Foi<br />
graças a estas parecenças que a adaptação<br />
foi mais fácil, pois fê-lo sentir quase como se<br />
estivesse em casa. À empresa, o cenário não foi<br />
diferente, uma vez que considera que trabalhar<br />
num contexto de start-up e ter as bases do<br />
seu percurso profissional bem consolidadas,<br />
ajudou bastante neste sentido, “como trabalhei<br />
em logística numa empresa grande, e depois<br />
consegui fazer a transição para consultoria, vi,<br />
em todos os níveis, como é que as operações<br />
eram, e acabou por ser muito fácil”. Além disso,<br />
já se encontrava ligado a esta empresa a partir<br />
de Berlim, tendo, a transição para Sidney,<br />
melhorado a sua experiência em todos os<br />
aspectos.<br />
como trabalhei<br />
em logística numa<br />
empresa grande, e<br />
depois consegui fazer<br />
a transição para<br />
consultoria, vi, em<br />
todos os níveis, como é<br />
que as operações eram,<br />
e acabou por ser muito<br />
fácil<br />
“Tempestade Perfeita”<br />
Quando o COVID-19 surgiu, não houve nenhum<br />
país que não sofresse abalos. A verdade é<br />
que, dependente da área de actividade, umas<br />
empresas não resistiram, outras sobreviveram<br />
e algumas até lucraram, como é o caso da<br />
Marley Spoon. Gil Batista diz que “a nossa<br />
empresa está no lado bom da pandemia”, e<br />
explica porquê: “os supermercados acabaram<br />
com as entregas em casa e então as pessoas<br />
tiveram de se virar para quem estava a<br />
entregar comida em casa, e isso baixa muito<br />
o custo de marketing porque muita gente<br />
vem ter connosco sem termos de fazer nada,<br />
basta que saibam que nós existimos”. Desta<br />
forma, registou-se um decréscimo no custo<br />
de marketing e, por outro lado, houve um<br />
aumento de caixas na linha de produção o<br />
que gerou também um decréscimo dos custos<br />
operacionais, algo positivo para a empresa. “É<br />
uma tempestade perfeita”, afirma o head of<br />
supply chain.<br />
Antes da pandemia, a Marley Spoon ainda<br />
necessitava de investimento para chegar ao<br />
fim do mês, o que é natural em start-ups,<br />
segundo Gil Batista, e devido ao coronavírus,<br />
passaram a ter mais produtividade e a gerar
26<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 27<br />
lucro. Em duas ou três semanas conseguiram<br />
escalar a operação dentro dos custos,<br />
“alugámos um armazém novo, ajudámos os<br />
nossos parceiros logísticos com iniciativas<br />
para que conseguissem ter volume, fechámos<br />
janelas em dias de pico para conseguirmos<br />
nivelar o volume e servir toda a gente”, conta.<br />
O profissional não acredita que exista uma<br />
supply chian pré e pós-COVID-19, mas sim<br />
empresas. Muitas delas não estavam à espera<br />
de conseguir aumentar a produtividade em<br />
pouco tempo com os recursos de sempre.<br />
“Há uma lei antiga que diz que ‘o trabalho<br />
vai estender-se para o exacto momento de<br />
tempo que se quer que se estenda’, ou seja,<br />
se eu disser que algo tem de ser feito em três<br />
semanas, vão fazê-lo em três semanas”. Na<br />
empresa de Gil Batista, conseguiram em duas<br />
ou três semanas algo que, se fosse planeado,<br />
demorariam talvez quatro meses a fazer.<br />
Assim, muitas empresas devem ter percebido<br />
que a produtividade ainda não está ao nível do<br />
que poderia estar. No que diz respeito à supply<br />
chain, o que acontece é que as empresas<br />
perceberam a importância de minimizar o risco<br />
quando necessitam de importar produtos.<br />
No caso da Marley Spoon não houve muitos<br />
problemas deste tipo uma vez que a carne e os<br />
vegetais vêm da Austrália. No entanto, tiveram<br />
alguns constrangimentos no sourcing de<br />
produtos como arrozes-da-índia ou enlatados.<br />
fazer o que se acredita, não<br />
pensar logo no dinheiro e<br />
tentar acumular o máximo<br />
de conhecimento<br />
A carreira de Gil Batista já passou por altos<br />
e baixos, vários sítios e está recheada de<br />
tarefas diferentes, o que o ajudou a criar uma<br />
bagagem vital para esta viagem sem retorno<br />
com destino à Austrália. No seu trajecto,<br />
“o que mais me marcou foi esta aceleração<br />
da carreira que se consegue numa start-up,<br />
que acho que em Portugal nunca teria”. Para<br />
os futuros profissionais de supply chain, o<br />
responsável aconselha a “fazer o que se<br />
acredita, não pensar logo no dinheiro e tentar<br />
acumular o máximo de conhecimento”. Nos<br />
primeiros passos da sua carreira, sente que<br />
andou “sempre para o lado e nunca para cima”,<br />
mas fê-lo por áreas diferentes. Iniciou-se na<br />
parte operacional, passou pela parte técnica<br />
e trabalhou ainda na parte de automação e<br />
melhoria contínua, “isto permitiu-me ter uma<br />
perspectiva totalmente diferente”, conta.<br />
É através desta mentalidade que Gil Batista<br />
conduz a sua vida profissional: trabalhar em<br />
algo que lhe faça sentido e planear a carreira<br />
“Sempre Com Motivo”. •<br />
.
28 julho & agosto <strong>2020</strong><br />
procurement<br />
SCM Supply Chain Magazine 29<br />
Dinamarca<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“Às vezes é<br />
preciso dar<br />
um passo<br />
atrás para<br />
dar dois para<br />
a frente”<br />
Passeando por terras do cavaleiro<br />
mais famoso da literatura portuguesa<br />
encontrámos Sara Nandin de<br />
Carvalho, procurement and contracts<br />
manager da Maersk Decom, uma<br />
profissional portuguesa que há já<br />
cinco anos “embarcou” numa aventura<br />
além-fronteiras, mas ao contrário do<br />
que aconteceu na história de Sophia<br />
de Mello Breyner, este barco não teve<br />
um infeliz destino.<br />
Sara Nandin de Carvalho formou-se na área<br />
de contabilidade e administração, onde<br />
iniciou a sua carreira, mas o seu percurso<br />
levou-a a conhecer a área de procurement, e<br />
hoje ainda se encontra nela. “Não iniciei o meu<br />
percurso profissional na área de procurement,<br />
mas foi efectivamente uma escolha que<br />
fiz quando decidi investir numa carreira<br />
internacional”, conta-nos.<br />
“A cultura de trabalho nórdica é bastante<br />
diferente da cultura de trabalho do sul da<br />
Europa”, revela a responsável sobre a forma<br />
de trabalhar num novo país, “penso que cá<br />
no Norte é dado um enorme foco ao category<br />
management e ao desenvolvimento de<br />
estratégias para cada categoria específica”.<br />
Apesar de não ter tido uma experiência<br />
directa na área de procurement em Portugal,<br />
considera que no nosso país “o procurement é<br />
visto como uma área muito mais operacional<br />
e mais focada na pequena compra, mas posso<br />
estar totalmente enganada”.<br />
Uma viagem até ao Norte da<br />
Europa<br />
Esteve cerca de 13 anos na Galp Energia,<br />
onde desempenhou funções relacionadas<br />
com a sua formação base (contabilidade e<br />
tax management), e também de controlo<br />
financeiro, passando mais tarde à logística<br />
dos parques de armazenagem, distribuição<br />
e terminais petroleiros. Conta que em 2013<br />
foi convidada para a equipa de projeto<br />
onde a Galp iria pela primeira vez perfurar<br />
um poço de exploração de petróleo, o que<br />
também implicou uma mudança para a área<br />
de exploração e produção, que na altura<br />
estava no seu auge, e teve responsabilidades<br />
de comercial manager, com acesso a todos<br />
os stakeholders, desde empresas de well<br />
management, outros operadores em Marrocos<br />
e todos os fornecedores. “Foi durante estes<br />
2 anos que me apercebi da importância do<br />
procurement neste tipo de projetos e que<br />
seria uma excelente área para me desenvolver<br />
profissionalmente”, conta.<br />
Desde que se mudou para Copenhaga, em<br />
2015, desempenhou cinco posições
30 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine<br />
31<br />
Penso que cá no Norte é dado um enorme foco ao category management e<br />
ao desenvolvimento de estratégias para cada categoria específica<br />
diferentes, todas elas relacionadas com a área<br />
de procurement, começando por ser senior<br />
invoice controller na anteriormente chamada<br />
Dong Energy (Danish Oil and Natural Gas,<br />
hoje chamada Ørsted), onde era responsável<br />
pela validação contratual de todas as<br />
facturas relacionadas com os dois projetos<br />
de perfuração da altura. Sara Nandin de<br />
Carvalho reforça que a indústria de oil & gas<br />
é tradicionalmente muito rica, especialmente<br />
quando o preço do barril de petróleo se<br />
encontra acima dos 100 dólares por unidade.<br />
Realça também a importância da função como<br />
forma de controlar as despesas da empresa:<br />
“se os operadores não se focarem no controlo<br />
de facturas a probabilidade de pagarem<br />
mais do que aquilo que foi efectivamente<br />
negociado é muito muito elevada porque o<br />
engenheiro de perfuração irá validar se o<br />
serviço foi feito e não se o preço está correcto,<br />
ou se foi de facto negociado pagar por aquela<br />
ferramenta ou serviço”, explica. Hoje a Dong<br />
Energy chama-se Ørsted, após um spin-off<br />
da sua área de E&P para se dedicar a 100%<br />
às energias renováveis, é uma das maiores e<br />
mais internacionais empresas dinamarquesas<br />
e, segundo o Corporate Knights’ Global 100<br />
Sustainability Index, a mais sustentável do<br />
mundo.<br />
“Seis meses depois da minha mudança para<br />
Copenhaga fui convidada para as funções de<br />
contract manager”, comenta Sara Nandin de<br />
Carvalho, o que “veio provar que tinha sido<br />
uma boa aposta e que ‘às vezes é preciso dar<br />
um passo atrás para dar dois para a frente’”.<br />
Em 2016 foi responsável por renegociar<br />
o contrato de “helicopter transportation<br />
services”, tendo no final do processo mudado<br />
de fornecedor e sido convidados para ir<br />
“buscar” um novo helicóptero à sede da<br />
Airbus, em França, num voo inaugural entre<br />
o país e a Dinamarca. “Quase sete horas de<br />
helicóptero a sobrevoar parte da Europa será<br />
para sempre uma experiência inesquecível”,<br />
recorda. Apesar de considerar ter sido um<br />
“enorme contrato negociado com uma grande<br />
optimização operacional e comercial”, Sara<br />
Nandin de Carvalho decidiu que “estava<br />
na altura de dar um salto e mudar: queria<br />
continuar a trabalhar no procurement e até<br />
estava disponível para mudar de área (sair<br />
do sector da energia), mas isso provou ser<br />
muito difícil e hoje estou feliz que não tenha<br />
acontecido. O sector das energias offshore é<br />
imensamente interessante”.<br />
No Verão de 2017 teve uma proposta<br />
de emprego da Maersk Oil and Gas para<br />
uma posição de ‘contracts engineer’.<br />
“Pessoalmente, adoro este nome, que não<br />
significa mais que ‘procurement lead’ ou<br />
‘contracts manager’, é uma função muito<br />
associada ao Oil & Gas”. Sara Nandin de<br />
Se os operadores não se<br />
focarem no controlo de<br />
facturas a probabilidade<br />
de pagarem mais do que<br />
aquilo que foi efectivamente<br />
negociado é muito muito<br />
elevada porque o engenheiro<br />
de perfuração irá validar se<br />
o serviço foi feito e não se o<br />
preço está correcto, ou se foi<br />
de facto negociado pagar por<br />
aquela ferramenta ou serviço<br />
Carvalho estava entusiasmada com o projecto,<br />
até ser surpreendida com a venda da Maersk<br />
Oil à Total, e todas as suas actividades passam<br />
a ser relacionadas com a separação do Grupo<br />
Maersk e a integração no Grupo Total. Após<br />
um ano de reestruturação e muita mudança,<br />
e apesar de ter garantido uma posição na<br />
equipa de procurement em Copenhaga como<br />
responsável pela negociação de sinergias<br />
entre os contratos Maersk Oil/Total para todo<br />
o Mar do Norte, a responsável procurou voltar<br />
a casa: “decidi que a minha paixão pela cultura<br />
de trabalho dinamarquesa era mais forte do<br />
que uma função também interessante mas não<br />
definitiva em Copenhaga com a Total e pus-me<br />
em campo para voltar ao Grupo Maersk”.<br />
“E é assim que desde Dezembro de 2018<br />
sou procurement and contracts manager<br />
da Maersk Decom, uma joint venture do<br />
Grupo Maersk focada na oferta de serviços<br />
de decommissioning aos operadores de Oil<br />
& Gas”, revela Sara Nandin de Carvalho,<br />
explicando que nesta nova função “tenho<br />
a responsabilidade de contratar todos os<br />
serviços que oferecemos ao operador e<br />
que não são nosso core business tais como:<br />
drilling rigs, heavy lift vessels, subsea removal<br />
services, waste management and recycling,<br />
well services or logistical support”. Foi um<br />
longo percurso, mas o resultado foi bastante<br />
satisfatório, e não esconde essa felicidade:<br />
“não podia estar mais satisfeita!”.
