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Revista Dr Plinio 305

Agosto de 2023

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Vejam o remexe-mexe<br />

da História: a Revolução<br />

serviu-se da política débil<br />

e estulta que os reis quiseram<br />

adotar para derrubá-los<br />

e dominar a França,<br />

grosso modo, durante dois<br />

séculos, e assim infestar o<br />

mundo. Mas, em contrapartida,<br />

essa mesma política<br />

serviu para, em determinado<br />

momento, desmoralizar<br />

a Revolução. Essa<br />

é a pluralidade de aspectos<br />

que o fenômeno revolucionário<br />

tem.<br />

Alguém perguntará:<br />

“Então, Luís XVI e Maria<br />

Antonieta foram espertos<br />

ao agir desse modo?”<br />

Não! Porque não é muito<br />

consolador saber que eles<br />

foram reabilitados na opinião<br />

pública quando esta<br />

continua avançando, apesar<br />

de tudo, no caminho<br />

que a Revolução traçou,<br />

ou seja, rumo ao Comunismo.<br />

Contudo, é preciso<br />

compreender bem esse aspecto colateral<br />

da atitude dos reis para entendermos,<br />

na sua prolixidade e na sua<br />

multiplicidade de aspectos, a marcha<br />

do fenômeno “Revolução e Contra-<br />

-Revolução”.<br />

O que deveria ter<br />

feito Luís XVI?<br />

Não entendo nada de cirurgia,<br />

mas vou imaginar um cirurgião que<br />

resolve operar um paciente de câncer<br />

– um tumor não aparente, que<br />

não está à flor da pele. Primeiro, o<br />

médico manda tirar uma radiografia,<br />

depois analisa-a e faz seu plano<br />

de ação: “O câncer está penetrado<br />

em tal lugar; eu devo cortar aqui, lá<br />

e acolá. Mas a minha meta é extirpar<br />

qualquer célula cancerosa, porque<br />

ela vai espalhar a doença para outros<br />

lugares do organismo.”<br />

François-Noël Babeuf<br />

A Revolução, de si, é difusiva como<br />

o câncer e, por isso, deve ser extirpada<br />

por completo.<br />

Luís XVI tinha diante de si duas<br />

alternativas: ou considerar as massas<br />

que se aproximavam e mandar descarregar<br />

a cavalaria sobre elas, como<br />

fez o Príncipe de Lambesc 8 ; ou, caso<br />

isso não fosse possível – como realmente<br />

aconteceu – ele deveria fazer<br />

uma lista dos erros da Revolução<br />

e mandar pedir ao Papa Pio VI uma<br />

condenação; mas pedir de tal forma<br />

que o Pontífice não pudesse recusar.<br />

Eu imagino uma carta do rei ao<br />

Papa nos seguintes termos: “Ou Vossa<br />

Santidade condena com radicalidade<br />

esses erros, de maneira a não<br />

ficar dúvida nenhuma, ou eu vos responsabilizarei<br />

pelo sangue derramado<br />

no meu país. Se esses erros não<br />

forem condenados, a França sofrerá<br />

um morticínio para o qual vou me<br />

Divulgação (CC3.0)<br />

preparar, embora preferisse<br />

não vê-lo. Portanto,<br />

é preciso que eu sinta todo<br />

o peso do clero católico<br />

combatendo do meu lado.<br />

Aí sim, eu sou fiador de<br />

que minha espada garantirá<br />

a integridade do altar,<br />

dos ministros sagrados, do<br />

culto católico inteiro e assegurará<br />

uma França católica!<br />

Se não houver isto,<br />

eu, só com meu poder militar,<br />

não extirpo essa situação.<br />

“Este meu pedido precede<br />

ao uso das armas,<br />

mas, se eu tiver que fazer<br />

uso delas, a Europa ficará<br />

sabendo que entrei<br />

em combate porque Vossa<br />

Santidade não quis ser<br />

enérgico, pois eu fiz o possível<br />

para não derramar<br />

sangue.”<br />

Se fosse eu, sem dúvida<br />

escreveria essa carta e obteria<br />

do Papa o lançamento<br />

desse documento.<br />

Resposta ambígua do<br />

Papa e revide do rei<br />

Pio VI era muito medroso, quase<br />

tão medroso quanto Luís XVI.<br />

Aconteceu, porém, que o monarca<br />

tentou tomar uma medida desse gênero.<br />

Mandou uma carta em segredo,<br />

por meio de um portador, pedindo<br />

ao Papa a condenação dos Direitos<br />

do Homem elaborados pela Revolução.<br />

O que fez Pio VI? Respondeu<br />

à missiva do rei e enviou-a por<br />

um mensageiro, dizendo:<br />

“Eu recebi seu pedido e a condenação<br />

está feita. Ora, ela foi feita<br />

em segredo num consistório do Sacro<br />

Colégio dos cardeais. Portanto,<br />

o documento que envio à Vossa Majestade<br />

é secreto também. Mas, para<br />

tranquilidade de sua consciência, esses<br />

erros estão condenados.”<br />

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