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1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp

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ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DOS</strong> LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />

Baseando-se nos estudos de Elaine Showalter, a pesquisadora brasileira Elódia Xavier<br />

(2002) divide a ampla produção literária feminina brasileira em três fases. A primeira<br />

denominada de a fase feminina inicia-se em 1859 com a publicação do romance Úrsula, de<br />

Maria Firmino dos Reis, e iria até 1944 com a publicação da desconcertante obra Perto do<br />

Coração Selvagem, de Clarice Lispector. Nessa fase, as obras ainda reproduzem os moldes<br />

masculinos de escrita e as heroínas ainda se encontram submissas ao modelo patriarcal. A fase<br />

feminista, que inclui autoras de destaque nas letras brasileiras como, entre outras, Clarice<br />

Lispector, Lygia Fagundes Telles, Marina Colasanti, Márcia Denser, Lya Luft e Sônia Coutinho,<br />

abrange o período de 1944 a 1990, com obras extremamente questionadoras das ideologias e<br />

pensamentos no sentido de desconstruir os estereótipos enraizados na sociedade, constituindo-<br />

se os textos literários como protestos contra os valores vigentes. Já a última fase, a fase fêmea,<br />

que abrange o período dos últimos vinte anos, é representada por obras literárias capazes de<br />

transcender o universo estritamente feminino ao discutir temas existenciais e universais como<br />

atestam os prosaicos poemas de Adélia Prado e as narrativas perturbadoras de Nélida Piñon.<br />

Nesse sentido, nas obras da ficcionista baiana Sônia Coutinho predominam<br />

personagens que rompem com o padrão de vida burguês, vivem sozinhas, mas pagam um preço<br />

por suas escolhas. São mulheres independentes, inteligentes, cultas, liberadas sexualmente,<br />

mas que vivem em constantes crises de identidade e busca de completude.<br />

As protagonistas Madalena de “Hipólito”, Lola, do conto “A aventureira Lola” e Mary<br />

Batson de “O dia em que Mary Batson fez quarenta anos” e “Reflexões sobre a (in)existência de<br />

papai Noel” que integram a coletânea O último verão em Copacabana, de 1981, são mulheres<br />

entre os 30 e 40 anos, de classe média, de nível educacional e cultural acima da média e<br />

independentes financeiramente, portanto tudo leva a crer que estariam livres do jugo social.<br />

Contudo, a dependência emocional é bastante acentuada, levando-as à angústia, à solidão e<br />

ao vazio existencial.<br />

Nos quatro contos analisados, as protagonistas moram sozinhas em Copacabana, mas<br />

vieram de cidades interioranas, tiveram problemas com pais repressores na infância e<br />

apresentam carências profundas. São narrativas fragmentadas e labirínticas que mostram as<br />

contradições da condição feminina cindida entre a liberdade e a solidão uma vez que a<br />

emancipação financeira não levou a desejada independência psicológica e emocional. Densas e<br />

mutantes, são mulheres que necessitam da presença masculina como forma de se protegerem<br />

do mundo caótico que as envolve.<br />

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