32 julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 33<br />
“Têm sido cinco anos<br />
fantásticos, e parece que<br />
ainda estou a começar”<br />
Apesar de considerar que não está na função<br />
há muito tempo, adora o que faz, e considera<br />
que o mais desafiante da função é conquistar<br />
as equipas técnicas, e “fazê-los perceber a<br />
importância do procurement e de trabalhar<br />
em equipa para atingir os melhores resultados<br />
possíveis”. Sara Nandin de Carvalho considera<br />
“super gratificante” participar em reuniões<br />
técnicas, poder visitar fornecedores, ver<br />
as ferramentas, conhecer as sondas e os<br />
navios. “Um profissional de procurement<br />
deverá interessar-se ao máximo pelo sector<br />
onde desempenha funções para que possa<br />
contribuir para mais efectiva criação de valor,<br />
e eu sou uma apaixonada pela indústria<br />
offshore”, comenta.<br />
Dos momentos mais marcantes que deve na<br />
sua carreira, aponta pela negativa as várias<br />
fases de “downturn” do sector, onde assistiu<br />
a muitos despedimentos, mas pela positiva<br />
o facto de hoje ninguém negar que é uma<br />
profissional de procurement, apesar de só<br />
ter começado a trabalhar na área há cinco<br />
anos, num país diferente e numa área muito<br />
técnica: “são provas diárias que me fazem<br />
acordar todos os dias com vontade de ir para o<br />
escritório”.<br />
“Acho que é um sector muito desafiante,<br />
mas cujos desafios estão intrinsecamente<br />
relacionados com a área de procurement<br />
em que se trabalha”, explica Sara Nandin<br />
de Carvalho, “é muito fácil passarmos a ser<br />
vistos como um profissional de procurement<br />
de Oil & Gas / Energia, ou um profissional de<br />
procurement da indústria farmacêutica, e isso<br />
limitará muito as mudanças de sector”.<br />
Pela sua experiência, recomenda que “quem<br />
queira efectivamente seguir uma carreira<br />
de procurement deverá tentar trabalhar em<br />
diferentes indústrias para se tornar um activo<br />
de procurement em vez de um activo da<br />
indústria - o que é o meu caso”.<br />
Procurement num cenário<br />
pandémico<br />
“Em relação ao sector das energias o maior<br />
impacto do COVID-19 relaciona-se com custos<br />
adicionais relacionados essencialmente com<br />
todas a medidas impostas para garantir que a<br />
mudanças de tripulação on/offshore mantêm<br />
uma “tripulação limpa” de COVID-19 e também<br />
Um profissional de<br />
procurement deverá<br />
interessar-se ao máximo<br />
pelo sector onde desempenha<br />
funções para que possa<br />
contribuir para mais<br />
efectiva criação de valor, e<br />
eu sou uma apaixonada pela<br />
indústria offshore<br />
todas a negociações contratuais relacionadas<br />
com o setup em caso de emergência mesmo<br />
que não sejam COVID-19 relacionados”,<br />
esclarece a procurement and contracts<br />
manager, e recorda um caso em que esteve<br />
a trabalhar recentemente e que teve de ser<br />
cancelado porque o Governo da Mauritânia<br />
disse não ter capacidade de gerir uma possível<br />
emergência durante o período de pandemia.<br />
Sara Nandin de Carvalho defende existirem<br />
dois pontos de vista relativamente à<br />
pandemia: o operador e o contratual. Neste<br />
primeiro, “os impactos de CSR poderão<br />
também ser imensamente nefastos no caso de<br />
vir a público um navio que fique de quarentena<br />
ou que tenha de ser evacuado. Haverá por<br />
isso imensas novas medidas que impactarão<br />
os contratos negociados pós-COVID”, explica.<br />
Relativamente ao segundo, a responsável<br />
explica que esta área “vai querer proteger-se<br />
contratualmente de todos os possíveis custos<br />
adicionais que possam advir de uma eventual<br />
contaminação”.<br />
“Do ponto de vista contratual, a supply chain<br />
não vai esquecer a pandemia”, conclui. •
34 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 35<br />
logística<br />
Moçambique<br />
“Sair, Conhecer e<br />
Melhorar”<br />
A volta ao mundo através da supply chain leva-nos agora<br />
a Moçambique, a casa de Bruno Cipriano, operations<br />
manager da Sumol+Compal MZ, há pelo menos oito anos.<br />
No entanto, a sua viagem pela logística começou bem<br />
antes, ainda em Portugal de onde traz uma bagagem de<br />
experiências enriquecedoras. Agora, noutro continente,<br />
tem uma carreira marcada por várias conquistas e um<br />
grande desafio: o COVID-19.<br />
Texto: Ana Paiva<br />
O<br />
interesse pela área da logística para<br />
Bruno Cipriano, operations manager da<br />
Sumol+Compal MZ, não foi planeado.<br />
O “jogo e a dinâmica” foi o que mais o<br />
seduziu. Iniciou o contacto numa gestão de<br />
aprovisionamento de frescos e a vontade<br />
surgiu através da envolvência operacional e<br />
de gestão, nomeadamente da proximidade<br />
de negócio e “a mais básica responsabilidade<br />
de garantir a disponibilidade dos artigos no<br />
tempo e lugar certo, sem impactar custos”,<br />
conta. É esta a relação que Bruno Cipriano<br />
tem com a logística, que dura há mais de 15<br />
anos.<br />
A sua carreira começou no Carrefour,<br />
enquanto manager, no retalho moderno,<br />
“um sector muito exigente e com a sua base<br />
assente em cadeias de abastecimento e<br />
negociações fortes”, refere. Neste primeiro<br />
ano aprendeu muito sobre a cadeia de<br />
abastecimento, consumo e as principais<br />
métricas de desempenho. De seguida, agarrou<br />
a oportunidade para entrar no ambiente<br />
industrial, neste caso na Danone. Durante<br />
os dois anos que lá passou, desempenhou os<br />
cargos de technical project junior manager e<br />
manufacturing manager. Estar neste sector<br />
era “um objectivo pessoal desde que me<br />
lembro”. Caracteriza esta experiência como<br />
muito enriquecedora, pois, “permitiu-me<br />
afastar um pouco da logística, mas ganhar<br />
competências que até então não tinha<br />
desenvolvido em ambiente multinacional”,<br />
afirma. Uns anos depois, recebeu um<br />
convite para estar novamente ligado à área
36<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 37<br />
da logística, planeamento e controlo de<br />
produção, desta vez na Sumol+Compal, em<br />
Almeirim. Além daquilo que a função-base<br />
oferecia, teve oportunidade de gerir compras,<br />
negociações e aprovisionamentos. Conta que<br />
a área era de tal abrangência que a gestão<br />
dos projectos específicos também faziam<br />
parte. “Foi de facto o meu maior período<br />
de crescimento e aprendizagem”, salienta.<br />
Actualmente, mantém-se na empresa,<br />
mas numa geografia bem mais distante:<br />
Moçambique.<br />
Bruno Cipriano não sentiu dificuldades de<br />
adaptação ao cargo nos primeiros tempos<br />
em que se encontrava em Moçambique,<br />
pois diz que estava “bem preparado”.<br />
Contudo, surgiram muitas dúvidas, o que<br />
faz parte. “Quando passas um patamar de<br />
decisão percebes que são bastantes mais as<br />
variáveis a considerar”, acrescentando que “o<br />
importante é ouvir, analisar e depois decidir”.<br />
O segredo para se adaptar à realidade de<br />
viver noutro país passa por ter uma mente<br />
aberta para compreender os costumes e a<br />
cultura desse país e, muito importante, ser<br />
resiliente.<br />
O operations manager considera a<br />
experiência de desenvolver uma carreira<br />
internacional na supply chain como<br />
“extremamente positiva”. Os desafios<br />
obviamente que existem, mas segundo o<br />
responsável, não são muito diferentes dos<br />
que tinha em Portugal, como o serviço ao<br />
cliente, o controlo dos custos e o próprio<br />
planeamento. Ainda assim, destaca que<br />
a capacitação de profissionais é algo que<br />
necessita de ser potenciado, pois ainda se<br />
encontra numa fase embrionária. No entanto,<br />
“sabemos o que queremos, para onde<br />
queremos e como o vamos fazer”.<br />
Entre Portugal e Moçambique há<br />
muitas diferenças, não só pela cultura e<br />
costumes, mas mais por questões como<br />
o enquadramento legal e geográfico, a<br />
disponibilidade, a compatibilidade de<br />
tecnologias e equipamentos, entre outras.<br />
Ainda assim, no país africano, “o profissional<br />
tem de ser multidisciplinar, com experiência<br />
em várias áreas do conhecimento e tem de<br />
ter a capacidade de tomar decisões num<br />
curto intervalo de tempo e com pouco apoio”,<br />
explica.<br />
Uma carreira de desafios e<br />
conquistas<br />
Viver na era do COVID-19 em Moçambique,<br />
do ponto de vista profissional, foi um<br />
“desafio enorme” para Bruno Cipriano. Desde<br />
a insuficiência de meios de transporte, a<br />
tempos de trânsito extensos, passando por<br />
transportes multimodais, recorreram a tudo<br />
para colocar os produtos no sítio certo,<br />
sacrificando o tempo. Não foi nada fácil, mas<br />
“não existe outra forma que não seja a de<br />
continuar a caminhar em frente”, afirma.<br />
O que fica do pós-COVID-19 ainda ninguém<br />
ARRUDA DOS VINHOS<br />
ALVERCA<br />
sabe, mas há uma certeza: nada será igual e<br />
ninguém será o mesmo. “Estávamos todos<br />
tão focados em gerir e fazer acontecer que<br />
nos esquecemos que isto poderia passarse”,<br />
refere o operations manager. Ainda<br />
assim, acredita que esta pode ser uma<br />
oportunidade para se olhar para os lead<br />
times, pois muitas vezes sacrifica-se a<br />
optimização e a minimização do desperdício<br />
pelo factor tempo. Acrescenta que, até aqui,<br />
“vivíamos num mercado global e acredito<br />
que isso se possa alterar, fazendo com que<br />
as organizações considerem mais o mercado<br />
local, pelas mais diversas razões”.<br />
IMÓVEL PARA VENDA<br />
o profissional tem de ser multidisciplinar, com experiência<br />
em várias áreas do conhecimento e tem de ter a capacidade<br />
de tomar decisões num curto intervalo de tempo e com pouco<br />
apoio<br />
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38 JuLho & agosto <strong>2020</strong><br />
Este período certamente que ficará<br />
marcado na carreira de Bruno Cipriano como<br />
um dos mais desafiantes. No entanto, o<br />
responsável conta quais os momentos mais<br />
marcantes que a profissão na supply chain<br />
lhe proporcionou, por ordem cronológica.<br />
Em primeiro lugar destaca a implementação<br />
da gestão por rádio-frequência no inbound,<br />
com as respectivas instruções operacionais<br />
e consumos nas ordens de produção tendo<br />
por base as listas técnicas. “Marcou-me<br />
não só pela dimensão e conhecimento que<br />
retirei do projecto, mas pela superação da<br />
minha equipa operacional. Deram-me ainda<br />
mais do que o muito que já me davam. Foi<br />
fantástico”, confessa. Depois, refere o facto<br />
de ter iniciado uma operação do zero, desde<br />
o inbound ao outbound passando por toda a<br />
cadeia, “arrancar com operações produtivas e<br />
logísticas é uma experiência que não aparece<br />
todos os dias na vida de um profissional.<br />
Tive muita sorte e agradeço a confiança<br />
que depositaram em mim para iniciar<br />
este projecto de grupo”. A última grande<br />
conquista, que se renova, “foi ter conseguido<br />
criar uma equipa de gestão e operacional<br />
empenhadíssima, responsável, com um<br />
sentimento de pertença fora do comum”,<br />
afirma com evidente orgulho na sua actual<br />
equipa.<br />
Um profissional com mais de 15 anos de<br />
carreira como Bruno Cipriano, tem alguns<br />
conselhos para ajudar os futuros profissionais<br />
da supply chain: “perceber que se trata de<br />
uma área exigente, competitiva e que é<br />
necessário darmos sempre o melhor de nós.<br />
Não existem fórmulas eternas ou longas no<br />
tempo, é preciso ter abertura para novas<br />
ideias, conceitos e vontade de abraçar<br />
a mudança”. Após já ter bebido muitos<br />
destes conselhos, o operations manager<br />
considera-se agora uma pessoa que acredita<br />
na melhoria e superação contínuas, e no<br />
potenciar das pessoas, pois são elas que<br />
fazem a diferença. Talvez daqui a uns anos, os<br />
profissionais do futuro possam caracterizar-se<br />
da mesma forma. •<br />
vivíamos num mercado<br />
global e acredito que<br />
isso se possa alterar,<br />
fazendo com que as<br />
organizações considerem<br />
mais o mercado local
40 <strong>Julho</strong> JULHO & agosto AGOSTO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine<br />
41<br />
procurement<br />
Países Baixos<br />
“As primeiras<br />
negociações<br />
foram um<br />
desafio”<br />
Por entre as túlipas holandesas encontrámos<br />
uma portuguesa, Diana Monteiro, european<br />
procurement of ficer at Hills Pet Nutrition<br />
na Colgate-Palmolive. Os ventos que a<br />
levaram até aos Países Baixos têm vindo a<br />
mover as pás dos moinhos desta aventura<br />
internacional que começou em finais de 2015,<br />
e que a convenceram a ficar. Quase cinco anos<br />
depois, e quase oito enquanto profissional de<br />
procurement, conta-nos a sua experiência e o<br />
percurso que fez até chegar ali.<br />
Texto: Fábio Santos<br />
Diana Monteiro formou-se em Engenharia<br />
Alimentar, e conta que tal como muitos<br />
outros licenciados deste curso, começou<br />
como Técnica de Controlo de Qualidade, no<br />
caso, na Nutrigreen, ainda durante o seu<br />
mestrado. Foi nesta empresa que teve o<br />
primeiro contacto com o procurement, ao<br />
ser promovida a supply chain manager, onde<br />
entre as restantes funções, era responsável<br />
pelo planeamento de entregas e compras<br />
de materiais de embalagem. Revela que “as<br />
primeiras negociações foram um desafio”, por<br />
em muitos casos não existirem especificações,<br />
mas após algum tempo conseguiu recolher<br />
a informação necessária para perceber a<br />
dinâmica do processo de negociação. “O apoio<br />
da equipa de gestão foi fundamental”, recorda.<br />
Mais tarde, em 2013, surgiu a oportunidade<br />
de integrar a equipa de compras da Nobre,<br />
como assistente de compras no departamento<br />
de Compras de Carnes. “Essa enriquecedora<br />
experiência foi a base para a minha paixão<br />
por procurement”, revela Diana Monteiro,<br />
acrescentando que isso se deveu ao processo<br />
“extremamente estimulante” e à rápida<br />
aprendizagem dentro do sector. “Devo muito<br />
daquilo que sou enquanto profissional aos<br />
que foram os meus professores e mentores<br />
naquela empresa - o apoio que recebi foi<br />
enorme!”, comenta a responsável, “foi uma<br />
posição à qual me dediquei muito desde início<br />
e foi com grande alegria que vi o meu esforço<br />
ser reconhecido quando fui promovida a<br />
responsável do Departamento de Compras de<br />
Carnes da Nobre. Um dos mais gratificantes<br />
desafios que recebi até hoje”.<br />
A ambição de crescer a nível internacional e<br />
de conhecer a cultura laboral de outros países<br />
surge nessa altura, e foi esse o motivo que<br />
levou Diana Monteiro a abraçar a oportunidade<br />
de se mudar para os Países Baixos e juntar-se<br />
ao departamento de procurement da empresa<br />
Colgate-Palmolive.
