Comunidade e Africanidade na Capoeira Angola - Grupo de ...
Comunidade e Africanidade na Capoeira Angola - Grupo de ...
Comunidade e Africanidade na Capoeira Angola - Grupo de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>de</strong> “Tatas Xicarangoma ix ”. O que po<strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r outras experiências <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
fundamentadas em princípios semelhantes.<br />
A situação, diria que ironicamente, inverte-se: esses muleekes chegaram ao terreiro <strong>de</strong><br />
candomblé por meio da capoeira e, atualmente, continuam envolvidos com o candomblé,<br />
apesar <strong>de</strong> estarem mais afastados da capoeira. Porém, o próprio vínculo com o candomblé<br />
contribui para alimentar, <strong>de</strong> alguma maneira, seu vínculo com a capoeira. Existe um incentivo<br />
mútuo, construído a partir da ligação entre os mestres do Nzinga e o Pai <strong>de</strong> Santo do terreiro<br />
<strong>de</strong> Mutá Lambô ye Kaiongo, o Tata Muté Imê: os mestres <strong>de</strong> capoeira “criam a ponte” para<br />
quem quiser passar e se aproximar do candomblé e o Pai <strong>de</strong> Santo orienta esses muleekes para<br />
“não largarem a capoeira” (conforme relatado por Mestre Poloca aos alunos no momento fi<strong>na</strong>l<br />
<strong>de</strong> uma aula). Incentivo esse que mantém o respeito à autonomia <strong>de</strong> cada um para participar<br />
ou não <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong> outro e conserva a <strong>de</strong>vida in<strong>de</strong>pendência entre as duas manifestações.<br />
Essa proximida<strong>de</strong> dos mestres do <strong>Grupo</strong> Nzinga com o Candomblé, para além da<br />
própria fé e obrigações religiosas, <strong>de</strong>monstra também uma busca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e apoio<br />
mútuo <strong>na</strong> luta política contra diversas formas <strong>de</strong> hegemonia cultural oci<strong>de</strong>ntal que<br />
<strong>de</strong>squalificam ou <strong>de</strong>sconhecem o saber pautado <strong>na</strong> concepção <strong>de</strong> mundo dos africanos. Muniz<br />
Sodré, ao explicar sobre a Arkhé negra, nos ajuda a enten<strong>de</strong>r essa questão:<br />
A Arkhé negra (...) se insere <strong>na</strong> História da cotidianida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
escravo <strong>na</strong>s Américas como um “contralugar” (em face daqueles produzidos<br />
pela or<strong>de</strong>m hegemônica) concreto <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> grupal e <strong>de</strong><br />
penetração em espaços intersticiais do bloco dirigente. Não se trata <strong>de</strong> uma<br />
“religião” que exiba uma gran<strong>de</strong> “verda<strong>de</strong> <strong>na</strong>tural”, mas da dimensão sagrada<br />
que permeia a História, em nome das classes subalter<strong>na</strong>s, para afirmar o<br />
presente, estabelecendo outras re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> social. (SODRÉ,<br />
1988a, p.103. Grifos nossos).<br />
A aproximação com o candomblé, no caso do <strong>Grupo</strong> Nzinga, vai <strong>de</strong> encontro com o<br />
processo <strong>de</strong> construção i<strong>de</strong>ntitária do grupo e a sua própria práxis educativa, calcada nos<br />
mesmos princípios que po<strong>de</strong>mos encontrar <strong>na</strong> <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>: a oralida<strong>de</strong>, a ritualida<strong>de</strong>, a<br />
comunida<strong>de</strong> e a ancestralida<strong>de</strong>.<br />
Berimbau está chamando, o jogo já vai “termi<strong>na</strong>r”<br />
Esse trabalho me possibilitou realizar o seguinte percurso: partindo da experiência<br />
com os muleekes <strong>na</strong>s práticas do <strong>Grupo</strong> Nzinga <strong>de</strong> <strong>Capoeira</strong> <strong>Angola</strong>, refletimos sobre as<br />
idéias <strong>de</strong> Arkhé e Axé, para as culturas negras, especialmente por meio dos rituais,<br />
13