"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro
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preparam para que eu nunca mais engravide, e se isso aconte-<br />
cer, que seja de uma nova menina. Faço isso magoada. Ele me<br />
colocou dentro de um jogo sem me perguntar se queria. Tinha<br />
só quatorze anos quando nos casamos, agora tenho o direito de<br />
frustrar seu sonho.<br />
Outro dia um emissário de meu marido me viu à beira do<br />
riacho conversando com algumas bruxas, imagino que a essa al-<br />
tura ele já deve estar ciente de minhas práticas, mas nunca disse<br />
uma palavra sobre o assunto. Olha-me com seus pesados olhos<br />
azuis envoltos em grandes cílios, espera que eu tome a iniciativa<br />
e conte-lhe tudo. Não direi nada.<br />
Que os anos transcorram nessa hipocrisia muda, tenho a<br />
música como refúgio. Depois de beber os chás das feiticeiras, ca-<br />
minho até não enxergar mais ninguém, então uso minha voz e<br />
flauta, tento fazer com que os pedacinhos de vida que não se<br />
encaixam na prática, pelo menos na música convivam de manei-<br />
ra harmônica, e que dela possa ser extraído um sentido. Quanto<br />
tenho sucesso nessas tentativas, e percebo que o que estou to-<br />
cando, representa muitas coisas além do que pode estar contido<br />
dentro de mim, nesse dia me sinto realizada, volto para o castelo<br />
repleta de um amor que não escolhe parceiro para ser dividido.<br />
A fatia maior sempre acaba sobrando para minhas filhas,<br />
mas até meu marido alegra-se com a recepção que lhe faço. Em<br />
outros dias a flauta soa triste, minha voz perde o veludo e a von-<br />
tade, e o que consigo expressar são dorzinhas ou frustrações in-<br />
ternas, daí sinto uma enorme sensação de tempo perdido, meus<br />
dias se esvaem como uma folha que cai nas águas do riacho e<br />
sem direção nem força, vai sendo levada com velocidade para a<br />
foz do rio.<br />
Volto para o castelo sem vontade de falar com ninguém,<br />
digo para minhas damas de companhia informarem ao rei