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tribuidoras de combustíveis<br />
fósseis têm o compromisso de<br />
comprá-los como forma de mitigar<br />
suas emissões de CO 2 . A<br />
aquisição também é livre para<br />
outras empresas interessadas<br />
em reduzir suas “pegadas de<br />
carbono”.<br />
A contrapartida das usinas de<br />
biocombustíveis foi o compromisso<br />
de emitir CBios equivalentes<br />
a 14 milhões de toneladas<br />
de CO 2 em 2020. Para<br />
<strong>2021</strong>, a meta é de 24 bilhões de<br />
CBios. Os valores serão crescentes<br />
ano a ano até que o patamar<br />
de 90 milhões de toneladas<br />
seja alcançado em 2030.<br />
Há compromissos tanto por<br />
parte das usinas, no aumento<br />
da produção de biocombustíveis<br />
e na emissão de CBios,<br />
quanto por parte das distribuidoras<br />
de combustíveis fósseis<br />
na compra desses títulos. Com<br />
isso, o sistema gera uma previsibilidade<br />
na oferta anual de<br />
biocombustíveis e deve impactar<br />
positivamente nos preços<br />
dos biocombustíveis para o<br />
consumidor.<br />
Plinio Nastari - presidente e CEO<br />
da Datagro, consultoria especializada<br />
em mercados agrícolas<br />
com clientes em 41 países<br />
e representante da sociedade<br />
civil no Conselho Nacional de<br />
Políticas Energéticas entre 2016<br />
e 2020 -, é outro defensor do<br />
RenovaBio. “É uma legislação<br />
bem elaborada, que respeita as<br />
regras de mercado, gera impostos,<br />
induz o aumento da<br />
produtividade e traz metas negociadas<br />
entre as partes”, avalia.<br />
Essas características tendem<br />
a estimular o aumento da<br />
eficiência e a gerar previsibilidade<br />
ao setor de biocombustíveis,<br />
com métricas de equivalência<br />
de emissões de CO 2 reconhecidas<br />
internacionalmente<br />
e com certificações emitidas<br />
por empresas independentes.<br />
“Tudo foi negociado e discutido<br />
abertamente na Câmara e no<br />
Senado. Estamos falando de<br />
uma lei que premia a competência<br />
e a eficiência individual<br />
de cada usina”, ressalta. Segundo<br />
Nastari, quanto maior for<br />
a produtividade de cana por<br />
hectare e quanto mais eficientemente<br />
a empresa produzir<br />
biocombustível e energia, quanto<br />
melhor tratar os dejetos, mais<br />
ela poderá faturar no mercado<br />
de carbono. “Estamos falando<br />
de um estímulo à meritocracia,<br />
à competência, ao desenvolvimento<br />
de novas tecnologias de<br />
produção agrícola, de biocombustíveis<br />
e de preservação do<br />
meio ambiente”.<br />
Um ponto falta a ser definido: a<br />
tributação sobre os CBios. Nastari<br />
explica que a lei previa 15%<br />
de tributação sobre os CBios,<br />
mas o governo tentou aumentar<br />
a alíquota para 34%, a qual não<br />
foi aprovada no Congresso. Resultado:<br />
o Ministério da Economia<br />
ainda não emitiu a regulamentação<br />
tributária sobre os<br />
CBios. “O mercado aguarda essa<br />
regulamentação e a expectativa<br />
é a de que ela seja publicada<br />
a qualquer instante”, diz.<br />
Para que as metas previstas no<br />
RenovaBio sejam alcançadas, a<br />
produção brasileira de biocombustíveis<br />
terá de crescer de forma<br />
expressiva e consistente<br />
nos próximos dez anos. A produção<br />
atual de biodiesel, hoje<br />
próximo dos 4 bilhões de litros/<br />
ano, deve subir para 13 bilhões<br />
de litros/ano nos próximos dez<br />
anos, em especial com a ampliação<br />
do uso de óleo de palma.<br />
Já a produção de etanol<br />
deve sair dos atuais 30 bilhões<br />
de litros e atingir o patamar de<br />
50 bilhões de litros por ano, um<br />
aumento de cerca de 70%.<br />
O aumento da produção de biocombustíveis,<br />
no entanto, não<br />
implicará necessariamente na<br />
expansão da área de plantio.<br />
“Desde o Proálcool o país vem<br />
ganhando eficiência na produção<br />
