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Revista Dr Plinio 309

dezembro 2023

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Arquivo <strong>Revista</strong><br />

Gabriel K.<br />

um “ai” de um cordeiro que leva<br />

outra alfinetada e mais nada.<br />

Posição ápice de uma alma<br />

Mamãe era da geração de vovó,<br />

mas à maneira de uma simplificação:<br />

ela ficava entre a geração dela<br />

e a anterior, representando muito<br />

do século XIX. Esta é a posição<br />

contrarrevolucionária ápice de uma<br />

alma: ficar a meio caminho da geração<br />

que a antecedeu, sem ser uma<br />

pessoa anacrônica, não sendo de nenhum<br />

modo de sua própria geração.<br />

No século XIX ainda restavam muitos<br />

valores medievais que os homens<br />

amavam sem os ver com clareza. Por<br />

exemplo, na perspectiva de Santa Teresinha,<br />

como seria propriamente a Idade<br />

Média? Vemos, no entanto, que a<br />

união dela com o pai, Luís Martin, era<br />

por ver nele uma gota da Cristandade<br />

medieval posta no século XIX, mas<br />

não como algo que se destacou e perseverou.<br />

O século XIX ainda era túmido<br />

de coisas medievais, donde inclusive<br />

surgir um movimento neogótico.<br />

Não quero fazer uma equiparação<br />

entre mamãe e Santa Teresinha, mas<br />

descrevo um ponto de semelhança.<br />

Santa Teresinha não fez grandes<br />

obras. O que ela teve foi uma altíssima<br />

inocência, com a qual realizou<br />

atos que lhe deram um valor insondável,<br />

os quais, segundo a escola e a doutrina<br />

dela, eram coisas comuns. Não<br />

era comum aceitar a morte como ela<br />

aceitou. Pode haver muita gente que<br />

morra aceitando a morte, até em termos<br />

edificantes. Mas Santa Teresinha<br />

tinha muito mais do que isso.<br />

Santa Teresinha, creio eu, foi a última<br />

flor da França, e, por isso, a última<br />

flor da Cristandade. Ela deu origem<br />

a uma família de almas universal<br />

e não mais especificamente francesa,<br />

mas voltada para o futuro. É uma semente<br />

que ficou da árvore sacrossanta<br />

da França e deu origem a outras<br />

maravilhas.<br />

Neste sentido, o que foi mamãe<br />

para mim? Que relação o campo de<br />

inocência dela tem com o da minha<br />

inocência? E que relação esse campo<br />

de inocência tem com o papel dela<br />

dentro da História?<br />

Da semente modesta<br />

ressurge a Cristandade<br />

do Reino de Maria<br />

Mamãe retivera sobretudo os lados<br />

bons do século XIX, que eram<br />

as tradições medievais ainda vivas;<br />

e sua alma era uma continuação<br />

disso. De maneira que eu comecei<br />

a amar nela a Idade Média, e muitas<br />

vezes pensava: como é parecida<br />

com mamãe!<br />

Contudo, mamãe não tinha<br />

uma noção exata do que tinha<br />

sido a Idade Média. Ela gostava<br />

muito das coisas góticas, mas sua<br />

alma era mais gótica do que ela notava<br />

no gótico. Ela foi um eco fidelíssimo,<br />

embora subconsciente, dessa<br />

gloriosa era de fé e enquanto o mundo<br />

inteiro ia decaindo e abandonando<br />

o espírito da Idade Média, ela gerou<br />

um filho entusiasta da Cristandade<br />

medieval.<br />

Ela é o hífen, a ponte entre tudo o<br />

que houve outrora e o futuro. Ela representava<br />

o último pranto do passado,<br />

chorando por morrer. E o filho<br />

dela, Nossa Senhora destinou para<br />

fundar uma família de almas que seria<br />

o raiar da Idade Média ressurrecta<br />

no Reino de Maria.<br />

A palavra hífen diz pouco: é a última<br />

semente de uma árvore esplendorosa<br />

que morre, mas da qual vai nascer<br />

outra árvore ainda maior. Essa semente<br />

foi ela: modesta, pequena, ignorada,<br />

sem deixar atrás de si outro rastro a não<br />

ser esse, mas deixando esse. E esse é o<br />

grande papel histórico dela, a grande<br />

missão; e talvez, sem ela saber, deu nascimento<br />

à Contra-Revolução. v<br />

(Extraído de conferência de<br />

30/10/1977)<br />

1) Quadro a óleo que muito agradou a<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, pintado por um de seus<br />

discípulos, com base nas últimas fotografias<br />

de Dona Lucilia. Cf. <strong>Revista</strong><br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> n. 119, p. 6-9.<br />

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