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ou duzentos anos depois, quando o<br />
povo afluiu à Basílica de Latrão para<br />
ver o Papa coroar Carlos Magno como<br />
Imperador.<br />
Reflitamos nesse Império que<br />
nasce, nesse homem de estatura fabulosa,<br />
Carlos Magno, venerado como<br />
santo em vários lugares da Europa;<br />
pensemos no Papa São Leão III,<br />
que o coroa e o conduz pela mão a<br />
um balcão, de onde será aclamado<br />
pelo povo...<br />
Natal laico e comercial<br />
de nossos dias<br />
Como tudo isto é diferente do Natal<br />
considerado em nossos dias, completamente<br />
comercializado, transformado<br />
em ocasião para promoção<br />
de vendas, em cruzar febril de presentes;<br />
há lojas que já possuem banco<br />
de compensação. Telefona-se e<br />
diz:<br />
— Senhor Fulano, há aqui três<br />
caixas de whisky reservadas. Quer<br />
que eu as mande para sua casa?<br />
— Não! Mande para Beltrano ou<br />
Sicrano.<br />
Aquele produto, sem sair da caixa,<br />
circula como uma espécie de<br />
whisky telefônico ou de papel, fica<br />
pertencendo a várias pessoas sem ter<br />
pertencido a ninguém. E, sem dúvida,<br />
terminará na loja no dia do Natal,<br />
se não, no estômago de um embriagado.<br />
É um Natal laico, no qual as manifestações<br />
religiosas são postas de<br />
lado, em que se ouve um bater de<br />
carrilhões transmitido pelo radiofone<br />
numa atmosfera adocicada, como<br />
a de certas entidades filantrópicas de<br />
“homens de boa vontade”, nas quais<br />
não se sente o surto de fé da Idade<br />
Média. É uma espécie de Natal de<br />
sonegação, sem apetecer ao Céu, ao<br />
absoluto, sem aspirar ao sobrenatural,<br />
mas todos organizados para levar<br />
uma vidinha nesta Terra.<br />
Há um verdadeiro abismo entre<br />
ambas concepções de Natal e<br />
nós devemos ter isto em mente para<br />
protestar e firmar em nosso interior<br />
uma atmosfera profundamente<br />
oposta. Qual?<br />
Verdadeira postura face<br />
ao Natal de nossos dias<br />
É uma atmosfera de alegria porque<br />
o Menino Jesus nasceu; mas<br />
de tristeza pelo fato de que tudo<br />
se passa como se quisessem matá-<br />
-Lo novamente. Basta considerar os<br />
acontecimentos em Roma, a situação<br />
do Ocidente, este último alento<br />
da Civilização Cristã que estamos<br />
vivendo. Nós não podemos nos associar<br />
a este espírito laico e igualitário.<br />
Temos que levar no interior de<br />
nossa alma o Natal de Clóvis, de São<br />
Remígio, de Carlos Magno, de São<br />
Leão III. E como é esse Natal? É<br />
uma consideração séria do mistério<br />
da Natividade, uma compreensão da<br />
enorme graça que nos foi dada, dos<br />
deveres trazidos por ela e do propósito<br />
de combater. Porque, “quem me<br />
ama, ama a quem me ama e odeia a<br />
quem me odeia.” Disso não há por<br />
onde escapar!<br />
Assim como não acredito ser meu<br />
amigo um homem que se enterneça<br />
para comigo, mas, ao ver-me injuriado,<br />
não me defenda contra quem<br />
me agrediu e não lute contra ele, assim<br />
Nosso Senhor não tem razão para<br />
tomar como séria nossa ternura<br />
– ainda que seja tão legitimamente<br />
terníssima do Natal –, se nosso coração<br />
não estiver cheio de tristeza,<br />
de deliberação de atacar e combater<br />
por aquilo que se faz contra Ele<br />
e contra o Reino de Maria. É esta seriedade,<br />
esta tristeza que devemos<br />
pedir ao Menino Jesus, por meio de<br />
Nossa Senhora, na Missa do Galo.<br />
Peçamos para termos um Natal de<br />
Cruzado e não aquele caricatamente<br />
chamado “o Natal dos homens de<br />
boa vontade.”<br />
v<br />
(Extraído de conferência de<br />
23/12/1965)<br />
1) Não dispomos dos dados bibliográficos<br />
dessa obra.<br />
Batismo de Clóvis - Galerias Históricas do Museu do Palácio de Versailles<br />
G.Garitan (CC3.0)<br />
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