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Revista Dr Plinio 309

dezembro 2023

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Dona Lucilia<br />

J.P.Ramos<br />

Representando a última semente de uma árvore esplendorosa<br />

que morria, Dona Lucilia foi posta pela Providência numa<br />

situação intermediária entre a sua geração e o passado,<br />

onde a inocência de sua ação haveria de deitar raízes<br />

para uma nova e gloriosa árvore: o Reino de Maria.<br />

O<br />

que<br />

se dava com mamãe no<br />

que diz respeito à sua inocência?<br />

Olhar posto num ponto<br />

luminoso indefinido<br />

Em sua alma havia um esplendor.<br />

É próprio ao Quadrinho 1 indicá-lo<br />

com perfeição. Aliás, esse Quadrinho<br />

– como outras coisas que ela tem feito<br />

–, roça no milagroso, porque não<br />

posso admitir que, com base numa<br />

fotografia, um pintor que nunca a viu<br />

tenha dado a ele muito mais expressão<br />

do que há na própria foto dela.<br />

O que o quadro tem de imponderável<br />

é o olhar, manifestado por ela<br />

muitas vezes, fixo num ponto luminoso<br />

indefinido, o qual ela não se saciava<br />

de ver e que lhe enchia a alma<br />

de luz. Esse ponto luminoso indicava<br />

haver em seu interior uma zona<br />

de meditação muito alta e contínua,<br />

cuja ação alcandorava a alma, iluminando-a<br />

e alvejando-a cada vez mais.<br />

Os cabelos brancos dela, já ao fim<br />

da vida, às vezes comoviam-me, porque<br />

pareciam o resplendor de algo<br />

enternecedor e comovedoramente<br />

prateado que ela possuía. E a impressão<br />

é que no Quadrinho ela medita<br />

olhando uma luz prateada.<br />

Exercícios de transcendência<br />

ao admirar a natureza<br />

Havia no espírito dela um ponto<br />

altíssimo, era o campo da inocência<br />

dela.<br />

Lembro-me de certa vez tê-la escutado<br />

falar com papai. Ambos estavam<br />

olhando o eterno panorama de<br />

dois idosos que não saem de casa: a<br />

praça da frente, um bonito pôr do sol<br />

visto através do arvoredo, para o lado<br />

da Rua Alagoas; a cidade era menos<br />

poluída do que é hoje.<br />

Às tantas ela disse a papai: “Meu<br />

velho, veja que sol bonito vem ali!<br />

Que pôr do sol maravilhoso! Nós<br />

vamos morrer daqui a pouco e proponho<br />

que façamos um trato: à vista<br />

deste pôr do sol, aquele que ficar<br />

na Terra por mais tempo rezará uma<br />

Ave-Maria pelo outro.”<br />

Percebi por este fato o quanto aquele<br />

crepúsculo representava para ela e<br />

que alto exercício de transcendência<br />

ela fazia a respeito de algo da natureza.<br />

Numa outra ocasião, por questões<br />

de segurança, mandei cortar os galhos<br />

de uma árvore que ficava próxima à<br />

casa. Ela não tinha a noção do perigo<br />

que aquilo representava e percebi que<br />

o fato de ela não poder contemplar<br />

mais as folhas daquela árvore e a projeção<br />

da luz que elas faziam, traçando<br />

de noite sombras na parede branca<br />

do meu escritório, era como algo do<br />

Céu que se fechava para ela. E notei,<br />

naquela mansidão exímia dela, apenas<br />

6

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