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56ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Joacenira Oliveira

A visão médica e a visão

espírita da doença:

impasses e possibilidades

São Pedro do Sul RS BR

Graduada em Ciências Econômicas (UFSM), Especialização em Ciências da Religião (UFS) e Mestrado em Sociologia (UFS).

Palestrante espírita e monitora de estudos espíritas vinculados à Federação Espírita Brasileira. Acadêmica da Academia de

Letras Espíritas do Estado de Sergipe (ALEESE).

A visão da biomedicina e a visão religiosa apoiam-se em

conhecimentos construídos ao longo do tempo e fornecem,

cada uma à sua maneira, fundamentadas em suas lógicas, formas

diferentes de interpretar o fenômeno do adoecimento. Na

primeira, tem-se uma visão acadêmica, enquanto na segunda

tem-se a interpretação popular, religiosa.

O primeiro modelo explica a doença como uma disfunção

orgânica: leva em conta os sinais físicos e os interpreta

como sintomas desta disfunção, sendo o médico o agente de

cura. Na visão da biomedicina, a doença é objeto da prática

médica, isenta de conotações religiosas. Pode-se dizer, assim,

que os profissionais de saúde, por motivos relacionados à sua

formação acadêmica, adotam de forma privilegiada o paradigma

“biomédico”, no qual acredita-se ser fundamental explicar

a doença e promover a cura. Para esse tipo de medicina,

o homem é um ser composto de órgãos materiais, em que

todo o funcionamento biológico é determinado pelas funções

químicas.

O Profissional de saúde tenta decifrar a entidade mórbida

e, assim, esclarecer o enigma da queixa, ao passo que nas

“terapêuticas religiosas” o que se desvenda para a pessoa que

sofre, sejam perturbações de ordem física ou espiritual, é a

dimensão transcendente da vida. Para o espírita, a doença

é interpretada à luz de uma visão cósmica, e, nessa visão, a

própria experiência encontra seu lugar e sentido.

Na codificação de Kardec existe intrínseca relação entre o

corpo físico e a alma, pois o que aparece em um é nitidamente

visível em outro. A compreensão fundamental, neste contexto,

é a de que o homem é um composto de três partes essenciais:

o espírito, o perispírito e o corpo físico. Essas partes atuam de

forma harmônica e inseparável. A alma corresponde à essência,

permanente, indissolúvel, é nossa individualidade que tem

sua expressão por meio do invólucro material. O perispírito é

o corpo intermediário que acompanha tanto a alma (espírito

encarnado) como o espírito desencarnado e serve de modelo

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do corpo físico com todos os seus órgãos. Na lógica do pensamento

espírita, muitas doenças que se concretizam no corpo

físico são reflexos do grau de evolução do espírito, pois estão

estritamente ligadas ao estágio evolutivo em que se encontra

o espírito.

Nesse sentido, a própria negatividade da doença, quando

vista sob o prisma da medicina oficial – que considera a doença

somente como ausência de saúde –, é neutralizada pelo pensamento

religioso do Espiritismo, quando esse lhe confere um

propósito positivo.

Sofrimento é o remédio para as imperfeições do Espírito,

para as enfermidades da alma. O sofrimento, longe de ser uma

desgraça, tem função preciosa nos planos da alma, pois por

detrás das dores e experiências difíceis estão as luzes, está ali

a água viva que haverá de nos trazer sempre a saciedade de

paz a que aspiramos. 1

O que se buscou demonstrar neste artigo é que, tanto

na perspectiva erudita como religiosa, no trato das doenças,

ambas não devem ser entendidas de forma antagônica, mas

diferentes. As terapias religiosas e as práticas médicas, neste

sistema de pensamento, completam-se mutuamente. O doente

vai se utilizar da medicina química juntamente ao tratamento

oferecido pelo Espiritismo.

Mesmo assim, existe um “descompasso” visível entre

estes dois paradigmas, na medida em que o paradigma biomédico

não é suficiente para abordar toda a problemática da

doença, e, por isso, os processos de cura têm levado muitos

profissionais de saúde a pensar as dimensões social, cultural

e espiritual implicadas na doença e nos próprios processos de

cura.

Referências:

BERGER, Peter Ludwing. A construção social da realidade: tratado de sociologia

do conhecimento. Petrópolis/RJ: Vozes, 1978.

______. O Dossel Sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião.

São Paulo: Paulus, 1985.

1. EMMANUEL. Justiça Divina. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Brasília:

FEB, 2013

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