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Entrevista com o presidente da - AMARN

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E no caso <strong>da</strong> minha esposa então, o quê falar? Seria justo<br />

exigir dela que fechasse as portas do seu escritório para se aventurar<br />

fora do local onde já militava há cinco anos quando nos<br />

casamos? E ela iria trabalhar onde se eu mesmo estaria impedido<br />

de julgar os seus processos?<br />

o que o ci<strong>da</strong>dão quer mesmo é um juiz que julgue! isso é<br />

presença para ele! E não um juiz que ande pelas ruas assombrando<br />

os outros <strong>com</strong> o poder que detém. isso é fácil – pensou<br />

dr. Pedro -, o difícil mesmo é finalizar um processo que, por<br />

sinal, pode acontecer de manhã, de tarde ou mesmo à noite, no<br />

fórum ou em outro local, até mesmo em casa, <strong>com</strong>o acontece<br />

cotidianamente <strong>com</strong>igo e meus colegas.<br />

Aliás hoje em dia dá até mesmo para trabalhar em um cyber<br />

café, que de fato será bem mais tranqüilo do que no próprio<br />

fórum onde o juiz é constantemente interrompido.<br />

Dr. Pedro, que a essa altura já estava preocupado e abalado<br />

<strong>com</strong> a situação posta, bastante constrangedora por sinal, acabou<br />

se entregando ain<strong>da</strong> mais à decepção ao passar os olhos no jornal<br />

do dia e ler uma entrevista <strong>com</strong> o Corregedor que por sua<br />

vez <strong>da</strong>va a entender a todos que quisessem ler a matéria que o<br />

juiz hoje em dia só queria mesmo é aproveitar os benefícios <strong>da</strong><br />

carreira deixando de lado suas obrigações para <strong>com</strong> a socie<strong>da</strong>de.<br />

Dr. Pedro é um homem justo e apesar de já estar confortavelmente<br />

trabalhando na Capital e a rigor não estar mais sofrendo<br />

grandes pressões quanto às normas baixa<strong>da</strong>s pelo novo<br />

Corregedor, se preocupava <strong>com</strong> seus colegas que ain<strong>da</strong> estavam<br />

vivendo esta rotina de viagens semanais e divisões de tarefas entre<br />

casa e <strong>com</strong>arca.<br />

E aí então, quase que em topor, se lembrou dos anos que<br />

trabalhou no interior, até horas <strong>da</strong> noite, sem o mínimo de condições<br />

materiais, mas sempre <strong>com</strong> o intuito de oferecer o melhor<br />

aos seus jurisdicionados.<br />

se lembrou <strong>da</strong> cadeira manca que utilizava, <strong>da</strong> iluminação<br />

precária que o servia, <strong>da</strong> falta de funcionários, <strong>da</strong>s vezes que teve<br />

de assumir papel de meirinho, servidor e oficial de justiça, <strong>da</strong><br />

falta de ventilação do gabinete e <strong>da</strong> sala de audiências, <strong>da</strong> falta<br />

de papel, <strong>da</strong> falta de caneta, <strong>da</strong> falta de clips, enfim, <strong>da</strong> falta de<br />

um tudo.<br />

se lembrou também <strong>da</strong>s poucas oportuni<strong>da</strong>des que teve de<br />

se aperfeiçoar enquanto profissional exatamente por estar preocupado<br />

em <strong>da</strong>r impulso aos processos e em pouco se ausentar<br />

<strong>da</strong>s <strong>com</strong>arcas.<br />

se recordou ain<strong>da</strong> de seus colegas dr. Coutinho, dra. Esmera,<br />

dr. Cônego, dr. Paulo Coelho, que ain<strong>da</strong> trabalhavam<br />

no interior, inobstante suas famílias residirem na Capital, todos<br />

pautados pela mesma conduta e agora à mercê de decisões que<br />

por si só, <strong>com</strong>o era de conhecimento de todos, não moralizaria<br />

na<strong>da</strong>.<br />

E logo se perguntou: para quê tanto esforço? Valeu à pena?<br />

Aliás, os magistrados <strong>com</strong>eçaram mesmo é ficar abatidos e<br />

exaustos <strong>com</strong> tamanha pressão.<br />

Essa situação resvalou na produção pessoal de ca<strong>da</strong> um.<br />

Não era para menos. os juizes estavam se sentido humilhados<br />

publicamente <strong>com</strong> as colocações do sr. Corregedor.<br />

Dra. Esmera, mãe de uma menina de 15 anos e de outra<br />

<strong>com</strong> 03 já estava freqüentando médicos psiquiatras face o estress<br />

que a estava assolando.<br />

o marido já não agüentava mais ter de acumular o seu <strong>com</strong>ércio<br />

<strong>com</strong> as responsabili<strong>da</strong>des de casa e já estava pedindo a<br />

separação.<br />

Dra. Esmera, que era uma <strong>da</strong>s magistra<strong>da</strong>s que mais produzia<br />

no Estado, não conseguia há um mês escrever uma única<br />

linha.<br />

Estava atônita.<br />

seus problemas eram pesados e só conseguia lembrar que<br />

há anos cumpria <strong>com</strong> suor e esforço o seu papel e nunca tinha<br />

recebido um elogio sequer.<br />

Para quê tudo isso? Perguntou dr. Pedro. A Corregedoria já<br />

não tinha mecanismos para punir os maus juízes? Então para<br />

quê nivelar por baixo todos nós? Por que não punir os ver<strong>da</strong>deiros<br />

faltosos? Juiz tem que cumprir expediente? Juiz já não<br />

trabalha 24 horas por dia? O seu regime de trabalho já não é o<br />

de dedicação integral? Será que o Sr. Corregedor esqueceu disso<br />

quando foi promovido para Desembargador?<br />

Aliás, pensou o experiente magistrado, se ele morou no interior<br />

todos os anos em que foi juiz é porque isso o satisfazia.<br />

Porque possivelmente sua família pôde a<strong>com</strong>panhá-lo. E, acima<br />

de tudo, é porque deu certo. Mas isso não serve de parâmetro<br />

para todos os demais. uma pessoa não entra para a magistratura<br />

visando unicamente morar no interior. quem quer morar no<br />

interior vai ser fazendeiro, boiadeiro, <strong>com</strong>erciante, qualquer coisa.<br />

Mas quem quer ser juiz quer mesmo é contribuir para a so-<br />

8 Ritos www.amarn.<strong>com</strong>.br

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