de cana e de etanol por<br />
hectare. Com o estímulo do RenovaBio,<br />
devem ser mantidos<br />
os aumentos da produtividade<br />
e da eficiência das usinas”,<br />
avalia Heitor Cantarella, engenheiro<br />
agrônomo e diretor do<br />
Instituto Agronômico de Campinas<br />
(IAC - Unicamp).<br />
Cantarella explica que a lavoura<br />
da cana ocupa cerca de 10%<br />
das terras agrícolas do país. E a<br />
produtividade média por hectare<br />
está em torno de 80 toneladas<br />
de cana. Segundo ele, é possível<br />
ampliar ainda mais a produtividade,<br />
com novas práticas de<br />
manejo do solo, novas espécies<br />
de cana e uso de tecnologia.<br />
“Temos algumas áreas que hoje<br />
chegam a produzir mais de 150<br />
toneladas de cana por hectare”,<br />
explica. A troca de caldeiras que<br />
trabalham em regime de baixa<br />
pressão, para regime de alta<br />
pressão, mais eficientes, é uma<br />
outra frente. “Há, ainda, a possibilidade<br />
de uso da palha, que<br />
representa 1/3 da massa energética<br />
da cana. Hoje a palha da<br />
colheita é utilizada para proteção<br />
do solo. E parte dela pode ser<br />
direcionada para produção de<br />
energia elétrica ou de etanol de<br />
segunda geração, obtido a partir<br />
de celulose, sem impactos<br />
maiores à sustentabilidade”.<br />
Outra frente intensa de pesquisas<br />
que estão correndo no país<br />
visa o desenvolvimento de variedades<br />
de cana tolerantes à<br />
seca. “Em médio prazo teremos<br />
de adaptar a agricultura para os<br />
‘climas futuros’ e tecnologias<br />
estão sendo desenvolvidas tanto<br />
do lado da agricultura de precisão<br />
e inteligência artificial no<br />
campo, quanto do lado da biotecnologia”,<br />
diz Glaucia Souza,<br />
da FAPESP/ BIOEN.<br />
O Biofuture Summit é a principal<br />
conferência de debate e troca<br />
de experiências em políticas públicas<br />
promovida pela Plataforma<br />
para o Biofuturo, uma<br />
coalizão inter-governamental<br />
para promoção da bioeconomia<br />
de baixo carbono. Para sua segunda<br />
edição, o Biofuture Summit<br />
juntou-se à conferência<br />
científica Brazilian Bioenergy<br />
Science and Technology<br />
(BBest), para realizar um evento<br />
conjunto trazendo à luz o que há<br />
de mais avançado em políticas,<br />
financiamento, tecnologias, e<br />
ciência relacionadas à bioenergia<br />
e à bioeconomia em suas<br />
diversas formas. Participam do<br />
evento representantes de governos,<br />
órgãos internacionais,<br />
setor empresarial e pesquisadores<br />
de mais de 30 países. A<br />
Biofuture Summit II/<br />
BBEST2020-21 foi totalmente<br />
online e aconteceu entre os dias<br />
24 e 26 de maio.<br />
A Plataforma para o Biofuturo é<br />
uma iniciativa intergovernamental,<br />
da qual participam várias<br />
partes interessadas. Foi projetada<br />
para agir pelas mudanças<br />
climáticas e apoiar os Objetivos<br />
de Desenvolvimento Sustentável,<br />
com uma coordenação internacional<br />
pela promoção da<br />
bioeconomia sustentável de baixo<br />
carbono. Foi lançada em Marrakesh<br />
nas negociações climáticas<br />
da COP 22, em novembro<br />
de 2016. Desde 1º de fevereiro<br />
de 2019, a Agência Internacional<br />
de Energia (IEA) é o Facilitador<br />
(Secretariado) da iniciativa. A<br />
Plataforma para o Biofuturo tem<br />
vinte países membros: Argentina,<br />
Brasil, Canadá, China, Dinamarca,<br />
Egito, Finlândia, França,<br />
Índia, Indonésia, Itália, Marrocos,<br />
Moçambique, Holanda, Paraguai,<br />
Filipinas, Suécia, Reino Unido,<br />
Estados Unidos e Uruguai.<br />
Como uma iniciativa da qual<br />
participam múltiplas partes interessadas,<br />
várias organizações<br />
internacionais, universidades e<br />
associações do setor privado<br />
também estão envolvidas e engajadas<br />
na condição de parceiros<br />
oficiais.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 7