42 julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 43<br />
Essa enriquecedora<br />
experiência foi a base<br />
para a minha paixão por<br />
procurement<br />
Do seu percurso destaca um momento que<br />
a marcou, quando recebeu uma proposta de<br />
promoção pouco tempo após a conclusão<br />
do executive MBA na Antwerp Management<br />
School. “Conciliar um trabalho a tempo inteiro,<br />
que me obrigava a viajar cerca de 30% do<br />
meu tempo, com um programa de estudos<br />
bastante exigente, também ele com viagens,<br />
foi provavelmente um dos maiores desafios<br />
profissionais que enfrentei até hoje”, explica<br />
Diana Monteiro, acrescentando ainda que<br />
“foi com muito orgulho que vi a empresa<br />
reconhecer que, durante esse tempo, o meu<br />
desempenho superou as expectativas”.<br />
O aroma a procurement no ar<br />
A responsável da Colgate-Palmolive considera<br />
que a componente mais sedutora da profissão é<br />
“a forma como o procurement faz a interligação<br />
entre os diferentes stakeholders”, utilizando<br />
terceiros como forma de poder contribuir para<br />
implementação da estratégia definida pela<br />
empresa. “O facto de esta função estar exposta<br />
ao contacto com diversos departamentos,<br />
diferentes metodologias de trabalho e diversas<br />
dinâmicas de mercado, torna-a tão estimulante<br />
como desafiante”, comenta ainda Diana<br />
Monteiro.<br />
Considera que a experiência tem sido muito<br />
gratificante e que aprendeu imenso com<br />
este sector, tendo sido o seu maior desafio<br />
a integração num ambiente multicultural de<br />
uma multinacional. Explica que apesar de se<br />
encontrar nos Países Baixos contacta com<br />
diversas culturas, e que elas têm formas de<br />
comunicação totalmente distintas daquelas a<br />
que estava habituada. “Adaptar o meu estilo<br />
de comunicação a cada uma dessas culturas<br />
foi essencial para ser bem sucedida na minha<br />
função”, revela.<br />
Do meu ponto de vista, a valorização do procurement está<br />
maioritariamente associada à maturidade da empresa e às capacidades<br />
estratégicas da sua equipa de gestão de topo<br />
Maturidade do procurement<br />
Questionada quanto às diferenças sentidas<br />
entre Portugal e os Países Baixos, Diana<br />
Monteiro não considera justo comparar<br />
directamente as maturidades entre o nível de<br />
procurement de ambos os países baseando-se<br />
na sua experiência, e defende que a maturidade<br />
não advém do país, e sim da empresa. “Do meu<br />
ponto de vista, a valorização do procurement<br />
está maioritariamente associada à maturidade<br />
da empresa e às capacidades estratégicas<br />
da sua equipa de gestão de topo”, defende a<br />
responsável.<br />
Explica que em muitas empresas o<br />
procurement ainda é visto como uma função<br />
de suporte, e não de gestão, sendo que a<br />
função é “frequentemente ‘isolada’ e excluída<br />
da estratégia da empresa”, e que por isso<br />
mesmo “muitos profissionais de procurement<br />
encontram-se sobrecarregados com tarefas<br />
operacionais, não tendo tempo para se<br />
dedicar à componente estratégica da função<br />
(gestão de risco, inovação, etc.)”, comenta a<br />
european procurement Officer, e realça que a<br />
nível formativo “conheço poucos profissionais<br />
com formação académica especializada em<br />
procurement”.<br />
Por outro lado, considera que nas empresas<br />
mais estruturadas, “o procurement atinge uma<br />
dimensão muito mais interessante, sendo<br />
uma das partes activas das estratégias dessas<br />
empresas e trazendo mais valor para a função<br />
desempenhada”.<br />
Conheço poucos profissionais<br />
com formação académica<br />
especializada em procurement<br />
Ventos de mudança<br />
Com a chegada da pandemia, o sector também<br />
foi afectado. Considera que vai haver um pré e<br />
um pós-COVID-19, e que mais do que nunca foi<br />
essencial criar soluções alternativas e encontrar<br />
back-ups. “Durante a pandemia as únicas<br />
empresas que cresceram foram aquelas que<br />
demonstraram ter uma supply chain resiliente e<br />
com capacidade de adaptação”, comenta Diana<br />
Monteiro, afirmando que as mais afectadas<br />
foram as empresas que dependiam totalmente<br />
da China.<br />
“Acredito que esta crise revelou<br />
oportunidades e falhas no procurement<br />
de todas as empresas, e essas devem ser<br />
corrigidas o mais rapidamente possível, mas<br />
principalmente, a pandemia salientou a<br />
importância de ter uma sólida estratégia de<br />
procurement”, defende ainda a responsável,
44 julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />
acrescentando que, neste mesmo sentido,<br />
“trouxe algo que muitos profissionais<br />
esperavam há muito tempo, o reconhecimento<br />
da componente estratégica da função e da<br />
sua essencial contribuição para o sucesso da<br />
empresa”.<br />
O impacto sentido pelas empresas levou o<br />
procurement de “uma função maioritariamente<br />
vista como ‘necessária’ ” a ser agora vista como<br />
“uma parte essencial da solução para assegurar<br />
a continuidade de negócio”, o que Diana<br />
Monteiro considera ter forçado as empresas a<br />
repensar a sua estratégia e a encontrar formas<br />
de agilizar as suas supply chains.<br />
“É impossível segregar áreas de risco<br />
simplesmente porque o risco está em todo o<br />
lado”, defende, “todos os dias surgem novos<br />
casos de empresas que foram obrigadas a<br />
suspender ou reduzir funções devidos a casos<br />
de COVID-19 entre os seus funcionários”.<br />
Por estas razões, considera que o<br />
procurement se encontra mais focado na<br />
inovação, na criação e manutenção de parcerias<br />
estratégicas e na manutenção do risco, tendo<br />
como objectivo a criação de uma cadeia de<br />
valor com alto nível de resiliência de modo a<br />
assegurar a continuidade do negócio. “Acredito<br />
que esta continuará a ser uma das principais<br />
tarefas desempenhadas pelo procurement a<br />
longo prazo”, comenta.<br />
A pandemia salientou a<br />
importância de ter uma sólida<br />
estratégia de procurement<br />
Aprendizagem contínua<br />
Diana Monteiro defende que “o procurement,<br />
tal como muitas funções, requer aprendizagem<br />
contínua”, e que um profissional desta<br />
área tem de conseguir assegurar “não só o<br />
desenvolvimento de técnicas de negociação,<br />
mas também a criação de ferramentas que<br />
permitam analisar a informação de forma<br />
eficiente, identificando os pontos fortes e<br />
fracos da cadeia de fornecimento”.<br />
A própria função requer melhoria contínua,<br />
criatividade e uma enorme capacidade de<br />
adaptação e, para se ser bem sucedido nesta<br />
área, “é crucial saber identificar quais os pontos<br />
que necessitam urgentemente de atenção, sem<br />
perder o foco e sem descurar as prioridades da<br />
estratégia de procurement definida”. •<br />
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46 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine<br />
47<br />
logística<br />
Irlanda<br />
“Somos<br />
Cidadãos do<br />
Mundo”<br />
Vasco Lemos é um profissional que faz jus ao título: com mais de 14 anos de carreira, já<br />
passou por países como Brasil, Itália ou México. Actualmente, está na Irlanda, em Dublin, e<br />
é european integrated supply planning director na Kellogg Company. Se há pessoa que nos<br />
pode contar como é viver a supply chain no mundo, é ele.<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Para todos os que estão para agarrar uma<br />
oportunidade de viver no estrangeiro, ou<br />
para aqueles que poderão vir a fazê-lo<br />
no futuro, este é o conselho de Vasco Lemos,<br />
que há alguns anos trocou Portugal pelo<br />
mundo: “na minha experiência, os primeiros<br />
seis meses são sempre de adaptação e de uma<br />
maior exigência a todos os níveis, pessoal<br />
e profissional. Cada país tem a sua cultura<br />
com diferentes formas de encarar o negócio,<br />
de gerir pessoas e enfrentar crises”, mas não<br />
desesperem, nem mudem já de ideias. O<br />
profissional mostra o que é necessário para<br />
sobreviver esses seis meses: “é fundamental<br />
manter o espírito positivo, ter tenacidade<br />
e capacidade de adaptação. Não podemos<br />
mudar tudo, temos de nos adaptar à cultura<br />
local se queremos atingir os nossos objectivos,<br />
mas não podemos ceder nos nossos princípios<br />
e objectivos se queremos ter sucesso”.<br />
A história profissional de Vasco Lemos<br />
começa em Portugal, numa fábrica de<br />
indústria automóvel na área da Engenharia<br />
de Processos. O primeiro contacto com<br />
a logística surge na Reckitt Benckiser<br />
através de um projecto de revisão das<br />
operações logísticas decorrentes da<br />
expansão de uma fábrica, que consistira no<br />
redimensionamento dos armazéns, formação<br />
de equipas, externalização da operação e
48<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 49<br />
Não podemos mudar tudo, temos de nos adaptar à cultura local se<br />
queremos atingir os nossos objectivos, mas não podemos ceder nos<br />
nossos princípios e objectivos se queremos ter sucesso<br />
desenvolvimento de uma operação de circuito<br />
fechado. Posteriormente, assume a função de<br />
gestão de transportes e customer service e é<br />
neste momento que começa a ter exposição<br />
internacional dentro da organização, “algo<br />
que foi fundamental, tendo em conta que<br />
sempre tive como objectivo trabalhar no<br />
exterior”, conta. Dois anos depois, dá-se<br />
a primeira oportunidade internacional,<br />
em Itália, enquanto gestor de logística da<br />
mesma empresa, onde ficou responsável pela<br />
integração de um novo negócio das operações<br />
e, em simultâneo, do desenvolvimento de um<br />
projecto de redução de custo fixo. Em 2013,<br />
altura em que a operação crescia acima de<br />
dois dígitos, dá o salto até ao Brasil. Contudo,<br />
todos os processos e operações logísticas<br />
estavam ultrapassados, com os custos fora de<br />
controlo e níveis de serviço inaceitáveis, “era<br />
necessário uma completa reestruturação”,<br />
refere. Em 2016, após ter cumprido o ‘3 Years<br />
Plan’, através da redefinição da network,<br />
abrindo e fechando mais de 10 armazéns,<br />
e iniciando operações de health care, fica<br />
responsável pela reestruturação da área de<br />
IBP, com o desenvolvimento de um novo<br />
processo de S&OP. Um ano depois, realizou<br />
uma tarefa de três meses no México para a<br />
implementação de um software SAP “que<br />
se revelou uma experiência extremamente<br />
exigente sob todos os pontos de vista,<br />
operacional, liderança e pessoal”, afirma. Já<br />
em 2019 iniciou o seu projecto na Kellogg<br />
Company enquanto director europeu<br />
de logística, onde fez uma completa<br />
reestruturação da network e iniciou a jornada<br />
do digital com a implementação de novos<br />
sistemas de controlo de transportes e WMS.<br />
Este ano foi promovido a european integrated<br />
supply planning director.<br />
Caminhos e trajectos à parte, a vontade de<br />
querer pertencer à área da logística surgiu<br />
com base na sua formação em Engenharia<br />
Mecânica, pois “muito cedo na minha carreira<br />
me interessei pela capacidade de optimizar<br />
operações através de um planeamento<br />
estratégico, lógico e sempre em busca de<br />
maiores eficiências nos processos”, revela.<br />
De país em país: vira o disco,<br />
mas não toca o mesmo<br />
Superar grandes desafios, formar equipas<br />
de alta performance e desenvolver pessoas<br />
são algumas das competências que Vasco<br />
Lemos foi adquirindo durante o seu percurso,<br />
salvaguardando a ideia de que “em qualquer<br />
país ou cultura, o grande diferencial são<br />
sempre as pessoas”.<br />
Ainda assim, “qualquer país ou cultura” tem<br />
as suas especificidades, o que pode, por vezes,<br />
gerar desafios adicionais à adaptação a nível<br />
pessoal ou profissional. O responsável refere,<br />
que desenvolver uma carreira internacional<br />
na supply chain, traz dois grandes desafios: o<br />
primeiro é, precisamente, entender o contexto<br />
e especificidade de cada país, dando o<br />
exemplo que no Brasil existe “a complexidade<br />
extrema” e na Alemanha e em Itália há “rigidez<br />
de processos”. Em segundo lugar, são as<br />
diferentes formas de motivar e liderar equipas<br />
com contextos culturais completamente<br />
distintos, “se nos países da América Latina,<br />
a proximidade pessoal a cada elemento é<br />
quase crucial para atingir os objectivos, nos<br />
países Anglo-saxónicos é fundamental manter<br />
o rigor nos processos e uma gestão mais<br />
formal”, conta. Ainda assim, considera que em<br />
ambas as situações, o rigor e a exigência são<br />
fundamentais.<br />
em qualquer país ou cultura, o<br />
grande diferencial são sempre<br />
as pessoas<br />
Falamos das diferenças culturais entre<br />
países como o Brasil, Alemanha ou Itália, mas,<br />
e em Portugal, o que difere? Vasco Lemos<br />
refere que “tendo em conta as estruturas/<br />
equipas mais reduzidas decorrentes de um<br />
menor volume de negócio, somos desafiados<br />
a desempenhar uma multiplicidade de<br />
funções, que vão desde a concepção de<br />
projectos, implementação e execução<br />
dos mesmos, passando pela negociação<br />
directa com fornecedores e clientes, até<br />
ao desenvolvimento de relatórios para as<br />
mais diversas áreas de gestão do negócio”.<br />
Esta abrangência de funções conduz a um<br />
elevado sentido de propriedade do negócio,<br />
possibilitando também um conhecimento<br />
detalhado das diferentes variáveis da<br />
supply chain. Finalmente, sublinha ainda a<br />
importância de uma comunicação efectiva<br />
com as diversas funções/departamentos e<br />
parceiros/clientes a qual, apesar de menos<br />
formal, é claramente um dos elementos-chave<br />
para o sucesso em geral.<br />
E foi precisamente pela comunicação que o<br />
european integrated supply planning director<br />
iniciou a sua adaptação a nível internacional,<br />
pois só assim conseguiria comunicar. Revela<br />
que o italiano e o espanhol são idiomas<br />
fáceis de aprender, graças às semelhanças<br />
com o português, e que conseguiu sempre<br />
adaptar-se bem aos países por onde<br />
passou e às respectivas culturas. Também<br />
considera importante conhecer as formas de<br />
comunicação e culturas locais, para entender<br />
qual a melhor forma de aproximação às<br />
equipas e poder assim motivá-las.
