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educação popular e cerâmica na vila união kathia prujansky ... - UFSC

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Muitos tipos de discrimi<strong>na</strong>ção e preconceito afetam o cotidiano dos moradores da<br />

Vila União estigmatizados como “favelados”. O convívio com os vizinhos fora do conjunto<br />

habitacio<strong>na</strong>l, especialmente no início, foi cheio de situações envolvendo o preconceito.<br />

Lenir, moradora da Vila União desde 1995 conta como o preconceito causava situações<br />

constrangedoras e injustas. Diz Lenir,<br />

“Foi muito sofrido. Até hoje é. Mas hoje é de outra maneira, agora. Já<br />

acostumados. Foi horrível. Não tinha um lugar onde comprar um pão. Nós<br />

ia <strong>na</strong> venda de lá e o velho não vendia. Quando nós chegava, dizia ‘você é<br />

lá da favela’ e não vendia o pão... Preconceito, né.”56<br />

Interessante, então, parar e pensar no significado de “favela”. Que significados reais<br />

carregam um termo como esse, e que significados fictícios são evocados quando falamos<br />

em “favela”? Mesmo quando o fator objetivo das casas, e talvez de seus materiais, são<br />

alterados e um conjunto habitacio<strong>na</strong>l criado, a idéia de favelado e favela, e todas suas<br />

conotações negativas, continuam prevalecendo.<br />

Nessa busca de compreender a favela e seus significados sociais, podemos entender<br />

melhor o tipo de discrimi<strong>na</strong>ção que ocorre com os moradores da Vila União, que apesar de<br />

não mais viverem em favelas ainda carregam o estigma de “favelados”57. Maristela Fantin,<br />

em seu livro Desenhando Cidadania e Dignidade, discute esse olhar preconceituoso da<br />

cidade sobre a chamada “favela”. Diz Fantin,<br />

“Por lidar com um ambiente próprio de uma favela, estamos carregados de<br />

um forte preconceito tanto no que diz respeito à realidade do sujeito pobre,<br />

margi<strong>na</strong>l, coitado, desprovido dos bens econômicos como também daquele<br />

desprovido da capacidade de sujeito político, cultural, com sabedoria. O<br />

preconceito faz confundir o pobre com o “ignorante”, sem “cultura” e com<br />

baixo nível de escolaridade. Este talvez seja o mais sólido preceito do<br />

autoritarismo que caracteriza a sociedade brasileira.”58<br />

56 Entrevista com Lenir da Luz Johann Corrêa. Vila União. 2001. Moradora da Vila União e participante do<br />

Grupo de Cerâmica da Vila União.<br />

57 É bom ressaltar que alguns nunca viveram em favelas, mas em comunidades. Talvez os outros de fora<br />

consideravam suas casas favelas, mas em seu próprio olhar, viviam em casas dig<strong>na</strong>s.<br />

58 FANTIN, Maristela. Construindo Cidadania e Dignidade: Experiências <strong>popular</strong>es de <strong>educação</strong> e<br />

organização no Morro do Horácio. Florianópolis: Insular, 1997. Pági<strong>na</strong> 47.<br />

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