1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp
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ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DOS</strong> LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
“no discurso da crítica feminista e da crítica cultural influenciadas pela psicanálise têm-se<br />
destacado os processos inconscientes de formação da subjetividade, colocando-se em questão,<br />
assim, as concepções racionalistas de sujeito”(2000, p. 103).<br />
Desse modo, a explosão da Literatura de autoria feminina pode ser entendida como<br />
um movimento de transgressão ao cânone imposto pelo sistema falocêntrico e está inserida no<br />
contexto histórico-cultural dos anos 60 com a eclosão do Multiculturalismo. De fato, a partir<br />
dessa década, houve uma ampla revolução cultural não somente da literatura feminina , mas de<br />
todas as culturas marginalizadas como a dos negros, dos índios, dos homossexuais, e a dos<br />
países de terceiro mundo. Esses movimentos “assumiram a retórica da ruptura, investindo na<br />
derrubada de hierarquias” (CUNHA, 1999, p. 17).<br />
Prolifera, então, no contexto mundial, uma literatura de autoria feminina que começa a<br />
questionar, de forma basta incisiva, valores até então inquestionáveis como a dependência e a<br />
submissão feminina ao jugo patriarcal bem como o valor de instituições seculares como a igreja,<br />
o casamento e a família que sempre limitaram a mulher ao domínio do lar.<br />
Segundo Nelly Novaes Coelho (CUNHA, 1999, p.11), “em todos os continentes, das<br />
Américas à Ásia, a crescente produção literária feminina revela um discurso-em-crise, que tem<br />
raízes nas profundas mudanças estruturais em processo no mundo”. Esse discurso-em-crise se<br />
manifesta numa escrita confusa que se constitui mais por negações, dúvidas, indagações do<br />
que por dar respostas e certezas a um cânone.<br />
Para a ensaísta norte-americana Elaine Showalter, “a escrita feminina pode ser lida<br />
como um discurso de duas vozes que contém uma história dominante e outra silenciada”. (1994,<br />
p. 47). Contudo, apesar do amplo desenvolvimento tanto dos estudos de crítica feminina quanto<br />
da crescente produção literária de autoria feminina, somente a partir dos anos 70 e 80, que o<br />
termo “feminismo” começa a se livrar da carga semântica pejorativa que lhe foi impingido pela<br />
tradição patriarcal.<br />
Desse modo, a partir da década de 70, com o boom da literatura de autoria feminina no<br />
Brasil, destacam-se escritoras que criam personagens emblemáticas da situação de<br />
inferioridade, submissão e busca de identidade vivenciada pelas mulheres. A professora Helena<br />
Parente Cunha, organizadora de uma importante obra que analisa a escrita de várias mulheres<br />
brasileiras, ressalta que as narrativas “focalizam personagens capazes de avaliar o estereótipo<br />
em que foram inscritas e, dispostas a se desvencilharem das máscaras e dos papéis<br />
impingidos, perguntam-se pela própria identidade” (1999, p. 18).<br />
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