50 julho & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine<br />
51<br />
Vasco Lemos é uma pessoa que acredita<br />
no poder das pessoas e das equipas, não<br />
só por se esforçar em motivá-las para que<br />
o desempenho melhore, e que sejam mais<br />
felizes com isso, mas também por serem<br />
incluídas em projectos em que, através do<br />
trabalho conjunto, alcança-se o sucesso. Foi<br />
com um exemplo destes que o profissional<br />
registou o momento mais marcante do seu<br />
trajecto profissional. No Brasil, desenvolveram<br />
um projecto de um complexo logístico, “em<br />
tempo record”, sem impactos de serviço, num<br />
momento difícil da história da empresa em<br />
que estava. Desde a concepção à conclusão,<br />
“conseguimos trabalhar com fornecedores,<br />
clientes e parceiros como uma grande equipa”,<br />
acrescentando que “cada imprevisto foi<br />
tratado em conjunto, sempre com o foco total<br />
no objectivo final”. Este foi o projecto com<br />
maior sucesso de todos os pontos de vista para<br />
o profissional, referindo até que “é ainda hoje<br />
a chave do sucesso das operações no Brasil”. É<br />
o exemplo de que com empenho, dedicação e<br />
trabalho de equipa tudo é possível.<br />
Manter o espírito de equipa em altura de<br />
pandemia, não só se mostrou importante mas<br />
mesmo um factor de sobrevivência, mas não<br />
foi fácil.<br />
Vasco Lemos acredita que o que fica num<br />
pós-pandemia é uma alteração “drástica” de<br />
como se faz negócio e se gerem operações.<br />
Desde cedo que foi necessário tomar medidas<br />
nos armazéns, para garantir a segurança dos<br />
colaboradores, e tiveram ainda de arranjar<br />
forma de liderar e comunicar com as equipas<br />
em teletrabalho. Estas foram algumas das<br />
alterações na Kellogg Company.<br />
A nível geral, também os hábitos dos<br />
consumidores se alteraram e hoje, o maior<br />
desafio é “entender quais os novos padrões<br />
de procura, qual o novo baseline e, com isso,<br />
adequar o nosso forecast, capacidades das<br />
fábricas e investimentos a médio e longo<br />
prazo”, refere.<br />
O trabalho remoto revelou-se um “duplo<br />
desafio”, de disciplina e de liderança. De<br />
disciplina porque é necessário entender<br />
que “estando sempre em casa, não estamos<br />
sempre a trabalhar, e são necessárias pausas<br />
para relaxar, manter a actividade física e<br />
o equilíbrio familiar”. De liderança, pois<br />
é fundamental manter o contacto com os<br />
membros da equipa e perceber que cada um<br />
responde de forma diferente ao isolamento,<br />
sendo imprescindível garantir a coesão e<br />
motivação de todos.<br />
ter sempre curiosidade<br />
em procurar uma forma<br />
diferente de superar os<br />
desafios constantes<br />
Esta é a história de Vasco Lemos, alguém<br />
que já pisou muitas terras, que agarrou várias<br />
oportunidades na supply chain e que tem<br />
vindo a superar grandes desafios, sempre com<br />
distinção. Considera as pessoas como parte<br />
fulcral de qualquer projecto e acredita que “ter<br />
sempre curiosidade em procurar uma forma<br />
diferente de superar os desafios constantes”<br />
é um dos segredos para trabalhar no incrível<br />
mundo da supply chain. •
52 julho & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 53<br />
procurement<br />
Irlanda<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“Foi<br />
procurement<br />
que abriu<br />
as portas a<br />
uma carreira<br />
internacional<br />
e me permitiu<br />
continuar a<br />
evoluir”<br />
Segundo contam as lendas irlandesas, os<br />
leprechauns, pequenas criaturas míticas<br />
desse país, trazem sempre consigo uma<br />
moeda mágica que volta imediatamente<br />
à sua bolsa quando é gasta. As mesmas<br />
lendas também contam que eles são<br />
considerados guardiões ou conhecedores<br />
de vários tesouros escondidos, geralmente<br />
o famoso pote de ouro, e que se os virmos<br />
antes de eles nos verem a nós serão mais<br />
cooperativos e poderão levar-nos a um<br />
deles, mas também têm a capacidade<br />
de desaparecer no ar caso os percamos<br />
de vista. Esta é talvez uma das melhores<br />
metáforas para ilustrar o procurement.<br />
Não foi preciso capturar um desses<br />
pequenos duendes ou procurar por um<br />
pote de ouro para Ivo Guerra perceber<br />
que o seu encontro com procurement foi uma<br />
sorte que o levou além-fronteiras. Tendo por<br />
base académica a área de Gestão, Ivo Guerra<br />
lançou-se na área de Supply Chain desde o<br />
primeiro dia para iniciar a sua carreira, tendo<br />
começado logo pela área de Fast-Moving<br />
Consumer Goods (FMCG), mas passando<br />
rapidamente para o sector farmacêutico, onde<br />
ainda hoje se encontra.<br />
Durante o seu percurso foi caminhando lado<br />
a lado com o procurement, e aos poucos esta<br />
área foi ganhando uma maior relevância, até<br />
ser convidado, em Junho do ano passado, para<br />
a posição actual de senior director, global<br />
direct procurement da Perrigo Company plc<br />
em Dublin, na Irlanda.<br />
O caminho para o pote de<br />
ouro?<br />
A sua breve passagem pela área de FMCG foi a<br />
porta de entrada para a Supply Chain, mas foi<br />
na indústria farmacêutica que encontrou um<br />
caminho a seguir e se estabilizou, há 14 anos,<br />
quando entrou para a Pfizer, inicialmente com<br />
o cargo de logistics & planning. Passou ainda<br />
pela farmacêutica Angelini durante cerca de<br />
cinco anos até ter chegado ao grupo Perrigo<br />
em 2013, através da Omega Pharma Portugal,<br />
onde começou por ser supply chain manager<br />
e depois director. Em 2015 abre-se uma nova<br />
porta e entra para a Perrigo Company plc, e<br />
após uma passagem como director ibérico<br />
de supply chain, e mais tarde também pela<br />
Turquia, chega ao actual cargo global, “onde<br />
procurement é o centro do meu mundo<br />
profissional”, aponta Ivo Guerra. Se encontrou<br />
o pote de ouro, só o próprio saberá dizer, mas<br />
pelo que tudo indica é possível que sim.<br />
“Foi procurement que abriu as portas a<br />
uma carreira internacional e me permitiu<br />
continuar a evoluir, experienciar dinâmicas<br />
globais e trabalhar em vários pontos do<br />
mundo”, comenta o responsável da Perrigo,<br />
acrescentando que esta área hoje lhe<br />
proporciona “um conjunto de experiências<br />
profissionais e pessoais das quais disfruto<br />
diariamente”
54<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 55<br />
Ao mesmo tempo, comenta que ao nível<br />
de uma nova experiência existe sempre um<br />
processo que requer alguma adaptação, e<br />
esta não foi uma excepção. “Apesar de ter<br />
surgido naturalmente e progressivamente, não<br />
existindo uma mudança abrupta, continua a<br />
ser um processo de adaptação e aprendizagem<br />
constante. Especialmente no momento que<br />
vivemos actualmente”, reflecte Ivo Guerra.<br />
A chegada a um procurement<br />
global<br />
O responsável da Perrigo considera que esta<br />
experiência “está a ser bastante gratificante,<br />
com um ritmo muito intenso e de rápida<br />
progressão”, e que a exposição internacional<br />
“proporciona experiências que nos<br />
desenvolvem a nível pessoal e profissional,<br />
que de outra forma seria mais lenta”.<br />
Apesar das muitas vantagens, conta que<br />
a carreira internacional também lhe coloca<br />
alguns desafios, nomeadamente relativos<br />
ao equilíbrio entre as exigências de agenda<br />
profissionais com a vida pessoal, “dado que<br />
a componente de viagem é elevada e os<br />
períodos ausentes do ambiente familiar podem<br />
ser longos e frequentes. Muita disciplina e<br />
planeamento são essenciais para conseguir um<br />
bom equilíbrio”, comenta.<br />
Aponta ainda que “o multiculturalismo<br />
da arena global e os diferentes requisitos<br />
que daí advêm são também um desafio e<br />
requerem muita versatilidade e capacidade<br />
de aprendizagem”, e explica que é diferente<br />
fazer negócios no continente asiático ou nos<br />
continentes Americano ou Europeu, “não só<br />
pelo idioma, mas por toda uma matriz cultural<br />
que altera dinâmicas, expectativas e reacções<br />
ao mesmo tipo de eventos”.<br />
A este nível, Ivo Guerra revela que o que<br />
a sua profissão lhe proporciona de mais<br />
desafiante e sedutor é “um aglomerado de<br />
vários elementos: dinâmica global, caracter<br />
estratégico, exposição a outros executivos<br />
e indústrias e o impacto e diferença para<br />
melhor que a nossa função pode fazer para o<br />
negócio”, destacando a importância que esta<br />
tem precisamente no momento de pandemia<br />
em que nos encontramos, e que considera ser<br />
o momento mais marcante do sector até ao<br />
momento.<br />
A quem pretenda seguir esta carreira,<br />
o responsável deixa uma mensagem de<br />
incentivo: “procurement é e será um dos<br />
sectores com mais oportunidades e com<br />
crescente procura”. Recomenda que o<br />
profissional de procurement tenha foco em<br />
“assumir iniciativas e responsabilidades,<br />
entender o que é sucesso para a organização<br />
e desenvolver uma estratégia em sintonia<br />
com a mesma. Foco na “big picture”, mas<br />
controlo granular sobre as estruturas de custo<br />
e por último Benchmark, muito Benchmark, o<br />
mundo e em particular a nossa área está em<br />
constante mudança e é fundamental saber<br />
onde estamos e o que precisamos de redefinir<br />
para poder competir no mercado e proteger os<br />
interesses do nosso negócio”.<br />
O sector da saúde e o<br />
problema de saúde global<br />
O impacto que a pandemia está a ter na sua<br />
vida profissional não passa apenas “pelo<br />
impacto imediato e tensão que colocou na<br />
supply chain global de qualquer indústria,<br />
mas também pela forma como está a afectar<br />
comportamentos e hábitos de consumo e a<br />
forma como estes são afectar as estruturas<br />
e cadeias de abastecimento no futuro”,<br />
considera o responsável.<br />
“Existe claramente um antes e um depois<br />
de COVID-19. Creio que o presente momento<br />
trouxe a supply chain e o procurement para<br />
Todos os ‘set up’,<br />
estratégias e planos<br />
serão revistos como<br />
importantes conclusões<br />
e lições do momento que<br />
estamos a viver
56<br />
<strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
MOBILE APPLICATIONS AND TECHNOLOGIES<br />
FOR PROFESSIONAL SERVICES?<br />
o centro de todas as agendas, sejam elas de<br />
empresas, países ou regiões”, defende Ivo<br />
Guerra, apontando que a recente sucessão<br />
de eventos veio reforçar a importância<br />
de supply chain, “mas sobretudo expor a<br />
interdependência e globalização da mesma no<br />
mundo actual, e quanto isso pode impactar<br />
o nosso modelo de vida em aspectos básicos<br />
como o acesso a bens e serviços”.<br />
Após a pandemia, o senior director, global<br />
direct procurement considera que “todos os<br />
‘set up’, estratégias e planos serão revistos<br />
como importantes conclusões e lições do<br />
momento que estamos a viver”, mas que para<br />
já “trouxe procurement ainda mais para o topo<br />
da agenda corporate das empresas”.<br />
Ivo Guerra aponta que “a turbulência que<br />
ainda se sente nas cadeias de abastecimento,<br />
mas que em particular foi evidente nas<br />
primeiras semanas do lockdown global,<br />
puseram em evidência a importância das<br />
estruturas de compras e das estratégias<br />
de mitigação das mesmas”, e as empresas<br />
perceberam cada vez mais o potencial de<br />
algumas áreas, entre as quais se encontra as<br />
compras.<br />
“Por outro lado, está a mudar perfis, hábitos<br />
de consumo e a precipitar mudanças que<br />
pensávamos estar a decorrer a um ritmo<br />
moroso”, e considera que isso terá impacto<br />
no design e nas expectativas das cadeias<br />
de abastecimento actuais. “Creio que a<br />
globalização que antes era imparável, enfrenta<br />
agora medidas proteccionistas regionais,<br />
que certamente irão afectar as agendas de<br />
procurement”, comenta ainda.<br />
“Pessoalmente, creio que <strong>2020</strong> e a pandemia<br />
global ficarão para a história e influenciarão<br />
muitos casos de estudo, incluindo<br />
procurement”, conclui Ivo Guerra. •<br />
Thank you to the ones that challenge us.<br />
Thank you to the ones that support us in these challenges.<br />
To present reliable and cost-effective solutions is our commitment.<br />
Creio que a globalização que antes era imparável, enfrenta agora<br />
medidas proteccionistas regionais, que certamente irão afectar as<br />
agendas de procurement”<br />
Rua Guilherme Braga 101-105 Porto<br />
Alameda dos Oceanos, 21 Esc 1 Lisboa<br />
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58 <strong>Julho</strong> JULHO julho & agosto <strong>Agosto</strong> AGOSTO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 59<br />
logística<br />
Canadá<br />
Texto: Ana Paiva<br />
“Sempre em<br />
Constante<br />
Movimento”<br />
A história de Luís São Marcos não começa<br />
com um grande amor pela logística, ou com<br />
o sonho que sempre teve de se tornar um<br />
profissional nesta área. As voltas da vida<br />
trocaram-lhe as voltas e passou de uma<br />
licenciatura em Línguas para uma carreira<br />
internacional enquanto warehouse<br />
manager, no Canadá. Pode não ter sido<br />
amor à primeira vista, mas daqui resultou<br />
uma história inspiradora sobre como os<br />
caminhos para o sucesso nem sempre são<br />
os mais directos.<br />
O<br />
Canadá é o próximo destino a bordo da<br />
carreira de Luís São Marcos, warehouse<br />
manager da Blue Giant Equipment<br />
Corporation, em Mississauga. A supply chain<br />
não fazia parte dos seus planos e uma função a<br />
nível internacional muito menos.<br />
O seu percurso na logística começou<br />
“um pouco por acaso”, pois tinha acabado<br />
de abandonar a licenciatura em Línguas e<br />
Literaturas Modernas na Universidade de<br />
Aveiro, e decidiu procurar trabalho, tendo<br />
começado num armazém de materiais de<br />
construção. Um ano mais tarde ingressou<br />
na área da manufactura e acabou por se<br />
“apaixonar” pelo Lean Manufacturing Kaizen.<br />
Refere que um dos factores decisivos foi<br />
ter um director que “ousou apostar em<br />
mim, motivando-me a aprender e evoluir<br />
diariamente”. Uns anos mais tarde, entrou no<br />
ramo da energia renovável, particularmente<br />
energia eólica e compósitos, iniciando assim<br />
o percurso que o levaria até ao Canadá três<br />
anos e meio mais tarde: “fazer parte do<br />
‘nascimento’ de uma unidade fabril, não uma,<br />
mas duas vezes, deu-me uma bagagem enorme<br />
na medida em que me mostrou as virtudes e<br />
dificuldades de montar uma operação de tais<br />
dimensões”, conta.<br />
Sabemos que mudar pode não ser fácil em<br />
termos de adaptação. A nível pessoal, são<br />
os hábitos e costumes que mudam. A nível<br />
profissional são as relações e a comunicação<br />
que, por vezes, podem levar algum tempo a<br />
consolidar.
