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Leoadec (CC3.0)<br />
ros enormes chamados seriemas.<br />
São uns monstros! Eu vi aquela<br />
quantidade de seriemas e perguntei<br />
a mamãe:<br />
— Mãezinha, o que são<br />
aqueles bichos ali?<br />
Ela, sem perceber que eu<br />
os estava achando horrorosos,<br />
disse:<br />
— Seriema.<br />
E eu, para amuá-la, disse:<br />
— Olha lá o que o Brasil<br />
produz... é a terra da seriema.<br />
Ela não gostava disso. Achava<br />
que o Brasil devia ser tratado com<br />
todo respeito.<br />
Dois polos de seu espírito:<br />
Portugal e França<br />
Não obstante, os dois polos do espírito<br />
dela eram Portugal e França.<br />
Ela gostava muito de contar que a<br />
família dela era originária do Porto,<br />
quais foram os acontecimentos dramáticos<br />
que levaram seu antepassado<br />
português a fugir para o Brasil,<br />
em que condições se deu a fuga, como<br />
ele se instalou em São Paulo...<br />
Minha mãe se comprazia muito<br />
em mostrar essa ligação com Portugal.<br />
Certa ocasião, ela conheceu um<br />
padre que veio perguntar-lhe se era<br />
de tal família do Porto. Ela disse:<br />
— Muito remotamente, sim. Um<br />
de meus antepassados descende dessa<br />
família.<br />
<strong>Dr</strong>. João Paulo,<br />
pai de <strong>Plinio</strong><br />
— Ah, porque é<br />
uma família muito<br />
respeitada no<br />
Porto, eu conheço<br />
muito.<br />
Então minha<br />
mãe mandou lembranças<br />
para eles.<br />
Dessas coisas assim<br />
ela gostava<br />
muito.<br />
O outro polo – não é preciso dizer<br />
que especialissimamente – era la<br />
douce France.<br />
Cirurgião de fama mundial<br />
e médico do Kaiser<br />
Mas para verem como era o patriotismo<br />
de Dona Lucilia, conto o<br />
seguinte episódio.<br />
<strong>Plinio</strong> e sua irmã Rosée em Paris, em 1912<br />
Quando minha mãe tinha pouco<br />
mais de trinta anos, esteve doentíssima.<br />
Os médicos em São Paulo disseram-lhe<br />
que ela precisava extrair a<br />
vesícula biliar. Mas até aquele momento<br />
não se fazia este tipo de operação<br />
no Brasil. Havia um grande<br />
médico alemão, <strong>Dr</strong>. Bier, cirurgião<br />
de fama mundial, que tinha extraído<br />
a vesícula biliar de uma senhora<br />
da Índia. Foi o primeiro caso na História.<br />
Dona Lucilia seria o segundo<br />
caso a submeter-se a esse risco. Mas<br />
não havendo outro remédio, ela quis<br />
se dispor.<br />
Foi para a Europa e submeteu-<br />
-se à cirurgia. O médico ia todos os<br />
dias vê-la; gostava muito de conversar<br />
com ela e, embora mamãe não<br />
falasse alemão, conversava com ele<br />
em francês.<br />
<strong>Dr</strong>. Bier era também o médico<br />
do Kaiser Guilherme II. Certo dia,<br />
ele chegou junto ao pé da cama dela<br />
e, não sem uma certa ingenuida-<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
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