11.01.2013 Views

Comunidade e Africanidade na Capoeira Angola - Grupo de ...

Comunidade e Africanidade na Capoeira Angola - Grupo de ...

Comunidade e Africanidade na Capoeira Angola - Grupo de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

lidar com as diversas situações e pessoas. Chamamos Sodré <strong>de</strong> volta à roda, para nos mostrar<br />

a relação entre o ritual e as práticas comunitárias, entre o axé e a realida<strong>de</strong> vivida:<br />

A força <strong>de</strong> vida dos negros, o axé, não tem <strong>na</strong>da <strong>de</strong> “impossibilida<strong>de</strong>”,<br />

nenhuma separação com a realida<strong>de</strong> vivida. É antes algo que se dá num espaço<br />

<strong>de</strong> práticas comunitárias e numa temporalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arkhé, próxima daquela<br />

on<strong>de</strong> o mundo se or<strong>de</strong><strong>na</strong> pelo advento do que ‘talvez nunca existiu’<br />

exatamente assim, mas que só acontecerá <strong>de</strong>ssa forma e nessa distribuição<br />

simbólica prescritas pelo ritual (SODRÉ, 1988a, p.102).<br />

Esse sentido <strong>de</strong> ritual nos ajuda a compreen<strong>de</strong>r o sentido maior da “luta social” que a<br />

capoeira po<strong>de</strong> travar. Vejo essa luta refletida em uma “estética” <strong>de</strong> jogo ensi<strong>na</strong>da para os<br />

muleekes do Nzinga, pautada em valores como o respeito ao outro, a expressão e criativida<strong>de</strong><br />

corporal, o auto-conhecimento, a solidarieda<strong>de</strong> grupal.<br />

Feito o “arranjo <strong>de</strong>sse ritual” <strong>de</strong> cosmovisão africa<strong>na</strong>, buscarei aprofundar <strong>na</strong> trama <strong>de</strong><br />

significados <strong>de</strong> sua prática comunitária, refletindo sobre algumas questões que mais vêm me<br />

tocando <strong>na</strong> experiência com os muleekes do <strong>Grupo</strong> Nzinga, <strong>de</strong>ntre as quais: Como os<br />

muleekes se inserem no grupo? Como se dão as relações entre eles e os outros membros<br />

(adultos, vindos <strong>de</strong> diversas classes sociais e etnias, em sua maioria brancos e <strong>de</strong> classe<br />

média)? Como o grupo lida com os conflitos e afastamentos <strong>de</strong> alguns membros? Buscarei<br />

“<strong>de</strong>screver-refletindo” <strong>de</strong>s<strong>de</strong> essa experiência, usando como “óculos” para filtrar o olhar,<br />

neste momento, as idéias <strong>de</strong>senvolvidas até aqui. Será que esse grupo po<strong>de</strong> ser pensado como<br />

uma comunida<strong>de</strong>? Que tipo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> seria esta? Que o gunga vi vá para as mãos dos<br />

muleekes – como eles bem sabem fazer – para dar início a mais um “jogo”.<br />

<strong>Comunida<strong>de</strong></strong> e níveis <strong>de</strong> pertencimento<br />

Os muleekes do “núcleo duro”<br />

Quando comecei a freqüentar as ativida<strong>de</strong>s realizadas no grupo Nzinga, havia um<br />

grupo <strong>de</strong> basicamente nove muleekes que estavam sempre – ou quase sempre – por lá, sendo 6<br />

meninos e duas meni<strong>na</strong>s. Nas rodas do grupo, em geral, a presença – encantadora – <strong>de</strong>les é<br />

fundamental para “segurar o ritmo”, tocando os instrumentos da bateria, e assim manter a<br />

energia vibrante que conecta os presentes e os ausentes, o axé, como nos explicou Muniz<br />

Sodré (1988a, 1988b). Eles chegam a assumir a posição <strong>de</strong> quem “comanda o ritual”, tocando<br />

o berimbau gunga e fazem a diferença <strong>na</strong> firmeza do toque do atabaque. Essa energia também<br />

tem seus altos e baixos. Em certos momentos da roda, parece que uma onda <strong>de</strong> preguiça paira<br />

7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!