60 julho & <strong>Agosto</strong> <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 61<br />
fazer parte do ‘nascimento’ de uma unidade fabril,<br />
não uma, mas duas vezes, deu-me uma bagagem<br />
enorme na medida em que me mostrou as virtudes<br />
e dificuldades de montar uma operação de tais<br />
dimensões<br />
Relativamente à adaptação ao cargo, o<br />
responsável afirma que, dado o seu percurso,<br />
“quando se começa por baixo há sempre<br />
uma curva de aprendizagem bastante<br />
significativa que, embora difícil e exigente, é<br />
extremamente compensadora, uma vez que<br />
permite estabelecer bases sólidas. Aprende-<br />
-se sobretudo ‘fazendo’”. Desta forma, existe<br />
uma maior compreensão sobre as dificuldades<br />
com que as equipas lidam diariamente no<br />
terreno. Revela que apesar de o ritmo ser<br />
“extremamente exigente”, os prazos serem<br />
apertados e os meios, muitas vezes, reduzidos,<br />
o retorno e a satisfação que se obtém desse<br />
percurso e aprendizagem, compensa “os dias<br />
longos e as noites que, por vezes, parecem<br />
intermináveis”. Um dos desafios que se colocou<br />
com a vinda do responsável para o Canadá<br />
foi, dado o seu conhecimento de processos<br />
e produtos, ter de repensar a abordagem em<br />
diversas situações, uma vez que “recriar” o<br />
que já tinha visto/feito antes não seria eficaz.<br />
Depois, sentiu, numa fase inicial, que “de um<br />
modo algo generalizado, não há o mesmo<br />
sentimento de pertença à organização, aquele<br />
‘amor à camisola’, é mais difícil de encontrar,<br />
pelo menos no Sul de Ontário”, conta. Ainda<br />
assim, destaca aspectos positivos, como a<br />
proximidade entre a direcção e os restantes<br />
colaboradores, proporcionando uma melhor<br />
comunicação e uma facilitação do trabalho<br />
em equipa, tornando os objectivos mais fáceis<br />
de alcançar. A multiculturalidade foi ainda<br />
outro aspecto que exigiu alguma adaptação,<br />
“em Portugal a abordagem e interacção com<br />
as equipas é, de um modo generalizado,<br />
ligeiramente mais descomprometida, mais<br />
directa, ao passo que, por cá, o background<br />
de cada um pode implicar a necessidade de<br />
abordagens diferentes com respeito a vários<br />
assuntos”, refere.<br />
Por sua vez, a nível pessoal, impuseram-se<br />
três desafios de adaptação ao país: os horários,<br />
o trânsito e o clima. Numa fase inicial foi difícil<br />
libertar-se de alguns costumes tipicamente<br />
portugueses. “O dia começa e acaba muito mais<br />
cedo por cá”, conta, acrescentando que a hora<br />
de jantar foi algo que o chocou, uma vez que no<br />
Canadá se define entre as 17:30h e as 18:30h.<br />
Neste país há a tendência para madrugar e<br />
recolher a casa mais cedo, visto que o “horário<br />
de escritório” dura das 08:00h às 16:30h. Já<br />
o trânsito, o profissional caracteriza como<br />
“completamente infernal”, pois o volume de<br />
tráfego origina, por vezes, “circular a 20 km/h<br />
ou mesmo ficar preso por vários minutos em<br />
filas de trânsito numa auto-estrada de quatro<br />
faixas em cada sentido”. O clima apresentou-se<br />
como uma dificuldade acrescida, “duas semanas<br />
após a minha chegada, vivi o meu primeiro<br />
nevão que trouxe cerca de 15 centímetros<br />
de neve para, logo de seguida, baixar a<br />
temperatura mínima para os -22 graus celsius”.<br />
Tudo isto para explicar que a transição para um<br />
país e continente diferentes pode mostrar-se<br />
como um desafio difícil, mas não impossível de<br />
superar.<br />
Food Service Logistics<br />
O seu parceiro de negócio<br />
quando se começa por<br />
baixo há sempre uma<br />
curva de aprendizagem<br />
bastante significativa<br />
que, embora difícil e<br />
exigente, é extremamente<br />
compensadora, uma vez que<br />
permite estabelecer bases<br />
sólidas. Aprende-se sobretudo<br />
‘fazendo’<br />
HAVI.COM
62 juLHO & AGOSTO <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 63<br />
E, já que falamos em semelhanças e<br />
diferenças, existem muitos pontos distintos<br />
entre Portugal e o estrangeiro a nível laboral, e<br />
o nosso interlocutor confirma isso. No Canadá,<br />
há quem possa ter a ideia de que “tudo é muito<br />
mais relaxado em Portugal”, mas de acordo<br />
com a experiência profissional de Luís São<br />
Marcos, o cenário é o contrário, “pode estar<br />
relacionado com as empresas por onde passei,<br />
nas quais o ritmo era bastante intenso, e,<br />
diariamente, se faziam milagres no sentido de<br />
atingir os objectivos propostos”, revela. No que<br />
diz respeito a questões legais, o warehouse<br />
manager refere que no estrangeiro, “o ónus é<br />
maior no caso do empregador ao passo que<br />
em Portugal, o sentimento geral é de que são<br />
as entidades patronais quem mais beneficia da<br />
legislação em vigor”. Dá o exemplo do sector<br />
dos transportes em que, no Canadá, a lei é mais<br />
permissiva, de um modo geral, e acredita que<br />
“na Europa se está sujeito a um maior escrutínio<br />
por parte das autoridades competentes e<br />
o grau de rigor, sobretudo no que toca à<br />
documentação, é mais elevado”. E, como já<br />
se referiu, o clima pode mostrar-se como um<br />
grande desafio, pois o Inverno canadiano<br />
implica outro tipo de meios e soluções no que<br />
diz respeito a armazenamento, equipamentos,<br />
custos de manutenção, entre outros aspectos.<br />
foi um período de muita<br />
aprendizagem, em que<br />
acabei completamente<br />
sozinho, responsável<br />
pelo edifício, com a<br />
tarefa de coordenar<br />
a expedição de grande<br />
parte do equipamento<br />
e com um inventário de<br />
produto acabado no valor<br />
de 15 milhões de euros.<br />
Produto esse que teve de<br />
ser novamente sujeito a<br />
controlo de qualidade,<br />
retrabalho e finalmente<br />
expedição<br />
“Não há problemas, apenas<br />
desafios e contratempos”<br />
Luís São Marcos acredita que, de facto, existe<br />
um ‘antes’ e um ‘depois’ do COVID-19, porque<br />
não só os mercados mudaram de forma<br />
abrupta, como as empresas mudaram a forma<br />
de estar no mercado. No que toca à circulação<br />
e interacção de pessoas e bens, alterou-se<br />
muito, “há cerca de três/quatro meses, as<br />
transportadoras tentavam desesperadamente<br />
encontrar motoristas para levar produto para os<br />
EUA, e os motoristas profissionais recusavam-<br />
-se a atravessar a fronteira em direcção a Nova<br />
Iorque”, conta. Tudo isto gerou um grande<br />
impacto na cadeia de abastecimento.<br />
Na Blue Giant Equipment Corporation<br />
sentiu-se inicialmente uma quebra de ritmo,<br />
momento que aproveitaram para se reorganizar<br />
do ponto de vista operacional. “O facto de<br />
fabricarmos essencialmente rampas de carga e<br />
descarga, bem como equipamentos e acessórios<br />
de movimentação de cargas, o que nos torna<br />
um negócio essencial, manteve-nos à ‘tona<br />
de água”, explica. Enquanto que no início<br />
sofreram uma redução nas vendas, actualmente<br />
encontram-se a 90% da capacidade.<br />
Os imprevistos acontecem e, inevitavelmente,<br />
as empresas devem estar minimamente<br />
preparadas para lidar com o risco. Assim, um<br />
dos conselhos que Luís São Marcos dá a quem<br />
pretende ingressar no mundo da supply chain<br />
é: “estar preparado”, acrescentando que “é<br />
necessário planear bem, seja a curto, médio<br />
ou longo prazo, mas, de igual modo, há que<br />
estar preparado para deitar os planos fora e<br />
improvisar”. Quando os imprevistos acontecem,<br />
e todos os planos parecem falhar, é preciso<br />
“manter a calma, respirar fundo e simplesmente<br />
pensar ‘fora da caixa’ e procurar soluções<br />
que frequentemente aparecem onde menos<br />
se espera”, continua. É preciso pensar que<br />
existe sempre uma ou mais soluções para cada<br />
problema, desde que se mantenha a calma, o<br />
bom humor e o espírito auto-crítico. “Costumo<br />
dizer que não há problemas, apenas desafios e<br />
contratempos”.<br />
E foi precisamente através de um desafio<br />
que Luís São Marcos encarou aquele que foi<br />
o momento mais marcante da sua carreira<br />
até ao momento. Após um ano na actual<br />
empresa, recebeu a notícia de que o grupo<br />
iria suspender as operações no país, uma vez<br />
que o governo provincial tinha cessado os<br />
apoios às energias renováveis que são, de<br />
certo modo, um grande tabu no Canadá. “O<br />
choque inicial foi terrível, dado que ainda me<br />
encontrava com visto de trabalho e estava<br />
vinculado única e exclusivamente à empresa,<br />
não podendo, legalmente, trabalhar para outra<br />
entidade”, conta o profissional. O processo de<br />
cessação de actividade e encerramento das<br />
instalações durou cerca de dois anos e “foi um<br />
período de muita aprendizagem, em que acabei<br />
completamente sozinho, responsável pelo
64 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong> SCM Supply Chain Magazine 65<br />
edifício, com a tarefa de coordenar a expedição<br />
de grande parte do equipamento e com um<br />
inventário de produto acabado no valor de 15<br />
milhões de Euros. Produto esse que teve de<br />
ser novamente sujeito a controlo de qualidade,<br />
retrabalho e finalmente expedição”, explica.<br />
Apesar de exaustiva e desgastante, esta foi<br />
uma “aventura extremamente interessante”<br />
que lhe proporcionou um enorme crescimento<br />
profissional e pessoal.<br />
A vida profissional de Luís São Marcos nunca<br />
teria acontecido assim se não fosse a sua<br />
resiliência e empenho. Arriscou, passou por<br />
contratempos, superou os desafios e, de todas<br />
as experiências boas e menos boas, retirou<br />
aprendizagens para a vida. Para si é importante<br />
estar sempre em constante movimento, porque,<br />
“parar é morrer”.<br />
Acredita que é importante estabelecer novas<br />
metas com frequência, encontrar um propósito<br />
para nos superarmos, manter a busca por<br />
novos conhecimentos e soluções e interagir<br />
com pessoas diferentes que nos tragam novos<br />
pontos de vista, “se pensarmos bem, é disso<br />
que trata a supply chain e logística: bens e<br />
serviços em constante movimento, gerando e<br />
adicionando valor”, salienta. Refere ainda que<br />
se nos mantivermos em constante movimento<br />
nas diversas áreas da nossa vida, tudo é mais<br />
fácil, pois não existe o período de “voltar à<br />
acção” porque o mais difícil é começar. Depois<br />
disso, “é uma questão de manter o ritmo e<br />
procurar novos desafios que nos mantenham<br />
motivados. Só temos de colocar a nós próprios<br />
a seguinte questão: Até onde queremos ir<br />
hoje?”. •<br />
se pensarmos bem, é disso que trata a supply chain e logística: bens<br />
e serviços em constante movimento, gerando e adicionando valor
66 julho & agosto <strong>2020</strong><br />
procurement<br />
SCM Supply Chain Magazine 67<br />
Bélgica<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“Um dia em<br />
procurement é sempre<br />
diferente dos outros”<br />
É comum ouvir falar maravilhas da<br />
cerveja e do chocolate belgas, mas e<br />
sobre o procurement? Procurámos ser<br />
diferentes e conhecer que mais de bom<br />
existe neste país e de que raramente se<br />
ouve falar. Rui Cardoso, Head of Global<br />
Manufacturing Procurement da UCB,<br />
chegou recentemente à Bélgica, mas esta é<br />
a sua terceira internacionalização: ao longo<br />
da sua carreira já foi desafiado a ir para<br />
França, Reino Unido e agora Bélgica.<br />
Rui Cardoso tem três mestrados, em<br />
Engenharia e Ciências Materiais, em<br />
Engenharia Industrial e em Administração<br />
de Negócios. O seu primeiro contacto com o<br />
procurement ocorreu já com cerca de 10 anos<br />
de experiência profissional, ligado à parte<br />
estratégica da empresa, como optimização de<br />
custos, melhorias de portefólios de produtos,<br />
e áreas de gestão, negócio e operações, na<br />
altura, na indústria automóvel. Conta que<br />
esta primeira oportunidade começou numa<br />
idade jovem, através de uma proposta de<br />
expatriação que surgiu dentro da mesma<br />
organização, no caso, o Grupo General Motors,<br />
onde esteve em quatro localizações diferentes.<br />
Entretanto voltou a Portugal, durante 10<br />
anos, onde trabalhou na Hovione, também<br />
dentro da área de procurement, numa função<br />
a nível global, antes de se lançar novamente à<br />
aventura.<br />
O segundo contacto de externalização<br />
surgiu através de um Head Hunter, e explica<br />
que “no mercado da área do procurement, pela<br />
exposição e pelo impacto que tem, é normal<br />
que as organizações procurem os recursos<br />
que melhor se adaptam às suas necessidades<br />
dentro dos vários mercados, e os mercados<br />
são globais”.
68 julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine<br />
69<br />
Área transversal e de<br />
aprendizagem contínua<br />
Rui Cardoso considera que a diversidade<br />
dos desafios diários, são sempre diferentes,<br />
o que faz com que a função não tenha uma<br />
determinada monotonia presente noutras<br />
áreas: “os desafios que nos vão aparecendo<br />
ao longo dos tempos são completamente<br />
diferentes, quer eles sejam relacionados com<br />
a própria operação, com pessoas ou com<br />
processos, e acaba por nos criar experiências<br />
e problemas que temos de resolver e que são<br />
bastante diversificados”, acrescentando ainda<br />
que estes são ainda “motivos de crescimento<br />
pessoal e profissional muito grandes”.<br />
O responsável da UCB considera que<br />
o sector do procurement é uma área<br />
que envolve aprendizagem contínua,<br />
e que é muito transversal a todas as<br />
organizações, especialmente quando se<br />
fala da indústria, independentemente de<br />
Os desafios que nos vão<br />
aparecendo ao longo dos tempos<br />
são completamente diferentes,<br />
quer eles sejam relacionados<br />
com a própria operação, com<br />
pessoas ou com processos<br />
A área do procurement<br />
é das poucas funções<br />
que tem um impacto<br />
tão generalizado nas<br />
organizações<br />
qual seja. “Essa transversalidade advém da<br />
ligação muito grande com os mercados”,<br />
explica o responsável, seja ao nível da<br />
operação, planeamentos e supply chain,<br />
desenvolvimento de produto, ou relativamente<br />
às equipas de engenharia.<br />
“Se quisermos realmente ter um impacto<br />
grande temos de trabalhar de montante a<br />
jusante em todo o processo, é importante<br />
perceber muito bem o produto de que<br />
estamos a falar, e perceber os mercados”,<br />
destacando o impacto da componente<br />
técnica, principalmente quando se trabalha<br />
na indústria, pela sua importância e ajuda no<br />
desenvolvimento de competências próprias e<br />
comerciais de cada pessoa.<br />
Atracção pelas compras<br />
“Eu costumo dizer que a área do procurement<br />
é das poucas funções que tem um impacto<br />
tão generalizado nas organizações”, comenta<br />
Rui Cardoso. Explica que isso se sente porque<br />
trabalham ao nível do custo, qualidade e<br />
inovação, e que “são poucas as funções que<br />
dentro de uma organização nos permitem<br />
trabalhar estas três vertentes”.<br />
O responsável defende que quanto mais as<br />
indústrias forem integradas, mais importante<br />
é a área do procurement, “porque mais<br />
IMOVEIS PARA VENDA<br />
influência ele tem na parte da rentabilidade”,<br />
uma área que considera ser “extremamente<br />
desafiante” por permitir crescer com uma<br />
grande panóplia de actividade e impacto<br />
que podem ter na organização, “não nos<br />
circunscrevendo e sermos específicos a uma<br />
determinada actividade”. Rui Cardoso enumera<br />
que podem trabalhar nas áreas de “qualidade,<br />
cotação, sustentabilidade, optimização de<br />
eficiências, produtividade ou custos”, o que<br />
depois gera resultados do ponto de vista<br />
financeiro com impacto quase directo.<br />
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70 julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 71<br />
Destaca que esta área é constituída “por<br />
pessoas com algum tipo de resiliência e de<br />
combatividade”, devido à grande exposição e<br />
impacto que tem nas organizações, “sempre<br />
muito na parte do front-office”, e que isso gera<br />
“uma dinâmica e flexibilidade que é necessário<br />
transportar para as equipas que trabalham na<br />
área do procurement”.<br />
Dar o passo além-fronteiras<br />
Rui Cardoso explica que o passo para a<br />
internacionalização faz parte da “evolução<br />
natural de uma pessoa que queira continuar a<br />
desenvolver a sua carreira”, especialmente no<br />
seio de grandes organizações, e em Portugal<br />
restam poucas alternativas senão olhar para<br />
as oportunidades que “estão quase sempre<br />
fora do país” e abraçá-las. A nível nacional,<br />
comenta que “infelizmente nós não temos<br />
assim tão grandes empresas a operar no país,<br />
e aquelas que temos, os centros de decisão<br />
estão normalmente fora”, pelo que por vezes é<br />
necessário olhar além-fronteiras.<br />
Apesar de tudo, considera ser uma<br />
experiência bastante positiva, tanto a nível<br />
pessoal como profissional, e mesmo para a<br />
família que o acompanha, que a pessoa abrace<br />
estes desafios ‘lá fora’. “Esta é a minha terceira<br />
experiência internacional, e as duas primeiras<br />
acho que foram muito importantes, depois<br />
voltei um bocadinho à realidade de Portugal<br />
durante dez anos, mesmo sendo uma função<br />
a nível global com o centro de decisão em<br />
Portugal”, conta-nos o responsável da UCB.<br />
“Agora a questão da escala é completamente<br />
diferente”, comenta Rui Cardoso, “se nós<br />
queremos crescer e ter funções que são<br />
verdadeiramente globais e com grande escala,<br />
resta-nos poucas possibilidades senão abraçar<br />
estes desafios fora”.<br />
Procurement em contexto de<br />
