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Revista Dr Plinio 309

dezembro 2023

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Hagiografia<br />

com essa pergunta?” Por este lado, parece<br />

que os Apóstolos tinham mais interesse<br />

em saber se São João morreria<br />

ou não, do que em saber se ele ficava<br />

longo tempo na terra, ou não. Para os<br />

Apóstolos, o problema devia ser muito<br />

maior, porque eles deviam ter medo<br />

de morrer e pensavam: “Esse vai ser<br />

um felizardo que não morre?” O que,<br />

na perspectiva deles, se compreende.<br />

Portanto, São João, no seu Evangelho<br />

tomou a hipótese de ele ficar e<br />

se colocou mais ou menos à margem<br />

da discussão.<br />

Único Apóstolo coroado<br />

com o martírio de desejo<br />

Continua a ficha.<br />

A crueldade do Pretório é vencida<br />

e João, mártir do desejo, conservou-se<br />

para a Igreja alguns anos ainda.<br />

Aqui há uma coisa muito bonita.<br />

No caso de São João, há uma espécie<br />

de triunfo da confiança. Porque a graça<br />

do martírio e da resistência a ele é<br />

uma graça especial dada àqueles que<br />

são chamados. Poderia ser que não<br />

fosse dada a ele a graça de enfrentar<br />

aquela situação e fosse, portanto, em<br />

direção ao caldeirão de azeite quente,<br />

com um medo medonho, mas confiante<br />

em que não seria queimado.<br />

São João Evangelista sabia que<br />

ainda tinha uma missão para cumprir.<br />

Era natural, de um lado, que<br />

quisesse morrer, mas, de outro, que<br />

não quisesse morrer. Ele tinha desejado<br />

ardentemente o martírio, tinha<br />

tido toda coragem para enfrentá-lo.<br />

Mas, sem ser martirizado, opera-se<br />

o milagre e sai de lá de dentro com<br />

a coroa do martírio de desejo para o<br />

cumprimento de sua missão.<br />

Missão que supera as do<br />

Antigo Testamento<br />

Então, São João chega a Patmos,<br />

uma ilhota no meio do Mediterrâneo.<br />

Ali, sua vida atinge o verdadeiro<br />

apogeu; o Céu se abre e começam<br />

todas as visões do Apocalipse. É o<br />

último fim da união dessa alma extraordinária<br />

com Deus.<br />

Entretanto, para o comum das<br />

pessoas, o Apocalipse, por exemplo,<br />

não figura na fisionomia moral nem<br />

na psico-iconografia de São João.<br />

Sabe-se que o Apocalipse existe,<br />

mas é um livro misterioso, tão complicado<br />

e tão tonitruante, tão fora<br />

das medidas de doçura comuns,<br />

que não vale a pena deter-se nele,<br />

pois é um livro feito mais para ser<br />

interpretado no momento em que<br />

os acontecimentos se verificarem do<br />

que com antecedência. E por isso é<br />

misterioso.<br />

Talvez porque a hora da Providência<br />

não tenha chegado, a iconografia<br />

não costuma representar São<br />

João recebendo as visões na Ilha de<br />

Patmos. É mais fácil apresentar, por<br />

exemplo, Henoc ou Elias recebendo<br />

uma visão na Ilha de Patmos, de pé,<br />

numa atitude grandiosa. Seria uma<br />

coisa fabulosa!<br />

Ora, não é essa a posição em que<br />

fica São João Evangelista. A meu ver,<br />

por uma certa inversão de valores<br />

que há em nossa cabeça, decorrente<br />

do modo como nos expõem o Novo<br />

Testamento, São João se apresenta<br />

menos extraordinário do que certas<br />

pessoas do Antigo Testamento.<br />

Moisés, por exemplo, recebendo<br />

as tábuas da Lei, parece-nos mais<br />

majestoso do que São João Evangelista<br />

reclinando a cabeça sobre o<br />

Samuel Hollanda<br />

Um decreto imperial o exilou para<br />

a Ilha de Patmos, onde o Céu lhe deve<br />

manifestar o destino futuro do Cristianismo<br />

até o fim dos tempos.<br />

Moisés recebendo as tábuas da Lei - Catedral de Colônia<br />

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