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56ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Domingos Pascoal

De onde vem

tanta violência?

Aracaju SE BR

Formado em Filosofia e Ciências Jurídicas e pós-graduado em Gestão de Pessoas, Advogado, Jornalista e ocupante

da cadeira nº 17 da Academia Sergipana de Letras. Membro da Associação Cearense de Escritores - ACE

De onde vem tanta violência? Muitos já têm feito

esta pergunta. E aí, hão de indagar: e por que você está

fazendo-a novamente?

Sinceramente? Não sei. Talvez baseado na afirmativa

de que a pergunta suscita dúvida, causa expectativa,

cria probabilidades, gera esperanças, faz pensar

e provoca movimento; ou talvez, por constatar que as

grandes evoluções da humanidade aconteceram a partir

de perguntas simples e objetivas. Não são apenas as

respostas que impulsionam o conhecimento, pois elas

não existiriam sem as perguntas. Concluo, deste modo,

que o determinante é a pergunta, e não a resposta.

Logo, talvez por isso, quase sempre, inicio os meus

textos com uma indagação.

Quanto a esta inquirição que foi feita acima, concordo

que é um pouquinho difícil respondê-la com precisão.

De onde vem a violência que impera entre nós?

Por que somos violentos? A resposta que nos parece

mais óbvia, pois é aquela que permeia o nosso ambiente

social é: de que somos violentos, porque somos

animais, agimos, muitas vezes por instinto como eles

afirmamos isto com o dedo inquisidor apontando

para os outros, os chamados animais irracionais como

se eles fossem a justificativa para nossos atos. A meu

ver, nós, homens, é quem somos os agentes e os pacientes

de toda esta bestialidade, e não os pobres dos

irracionais. Ou seja,

nós, seres com razão, seres pensantes, achamos

que a nossa violência vem dos bichos, dos brutos, dos

selvagens. Existem até sinônimos da palavra violência

relacionando-a diretamente com os pobres e indefesos

que habitam as nossas selvas. Por exemplo, quando

queremos justificar os nossos exageros, as nossas violências,

dizemos que aquilo foi horrível, animalesco,

animalejos, foi uma atitude animália; aquilo foi uma

bruteza,

uma brutalidade, uma feridade, uma fereza, ou ferocidade

e, por fim, ação de selvagem: uma selvageria.

Todas essas palavras, com sentido pejorativo, determinem

as nossas atrocidades, a nossa truculência,

nossa violência. São aquelas palavras e seus derivativos

que nós usamos para qualificar aqueles que,

diferentemente de nós, não têm o dom da razão.

Será que aqueles, os chamados irracionais, são verdadeiramente

violentos ou apenas se defendem? São

violentos ou apenas atacam se têm fome? Procedem

assim pelo instinto, por necessidade ou por autoproteção?

Será que agem com violência de modo gratuito,

como fazemos nós, ditos civilizados e racionais. Quero

dizer que os animais, por mais brabos que sejam só

usam do expediente da “violência” para se defender

e para sobreviver? Por acaso já viram algum animal

matar por matar? Repito, a não ser para se alimentar

ou para se defender. O homem, ao contrário, mata

somente por matar. Concluo, por isso, que não é do

irracional que vem a violência. Ela tem outra origem,

muito mais próxima de nós do que pensamos. Aliás, a

violência vem de nós mesmos; somos nós e não os

pobres e indefesos.

Só para refletirmos mais ainda, faço outra pergunta:

“Seria possível enumerar a quantidade de violências

que praticamos todo dia, entre nós mesmos, em

nossos relacionamentos, em nossas casas, nas ruas,

em nossos

trabalhos?” Por mais que nos policiemos, de vez em

quando escapa um pouco de “bílis” e alguém sai machucado.

No que diz respeito à nossa escola primeira,

o nosso lar, por sorte nas famílias mais bem-estruturadas

há um tímido cuidado, e, por isso, minimiza-se um

pouco. Porém pensemos naqueles, ricos ou pobres, que

às vezes nem lar têm nos porões do desamor

e da ignorância? Ali, moram juntos, têm filhos

e constroem a violência e os violentos do amanhã.

Lamento concluir que somos nós, e não os irracionais,

os responsáveis por tanta violência neste mundo.

48 Atração_ agosto de 2022

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