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tas como dragão de cavalaria. A<br />
Imperatriz, pessoa aliás muito<br />
afável e simpática, tem um pouco<br />
a postura de uma “generala”.<br />
Mas tudo se passava de um<br />
modo meio militaresco na corte<br />
alemã, sempre impregnada pela<br />
ideia de que o valor supremo da<br />
existência humana é a luta, portanto<br />
a guerra, a imolação da vida ou a<br />
destruição de vidas.<br />
Na música militar alemã as notas saem<br />
como se fossem batalhões, arrasando no ar<br />
um inimigo imaginário. Silêncios preguiçosos se rasgam<br />
diante deles, e vão batendo, cutucando, combatendo,<br />
de maneira a se ter a impressão de que acabam<br />
tomando a cidadela. É a descrição magnífica de<br />
um combate ou a sonorização de uma parada. Quando<br />
determinados instrumentos dão uma nota, tem-se<br />
a sensação de estar vendo o passo do soldado alemão,<br />
moverem-se capacetes, elmos, estandartes... É toda a epopeia<br />
da Alemanha imperial que passa diante de nós.<br />
Por detrás do aparato militar muito bonito e da sonorização<br />
que combina tanto com esse aparato, percebemos<br />
algo mais belo: é a alma militar. O que esta, por sua<br />
vez, tem de mais belo é a decisão decorrente da profundidade<br />
da alma humana de entregar a vida por um determinado<br />
ideal. Não é entregar a vida deixando-se matar,<br />
mas é destruindo algo que não tem o direito de existir,<br />
organizando contra um ilegítimo agressor uma força<br />
metódica, implacável e disposta a tudo.<br />
A vida humana não é o valor supremo<br />
O bonito, então, não é só esta resolução, mas, acima<br />
dela, o idealismo. Se algo fere o Direito, a Lei, a Moral,<br />
não tem a faculdade de ser; e em nome da Lei, do Direito e<br />
da Moral é preciso tomar a iniciativa de lutar contra isso.<br />
Trata-se de uma resolução tomada à luz de um princípio<br />
superior, determinando no homem uma verdadeira<br />
sublevação no sentido etimológico da palavra, um surto<br />
de toda a personalidade, uma mobilização completa.<br />
Não uma mobilização sem distância psíquica, neurótica,<br />
de um gagá que toma um remédio qualquer para ficar<br />
meio alucinado e vai como uma besta se meter em cima<br />
das baionetas dos outros, mas de um homem inteiramente<br />
lúcido, senhor de si, que apela para sua própria personalidade<br />
e a coloca na luta. E o faz numa espécie de ato de<br />
holocausto, que é o seguinte: Se eu devo morrer, a minha<br />
vida teve pleno sentido porque me realizei por inteiro.<br />
O homem se realiza por inteiro quando se dá a algo<br />
que vale completamente. Então ele chegou à sua própria<br />
plenitude. Sobretudo, quando se dá totalmente com<br />
Jesus indicando o caminho<br />
aos cruzados - Igreja Sainte-<br />
Ségolène, Metz, França<br />
o risco de, após a guerra, ficar estropiado, cego, arrastar-se<br />
como um inválido, às vezes um pobre mendigo, ou<br />
morrer na flor da idade, tornar-se prisioneiro, ser maltratado.<br />
Seja qual for o risco, ele resolveu e fará. Executa<br />
e sofre, mas nesse sofrimento o homem se une com<br />
seu ideal e, por assim dizer, se realiza com seu ideal.<br />
Isto, no fundo, tem o sentido seguinte: a vida humana<br />
não é o valor supremo. A comodidade, a prosperidade,<br />
o conforto, o próprio prazer nobre e elevado de ter<br />
uma cultura, uma instrução, a familiaridade com altas<br />
cogitações do espírito, nada disto constitui o fim da vida.<br />
Sua finalidade consiste em algo que é mais alto do que a<br />
vida: o Direito considerado em si, a Moral considerada<br />
em si, o Bem considerado em si, em holocausto do qual o<br />
homem se imola.<br />
A mais perfeita das guerras em todos<br />
os tempos foi a das Cruzadas<br />
Mas, por sua vez, o que é o Direito, o Bem, a Moral<br />
considerados em si? A Doutrina Católica ensina: só<br />
existe um Deus supremo, perfeito, santíssimo, Criador<br />
de todas as coisas, a cuja Lei todos devem obedecer, Ele<br />
é o Bem, o Direito. Deus premia o herói e castiga o injusto<br />
agressor ou o poltrão que não soube resistir a este<br />
último. Quer dizer, ou esses princípios se personificam<br />
num Ser espiritual vivo, perfeito e infinito, ou não<br />
têm sentido.<br />
Flávio Lourenço<br />
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