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EDUCAÇÃO
Tânia Fernandes
Tânia Fernandes
Professora especializada
Doutorada em Psicologia de Educação
A importância
da escrita
“inventada”
na educação
pré-escolar
As tarefas de escrita inventada na
educação pré-escolar contribuem
para a aquisição da literacia, fazendo
surtir repercurssões em termos
de evolução da escrita, da consciência fonológica
e até mesmo na aquisição da leitura.
Cada vez mais é evidente o interesse pela
escrita emergente, surgindo muito antes do
ensino formal da aprendizagem da leitura e
da escrita. Desde muito cedo a criança é confrontada
com a escrita, quer no seio familiar
quer no jardim de infância, uma vez que vê
as pessoas a escrever e a usarem a escrita
na sua vida diária. Logo isso faz despoletar o
interesse e a motivação para explorar a arte
de escrever.
Maioritariamente, o interesse pela escrita é
visível através da curiosidade revelada pela
criança por aprender o nome das letras e
os seus sons. Na educação pré-escolar as
crianças fazem várias tentativas de escrita de
palavras, demonstrando que já perceberam
que as letras representam os fonemas caraterísticos
da linguagem oral.
As tarefas de escrita inventada são fundamentais
para levar a criança à compreensão
do princípio alfabético, pois quando tenta
escrever é levada a refletir acerca da linguaguem
oral e acerca dos sons que constituem
a linguagem escrita. Por outro lado a criança
reflete acerca das letras/ grafemas que compõem
esses sons e nas relações estabelecidas
entre os fonemas e grafemas.
Como tal, as atividades de escrita inventada
que são desenvolvidas antes do ensino formal
ajudam a desenvolver a consciência fonológica,
assim como a consciência fonémica,
levando a criança a fazer progressos na
sua escrita.
A investigação aponta para a importância das
escritas inventadas, uma vez que se apresenta
como uma porta ou uma janela para as
competências cognitivas e linguísticas presentes
nas aquisições precoces em termos
de literacia emergente.
Por outro lado os conhecimentos que são
adquiridos pela criança, de modo informal,
nomeadamente o nome das letras, ajudam
grandemente na deteção do nome correto
dessas letras aquando da pronunciação de
muitas palavras. Obviamente que isto possibilitará
uma perceção da criança acerca
de toda a lógica em termos alfabéticos, visto
que as próprias letras servem de suporte
para uma análise acerca da sequência dos
sons nas palavras.
Também as propriedades articulatórias dos
fonemas que integram as palavras que a
criança vai escrever, acabam por influenciar
a qualidade das grafias. Obviamente que alguns
fonemas são mais fáceis de serem isolados
do que outros. Por exemplo as vogais
são mais facilmente identificadas do que as
consoantes. Contudo na língua portuguesa
com opacidade intermédia, verifica-se que
um grafema pode corresponder a vários
fonemas, tornando-se mais difícil a correspondência
de alguns fonemas às respetivas
letras.
Mas quanto mais a criança estiver sensibilizada
para os sons da fala e estabelecer uma
correspondência com o nome das letras,
mais facilmente revelará interesse por tentar
escrever, através da reprodução de palavras
com significado para si. Desta forma,
nasce assim a “escrita inventada” no mundo
da criança, que desencadeia desde início a
compreensão das correspondências grafo-
-fonológicas e a associação das letras para
formar sílabas.
Como tal, a escrita inventada é um preditor
para a descoberta do princípio alfabético
que leva à compreensão da relação entre a
oralidade e a escrita e com forte impacto na
futura aprendizagem da leitura. s
20 saber outubro 2022