UNIVERSIDADE DO PORTO Faculdade de Letras - Repositório ...

defensores do Imperador Honório e as tropas de Gerôncio. De resto, o clima
desorganizado favoreceu a implantação impune destas comunidades migrantes na
Península. Idácio referiu-se a um sorteio dos territórios por parte das três comunidades
migrantes: os vândalos asdingos instalaram-se no Norte da Gallaecia, os vândalos
silingos e os alanos dividem a Lusitânia e a Betica, ao passo que os suevos ocupam a
região ocidental da Península, mormente na região meridional da Gallaecia em torno de
Bracara Augusta. Os hispanos, por seu turno, refugiaram-se nas civitates e oppida
(CARDOSO 1982: 13).
A ocupação esteve longe de ser pacífica, pois Idácio reportou a série de
violências e devastações que acompanharam os movimentos das hordas invasoras.
Garcia Moreno considerou normal que estes povos, organizados segundo uma estrutura
social complexa apoiado num regime monárquico rodeado por uma clientela militar de
grande autonomia, se tenham apropriado de algumas villae, entretanto abandonadas
pelos seus proprietários hispânicos, fugidos quer dos germanos, quer dos movimentos
da guerra civil (GARCÍA MORENO 1998: 44-45).
Após uma série de pequenas redefinições territoriais, traduzidas por algumas
escaramuças, quer entre suevos e vândalos, quer entre estes povos e os hispano-
romanos, parece ter-se assumido uma espécie de período pacífico, em que os novos
ocupantes do território exerciam um controlo militar sobre as cidades e áreas
envolventes aos centros urbanos e taxavam os habitantes agora centrados nas civitates e
nos castella tutoria indicados por Idácio (CARDOSO 1984: 13). Esta redefinição do
povoamento parece estar bem documentada pela Arqueologia (ALMEIDA CAF 1972 e
1993), mas é assunto que trataremos com mais cuidado à frente.
O governo de Ravena não tardou a encetar manobras na tentativa de restabelecer
a antiga ordem no ocidente da Península Ibérica As lutas entre os partidários de
Gerôncio, Constantino III e Honório tiveram como maior consequência política o
esvaziamento militar e governativo da Península Ibérica, facto que facilitou a campanha
das tropas visigodas entre 414 e 416 sob o comando de Ataúlfo e depois de Valia. Como
este exército se viu encurralado na Península Ibérica, dado o fortalecimento das tropas
fiéis a Ravena estacionados na Gália e do grande controlo que efectuava à fronteira
pirenaica, Valia conseguiu o estabelecimento de um foedus com Constâncio (GARCÍA
MORENO 1998: 46). Este importante facto político tornou todo o exército visigodo à
disposição do Imperador Honório para assim atacar os ocupantes do ocidente da
Península, pois o domínio das zonas meridionais da Hispânia, sorteadas para os alanos e
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