Revista LesB Out! - Ed. 01
Bem-vindas à Revista LesB Out! Assim como o site, ela é feita por mulheres LGBTQIA+ para mulheres LGBTQIA+. Aproveitem!
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um processo de sofrimento, angústia, de não entender,
de agressividade, então é bastante complicado.
CM: E você notou uma diferença das demandas de agora
para as que apareciam antes da pandemia?
BM: As pessoas estão com uma ansiedade muito
maior, isso com certeza. As demandas da população
LGBT+ são sempre muito focadas, muito ligadas. A
demanda que a população em geral traz de ansiedade,
relacionamento, de projetos de vida, a população
LGBT+ tem um plus de violência muito grande, de
um ataque de quem a pessoa é, pelo que a pessoa se
identifica. Essa questão da violência perpassa a vida
das pessoas LGBT+ o tempo todo, seja violência
psicológica, física, moral, patrimonial, “piadinhas”.
Essa questão que o tempo todo alguém está tirando o
sarro, discriminando, com risadinha, com falas muito
pesadas ou então com agressão física mesmo. Então é
muito comum vir nos atendimentos essas demandas,
assim, de discriminação no trabalho, em casa, de
vizinho que xinga, de ameaças, então é muito sério.
CM: E quais você nota que são as especificidades dessas
demandas pras mulheres LGBTQIA+?
BM: As mulheres LGBT+ têm algumas questões, por
exemplo, na saúde. Uma mulher lésbica, bissexual, ou
mais especificamente uma mulher em relacionamento
homoafetivo, nas questões de saúde enfrenta o fato
de o ginecologista não perguntar com quem ela se
relaciona afetivamente, sexualmente, ele pressupõe
que ela tem uma relação heteroafetiva. Também tem o
desconhecimento, já vi várias meninas lésbicas falando
que não precisa fazer papanicolau, por exemplo,
que é um exame de câncer de colo de útero, porque
elas não se relacionam com homem, e isso não é
verdadeiro, então elas precisam, sim, fazer papanicolau,
é um exame que não tem a ver com ser hétero ou
homoafetivo, tem a ver com ter útero.
E em outro quesito, já da violência, temos muitos
mitos em relação à mulher lésbica, de que, desculpa o
palavreado, ela é lésbica porque é mal-amada ou “mal
comida”. E assim a gente entra em um universo
muito perigoso no imaginário dos homens de que
essas mulheres podem ser estupradas, tem até o nome
de “estupro corretivo”, porque acham que essa
mulher tem que ser “convertida, curada”, e que ela
precisa “virar mulher”. Outra questão de violência é
de quando uma mulher estava em um relacionamento
heteroafetivo e entra em um relacionamento
homoafetivo. Isso gera muito conflito, muita violência,
às vezes a questão de guarda dos filhos, deste
ex-parceiro tentar tirar dela os filhos pelo relacionamento
em que ela está.
Tem também a questão da bissexualidade, que ainda
não é entendida. As pessoas acham que não existem
pessoas bissexuais, que é uma fase de transição, uma
confusão, uma pessoa homossexual enrustida que
não tem coragem de se assumir, ou uma pessoa
“gulosa”, que quer tudo para ela.
CM: A gente nota que as questões LGBTQIA+ sempre
foram muito patologizadas. Como você nota que é a visão
da psicologia para essas questões hoje em dia?
BM: O Conselho de Psicologia já há alguns anos tem
uma gestão muito aberta para essa questão da diversidade,
tanto o Conselho Federal quanto os regionais.
eu tenho a impressão que existem militâncias muito
presentes, com ações muito afirmativas em relação a
essa questão da despatologização. Infelizmente essa
não é a realidade dos psicólogos que estão na ponta,
tem muito psicólogo que não entende, não aceita, e
pior, o que para mim é mais grave, que mistura
religião com sua atuação profissional, e a gente não
pode misturar religião e psicologia.
Tem a questão do CID [Classificação Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde] e do DSM
[Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais]
que estou bem esperançosa. Então, não apenas tirar a
transexualidade da classificação de transtornos mentais,
o que é necessário e pesa muito, mas sim constar
como uma questão de saúde a ser cuidada, e acho que
entra como incongruência de gênero no DSM; no
CID, se não me engano, entra como disforia de
gênero. É uma questão que realmente se encontra
entre a identidade de gênero e o corpo, para que a
população receba acompanhamentos específicos
quanto à hormonioterapia ou cirurgias, caso deseje.
Um exemplo é a gestação, que está no CID e não é
uma doença, mas um período em que a pessoa precisa
de uma atenção especial, da saúde, principalmente,
fazer o pré-natal, o parto, todas essas questões,
então a gente precisa ter uma atenção específica da
saúde com um conjunto de características específicas
daquela situação. E a transexualidade não é diferente.
CM: Você poderia explicar um pouco de onde vem essa
questão da Cura Gay e o que seria ela?
BM: Essa cura gay vem lá de trás, toda a questão da
homossexualidade e desse preconceito vem de cunho
religioso, lá de traz, quando o cristianismo precisava
popular o mundo. Os homens iam para guerra e as
mulheres ficavam em casa com suas famílias, e a