Revista Analytica 109
Revista Analytica Edição 109
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Com tantas variações, é possível<br />
tratar uma extensa lista de<br />
alimentos pela aplicação de fagos<br />
ou suas enzimas. Leite UHT,<br />
queijos, tofu, alface e outros vegetais,<br />
salsichas, carnes e derivados<br />
cárneos, pescado e frutos do<br />
mar, grãos e cereais e alimentos<br />
prontos para o consumo são alguns<br />
exemplos. Existe ainda a<br />
possibilidade muito interessante<br />
de os fagos serem aspergidos em<br />
ambientes e superfícies da indústria,<br />
atuando como agentes de<br />
sanitização, inclusive sobre biofilmes<br />
bacterianos. Alguns fagos<br />
secretam enzimas capazes de degradar<br />
o material polissacarídico<br />
que se forma ao redor as células<br />
num biofilme, enquanto suas enzimas<br />
líticas são capazes de destruir<br />
as bactérias protegidas por<br />
essa matriz.<br />
Certo, podemos utilizar vírus<br />
para controlar bactérias indesejadas.<br />
Mas...isso é seguro?<br />
Se, por um lado, a aplicação de<br />
bacteriófagos é uma ferramenta<br />
biotecnológica com um grande<br />
potencial a ser explorado, seu<br />
uso levanta preocupações do<br />
público consumidor e da indústria<br />
de alimentos.<br />
Do ponto de vista tecnológico,<br />
ter na planta de uma indústria um<br />
fago que invada células bacterianas<br />
utilizadas para produção de<br />
determinados alimentos, poderia<br />
ser motivo de preocupação. Para<br />
a indústria de derivados lácteos e<br />
cárneos fermentados, por exemplo,<br />
ter um exército de fagos a eliminar<br />
Lactobacillus, Streptococcus e outros<br />
gêneros de bactérias empregados<br />
na fermentação de iogurtes,<br />
queijos e salames representaria<br />
uma ameaça à produção. De fato,<br />
alguns fagos podem invadir células<br />
de bactérias importantes para<br />
o processamento de alimentos e<br />
causar um grande problema. Então...como<br />
a indústria se certifica<br />
de que esses fagos não causariam<br />
danos às suas culturas fermentadoras?<br />
Essa questão é contornada<br />
pela utilização de fagos específicos,<br />
capazes de invadir somente as<br />
células da bactéria alvo, no caso,<br />
uma determinada espécie patogênica<br />
ou deteriorante, como as salmonelas,<br />
por exemplo. Assim, as<br />
culturas fermentadoras estariam a<br />
salvo. Isso ocorre porque o mecanismo<br />
de invasão dos fagos à uma<br />
célula bacteriana depende de um<br />
sistema que funciona de maneira<br />
similar ao sistema “chave-fechadura”.<br />
Só invade uma determinada<br />
célula, o vírus quem possuir mecanismos<br />
de adesão e invasão adequados<br />
àquela bactéria, de forma<br />
que um fago não consegue invadir<br />
todos os tipos de bactérias. Em<br />
geral, bacteriófagos de aplicação<br />
em alimentos são altamente específicos.<br />
Assim, selecionando-se<br />
o fago correto, o ataque só ocorre<br />
às bactérias patogênicas e deteriorantes<br />
de interesse.<br />
No entanto, esta não é a questão<br />
mais polêmica em relação ao uso<br />
de bacteriófagos. O ponto mais<br />
importante sobre a inclusão de<br />
vírus em produtos destinados ao<br />
consumo humano, em termos de<br />
segurança e confiabilidade, é justamente<br />
o fato de que eles poderiam<br />
ser, em algumas das formas<br />
de aplicação, ingeridos juntamente<br />
com o alimento, o que pode<br />
causar estranheza por parte do<br />
consumidor. No entanto, o consumo<br />
de fagos pode ser seguro até<br />
o momento. Como a sua especificidade<br />
garante que possam atacar<br />
somente bactérias específicas, a<br />
infecção de células humanas é improvável,<br />
já que os bacteriófagos<br />
não conseguem invadi-las. Além<br />
disso, estudos clínicos demons-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong> | Out/Nov 2020<br />
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