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Por Domingos Pascoal
De onde vem
tanta violência?
Aracaju SE BR
Formado em Filosofia e Ciências Jurídicas e pós-graduado em Gestão de Pessoas, Advogado, Jornalista e ocupante
da cadeira nº 17 da Academia Sergipana de Letras. Membro da Associação Cearense de Escritores - ACE
De onde vem tanta violência? Muitos já têm feito
esta pergunta. E aí, hão de indagar: e por que você está
fazendo-a novamente?
Sinceramente? Não sei. Talvez baseado na afirmativa
de que a pergunta suscita dúvida, causa expectativa,
cria probabilidades, gera esperanças, faz pensar
e provoca movimento; ou talvez, por constatar que as
grandes evoluções da humanidade aconteceram a partir
de perguntas simples e objetivas. Não são apenas as
respostas que impulsionam o conhecimento, pois elas
não existiriam sem as perguntas. Concluo, deste modo,
que o determinante é a pergunta, e não a resposta.
Logo, talvez por isso, quase sempre, inicio os meus
textos com uma indagação.
Quanto a esta inquirição que foi feita acima, concordo
que é um pouquinho difícil respondê-la com precisão.
De onde vem a violência que impera entre nós?
Por que somos violentos? A resposta que nos parece
mais óbvia, pois é aquela que permeia o nosso ambiente
social é: de que somos violentos, porque somos
animais, agimos, muitas vezes por instinto como eles
afirmamos isto com o dedo inquisidor apontando
para os outros, os chamados animais irracionais como
se eles fossem a justificativa para nossos atos. A meu
ver, nós, homens, é quem somos os agentes e os pacientes
de toda esta bestialidade, e não os pobres dos
irracionais. Ou seja,
nós, seres com razão, seres pensantes, achamos
que a nossa violência vem dos bichos, dos brutos, dos
selvagens. Existem até sinônimos da palavra violência
relacionando-a diretamente com os pobres e indefesos
que habitam as nossas selvas. Por exemplo, quando
queremos justificar os nossos exageros, as nossas violências,
dizemos que aquilo foi horrível, animalesco,
animalejos, foi uma atitude animália; aquilo foi uma
bruteza,
uma brutalidade, uma feridade, uma fereza, ou ferocidade
e, por fim, ação de selvagem: uma selvageria.
Todas essas palavras, com sentido pejorativo, determinem
as nossas atrocidades, a nossa truculência,
nossa violência. São aquelas palavras e seus derivativos
que nós usamos para qualificar aqueles que,
diferentemente de nós, não têm o dom da razão.
Será que aqueles, os chamados irracionais, são verdadeiramente
violentos ou apenas se defendem? São
violentos ou apenas atacam se têm fome? Procedem
assim pelo instinto, por necessidade ou por autoproteção?
Será que agem com violência de modo gratuito,
como fazemos nós, ditos civilizados e racionais. Quero
dizer que os animais, por mais brabos que sejam só
usam do expediente da “violência” para se defender
e para sobreviver? Por acaso já viram algum animal
matar por matar? Repito, a não ser para se alimentar
ou para se defender. O homem, ao contrário, mata
somente por matar. Concluo, por isso, que não é do
irracional que vem a violência. Ela tem outra origem,
muito mais próxima de nós do que pensamos. Aliás, a
violência vem de nós mesmos; somos nós e não os
pobres e indefesos.
Só para refletirmos mais ainda, faço outra pergunta:
“Seria possível enumerar a quantidade de violências
que praticamos todo dia, entre nós mesmos, em
nossos relacionamentos, em nossas casas, nas ruas,
em nossos
trabalhos?” Por mais que nos policiemos, de vez em
quando escapa um pouco de “bílis” e alguém sai machucado.
No que diz respeito à nossa escola primeira,
o nosso lar, por sorte nas famílias mais bem-estruturadas
há um tímido cuidado, e, por isso, minimiza-se um
pouco. Porém pensemos naqueles, ricos ou pobres, que
às vezes nem lar têm nos porões do desamor
e da ignorância? Ali, moram juntos, têm filhos
e constroem a violência e os violentos do amanhã.
Lamento concluir que somos nós, e não os irracionais,
os responsáveis por tanta violência neste mundo.
48 Atração_ agosto de 2022