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"CCONFISSÕES DA CONDESSA BEATRIZ DE DIA" (pdf) - guido viaro

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Enquanto ele falava fiquei reparando em como quase não ti-<br />

nha queixo, o pescoço contava muitas camadas de gordura, umas<br />

por cima das outras, e elas só terminavam na boca. Conforme ges-<br />

ticulavam elas se mexiam igual as águas do lago quando a gente<br />

joga uma pedrinha. Em cada lado da boca tinha uma gota de baba<br />

branca que só saía dali no momento em que passava a língua, en-<br />

tre uma frase e outra. Depois fiquei reparando no nariz, na testa,<br />

o rosto parecia uma vela derretida, os olhos eram um rio seco, vi<br />

o caminho por onde passavam as lágrimas e as marcas deixadas<br />

na pele. Ele falava rápido e alto, mexia as mãos, gotinhas de saliva<br />

saltavam de sua boca, o chapeuzinho estranho quase caía de sua<br />

cabeça... mamãe estava pálida, suas pupilas brilhavam, descobri<br />

em seu rosto rugas que nunca percebera, começavam onde nas-<br />

cem os cabelos, desciam pela testa e iam se esconder atrás das ore-<br />

lhas, onde encontrei alguns fios de cabelos brancos.<br />

No dia seguinte, caminhando pelos arredores do castelo,<br />

descobri uma macieira onde os rouxinóis vinham cantar. O ver-<br />

melho das frutas se misturava com o alaranjado do pescoço das<br />

aves... escutei suas vozes, eles falaram do sol, e eu senti que me<br />

transformava no dia... as lembranças ruins ficaram para trás.<br />

Aquilo era música. Um mundo onde o medo não entrava. Os<br />

passarinhos dançavam com os raios de sol, e eu senti que na copa<br />

daquela árvore, era onde morava a vida de verdade. Todo o res-<br />

to, o castelo, os exércitos, as igrejas, as cerimônias reais, tudo isso<br />

não tinha nem um pedaçinho da verdade que tem o rouxinol<br />

cantando e depois tomando banho de sol.<br />

Quando o sol se pôs, resolvi sentar-me aos pés da macieira<br />

para esclarecer umas questões comigo mesma, por que o mun-<br />

do valorizava tanto coisas sem importância e abandonava as que<br />

eram essenciais? Seria só por ignorância? Sei dos prazeres de cor-<br />

rer descalça na relva molhada e depois refrescar-me no riacho, o<br />

sol espera nossa saída das águas pronto para nos secar, a brisa<br />

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