"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro
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tudo que se tornará o contrário deles. A morte florescerá para<br />
que resplandeça a vida.<br />
Já enxergo alguma luz tentando romper a barreira maciça<br />
de nuvens noturnas, os escuros envelhecem, o fim das coisas<br />
alterna posições, caminhando de um lado para outro cheio de<br />
impaciência. O riacho começa a perder seu mistério. O sapo se<br />
cala. Reparo em como minhas mãos são brancas, essa constata-<br />
ção me enche de alegria, porque parece que me libertou de toda<br />
contaminação e sujeira. A plenitude passou por aqui, mas pa-<br />
rece que já foi embora, o que sobrou é igual a essa luz noturna<br />
que insiste em não morrer. Mas se isso acontecer, ela promete<br />
voltar logo. Preciso retornar para meu cotidiano raso, mas agora<br />
sabendo que existem esses momentos, onde o espírito iguala-se<br />
ao corpo, ambos ao mundo, e todos eles à vida. A luz desafia a<br />
noite. As tintas escuras perdem o vigor. O ar nunca foi tão fresco,<br />
e qualquer de meus atos tão soberano. Sinto que a independência<br />
acompanha o movimento de minhas juntas, e alegra-me o fato de<br />
ter de responder por eventuais arroubos insanos. Alguma doce<br />
chama bruxuleia nas águas. A noite está mudada.<br />
As cores renascidas carregam recordações. Sou tão jovem.<br />
Começo a sentir frio. Deveria voltar para o castelo. Estou cheia de<br />
sementes... não sei como devem brotar, mas a força do nascimento<br />
dignifica meu corpo, empresta a meus membros uma força desco-<br />
nhecida, mas em mim nasce um dia com todas suas consequências.<br />
As dores são das raízes desenrolando suas teias pelas pos-<br />
sibilidades dos dias. Preciso de pulmões elásticos espalhados<br />
como cavas, e preparados para suportar a força da novidade. De<br />
tanto tentar enxergar encontrei a primeira coroa de raios de luz<br />
vibrando sobre a vegetação, e muito poderia dizer sobre ela, fa-<br />
laria, ou falo, de como as coisas se encaixam e sinto música, e sou<br />
o sol, e depois a poesia e o mundo voltam a ser noite, que ama-