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56ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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Por Dra. Telma Mª S Machado

Humildade e Sabedoria

Aracaju SE BR

Diretora de Comunicação da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME), Graduada em Ciências Biológicas e

em Direito, Pós-Graduada em Direito Processual Público, Juiza Federal da Seção Judiciária de Sergipe, Mestre em Filosofia,

O meu curso primário, em uma escola pública estadual de Sergipe,

foi marcado por livros de conteúdo lúdico: as várias estórias que pulavam

das páginas mágicas eram um convite à imaginação de qualquer

criança mais atenta às entrelinhas das mensagens, pois é fato que,

muitas vezes,

Professor

o que está subentendido é a “moral da história”. Em

muitas delas viajei, ao lado da minha avó, sem sair do “batente” da

nossa casa.

Uma dessas lições marcantes tinha dois personagens principais

e toda a Gonçalo

selva no papel de coadjuvante. Era um leão que insistia em

perguntar aos demais moradores da floresta quem era o “rei da selva”.

Ferreira Melo

Obviamente que ele assim se julgava e, vaidoso, esnobava os demais

animais, dizendo-se o mais ágil e veloz.

Mas havia um animal, não tão ágil, não tão veloz, nem tão arrogante.

Tranquilo, como todo aquele que tem segurança íntima da

própria força, com um movimento o elefante deitou por terra toda a

empáfia do felino: sem peripécias e sem cerimônia, pegou o Panthera

leo pela cauda, fê-lo rodar várias vezes, arremessando-o a uma distância

suficiente para vê-lo cair estatelado. Humilhação total para o animal

de porte nobre que se achava o dono da selva.

A primeira lição de humildade e eu aprendi com essa narrativa,

nas páginas do livro cujo nome e autor não lembro. Pena que nem

todos tenham acesso, ainda na meninice, a estórias assim, e mais penalizada

fico dos que deixaram passar em branco a profunda lição que

aí está retratada.

É que o ego tem mecanismos bem eficazes para fazer com que

somente vejamos, ouçamos e assimilemos o que lhe convém. Por isso

precisamos vigiá-lo, para não cairmos no ridículo que o supostamente

poderoso leão caiu.

Mas o que fazer para evitar quedas tão desastrosas? Ora, um rápido

olhar para algumas palavras de filósofos e profetas, e teremos a

profilaxia poderosa, o antídoto potente, a vacina eficaz: a humildade.

Sócrates, dentre todos os filósofos, através de uma frase, pontuou

essa profilaxia para a humanidade orgulhosa e frágil, melhor dizendo,

frágil e orgulhosa, pois é fato que o orgulho provém de uma profunda

fragilidade de mente, de alma e de espírito: “Só sei que nada sei”. Um

marco na filosofia que remete a uma necessária autocrítica.

Alguns séculos depois, Jesus conclamou a humanidade de todas

as épocas, através das palavras e exemplos, ao sublime exercício da

humildade.

No antigo Monte Eremos, hoje denominado Monte das Bem-

Aventuranças, também conhecido como Monte das Beatitudes, O

Mestre proclamou que todos aqueles que agirem com humildade de

espírito (pobres de espírito) serão bem-aventurados. Por pobres de espírito

deve-se entender aqueles que compreendem a necessidade de

aprimorar o Espírito cada vez mais, cientes de que a ascensão requer

conhecimento e amor, em outras palavras, sabedoria e bondade. eis

que, segundo pondera o Espírito Emmanuel:

Através do amor valorizamo-nos para a vida.

Através da sabedoria somos pela vida valorizados.

Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.

Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena sombra,

a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.

Inteligência que não ama pode ser comparada a valioso poste

de aviso, que traça ao peregrino informes de rumo certo, deixando-o

sucumbir ao tormento da sede.

Todos temos necessidade de instrução e de amor. Estudar e servir

são rotas inevitáveis na obra de elevação. 1

Na referida obra, Emmanuel assevera que a carência de humildade,

que, no fundo, é reconhecimento de nossa pequenez diante do

Universo, faz surgir na alma humana doentios enquistamentos de sentimento,

quais sejam o orgulho e a cobiça, o egoísmo e a vaidade,

que se responsabilizam pela discórdia e pela delinquência em todas

as direções. 2

No fundo, estamos falando da prepotência do leão frente aos demais

animais. A palavra prepotente deriva do Latim praepotens, muito

poderoso(a): de prae-, “à frente”, mais potens, “poderoso”, de potere,

“poder”, portanto, aquele(a) que coloca o seu poder adiante, fazendo-o

sobressair.

No caso do leão, falta-lhe, pela sua condição na escala evolutiva,

a sabedoria, que a nós é facultada, de entender que a humildade, tal

como assevera o Espírito Emmanuel, não se confunde com servidão,

mas sim independência, liberdade interior, cuja nascente se encontra

no âmago do Espírito, apoiando-lhe a permanente renovação para o

bem, portanto, cultivá-la é avançar sem se prender, é projetar o melhor

de si sobre os caminhos do mundo, não se podendo olvidar que,

refletindo-a do Céu para a Terra, em penhor de redenção e beleza, o

Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e despediu-se dos homens

pelos braços da Cruz. 3

1 EMMANUEL. Pensamento e Vida. Editora FEB, cap. 4.

2 Ibidem, cap. 24.

3 EMMANUEL. Pensamento e Vida. Editora FEB, cap. 4.

34 Atração_ agosto de 2022

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