pandemia<br />
O profissional considera que a pandemia<br />
não trouxe grandes disrupções às cadeias de<br />
abastecimento industriais, e que “estávamos<br />
a viver uma situação, já anterior à própria<br />
pandemia, que estava já a ser um caso de<br />
um mercado turbulento”, destacando a crise<br />
ambiental que estava a decorrer na Ásia.<br />
Considera que “com excepção de um ou<br />
outro produto” ao nível das commodities que<br />
possam ter tido uma maior procura e mesmo<br />
uma insuficiência pontual, a pandemia não foi<br />
realmente disruptora para a indústria a níveis<br />
gerais. Nesses casos excepcionais, aponta<br />
que rapidamente se preencheu esse buraco<br />
na oferta. e “as organizações estão mais<br />
preparadas e falam mais de risco, e de gestão<br />
de risco, do que há alguns anos, e quanto<br />
maior ele for, mais protegidas elas estão do<br />
ponto de vista da sua mitigação”.<br />
“Eu não acho que a questão pandémica<br />
tenha realmente alterado muito esse modus<br />
operandis das indústrias como um todo”,<br />
defende, mas sim que “há uma percepção<br />
diferente por parte do ponto de vista das<br />
organizações para a questão da gestão do<br />
As [organizações] que<br />
estavam preparadas para<br />
isso se calhar passaram<br />
por esta fase com alguma<br />
suavidade<br />
risco e da dependência que continua a ser<br />
elevada em alguns mercados, nomeadamente<br />
da Ásia”.<br />
Rui Cardoso considera que a maior mudança<br />
sentida é a percepção das organizações<br />
relativamente ao risco, e afirma que “as<br />
que estavam preparadas para isso se<br />
calhar passaram por esta fase com alguma<br />
suavidade”. Ao nível da indústria farmacêutica,<br />
e mesmo a generalidade das organizações,<br />
considera que se encontravam preparadas<br />
para responder a este tipo de eventos e para<br />
a gestão do risco, mas que “há-de haver<br />
exemplos de outras indústrias que não<br />
estavam tão preparadas e que tenham tido<br />
outro tipo de problemas”.<br />
Se nós queremos crescer e ter funções que são verdadeiramente<br />
globais e com grande escala, resta-nos poucas possibilidades senão<br />
abraçar estes desafios fora
72 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 73<br />
O que esperar desta função no<br />
futuro?<br />
“Eu acho que a actividade do procurement<br />
vai continuar a crescer, assim como ela tem<br />
crescido ao longo dos anos, para ser um<br />
elemento preponderante nas organizações”,<br />
começa por defender o responsável,<br />
“porque actualmente as actividades que<br />
são totalmente integradas já não existem,<br />
portanto as empresas tendem a focar-se<br />
naquilo que são as actividades core e a<br />
externalizar as não-core”.<br />
Comenta que essas actividades não-core<br />
continuam a ter um peso muito grande,<br />
seja ao nível dos custos, da qualidade ou da<br />
inovação das empresas, “e essas áreas não<br />
podem ser descuradas, e têm de ser equipadas<br />
com recursos que são qualificados, pessoas<br />
que realmente têm uma boa visão, são bons<br />
comunicadores, resilientes e que acabam por<br />
trabalhar em projectos de diversas naturezas,<br />
com stakeholders muito diversificados, e que<br />
acabam por conduzir mudança dentro das<br />
próprias organizações”.<br />
No futuro, antevê que a área continuará a<br />
ser valorizada, e compara o que é hoje com o<br />
que era “há 15 ou 20 anos”, e que agora tem<br />
uma maior importância e já é compreendida<br />
de maneira diferente dentro das empresas,<br />
defendendo que hoje conta com “elementos<br />
novos que trazem muito valor, quer do ponto<br />
de vista da sustentabilidade, quer do ponto<br />
de vista da responsabilidade social, e de tudo<br />
o que rodeia a organização como um todo e<br />
o seu meio ambiente”, actividades que são<br />
geridas pela área de procurement, explica.<br />
“São actividades que mexem no low core<br />
da empresa, mas que na realidade a empresa<br />
necessita delas para continuar a operar e<br />
para continuar a fazer os produtos de forma<br />
diferenciadora e competitiva”, conclui Rui<br />
Cardoso. •<br />
a actividade do procurement vai continuar a crescer,<br />
assim como ela tem crescido ao longo dos anos, para<br />
ser um elemento preponderante nas organizações
74 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 75<br />
logística<br />
França<br />
Texto: Ana Paiva<br />
“A felicidade não está<br />
no ‘ter’, mas sim no<br />
‘alcançar’”<br />
Esta é uma viagem com retorno. Miguel Monteiro, country<br />
supply chain director da L’Oréal passou oito anos em França a<br />
cargo da mesma empresa, mas o ano passado retornou ao país<br />
de origem e está cá desde então. Contudo, durante o tempo<br />
que passou no estrangeiro, o profissional ganhou uma grande<br />
bagagem de aprendizagem que irá partilhar connosco.<br />
“À<br />
medida que me fui apercebendo<br />
do impacto da logística na vida das<br />
pessoas e o quanto podia fazer para<br />
optimizar processos e melhorar o quotidiano<br />
de equipas e clientes, ficou cada vez mais claro<br />
para mim que esta é a área onde queria fazer<br />
carreira”. Foram estes os motivos que elevaram<br />
a vontade de Miguel Monteiro, licenciado em<br />
Engenharia e Gestão Industrial, em pertencer<br />
à área da supply chain. No entanto, quando<br />
se iniciou no mundo do trabalho, a sua<br />
vontade era trabalhar na área de consultoria.<br />
Seguiu esta vontade, tendo começado em<br />
IT, mas rapidamente se apercebeu que não o<br />
entusiasmava como deveria.<br />
A sua jornada na L’Oréal acontece a seguir,<br />
através de um programa de management<br />
trainee e, nos primeiros quatro anos, trabalhou<br />
na área de Distribuição Física e Transporte<br />
em diferentes projectos e com níveis de<br />
responsabilidade crescentes. Em 2011, dáse<br />
a oportunidade de iniciar uma carreira<br />
internacional em França, a cargo da mesma<br />
empresa, onde integrou o departamento<br />
responsável pela gestão e optimização dos<br />
fluxos físicos e de informação entre as fábricas<br />
na Europa, e as diferentes filiais do grupo. Mais<br />
tarde, assumiu o cargo de director de supply<br />
chain dos Novos Mercados, uma unidade de<br />
negócio baseada em Paris que tinha como
76 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 77<br />
missão desenvolver o negócio da empresa no<br />
Norte de África e África Subsariana através<br />
de parcerias com distribuidores locais. Em<br />
Dezembro de 2019 regressou a Portugal<br />
para assumir a Direcção de Operações da<br />
filial portuguesa e, desde Abril, é igualmente<br />
responsável local pelo programa de<br />
sustentabilidade do grupo: ‘L’Oréal For the<br />
Future’.<br />
Quando iniciou a sua carreira na L’Oréal,<br />
queria aplicar todos os conceitos teóricos que<br />
tinha aprendido na faculdade, e no final de<br />
cada dia fazia ‘to-do-lists’ detalhadas para o<br />
dia seguinte, “ao fim de duas semanas já tinha<br />
sido ultrapassado pela realidade do dia-adia<br />
e tive de, rapidamente, aprender a gerir<br />
a complexidade e a estabelecer prioridades”,<br />
conta.<br />
Refere que um dos pontos mais gratificantes<br />
de trabalhar na L’Oréal é o facto de saber que<br />
“seremos ‘atirados para a piscina’ desde muito<br />
cedo”, ou seja, rapidamente percebem ao que<br />
vão e são expostos, desde os primeiros dias, aos<br />
desafios das missões que lhes foram confiadas.<br />
Além disso, desde que chegou à L’Oréal, teve<br />
o privilégio de gerir equipas, algo que acredita<br />
que só se aprende verdadeiramente praticando,<br />
“por muitos livros que se possa ler sobre o<br />
assunto”, salienta. Desde cedo se apercebeu<br />
de que “nada de extraordinário será possível<br />
sem uma equipa motivada, sem empatia e<br />
compreensão pelas diferentes pessoas, e<br />
sem uma relação de confiança com clientes e<br />
fornecedores”, confessa.<br />
“Agilidade é, mais do que<br />
nunca, uma palavra-deordem”<br />
Do ponto de vista profissional, desenvolver<br />
uma carreira internacional na supply chain tem<br />
os seus desafios, e o maior deles é “ter uma<br />
logística operante e proactiva num contexto<br />
em permanente evolução e cada vez mais<br />
instável (revolução digital, Brexit, embargos<br />
políticos, taxas alfandegárias, COVID-19, etc..)”,<br />
segundo Miguel Monteiro. Considera que a<br />
supply chain necessita de estar em constante<br />
adaptação e o mais rápido possível, pois a<br />
“agilidade é, mais do que nunca, uma palavrade-ordem”.<br />
Continua a ser preciso ter processos<br />
sólidos, mas obrigatoriamente mais flexíveis e<br />
com um IT forte que acompanhe a era digital,<br />
uma vez que a evolução da supply chain está<br />
interligada com a evolução digital.<br />
Ainda assim, não existem só desafios. Há<br />
nada de extraordinário será<br />
possível sem uma equipa<br />
motivada, sem empatia e<br />
compreensão pelas diferentes<br />
pessoas, e sem uma relação<br />
de confiança com clientes e<br />
fornecedores<br />
aspectos bastante positivos para o profissional,<br />
como a oportunidade de trabalhar com pessoas<br />
muito diferentes e oriundas de vários cantos do<br />
mundo, “sinto que me tornei uma pessoa mais<br />
aberta e tolerante, e capaz de olhar para um<br />
mesmo problema sob diferentes perspectivas”,<br />
revela.<br />
No que diz respeito à supply chain em<br />
Portugal ou no estrangeiro, o responsável não<br />
acha que os desafios sejam tão distintos assim.<br />
Contudo, há aspectos diferenciadores entre o<br />
nosso país e França, começando pelas pessoas<br />
e pela forma de trabalhar. Apesar de considerar<br />
16227 Toyota Empilhadores TYRO 180x134mm.pdf 1 21/07/<strong>2020</strong> 10:05<br />
os franceses mais fechados e individualistas, e<br />
menos colaborativos num primeiro contacto em<br />
relação aos portugueses, a vertente humana<br />
acaba por ser a mesma em qualquer parte do<br />
mundo. O importante é “ter respeito e fazer um<br />
esforço para conhecer as pessoas para além<br />
do estereótipo que construímos nas primeiras<br />
interacções”. Por outro lado, a comunicação<br />
pode revelar-se um desafio quando não se<br />
domina a língua, e este é um aspecto-chave.<br />
No entanto, “nada como o bom espírito do<br />
‘desenrasca’ português para se fazer entender e<br />
levar a água ao seu moinho”, revela.
78 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 79<br />
sinto que me tornei uma pessoa<br />
mais aberta e tolerante, e capaz<br />
de olhar para um mesmo problema<br />
sob diferentes perspectivas<br />
Durante o tempo que viveu em França alguns<br />
momentos ficaram-lhe na memória, como a sua<br />
passagem pela unidade de negócio dos Novos<br />
Mercados, pelo desafio técnico e humano que<br />
representou, mas igualmente pelo momento da<br />
sua vida pessoal em que ocorreu: quando viria<br />
tornar-se pai. Além disso, coincidiu ainda com<br />
o seu primeiro cargo de direcção, “se até então<br />
o sucesso do meu trabalho dependia sobretudo<br />
de mim e das minhas competências técnicas, a<br />
partir dali passava a ser bem mais importante<br />
a capacidade de delegar na equipa, de dar<br />
voz à supply chain no Comité de Direcção e<br />
de influenciar o negócio e os nossos parceiros<br />
nas tomadas de decisão”, explica. Aquele<br />
foi um momento importante para Miguel<br />
Monteiro também devido à complexidade do<br />
negócio, quer pela variedade de fluxos físicos<br />
que tinham de gerir, quer pelos mais de 60<br />
países/territórios com que trabalhavam, numa<br />
região onde as oportunidades existem, mas<br />
os meios são escassos. “Fazer acontecer com<br />
tão pouco aguça o espírito criativo”, confessa.<br />
Revela ainda que um dos maiores privilégios<br />
que teve na sua carreira até hoje, foi ajudar a<br />
criar e a fazer crescer a filial do grupo na Costa<br />
do Marfim que começou com apenas quatro<br />
pessoas que encaravam as dificuldades com um<br />
extraordinário optimismo e força de vontade,<br />
segundo o profissional.<br />
A nível pessoal foi fundamental ter o apoio<br />
da família, principalmente da sua mulher que<br />
embarcou consigo nesta aventura, pois “juntos<br />
superámos os momentos menos bons e as<br />
dificuldades iniciais”. Ainda assim considera<br />
que “ir para fora e viver numa bolha não é<br />
bom”. Desta forma, foi importante o esforço em<br />
dominar a língua francesa, conhecer a cultura e<br />
os costumes locais, e estar a par da actualidade<br />
política e social do país.<br />
Sempre Conseguir Mais/<br />
Melhor<br />
Quando a pandemia COVID-19 se instalou<br />
no mundo, Miguel Monteiro já se encontrava<br />
em Portugal. Na supply chain da L’Oréal,<br />
a prioridade foi assegurar a continuidade<br />
do negócio e a protecção de todos os<br />
colaboradores, especialmente os que trabalham<br />
nas fábricas ou nos centros logísticos e<br />
não tinham a possibilidade de recorrer<br />
ao teletrabalho. Mobilizaram-se também<br />
para ajudar os seus parceiros (clientes e<br />
fornecedores), e os profissionais de saúde<br />
através de doações de produtos de higiene ou<br />
de gel hidra-alcoólico produzido nas fábricas<br />
em linhas adaptadas para o efeito. Este foi “sem<br />
dúvida, o maior desafio até agora”, revela.<br />
Ainda assim, para o profissional, é excessivo<br />
falar de uma supply chain pré e pós-COVID-19:<br />
“é certo que a pandemia colocou a nu as<br />
deficiências de algumas cadeias logísticas e<br />
o perigo/inconveniente dos países estarem<br />
excessivamente dependentes de terceiros no<br />
que diz respeito ao fornecimento de bens ou<br />
serviços essenciais, mas os grandes desafios<br />
permanecem fundamentalmente os mesmos”.<br />
No caso da L’Oréal, a pandemia veio sobretudo<br />
reforçar e acelerar algumas tendências que<br />
já existiam antes, como o e-commerce ou<br />
as preocupações com a sustentabilidade<br />
ambiental e social da actividade da empresa.<br />
Apesar de a pandemia ter desacelerado a<br />
economia e ter feito muitas empresas recuarem,<br />
aos poucos, a normalidade vai assentando.<br />
Contudo, é importante ter em conta os riscos<br />
e, de acordo com Miguel Monteiro, “o trabalho<br />
na supply chain é interminável e, por cada<br />
objectivo superado surgem logo mais dois ou<br />
três”. Assim, caracteriza-se como uma pessoa<br />
que se bate por sempre conseguir mais/melhor.<br />
“A felicidade não está no ‘ter’, mas sim no<br />
‘alcançar’”, revela, pelo que nesta área, o que<br />
mais adora é o desafio constante e a busca<br />
permanente pelo chegar mais longe e cada vez<br />
mais rápido, o que conjuga bem como o lema<br />
da L’Oréal Portugal: ‘shoot for the stars’.<br />
Para seguir uma carreira na supply chain,<br />
o profissional dá alguns conselhos que são<br />
essenciais. Em primeiro lugar, é importante<br />
demonstrar curiosidade e vontade genuína<br />
de aprender, ser resiliente, ter capacidade<br />
para trabalhar sob pressão, ser humilde para<br />
reconhecer que não se sabe tudo e que nem<br />
tudo está escrito nos livros, e que “alguns<br />
dos melhores professores encontram-se<br />
hierarquicamente abaixo de nós”.<br />
Como um antigo chefe lhe dizia “uma não<br />
decisão é, muitas vezes, pior do que uma má<br />
decisão”, o que significa que, na área da supply<br />
chain é frequente ser-se confrontado com<br />
situações que exigem tomadas de decisão<br />
rápidas, sem que se tenha toda a informação<br />
ao dispor. “Nunca podemos controlar tudo, por<br />
isso, saber usar a melhor informação disponível<br />
no momento, ter espírito crítico e estar bem<br />
informado sobre os diferentes domínios é<br />
essencial”, aconselha. •<br />
o trabalho na supply chain é interminável e, por cada objectivo<br />
superado surgem logo mais dois ou três
80 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 81<br />
procurement<br />
Alemanha<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“eu não<br />
sou um<br />
comprador”<br />
Durante a nossa caminhada pelo mundo,<br />
encontrámos Filipe Ramos, director global<br />
procurement de Data & Analytics da<br />
adidas, um português que veio da área<br />
financeira e que através do seu interesse<br />
pelo Data & Analytics chegou a uma área<br />
que o permitiu pensar estrategicamente.<br />
Procurement foi um desafio que aos poucos<br />
passou a ver como uma oportunidade,<br />
e hoje, após dois anos e meio no cargo<br />
considera ser uma peça vital para as<br />
empresas.<br />
Licenciado em Economia pela Universidade<br />
Nova de Lisboa, Filipe Ramos iniciou<br />
o seu percurso profissional ainda em<br />
Portugal, primeiro na Deloitte e depois na<br />
KPMG, na área financeira. Em 2012 decide<br />
partir à aventura em busca de uma carreira<br />
internacional, no sector do retalho desportivo,<br />
começando pela Puma, mantendo-se nas<br />
finanças numa função de controlling e<br />
reporting, passando mais tarde para a adidas,<br />
onde se encontra de momento.<br />
Está na adidas desde o final de 2014,<br />
onde passou novamente pelos cargos de<br />
responsabilidade financeira e por uma área<br />
de vendas corporativas, ou seja, de análise<br />
de dados, tendências e market research, com<br />
o objectivo de encontrar um posicionamento<br />
estratégico para a marca e para alguns dos<br />
seus produtos. “Esse foi realmente o leverage<br />
que eu tive para me juntar ao procurement”,<br />
revela.<br />
Destaca a importância que a ligação do<br />
procurement à área financeira teve para<br />
ele, com “um certo perfil diverso, mas<br />
também muito relacionado com a parte<br />
financeira, que me permitiu conhecer alguns<br />
sistemas de reporting”. Segundo Filipe<br />
Ramos, o procurement vai muito para além<br />
da negociação, é sim “uma assistência, ou<br />
suporte, para os meus colegas” através do<br />
departamento de Procurement Excellence. “Eu<br />
não sou um comprador”, reforça.
