"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro
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à deriva, e sem conseguir subir no convés apenas aceita o mo-<br />
vimento da maré e agarra-se com todas suas unhas na madeira<br />
molhada que consegue segurar.<br />
Os dias às vezes amanheciam esfuziantes, não havia mu-<br />
lher mais feliz do que eu, sentia que enxergava uma ilha bem<br />
próxima de mim, nela havia pessoas que me amavam, o clima<br />
que mais me satisfazia e minhas comidas favoritas. No dia se-<br />
guinte eu voltava a agarrar-me ao fundo do navio, engolia água,<br />
passava frio, e tinha muito medo de ser atacada por peixes, que<br />
me surpreenderiam vindos do escuro.<br />
Agora. No auge da montanha amorosa, temo que a incons-<br />
tância não tenha ido embora de vez, e que surpreendida por mim<br />
mesma... sinto um nó na garganta só de pensar... apunhale mi-<br />
nha filha para depois morrer, mesmo continuando viva. Não há<br />
desconfiança mais ácida que a de si mesma.<br />
Mas preciso construir essa fidelidade, os olhos dela vão me<br />
ajudar a firmar os pilares que ainda se movem em terra amo-<br />
lecida, eles têm a fragilidade da luz sem testemunhas, são tão<br />
ocos quanto a essência das coisas, e por isso tenho a obrigação de<br />
ser sólida para sustentá-los. As duas doces promessas azuis são<br />
capazes de não me enxergar. Entretanto são feitas para isso. Va-<br />
cilam docemente, assumindo suas incompetências, disfarçando-<br />
as em forma de pedidos que não podem ser negados. E eu me<br />
transformo em obediência.<br />
Não há cor que eu não desacate, doutrinando-a para que<br />
vire nota musical e possa ser soprada no ouvido de minha crian-<br />
ça. Desacordo todas as sintonias, expulso as dissonâncias, sou a<br />
grande lua discrepante iludindo olhares que precisam de branco<br />
e confiança, de dentro de mim mesma abro a porta que dá acesso<br />
ao que tenho de mais eu, e convido-a a entrar, ela aceita, entra<br />
trazendo aqueles olhos de nada sei. Sua presença dentro de mim