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Jornal Paraná Junho 2021

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tribuidoras de combustíveis<br />

fósseis têm o compromisso de<br />

comprá-los como forma de mitigar<br />

suas emissões de CO 2 . A<br />

aquisição também é livre para<br />

outras empresas interessadas<br />

em reduzir suas “pegadas de<br />

carbono”.<br />

A contrapartida das usinas de<br />

biocombustíveis foi o compromisso<br />

de emitir CBios equivalentes<br />

a 14 milhões de toneladas<br />

de CO 2 em 2020. Para<br />

<strong>2021</strong>, a meta é de 24 bilhões de<br />

CBios. Os valores serão crescentes<br />

ano a ano até que o patamar<br />

de 90 milhões de toneladas<br />

seja alcançado em 2030.<br />

Há compromissos tanto por<br />

parte das usinas, no aumento<br />

da produção de biocombustíveis<br />

e na emissão de CBios,<br />

quanto por parte das distribuidoras<br />

de combustíveis fósseis<br />

na compra desses títulos. Com<br />

isso, o sistema gera uma previsibilidade<br />

na oferta anual de<br />

biocombustíveis e deve impactar<br />

positivamente nos preços<br />

dos biocombustíveis para o<br />

consumidor.<br />

Plinio Nastari - presidente e CEO<br />

da Datagro, consultoria especializada<br />

em mercados agrícolas<br />

com clientes em 41 países<br />

e representante da sociedade<br />

civil no Conselho Nacional de<br />

Políticas Energéticas entre 2016<br />

e 2020 -, é outro defensor do<br />

RenovaBio. “É uma legislação<br />

bem elaborada, que respeita as<br />

regras de mercado, gera impostos,<br />

induz o aumento da<br />

produtividade e traz metas negociadas<br />

entre as partes”, avalia.<br />

Essas características tendem<br />

a estimular o aumento da<br />

eficiência e a gerar previsibilidade<br />

ao setor de biocombustíveis,<br />

com métricas de equivalência<br />

de emissões de CO 2 reconhecidas<br />

internacionalmente<br />

e com certificações emitidas<br />

por empresas independentes.<br />

“Tudo foi negociado e discutido<br />

abertamente na Câmara e no<br />

Senado. Estamos falando de<br />

uma lei que premia a competência<br />

e a eficiência individual<br />

de cada usina”, ressalta. Segundo<br />

Nastari, quanto maior for<br />

a produtividade de cana por<br />

hectare e quanto mais eficientemente<br />

a empresa produzir<br />

biocombustível e energia, quanto<br />

melhor tratar os dejetos, mais<br />

ela poderá faturar no mercado<br />

de carbono. “Estamos falando<br />

de um estímulo à meritocracia,<br />

à competência, ao desenvolvimento<br />

de novas tecnologias de<br />

produção agrícola, de biocombustíveis<br />

e de preservação do<br />

meio ambiente”.<br />

Um ponto falta a ser definido: a<br />

tributação sobre os CBios. Nastari<br />

explica que a lei previa 15%<br />

de tributação sobre os CBios,<br />

mas o governo tentou aumentar<br />

a alíquota para 34%, a qual não<br />

foi aprovada no Congresso. Resultado:<br />

o Ministério da Economia<br />

ainda não emitiu a regulamentação<br />

tributária sobre os<br />

CBios. “O mercado aguarda essa<br />

regulamentação e a expectativa<br />

é a de que ela seja publicada<br />

a qualquer instante”, diz.<br />

Para que as metas previstas no<br />

RenovaBio sejam alcançadas, a<br />

produção brasileira de biocombustíveis<br />

terá de crescer de forma<br />

expressiva e consistente<br />

nos próximos dez anos. A produção<br />

atual de biodiesel, hoje<br />

próximo dos 4 bilhões de litros/<br />

ano, deve subir para 13 bilhões<br />

de litros/ano nos próximos dez<br />

anos, em especial com a ampliação<br />

do uso de óleo de palma.<br />

Já a produção de etanol<br />

deve sair dos atuais 30 bilhões<br />

de litros e atingir o patamar de<br />

50 bilhões de litros por ano, um<br />

aumento de cerca de 70%.<br />

O aumento da produção de biocombustíveis,<br />

no entanto, não<br />

implicará necessariamente na<br />

expansão da área de plantio.<br />

“Desde o Proálcool o país vem<br />

ganhando eficiência na produção<br />

