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Vejam o remexe-mexe<br />
da História: a Revolução<br />
serviu-se da política débil<br />
e estulta que os reis quiseram<br />
adotar para derrubá-los<br />
e dominar a França,<br />
grosso modo, durante dois<br />
séculos, e assim infestar o<br />
mundo. Mas, em contrapartida,<br />
essa mesma política<br />
serviu para, em determinado<br />
momento, desmoralizar<br />
a Revolução. Essa<br />
é a pluralidade de aspectos<br />
que o fenômeno revolucionário<br />
tem.<br />
Alguém perguntará:<br />
“Então, Luís XVI e Maria<br />
Antonieta foram espertos<br />
ao agir desse modo?”<br />
Não! Porque não é muito<br />
consolador saber que eles<br />
foram reabilitados na opinião<br />
pública quando esta<br />
continua avançando, apesar<br />
de tudo, no caminho<br />
que a Revolução traçou,<br />
ou seja, rumo ao Comunismo.<br />
Contudo, é preciso<br />
compreender bem esse aspecto colateral<br />
da atitude dos reis para entendermos,<br />
na sua prolixidade e na sua<br />
multiplicidade de aspectos, a marcha<br />
do fenômeno “Revolução e Contra-<br />
-Revolução”.<br />
O que deveria ter<br />
feito Luís XVI?<br />
Não entendo nada de cirurgia,<br />
mas vou imaginar um cirurgião que<br />
resolve operar um paciente de câncer<br />
– um tumor não aparente, que<br />
não está à flor da pele. Primeiro, o<br />
médico manda tirar uma radiografia,<br />
depois analisa-a e faz seu plano<br />
de ação: “O câncer está penetrado<br />
em tal lugar; eu devo cortar aqui, lá<br />
e acolá. Mas a minha meta é extirpar<br />
qualquer célula cancerosa, porque<br />
ela vai espalhar a doença para outros<br />
lugares do organismo.”<br />
François-Noël Babeuf<br />
A Revolução, de si, é difusiva como<br />
o câncer e, por isso, deve ser extirpada<br />
por completo.<br />
Luís XVI tinha diante de si duas<br />
alternativas: ou considerar as massas<br />
que se aproximavam e mandar descarregar<br />
a cavalaria sobre elas, como<br />
fez o Príncipe de Lambesc 8 ; ou, caso<br />
isso não fosse possível – como realmente<br />
aconteceu – ele deveria fazer<br />
uma lista dos erros da Revolução<br />
e mandar pedir ao Papa Pio VI uma<br />
condenação; mas pedir de tal forma<br />
que o Pontífice não pudesse recusar.<br />
Eu imagino uma carta do rei ao<br />
Papa nos seguintes termos: “Ou Vossa<br />
Santidade condena com radicalidade<br />
esses erros, de maneira a não<br />
ficar dúvida nenhuma, ou eu vos responsabilizarei<br />
pelo sangue derramado<br />
no meu país. Se esses erros não<br />
forem condenados, a França sofrerá<br />
um morticínio para o qual vou me<br />
Divulgação (CC3.0)<br />
preparar, embora preferisse<br />
não vê-lo. Portanto,<br />
é preciso que eu sinta todo<br />
o peso do clero católico<br />
combatendo do meu lado.<br />
Aí sim, eu sou fiador de<br />
que minha espada garantirá<br />
a integridade do altar,<br />
dos ministros sagrados, do<br />
culto católico inteiro e assegurará<br />
uma França católica!<br />
Se não houver isto,<br />
eu, só com meu poder militar,<br />
não extirpo essa situação.<br />
“Este meu pedido precede<br />
ao uso das armas,<br />
mas, se eu tiver que fazer<br />
uso delas, a Europa ficará<br />
sabendo que entrei<br />
em combate porque Vossa<br />
Santidade não quis ser<br />
enérgico, pois eu fiz o possível<br />
para não derramar<br />
sangue.”<br />
Se fosse eu, sem dúvida<br />
escreveria essa carta e obteria<br />
do Papa o lançamento<br />
desse documento.<br />
Resposta ambígua do<br />
Papa e revide do rei<br />
Pio VI era muito medroso, quase<br />
tão medroso quanto Luís XVI.<br />
Aconteceu, porém, que o monarca<br />
tentou tomar uma medida desse gênero.<br />
Mandou uma carta em segredo,<br />
por meio de um portador, pedindo<br />
ao Papa a condenação dos Direitos<br />
do Homem elaborados pela Revolução.<br />
O que fez Pio VI? Respondeu<br />
à missiva do rei e enviou-a por<br />
um mensageiro, dizendo:<br />
“Eu recebi seu pedido e a condenação<br />
está feita. Ora, ela foi feita<br />
em segredo num consistório do Sacro<br />
Colégio dos cardeais. Portanto,<br />
o documento que envio à Vossa Majestade<br />
é secreto também. Mas, para<br />
tranquilidade de sua consciência, esses<br />
erros estão condenados.”<br />
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