Luzes da Civilização Cristã Entusiasmo e alegria pela alma guerreira Na Idade Média se entendeu que na sociedade temporal a mais alta carreira era a militar. Exatamente por causa do princípio enunciado por Nosso Senhor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.” Por essa razão, as mais belas guerras da História foram aquelas que tomaram todo o seu sentido no ideal religioso. Anação alemã é tão militarista que o estilo militar invadiu a vida civil. Os estudantes tinham várias associações, muitas delas fundadas há séculos. Cada um possuía um uniforme próprio e usava uma espada para esgrima, que era o esporte preferido por eles. O que a alma militar tem de mais belo Vemos em uma das fotografias uma cerimônia na corte. O Imperador fardado, de pé sobre o estrado junto a dois tronos com um dossel. De tal maneira o feitio militar impregnou a vida alemã que até as velhas senhoras são tesas e hir- Anton von Werner (CC3.0) Inauguração do Reichstag no Salão Branco do Palácio de Berlim por Guilherme II (25 de junho de 1888) - Museu Histórico Alemão 32
tas como dragão de cavalaria. A Imperatriz, pessoa aliás muito afável e simpática, tem um pouco a postura de uma “generala”. Mas tudo se passava de um modo meio militaresco na corte alemã, sempre impregnada pela ideia de que o valor supremo da existência humana é a luta, portanto a guerra, a imolação da vida ou a destruição de vidas. Na música militar alemã as notas saem como se fossem batalhões, arrasando no ar um inimigo imaginário. Silêncios preguiçosos se rasgam diante deles, e vão batendo, cutucando, combatendo, de maneira a se ter a impressão de que acabam tomando a cidadela. É a descrição magnífica de um combate ou a sonorização de uma parada. Quando determinados instrumentos dão uma nota, tem-se a sensação de estar vendo o passo do soldado alemão, moverem-se capacetes, elmos, estandartes... É toda a epopeia da Alemanha imperial que passa diante de nós. Por detrás do aparato militar muito bonito e da sonorização que combina tanto com esse aparato, percebemos algo mais belo: é a alma militar. O que esta, por sua vez, tem de mais belo é a decisão decorrente da profundidade da alma humana de entregar a vida por um determinado ideal. Não é entregar a vida deixando-se matar, mas é destruindo algo que não tem o direito de existir, organizando contra um ilegítimo agressor uma força metódica, implacável e disposta a tudo. A vida humana não é o valor supremo O bonito, então, não é só esta resolução, mas, acima dela, o idealismo. Se algo fere o Direito, a Lei, a Moral, não tem a faculdade de ser; e em nome da Lei, do Direito e da Moral é preciso tomar a iniciativa de lutar contra isso. Trata-se de uma resolução tomada à luz de um princípio superior, determinando no homem uma verdadeira sublevação no sentido etimológico da palavra, um surto de toda a personalidade, uma mobilização completa. Não uma mobilização sem distância psíquica, neurótica, de um gagá que toma um remédio qualquer para ficar meio alucinado e vai como uma besta se meter em cima das baionetas dos outros, mas de um homem inteiramente lúcido, senhor de si, que apela para sua própria personalidade e a coloca na luta. E o faz numa espécie de ato de holocausto, que é o seguinte: Se eu devo morrer, a minha vida teve pleno sentido porque me realizei por inteiro. O homem se realiza por inteiro quando se dá a algo que vale completamente. Então ele chegou à sua própria plenitude. Sobretudo, quando se dá totalmente com Jesus indicando o caminho aos cruzados - Igreja Sainte- Ségolène, Metz, França o risco de, após a guerra, ficar estropiado, cego, arrastar-se como um inválido, às vezes um pobre mendigo, ou morrer na flor da idade, tornar-se prisioneiro, ser maltratado. Seja qual for o risco, ele resolveu e fará. Executa e sofre, mas nesse sofrimento o homem se une com seu ideal e, por assim dizer, se realiza com seu ideal. Isto, no fundo, tem o sentido seguinte: a vida humana não é o valor supremo. A comodidade, a prosperidade, o conforto, o próprio prazer nobre e elevado de ter uma cultura, uma instrução, a familiaridade com altas cogitações do espírito, nada disto constitui o fim da vida. Sua finalidade consiste em algo que é mais alto do que a vida: o Direito considerado em si, a Moral considerada em si, o Bem considerado em si, em holocausto do qual o homem se imola. A mais perfeita das guerras em todos os tempos foi a das Cruzadas Mas, por sua vez, o que é o Direito, o Bem, a Moral considerados em si? A Doutrina Católica ensina: só existe um Deus supremo, perfeito, santíssimo, Criador de todas as coisas, a cuja Lei todos devem obedecer, Ele é o Bem, o Direito. Deus premia o herói e castiga o injusto agressor ou o poltrão que não soube resistir a este último. Quer dizer, ou esses princípios se personificam num Ser espiritual vivo, perfeito e infinito, ou não têm sentido. Flávio Lourenço 33