82 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 83<br />
Primeiro contacto com o<br />
procurement<br />
O desafio de se juntar ao departamento de<br />
procurement surgiu em conversa com Paula<br />
Martinez, a anterior vice president global<br />
Procurement e CPO da adidas. “Apercebime<br />
de que era uma pessoa que valorizava a<br />
parte de data & analytics e que queria utilizar<br />
algumas das melhores ferramentas que<br />
existem neste momento no mercado como<br />
forma de alavancar a tomada de decisão em<br />
procurement baseada em dados”, afirma o<br />
responsável da empresa, e explica ainda que<br />
através desse encontro de vontades concorreu<br />
ao cargo e procurou desenvolver carreira<br />
nessa área.<br />
“Não tinha muita experiência nem muito<br />
conhecimento na área de procurement.<br />
Entretanto, necessariamente, comecei a<br />
evoluir, e agora a parte que me falta será<br />
mais ao nível da negociação”, e defende que<br />
apesar de concordar que parcialmente é a<br />
parte crítica, também considera importante ter<br />
o mindset e a predisposição necessários para<br />
encarar o sector, pois “o procurement não se<br />
esgota no momento da negociação, vai muito<br />
para além disso”. Nesse sentido, Filipe Ramos<br />
considera que “cada vez mais caminhamos<br />
para um mundo onde importante é ter o<br />
conhecimento, saber o que se precisa, o que<br />
se pode oferecer e o que se pode contratar e<br />
perceber de que forma se pode ir ao encontro<br />
das necessidades”.<br />
O procurement não se esgota<br />
no momento da negociação, vai<br />
muito para além disso<br />
Apesar de não se sentir inicialmente tentado<br />
pela área de Procurement, explica que<br />
durante a conversa com a então CPO foi crítico<br />
perceber de que forma é que ela tinha vontade<br />
de iniciar uma conversação com os potenciais<br />
fornecedores e gerir o procurement numa<br />
empresa tão grande como a adidas.<br />
“A adaptação correu bastante bem, porque<br />
tive oportunidade de aprender, e trabalho com<br />
colegas que me deram essa oportunidade.<br />
No fim de um ano já me sentia perfeitamente<br />
confortável na minha posição”, recorda.<br />
O que o motiva?<br />
“Sou um fanático por data, por informação”,<br />
explica Filipe Ramos, “e diria que com a<br />
quantidade de informação e os conceitos da<br />
IoT e o Big Data a aparecer, as organizações<br />
têm cada vez mais informação, e mais<br />
dificuldade em lidar com ela”.<br />
Acredita que a adaptação depende de cada<br />
pessoa, mas considera que “não tive grande<br />
receio em me juntar ao procurement porque<br />
achava que tinha o skill set necessário, e<br />
continuo convencido disso”, revelando que<br />
ao longo do tempo foi aprendendo, o que<br />
considera ser um valor acrescentado, tanto<br />
em termos de carreira como do ponto de vista<br />
pessoal.<br />
Após começar a desempenhar a função viu-<br />
-se perante uma realidade que não conhecia,<br />
percebendo que, afinal, o procurement tinha<br />
mais para oferecer do que o que aparentava<br />
de início. “Há aqui uma noção de valor<br />
acrescentado em procurement que eu com<br />
muita franqueza não tinha antes de me juntar<br />
à equipa, mas em que acredito cada vez mais”,<br />
reflecte.<br />
21, 22 e 23 de <strong>Julho</strong> das 10h30 às 12h30<br />
Agora, mais de dois anos e meio depois,<br />
comenta que “continuo a aprender todos os<br />
dias”. Confessa, no entanto, que ainda se<br />
sente atraído pela área de analytics, porque<br />
“requer que a pessoa esteja em constante<br />
desenvolvimento, que vá adquirindo novos<br />
skills”.<br />
“Não sei o que é que poderia ter acontecido<br />
caso se tivesse optado por outro tipo<br />
de caminho. Este tem-me trazido valor<br />
acrescentado”, comenta relativamente às<br />
possibilidades que poderiam ter ocorrido caso<br />
tivesse tomado outras decisões.<br />
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84 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 85<br />
Procurement global<br />
A adidas compra milhares de milhões de<br />
euros em indirect procurement, e o que é<br />
considerado material atinge níveis muito altos,<br />
por vezes acima das dezenas de milhares de<br />
euros. Considera importante diminuir esse<br />
valor, saber consolidar os fornecedores, as<br />
compras e a transparência nos contratos e<br />
nas relações comerciais, exemplificando que<br />
no caso da adidas “um dos grandes desafios<br />
é ter a certeza de que se consegue ter uma<br />
noção completa e abrangente de todo o<br />
enquadramento de uma relação comercial<br />
com os seus fornecedores estratégicos, entre<br />
os quais se encontram algumas das maiores<br />
empresas a nível mundial, como a Google ou a<br />
Amazon.<br />
Considera que ao nível das compras, estas<br />
não devem ser avaliadas apenas pelo valor<br />
monetário envolvido e sim ter em conta a<br />
qualidade ou criticidade do que está a ser<br />
comprado, pois “é muito mais importante o<br />
âmbito do produto e do serviço que estão a<br />
ser comprados do que propriamente o valor<br />
que está envolvido”.<br />
“Temos de considerar o procurement como<br />
sendo um braço forte do espectro financeiro<br />
de uma empresa”, considera Filipe Ramos,<br />
e defende que, em muitas organizações, o<br />
procurement deveria ser considerado um<br />
departamento stand-alone.<br />
“É crítico ter alcance e a capacidade de<br />
agregar a informação que está disponível,<br />
estruturá-la e facultá-la de forma a que a<br />
que os meus colegas que estão directamente<br />
envolvidos na parte negocial tenham acesso<br />
a toda a informação”, comenta ainda o<br />
responsável.<br />
Nesse sentido, Filipe Ramos conta que teve<br />
dois momentos que destaca como sendo<br />
“duas grandes vitórias” na área, relativas à<br />
transparência da informação, que ocorreram<br />
quando implementaram dois sistemas novos<br />
que lhes permitiram actualizar o software<br />
anterior que continha informação menos<br />
actualizada e que como tal não era valorizada<br />
pelos colegas. Com estes dois softwares,<br />
um para a categorização de gastos, que lhes<br />
ofereceu um conjunto de ferramentas que<br />
lhes permite ter mais transparência sobre<br />
o que estão a gastar; e outro relativamente<br />
à visibilidade, para que os colegas tenham<br />
essa informação disponível de forma gráfica,<br />
tendo também lançado uma ferramenta<br />
de visualização de dados, que apesar de<br />
ser relativamente pequena e enquadrada<br />
especificamente para a adidas, permite a todos<br />
os seus colegas verificarem em tempo quase<br />
real todos os investimentos, gastos, procura,<br />
etc.<br />
É muito mais importante o âmbito do produto e do serviço que estão<br />
a ser comprados do que propriamente o valor que está envolvido<br />
Temos de considerar<br />
o procurement como<br />
sendo um braço forte do<br />
espectro financeiro de<br />
uma empresa<br />
O impacto da pandemia<br />
No que diz respeito ao impacto da pandemia,<br />
o departamento adaptou-se para fazer outras<br />
tarefas em que estavam menos expostos,<br />
como evitar gastos desnecessários, fazer<br />
revisão de contratos, priorizar investimentos<br />
sobre outros, fazer uma reverificação<br />
significativa dos seus contratos, entre outros.<br />
A nível pessoal, ajudou no processo, mas<br />
enquanto enabler: “o COVID-19 teve um<br />
impacto menos significativo na forma como eu<br />
trabalho. Ajudou a prioritizar algumas tarefas<br />
sobre outras, mas no sentido em que o foco é<br />
implementar as melhores práticas, situações<br />
momentâneas, ou irregulares, têm menor<br />
relevância no meu dia-a-dia do que possam ter<br />
tido num comprador que tenha entrado num<br />
modo de renegociador”, explica.<br />
Para isso foi necessário compreender em<br />
que estão completamente comprometidos e<br />
o que são valores variáveis que possam ser<br />
renegociados, que tipo de contratos possam<br />
ser adiados, etc.<br />
“Eu acho que não há necessariamente um<br />
pré e um pós-COVID-19, eu acho que é uma<br />
questão extraordinária e regressaremos mais<br />
ou menos à rotina quando o COVID-19 passar”,<br />
comenta, esclarecendo de seguida que “há<br />
demasiados impactos em demasiadas áreas<br />
para que este comentário seja aplicável em<br />
todas, eu estou a falar aqui em termos macroeconómicos<br />
e com gastos de procurement<br />
indirecto”.<br />
Considera, no entanto, que vai haver uma<br />
diferença significativa após o COVID-19,<br />
nomeadamente ao nível das organizações<br />
e da importância que o procurement tinha<br />
para elas, que se revelou mais relevante,<br />
dependendo da maturidade dos seus<br />
departamentos, o que não foi o caso da adidas.<br />
Esta crise provocada pelo COVID-19 criou<br />
uma diminuição da rede e do stream de<br />
receitas em todas as empresas que se viram<br />
com necessidades acrescidas às quais o<br />
procurement sabia responder, nomeadamente<br />
através da necessidade de evitar custos,<br />
renegociar contratos onde possivel e optimizar<br />
termos de pagamento, entre outras. “Tudo isso<br />
fez com que o procurement fosse visto como<br />
uma organização que teve uma capacidade<br />
para ir de encontro àquilo que a empresa mais<br />
necessitava no momento, e isso vai fazer com<br />
que procurement tenha muito mais visibilidade<br />
do que tinha até agora”, antecipa.
