13.04.2013 Views

"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro

"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro

"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

simples, rampas ao invés de escadas de pedra, nada de labirin-<br />

tos. Que as pessoas com quem falemos tenham os olhos nos nos-<br />

sos. Essa é uma pequena receita para a simplicidade.<br />

Voam as folhas mortas, empilham-se embaixo de outra ár-<br />

vore, nesse movimento há paz e morte. A chuva fura folhas e a<br />

lama decora. O cheiro que se desprende é de vida, essa será mi-<br />

nha salvação, a aproximação do selvagem, a música sem instru-<br />

mentos nem notas musicais, só o som de meu corpo interferindo<br />

na natureza. Pulo no lago, o início de minha composição, um<br />

grito de frio, segue a música, encontro uma pedra e a atiro em<br />

uma árvore, outros instrumentos entram em ação, bato as mãos<br />

n’água (música reflexiva, afundo-me na lagoa e fico lá o máximo<br />

de tempo que aguentar), a música está interiorizada, e apesar<br />

de ninguém conseguir escutá-la, possui importância dentro da<br />

composição. E pronto. Terminei. Uma peça para ser tocada com<br />

o corpo e a natureza, a música só será grande quando nos trans-<br />

formarmos nela. Da mesma forma que nós não nos tornaremos<br />

grandes sem nos transmutarmos no exato que somos.<br />

Depois do silêncio, ou dentro dele, recomeçam os sons, tento<br />

compreendê-los, mas eles são a chuva lateral batendo na casca da<br />

árvore centenária, as flores desprendendo perfume quando toca-<br />

das pelos dedos de água. As cores fulgurantes lutam para serem<br />

escutadas, enquanto as tonalidades sem brilho existem para im-<br />

primir profundidade ao que enxergo, e para criar paisagens que<br />

não conseguem ser enxergadas por mim. As sombras me fazem<br />

perceber o quão minúsculo é meu ponto de vista. Para cada novo<br />

ângulo, contorno, ou luz, há um renovado abrir e fechar de olhos<br />

alheios, que espalham sensações por pulmões, pele e ouvidos.<br />

O respiro obscuro da fera na noite da floresta... são apenas<br />

os pés de uma criatura inatingível, que não cabe em meus pe-<br />

sadelos, e por isso não está sujeita aos dias, e decide derramar<br />

159

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!