educação popular e cerâmica na vila união kathia prujansky ... - UFSC
educação popular e cerâmica na vila união kathia prujansky ... - UFSC
educação popular e cerâmica na vila união kathia prujansky ... - UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Os problemas de saúde <strong>na</strong> comunidade são diversos e numerosos. As doenças mais<br />
freqüentes <strong>na</strong> comunidade são os problemas de pele ou “micose” (25% tem), Infeção (20%<br />
tem), Diarréia (20% tem), e Desidratação (12% tem).44 O meio ambiente reflete<br />
diretamente sobre essas doenças, principalmente a que se refere as doenças de pele, diarréia<br />
e infeção.<br />
Lenir, outra moradora da Vila União vinda de Ca<strong>na</strong>svieiras conta sobre o seu<br />
deslocamento. Nas palavras de Lenir,<br />
“Veio um dia eles apareceram lá, e fizeram, de um dia para o outro,<br />
falaram que iam despejar nós, e é o que fizeram. É assim derepente lá e não<br />
deu tempo. Três ou quatro dias e agente já estava caindo fora de lá. ...E era<br />
assim, si tu não retirasse as coisas, já iam logo passando as maqui<strong>na</strong>s por<br />
cima. É assim! Assim que funcio<strong>na</strong> as coisas. Não é como eles falam, ‘a que<br />
eu vou dar’ e tal. É assim. O juiz da tantos dias, eles não querem saber. Né,<br />
de esperar o pessoal. Se tirou as coisas de dentro, retirou, se não eles logo<br />
vão derrubando, não interessa (...)<br />
Daí nós pegamos e viemos, né, eles chegaram aqui e jogaram. Nós<br />
não tinha casa, né, porque era para ter tido a casa. Se agente soubesse que<br />
ia acontecer isso...Porque o Djalma (marido) ajudou o pessoal a fazer a<br />
casa deles. Só que daí quando chegou a nossa vez, não tinha ninguem.<br />
Ninguem veio ajudar a pregar um prego. Acabou acontecendo que nós não<br />
tinha para onde ir...não tinha agua, não tinha banheiro. Não tinha luz.<br />
Chegamos aqui, eu vim um dia a tarde, já estava no fi<strong>na</strong>l da tarde, eu não<br />
sabia o que eu fazia. Aqui tudo era um poltreiro. Não tinha <strong>na</strong>da...era tudo<br />
um poltreiro. Eles chegaram assim, soltaram, daí não tinha <strong>na</strong>da para<br />
dormir aquela noite. Tem um conhecido nosso que ele é Argentino, ele<br />
pegou e trouxe uma barraca.45 Nós se deitou a dormir dentro da barraca.<br />
Pois é. Não tinha onde dormir. Ficava assim essa barraca, era aquela que<br />
tu entra só para dormir. Tinha um cheiro, fiquei tão mal, tão mal. Fui parar<br />
no hospital, tão mal que eu fiquei. Fiquei tomando remédio vinte dias,<br />
depois não conseguia nem enxergar a barraca. Tinha dia que chegava a<br />
noite, tinha que entrar, e daí para dormir <strong>na</strong> barraca? Um dia deu um<br />
temporal, foi no <strong>na</strong>tal, e a barraca...O Djalma teve que ...deixou tudo,<br />
abandonou a barraca. Daí nós tinha conseguido fazer uma meia agua, mas<br />
não tinha porta, não tinha janela, né. Tinha o chão e algumas paredes e a<br />
coberta. Daí que o único lugar que não chovia, aqui <strong>na</strong> cama assim, de pé,<br />
eu e um outro tio do Djalma, com o Davi (filho recém <strong>na</strong>scido) e a Isabel<br />
(sobrinha ainda bebê), era o único lugar que não chovia. E o resto molhou<br />
tudo. Eu perdi cama, perdi tudo que eu tinha. Que não tinha onde guardar.<br />
44 CASAN. Pesquisa sobre Vila União. (pesquisa desenvolvida por: IGUATEMI Consultoria e Serviços de<br />
Engenharia LTDA.) Projeto PROSANEAR, 2001, p. 17.<br />
45 Lenir chegou a pedir barraca da prefeitura, mas foi negada, com alegações que ela “não precisava”.<br />
35