86 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 87<br />
Desenvolvemos, implementamos e integramos<br />
software para suportar o seu negócio<br />
Se a parte mais importante de uma empresa é vender, a parte<br />
seguinte é provavelmente a de comprar, porque para vender é<br />
preciso comprar, e é preciso comprar bem<br />
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Uma visão de procurement<br />
“O procurement pretende que se encontre<br />
um bom negócio através de um encontro<br />
de vontades, não necessariamente à custa<br />
de alguém, mas no melhor entendimento<br />
e no ponto intermédio entre a vontade do<br />
comprador e do vendedor”, para que seja feito<br />
de forma sustentável, começa por explicar<br />
Filipe Ramos.<br />
“Do lado dos nossos fornecedores há sempre<br />
um comercial, que à partida sabe vender,<br />
mas habitualmente do lado de cá não está<br />
necessariamente um comprador, está um<br />
utilizador”, que está preocupado com coisas<br />
mais utilitárias como a sua utilização ou que<br />
tipo de ferramenta tem.<br />
Filipe Ramos comenta que “procurement é<br />
uma área de oportunidades”, e tem uma visão<br />
de que esta área “tem funcionado ate agora,<br />
um bocadinho como uma startup dentro<br />
das empresas, é um departamento ao qual<br />
as empresas só recentemente começaram<br />
a atribuir a relevância que tem, e acho que<br />
tem muitíssima”, remata. “Se a parte mais<br />
importante de uma empresa é vender, a parte<br />
seguinte é provavelmente a de comprar,<br />
porque para vender é preciso comprar, e é<br />
preciso comprar bem”, e que é isso que traz<br />
o valor acrescentado. Considera ainda que<br />
as empresas se focavam muito na venda e se<br />
perdiam um pouco nas restantes áreas.<br />
Ao final do dia, conclui que “o que é<br />
importante é dizer que temos a nossa<br />
informação financeira, informação de análise<br />
de suppliers, credit rating, etc. sob controlo, e<br />
é nesta ‘construção desconstruída’ que vamos<br />
encontrando o sentido para criar valor em<br />
procurement, e eu particularmente adoro isso,<br />
e considero estar a fazer a minha parte para<br />
acrescentar valor e para melhorar a empresa<br />
no seu conjunto”. •<br />
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88 <strong>Julho</strong> julho & agosto <strong>2020</strong><br />
logística<br />
SCM Supply Chain Magazine 89<br />
Países Baixos<br />
Texto: Ana Paiva<br />
“Com<br />
Paciência e<br />
Perseverança<br />
muito se<br />
Alcança”<br />
A frase é de Théophile Gautier, escritor<br />
Francês, mas aplica-se perfeitamente<br />
à história de João Neves, global supply<br />
& logistics manager na Grandvision,<br />
que através destas duas características<br />
alcançou os seus objectivos. Directamente<br />
dos Países Baixos para Portugal, o seu<br />
testemunho retrata como tem sido a<br />
experiência de viver neste país a bordo da<br />
supply chain. Já tem algumas histórias para<br />
contar, das quais fazem parte a adaptação<br />
ao novo país, a forma como lidou com o<br />
COVID-19 na sua empresa, e as superações<br />
que marcam o seu trajecto profissional.<br />
“O há cerca de uns 20 anos. Ficava<br />
primeiro impulso de curiosidade foi<br />
quando estava na indústria automóvel,<br />
curioso com a gestão JIT dos nossos clientes<br />
(fabricantes de carros) e pensava sempre o<br />
quão importante a logística era para o sucesso<br />
de uma fábrica com linhas de produção JIT”,<br />
conta João Neves. Foi assim que suscitou o<br />
interesse pela área da supply chain e, a partir<br />
daí, nunca mais parou. Todos os caminhos da<br />
sua carreira vão dar aos Países Baixos, país<br />
onde desempenha o cargo de global supply &<br />
logistics manager, na Grandvision.<br />
Todas as histórias começam pelo início, e<br />
esta não é excepção. João Neves licenciouse<br />
em Engenharia de Produção, no ramo de<br />
Gestão Industrial e, após isso, iniciou a sua<br />
carreira na indústria de polímeros e, mais tarde,<br />
de automóveis onde desempenhou funções<br />
relacionadas com a gestão e supervisão da<br />
produção. Depois de ter concluído a pósgraduação<br />
em Gestão da Distribuição e<br />
Logística, o profissional seguiu para a Makro<br />
Cash&Carry, onde as suas responsabilidades<br />
integravam uma grande vertente de logística,<br />
mas abrangiam toda a gestão da cadeia de<br />
abastecimento. Foi nesta empresa que João<br />
Neves assumiu, pela primeira vez, funções<br />
de direcção de um departamento. Mais tarde,<br />
ingressou numa “viagem pelo mundo do<br />
retalho” sempre com funções na mesma área,<br />
tendo passado primeiro pela Fnac e depois
90 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 91<br />
pela Grandvision Portugal, empresa que detém<br />
MultiOpticas, GrandOptical e Solaris. Após três<br />
anos na filial portuguesa, mudou-se para a sede<br />
da empresa nos Países Baixos onde permanece<br />
enquanto global supply & logistics manager.<br />
Para o profissional, a adaptação à nova<br />
realidade noutro país não foi fácil, “senti<br />
dificuldades, pois tudo era novo: o espaço físico,<br />
a equipa, a chefia, os colegas… e o facto de<br />
trabalhar e viver 24 horas sempre a falar uma<br />
língua que não a nativa, não ajuda em nada.<br />
Felizmente nos Países Baixos toda a gente fala<br />
inglês”, conta. Ainda por cima, no momento<br />
em que a integração já estava a tornar-se<br />
consolidada, quando já memorizava caras e<br />
nomes, teve de passar duas semanas na China<br />
e “quando voltei, parecia que tinha começado<br />
naquele dia e não semanas antes”, revela. No<br />
entanto, tudo acabou por melhorar. No final<br />
do primeiro mês já se sentia perfeitamente<br />
adaptado às pessoas, ainda que não com a<br />
confiança necessária nos processos, uma vez<br />
que tudo era explicado através de inúmeros<br />
acrónimos. “Lembro-me que saía de cada<br />
reunião com listas deles e que, posteriormente,<br />
tentava esclarecer, mas não estava a funcionar.<br />
Então decidi que iria passar a interromper e<br />
perguntar o que cada um queria dizer. Criavamse<br />
sempre momentos engraçados, quer fosse<br />
durante reuniões ou em conversas mais<br />
informais”, relembra.<br />
A nível pessoal revela que está a ser uma<br />
“experiência muito gratificante”. Considera aos<br />
Países Baixos um “país maravilhoso” onde tudo<br />
funciona como está definido. Conta que todos<br />
os dias sai de casa e reconhece onde é investido<br />
o dinheiro que paga de impostos, o que “dá<br />
tranquilidade e gera uma disponibilidade<br />
mental para que o cidadão se possa centrar<br />
em si, na família, amigos e trabalho. Ninguém<br />
precisa de se preocupar com os outros, pois<br />
todos cumprem com a sua parte e com o que<br />
deles se espera”.<br />
Um dos factores que tornou a experiência de<br />
construir uma carreira internacional na supply<br />
chain ainda mais positiva para João Neves, foi<br />
o facto de estar baseado na sede da empresa,<br />
uma vez que está em contacto diário com mais<br />
de 50 nacionalidades e tem a oportunidade de<br />
conhecer, todos os dias, algo mais sobre um<br />
país diferente, seja a nível cultural ou social.<br />
O convívio inter-cultural está ainda a ajudar o<br />
profissional a “perceber melhor as prioridades e<br />
objecções (muitas vezes, na prática, são apenas<br />
aspectos culturais) dos meus ‘clientes internos’,<br />
que são os colegas locais baseados nos mais de<br />
40 países de destino das nossas mercadorias”,<br />
refere. Ainda assim, têm existido alguns<br />
desafios nesta viagem. O maior, até agora, tem<br />
sido a escala e o impacto das decisões, “quando<br />
se está numa organização local, as decisões<br />
têm todas o seu impacto localmente, mas numa<br />
escala que pode ser sempre compensada pelos<br />
restantes países, caso não tenha sido a melhor<br />
decisão, quando se está numa função global<br />
a escala é ‘N’ vezes superior e o impacto será<br />
em ‘N’ países. Portanto se for uma má decisão,<br />
dificilmente poderá ser compensada”, explica.<br />
No entanto, o profissional caracteriza-se como<br />
uma pessoa que é sempre capaz de mais,<br />
portanto, é nas adversidades que consegue<br />
dar a volta por cima, tornando os desafios em<br />
conquistas.<br />
Em relação a Portugal, o global supply &<br />
logistics manager aponta várias diferenças,<br />
embora considere os portugueses como<br />
“excelentes profissionais”, independentemente<br />
do país onde estão inseridos. No entanto, no<br />
que diz respeito à capacidade de gestão dos<br />
assuntos diários e à capacidade de decisão,<br />
seja a que nível da organização for, já não<br />
tem a mesma opinião, “falta escala ao país,<br />
logo, torna-nos demasiado detalhistas em<br />
Portugal mesmo quando não devemos, menos<br />
pragmáticos e, por consequência, pouco<br />
eficientes ao alocar tempo às prioridades e<br />
ao exigir/apresentar resultados e soluções, o<br />
que depois gera desmotivação, ineficiências<br />
e demasiadas horas nos locais de trabalho”.<br />
No que toca à gestão do capital humano, nos<br />
Países Baixos, o responsável confessa que<br />
“tem sido uma agradável surpresa ver como os<br />
profissionais de qualquer ramo têm um enorme<br />
perceber melhor as<br />
prioridades e objecções<br />
(muitas vezes, na prática, são<br />
apenas aspectos culturais)<br />
dos meus ‘clientes internos’,<br />
que são os colegas locais<br />
baseados nos mais de 40<br />
países de destino das nossas<br />
mercadorias<br />
suporte por parte das suas entidades patronais<br />
e, por norma, existe um modelo meritocrático”.<br />
Quer seja em Portugal, nos Países Baixos ou<br />
em qualquer outra parte do mundo, João Neves<br />
deixa um conselho para quem pretende fazer<br />
da supply chain a sua profissão, que passa por<br />
se iniciarem, sempre que possível, numa área<br />
operacional, pois essas bases serão necessárias<br />
e, simultaneamente, serão o melhor suporte<br />
da carreira. “Sem experimentar e entender as<br />
operações, tudo se torna mais difícil”, remata.
92 <strong>Julho</strong> & agosto <strong>2020</strong><br />
SCM Supply Chain Magazine 93<br />
carreira<br />
Sem experimentar e entender as<br />
operações, tudo se torna mais difícil<br />
O que mudará no pós-COVID-19?<br />
O impacto do COVID-19 não deixou ninguém<br />
indiferente e muitas empresas sofreram<br />
grandes recuos económicos. O profissional<br />
acredita que agora sim, as empresas se<br />
irão focar em duas grandes áreas a nível<br />
estratégico. Em primeiro lugar no Business<br />
Continuity Plan. Algumas delas já tinham<br />
esta estratégia desenhada, embora nunca<br />
numa perspectiva testada, ou seja, achavam<br />
que nunca a iriam utilizar. Em segundo lugar<br />
o desenho de sistemas de Double Sourcing<br />
que, provavelmente, nunca serão para<br />
100% da sua capacidade, pois, com algumas<br />
excepções, num novo cenário de pandemia,<br />
o consumo reduz, mas João Neves acredita<br />
que para as suas matérias-primas e produtos<br />
mais críticos, este tópico será uma realidade.<br />
Assim, “a forma como se desenharão as cadeias<br />
de abastecimento para suportar aqueles<br />
objectivos estratégicos será dos desafios mais<br />
extraordinários que os profissionais deste<br />
ramo terão pela frente”, afirma. Já a nível<br />
operacional, mais do que uma mudança foi a<br />
confirmação de que a omnicanalidade passou a<br />
ser um “commodity” no mundo do retalho e o<br />
garante que fornecedores e as suas indústrias<br />
continuam com portas abertas num novo<br />
cenário de crise sanitária, de acordo com o<br />
global supply & logistics manager.<br />
Para João Neves houve alguns desafios<br />
durante a fase mais crítica do COVID-19, uma<br />
vez que nunca tinha gerido uma equipa à<br />
distância, bem como a relação com os seus<br />
pares, chefia, departamentos de suporte e<br />
parceiros de negócio. A principal adversidade<br />
foi a gestão do tempo e da agenda profissional,<br />
“tudo passou a demorar mais tempo, todos os<br />
assuntos passaram a ter que ser preparados<br />
com muito mais detalhe do que anteriormente,<br />
pois a discussão, negociação e alinhamento<br />
tornou-se mais rígida devido à distância física e<br />
ao facto de, nem sempre, o nosso interlocutor<br />
estar mentalmente disponível, uma vez que<br />
o espaço físico de trabalho passou a ser<br />
partilhado com a família”, explica.<br />
Apesar de não ter sido fácil para ninguém,<br />
este fica marcado como um desafio que não<br />
só a Grandvision, mas muitas outras tiveram<br />
de ultrapassar. Umas melhor que outras. Mas,<br />
de certo, que ficará na memória de João Neves<br />
como um dos períodos mais desafiantes da sua<br />
carreira. Ainda assim, destaca outros que, por<br />
diferentes motivos, estão também marcados<br />
no seu percurso como conquistas. Um deles é o<br />
projecto de implementação da omnicanalidade<br />
na Fnac e, o mais recente, um projecto na<br />
empresa actual, onde transformaram a fábrica<br />
e o centro logístico de Vila Nova de Gaia num<br />
Regional Fulfillment Hub para as lojas de vários<br />
países do Grupo Grandvision. “Este último, sem<br />
dúvida, que foi uma conquista pessoal que<br />
sem superação pessoal e de toda a equipa de<br />
projecto, nunca teria acontecido”, confessa João<br />
Neves. •<br />
Profissional<br />
procura<br />
projecto com<br />
impacto para<br />
uma relação<br />
intensa<br />
Emprego. Profissão. Carreira. Termos<br />
que nos habituar a considerar sagrados e<br />
imutáveis como uma dimensão essencial<br />
da nossa vida. Que, em si, encerram<br />
significados e realidades consolidados<br />
nos últimos 2 séculos, com a expansão<br />
global da primeira revolução industrial.<br />
Significados estes que se podem sintetizar<br />
numa frase simples: ter uma profissão<br />
definida, que vai sendo desenvolvida a<br />
tempo inteiro numa organização, com<br />
horário e salário regulados. Palavras<br />
que, porventura, não terão nas próximas<br />
décadas o significado que (ainda) têm<br />
hoje para a grande maioria da população…<br />
e que, provavelmente, correm para a<br />
extinção.<br />
A revolução no<br />
trabalho<br />
Carlos Sezões, Partner da Stanton Chase Portugal<br />
Inúmeros fenómenos, uns mais estruturantes,<br />
outros mais conjunturais, estão a erodir<br />
este paradigma atrás descrito. Da revolução<br />
tecnológica (digitalização e robotização)<br />
em curso à mudança sócio-cultural (novas<br />
gerações, novos valores), da globalização à<br />
crescente exposição e transparência da nossa<br />
sociedade, da valorização da responsabilidade<br />
social e ambiental à procura de modelos de<br />
trabalho que valorizem a dimensão pessoal<br />
e familiar. Ou das pandemias que aceleram a<br />
adoção do teletrabalho à “horizontalização”<br />
das empresas, cada vez menos carentes de<br />
chefias intermédias, que pouco adicionam à<br />
autonomia crescente dos profissionais.<br />
Emprego? Já não é, como sabemos, para<br />
toda a vida. Nem é uniforme, no clássico
94 julho & agosto <strong>2020</strong><br />
modelo das “9 às 6”. Múltiplas modalidades<br />
materializam diferentes afectações de tempo,<br />
regularidade, presença física ou relação<br />
contratual. Do freelancer ao trabalhador<br />
temporário, sazonal ou por projecto, tanta<br />
diversidade se acrescentou ao venerável<br />
conceito de emprego.<br />
Profissão? Já não é, desde há muito, uma<br />
sequência lógica da formação inicial, técnica<br />
ou superior. Nem imutável. Nem estanque.<br />
Cada vez mais indefinível, com o incremento<br />
de competências, saberes, responsabilidades,<br />
tarefas e enquadramentos organizacionais em<br />
que estamos inseridos.<br />
Carreira? Já não é linear, ascendente,<br />
previsível e definida no tempo. “Fazer carreira”,<br />
ainda muito em voga, será uma expressão em<br />
declínio.<br />
O que fica? O que virá? Sem veleidades<br />
de profeta, vejo as tendências globais a<br />
afunilarem num novo mundo do trabalho.<br />
Em que empresas e outras organizações<br />
procurarão comunicar a sua razão de existir<br />
e os seus objectivos e impactos – e que<br />
competências necessitam para os produzir.<br />
E atrairão talento, para colaborações mais<br />
longas ou mais pontuais, com outputs bem<br />
definidos.<br />
Em que cidadãos afectarão os seus<br />
recursos, tempo, energia e talento para<br />
prover determinados bens sociais, no seio<br />
de uma organização ou “a solo”. Aqui ou<br />
do outro lado do mundo. Procurando ter<br />
impacto e realizações pessoais com o seu<br />
trabalho. Aprendendo ao máximo. Sendo<br />
remunerados financeiramente por isso. Mais<br />
que um emprego, procurarão ter determinados<br />
skillsets – portefólios de conhecimentos e<br />
competências - nos quais tenham interesse<br />
intelectual e envolvimento emocional e, claro,<br />
que sejam relevantes. Acrescentando valor<br />
a uma “força de trabalho” maioritariamente<br />
constituída por máquinas e algoritmos.<br />
Sim, os melhores projectos “profissionais”<br />
serão intensos e impactantes, provavelmente<br />
limitados no tempo.<br />
Estamos apenas no início… a revolução no<br />
trabalho segue dentro de momentos. •<br />
Carreira? Já não é linear,<br />
ascendente,<br />
previsível e definida no tempo.<br />
“Fazer carreira”,<br />
ainda muito em voga, será uma<br />
expressão em<br />
declínio.
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