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Dizíamos pois: suponhamos uma<br />
alma onde jazem em silêncio a rebelião<br />
da carne, as vãs imaginações da<br />
terra, da água, do ar e do céu.<br />
Suponhamos que ela guarde silêncio<br />
consigo mesma, que passe para<br />
além de si, nem sequer pensando em<br />
si; uma alma na qual se calem igualmente<br />
os sonhos e as revelações imaginárias,<br />
toda a palavra humana, todo<br />
o sinal, enfim, tudo o que sucede passageiramente.<br />
Imaginemos que nessa mesma alma<br />
exista o silêncio completo, porque,<br />
se ainda pode ouvir, todos os seres lhe<br />
dizem: não nos fizemos a nós mesmos,<br />
fez-nos O que permanece eternamente.<br />
Se ditas estas palavras os seres<br />
emudecerem, porque já escutaram<br />
quem os fez, suponhamos então que<br />
Ele sozinho fala, não por essas criaturas,<br />
mas diretamente, de modo a ouvirmos<br />
a sua palavra, não pronunciada<br />
por uma língua corpórea, nem por<br />
voz de um Anjo, nem pelo estrondo do<br />
trovão, nem por metáforas enigmáticas,<br />
mas já por Ele mesmo.<br />
Suponhamos que ouvíamos Aquele<br />
que amamos nas criaturas, mas sem<br />
o intermédio delas, assim como nós<br />
acabávamos de experimentar, atingindo,<br />
num voo de pensamento, a Eterna<br />
Sabedoria, que permanece imutável<br />
sobre todos os seres.<br />
Se essa contemplação continuasse<br />
e se todas as outras visões de ordem<br />
muito diferente cessassem, se unicamente<br />
essa arrebentasse a alma e a absorvesse,<br />
de modo que a vida eterna<br />
fosse semelhante a esse vislumbre intuitivo,<br />
...<br />
É a visão beatífica.<br />
...pelo qual suspiramos não seria isso<br />
a realização do “entra no gozo do<br />
Senhor”? E quando sucederá isso? Será<br />
quando todos ressuscitarmos? Mas<br />
então não seremos todos transformados?<br />
Ele afirma que, se uma alma pudesse<br />
ficar eternamente apenas naquele<br />
vislumbre, já teria um prazer<br />
paradisíaco inefável, extraordinário.<br />
Morte de Santa Mônica - Convento de Santo Agostinho, Quito<br />
Santa Mônica não queria o<br />
filho para si, mas para Deus<br />
Ainda que isto dizíamos não pelo<br />
mesmo modo e por estas palavras,<br />
contudo bem sabeis, Senhor, quanto<br />
o mundo e os seus prazeres nos pareciam<br />
vis naquele dia quando assim<br />
conversávamos. Minha mãe acrescentou<br />
ainda: “Meu filho, quanto a mim,<br />
já nenhuma coisa me dá gosto, nesta<br />
vida. Não sei o que faço ainda aqui,<br />
nem porque ainda cá esteja, esvanecidas<br />
já as esperanças deste mundo. Por<br />
um só motivo desejava prolongar um<br />
pouco a minha vida: para ver-te cristão<br />
e católico antes de eu morrer. Deus<br />
concedeu-me esta graça superabundantemente,<br />
pois vejo que já desprezas<br />
a felicidade terrena para servirdes ao<br />
Senhor. Que faço eu, pois, aqui?”<br />
Dias depois ela morreu. Nessa visão<br />
ela teve o prenúncio da própria<br />
morte e compreendeu que não tinha<br />
nada mais para fazer.<br />
Que diferença entre uma mãe<br />
santa e uma mãe piegas! Esta diria:<br />
“Agora que meu filho está convertido,<br />
começou para mim a vida. Ouvirei<br />
os sermões e as obras dele, vou<br />
viver com ele uma vida gostosinha<br />
na casa episcopal, admirando a virtude<br />
e o talento daquele que eu gerei<br />
para a vida natural e arranquei,<br />
pelas minhas orações, à morte eterna<br />
para dar um grande santo. Agora<br />
é que está bom!”<br />
Santa Mônica não queria ver o filho<br />
dela para nada disso, mas sim para<br />
Deus. Quando ela sentiu que Santo<br />
Agostinho estava nas mãos de<br />
Deus, não quis perder mais tempo<br />
na Terra. Poucos dias depois ela expirou.<br />
É uma santa e o último grande<br />
lance de sua vida está contado<br />
por um grande santo. v<br />
(Extraído de conferência de<br />
31/8/1965)<br />
Gabriel K.<br />
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