"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro
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para a segunda camada, que é onde me escondo, lá dentro estão<br />
todos meus ódios mortais, meus amores escondidos e desejos<br />
pecaminosos, essa vida é a que deveria estar do lado de fora, e<br />
não o contrário. Mas se isso acontecesse o mundo estaria defini-<br />
tivamente mudado. Teríamos grandes soluções para problemas<br />
com os quais nunca sonhamos, de cada fruta enterrada nasce-<br />
riam árvores de caroços, e nesse mundo de avessos, não seria<br />
só o bem que encontraria espaço para suas raízes, a hipocrisia<br />
também previne grandes catástrofes.<br />
Invertida em minha essência, descobriria que só o que sabia<br />
ser eu, eram águas rasas, e que muito mais havia de mim, e de<br />
todas, quantas, múltiplas, duplas, estavam acontecendo para de-<br />
sespero de suas consequências. Ninguém era ouvidos para a mú-<br />
sica nunca executada, e nessa ausência que vai acontecendo sob<br />
a neblina que se ergue na madrugada, o escuro, azul, respinga<br />
amarelos, um sol, seus reflexos, raios perpendiculares, oblíquos,<br />
o vermelho rasgando as águas, um ponto dourado de luz, o azul<br />
enfraquecido e o grilo cantando seus dilemas para a nova noite.<br />
Pressinto que algo está próximo de se romper, talvez as<br />
águas transbordem e minhas fronteiras internas desapareçam, e<br />
eu me transforme em uma pessoa-plenidão, todas as necessida-<br />
des saciadas, contemplação protegida de qualquer investida do<br />
tempo, no único dia sem começo, a pessoa primordial se deitaria<br />
sob o sol do eterno meio-dia e degustaria os efeitos calmantes do<br />
calor. Esse prazer seria espalhado por todo seu corpo, e quem<br />
conseguisse ler seus olhos descobriria que talvez, aqueles olhos<br />
sempre estiveram ali, e que mesmo ele tendo visto o homem dei-<br />
tar-se sob o sol, que tudo aquilo pode não ter passado de uma<br />
encenação, e talvez aquele homem simplesmente não exista, nem<br />
braços, nem orelhas, e depois, quando refletir melhor, talvez des-<br />
confie que o homem relaxado, era ele mesmo, e no momento em<br />
que foi verificar seus olhos, descobriu-se.