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Por Dra. Telma Mª S Machado
Humildade e Sabedoria
Aracaju SE BR
Diretora de Comunicação da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME), Graduada em Ciências Biológicas e
em Direito, Pós-Graduada em Direito Processual Público, Juiza Federal da Seção Judiciária de Sergipe, Mestre em Filosofia,
O meu curso primário, em uma escola pública estadual de Sergipe,
foi marcado por livros de conteúdo lúdico: as várias estórias que pulavam
das páginas mágicas eram um convite à imaginação de qualquer
criança mais atenta às entrelinhas das mensagens, pois é fato que,
muitas vezes,
Professor
o que está subentendido é a “moral da história”. Em
muitas delas viajei, ao lado da minha avó, sem sair do “batente” da
nossa casa.
Uma dessas lições marcantes tinha dois personagens principais
e toda a Gonçalo
selva no papel de coadjuvante. Era um leão que insistia em
perguntar aos demais moradores da floresta quem era o “rei da selva”.
Ferreira Melo
Obviamente que ele assim se julgava e, vaidoso, esnobava os demais
animais, dizendo-se o mais ágil e veloz.
Mas havia um animal, não tão ágil, não tão veloz, nem tão arrogante.
Tranquilo, como todo aquele que tem segurança íntima da
própria força, com um movimento o elefante deitou por terra toda a
empáfia do felino: sem peripécias e sem cerimônia, pegou o Panthera
leo pela cauda, fê-lo rodar várias vezes, arremessando-o a uma distância
suficiente para vê-lo cair estatelado. Humilhação total para o animal
de porte nobre que se achava o dono da selva.
A primeira lição de humildade e eu aprendi com essa narrativa,
nas páginas do livro cujo nome e autor não lembro. Pena que nem
todos tenham acesso, ainda na meninice, a estórias assim, e mais penalizada
fico dos que deixaram passar em branco a profunda lição que
aí está retratada.
É que o ego tem mecanismos bem eficazes para fazer com que
somente vejamos, ouçamos e assimilemos o que lhe convém. Por isso
precisamos vigiá-lo, para não cairmos no ridículo que o supostamente
poderoso leão caiu.
Mas o que fazer para evitar quedas tão desastrosas? Ora, um rápido
olhar para algumas palavras de filósofos e profetas, e teremos a
profilaxia poderosa, o antídoto potente, a vacina eficaz: a humildade.
Sócrates, dentre todos os filósofos, através de uma frase, pontuou
essa profilaxia para a humanidade orgulhosa e frágil, melhor dizendo,
frágil e orgulhosa, pois é fato que o orgulho provém de uma profunda
fragilidade de mente, de alma e de espírito: “Só sei que nada sei”. Um
marco na filosofia que remete a uma necessária autocrítica.
Alguns séculos depois, Jesus conclamou a humanidade de todas
as épocas, através das palavras e exemplos, ao sublime exercício da
humildade.
No antigo Monte Eremos, hoje denominado Monte das Bem-
Aventuranças, também conhecido como Monte das Beatitudes, O
Mestre proclamou que todos aqueles que agirem com humildade de
espírito (pobres de espírito) serão bem-aventurados. Por pobres de espírito
deve-se entender aqueles que compreendem a necessidade de
aprimorar o Espírito cada vez mais, cientes de que a ascensão requer
conhecimento e amor, em outras palavras, sabedoria e bondade. eis
que, segundo pondera o Espírito Emmanuel:
Através do amor valorizamo-nos para a vida.
Através da sabedoria somos pela vida valorizados.
Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.
Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena sombra,
a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.
Inteligência que não ama pode ser comparada a valioso poste
de aviso, que traça ao peregrino informes de rumo certo, deixando-o
sucumbir ao tormento da sede.
Todos temos necessidade de instrução e de amor. Estudar e servir
são rotas inevitáveis na obra de elevação. 1
Na referida obra, Emmanuel assevera que a carência de humildade,
que, no fundo, é reconhecimento de nossa pequenez diante do
Universo, faz surgir na alma humana doentios enquistamentos de sentimento,
quais sejam o orgulho e a cobiça, o egoísmo e a vaidade,
que se responsabilizam pela discórdia e pela delinquência em todas
as direções. 2
No fundo, estamos falando da prepotência do leão frente aos demais
animais. A palavra prepotente deriva do Latim praepotens, muito
poderoso(a): de prae-, “à frente”, mais potens, “poderoso”, de potere,
“poder”, portanto, aquele(a) que coloca o seu poder adiante, fazendo-o
sobressair.
No caso do leão, falta-lhe, pela sua condição na escala evolutiva,
a sabedoria, que a nós é facultada, de entender que a humildade, tal
como assevera o Espírito Emmanuel, não se confunde com servidão,
mas sim independência, liberdade interior, cuja nascente se encontra
no âmago do Espírito, apoiando-lhe a permanente renovação para o
bem, portanto, cultivá-la é avançar sem se prender, é projetar o melhor
de si sobre os caminhos do mundo, não se podendo olvidar que,
refletindo-a do Céu para a Terra, em penhor de redenção e beleza, o
Cristo de Deus nasceu na palha da Manjedoura e despediu-se dos homens
pelos braços da Cruz. 3
1 EMMANUEL. Pensamento e Vida. Editora FEB, cap. 4.
2 Ibidem, cap. 24.
3 EMMANUEL. Pensamento e Vida. Editora FEB, cap. 4.
34 Atração_ agosto de 2022