de cana e de etanol por<br />

hectare. Com o estímulo do RenovaBio,<br />

devem ser mantidos<br />

os aumentos da produtividade<br />

e da eficiência das usinas”,<br />

avalia Heitor Cantarella, engenheiro<br />

agrônomo e diretor do<br />

Instituto Agronômico de Campinas<br />

(IAC - Unicamp).<br />

Cantarella explica que a lavoura<br />

da cana ocupa cerca de 10%<br />

das terras agrícolas do país. E a<br />

produtividade média por hectare<br />

está em torno de 80 toneladas<br />

de cana. Segundo ele, é possível<br />

ampliar ainda mais a produtividade,<br />

com novas práticas de<br />

manejo do solo, novas espécies<br />

de cana e uso de tecnologia.<br />

“Temos algumas áreas que hoje<br />

chegam a produzir mais de 150<br />

toneladas de cana por hectare”,<br />

explica. A troca de caldeiras que<br />

trabalham em regime de baixa<br />

pressão, para regime de alta<br />

pressão, mais eficientes, é uma<br />

outra frente. “Há, ainda, a possibilidade<br />

de uso da palha, que<br />

representa 1/3 da massa energética<br />

da cana. Hoje a palha da<br />

colheita é utilizada para proteção<br />

do solo. E parte dela pode ser<br />

direcionada para produção de<br />

energia elétrica ou de etanol de<br />

segunda geração, obtido a partir<br />

de celulose, sem impactos<br />

maiores à sustentabilidade”.<br />

Outra frente intensa de pesquisas<br />

que estão correndo no país<br />

visa o desenvolvimento de variedades<br />

de cana tolerantes à<br />

seca. “Em médio prazo teremos<br />

de adaptar a agricultura para os<br />

‘climas futuros’ e tecnologias<br />

estão sendo desenvolvidas tanto<br />

do lado da agricultura de precisão<br />

e inteligência artificial no<br />

campo, quanto do lado da biotecnologia”,<br />

diz Glaucia Souza,<br />

da FAPESP/ BIOEN.<br />

O Biofuture Summit é a principal<br />

conferência de debate e troca<br />

de experiências em políticas públicas<br />

promovida pela Plataforma<br />

para o Biofuturo, uma<br />

coalizão inter-governamental<br />

para promoção da bioeconomia<br />

de baixo carbono. Para sua segunda<br />

edição, o Biofuture Summit<br />

juntou-se à conferência<br />

científica Brazilian Bioenergy<br />

Science and Technology<br />

(BBest), para realizar um evento<br />

conjunto trazendo à luz o que há<br />

de mais avançado em políticas,<br />

financiamento, tecnologias, e<br />

ciência relacionadas à bioenergia<br />

e à bioeconomia em suas<br />

diversas formas. Participam do<br />

evento representantes de governos,<br />

órgãos internacionais,<br />

setor empresarial e pesquisadores<br />

de mais de 30 países. A<br />

Biofuture Summit II/<br />

BBEST2020-21 foi totalmente<br />

online e aconteceu entre os dias<br />

24 e 26 de maio.<br />

A Plataforma para o Biofuturo é<br />

uma iniciativa intergovernamental,<br />

da qual participam várias<br />

partes interessadas. Foi projetada<br />

para agir pelas mudanças<br />

climáticas e apoiar os Objetivos<br />

de Desenvolvimento Sustentável,<br />

com uma coordenação internacional<br />

pela promoção da<br />

bioeconomia sustentável de baixo<br />

carbono. Foi lançada em Marrakesh<br />

nas negociações climáticas<br />

da COP 22, em novembro<br />

de 2016. Desde 1º de fevereiro<br />

de 2019, a Agência Internacional<br />

de Energia (IEA) é o Facilitador<br />

(Secretariado) da iniciativa. A<br />

Plataforma para o Biofuturo tem<br />

vinte países membros: Argentina,<br />

Brasil, Canadá, China, Dinamarca,<br />

Egito, Finlândia, França,<br />

Índia, Indonésia, Itália, Marrocos,<br />

Moçambique, Holanda, Paraguai,<br />

Filipinas, Suécia, Reino Unido,<br />

Estados Unidos e Uruguai.<br />

Como uma iniciativa da qual<br />

participam múltiplas partes interessadas,<br />

várias organizações<br />

internacionais, universidades e<br />

associações do setor privado<br />

também estão envolvidas e engajadas<br />

na condição de parceiros<br />

oficiais.<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 7

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