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"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro

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várias plantas cantassem, o riacho faria uma voz brilhante de<br />

fundo, e a brisa aliviaria a melodia com um sopro doce, porque<br />

passou por um canteiro de rosas. Os cheiros também deveriam<br />

ser incluídos nessa nova maneira de compor. As árvores velhas<br />

têm barulhos graves, e podem servir de oposição para o canto<br />

agudo dos pássaros. Serei a moribunda mais feliz e ativa que já<br />

encontraram.<br />

“Desgraçada... acha que escapará da vida vestindo-a com<br />

tuas luzes favoritas? Não há música ou salvação. Só o rubro escu-<br />

recido que escorre de teus lábios e mancha o lenço alvo. Teus or-<br />

gulhos são feitos de carniça, e sobre eles descem as grandes asas<br />

negras do abutre, levando embora todas as pegadas deixadas nas<br />

areias da vida. Não há remissão para os pecados. Você é uma<br />

falha na harmonia do mundo, promessa descabida, prostituta<br />

ensebada, sifilítica, pestilenta, a miséria reprodutiva feita para<br />

levar adiante outras misérias. De teus interiores nascem as cor-<br />

das que tanto nutrem as crianças quanto enforcam os homens, e<br />

é por isso que tanto te comprazes com riachos, mas não se (nem<br />

nos) engane, eles nunca limparão as impurezas de que és feita.<br />

Queres falar dos sons que soprastes na flauta, ou dos arran-<br />

jos para vozes, sabe o que foi aquilo? Só teu medo gritando. A<br />

mesquinha e apagada figura pedindo para que os outros se im-<br />

portassem com ela, mesmo que no fundo você soubesse que não<br />

tinha nenhuma importância, e que portanto, tudo não passou de<br />

uma extensa mentira.<br />

Nossas vozes não são pessimistas nem querem de maneira<br />

alguma te ofender, só queremos falar daquilo que conhecemos<br />

na intimidade. Somos todos desastres. Só o que queremos agora,<br />

é falar do teu. A fraqueza de suportar por tantos anos um casa-<br />

mento destruído, teus ridículos desejos de liberdade, os sonhos<br />

com príncipes encantados, que revelaram-se vigaristas sedutores,<br />

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