1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp
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ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DOS</strong> LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />
Lola, por sua vez, varia do chope ao conhaque ou uísque ao lembrar dos momentos<br />
que passou com algum ex-marido. O álcool surge nos momentos de solidão e nostalgia da<br />
protagonista, evidenciando o sentimento de vazio existencial, deslocamento e consumismo<br />
frívolo:<br />
E então se pode beber com mais gosto, substituindo o chope habitual se não propriamente<br />
por um conhaque – como aquele Martell que ela costumava consumir, em companhia do<br />
Quarto Marido, num café de Boulevard Saint- Michel, três anos atrás, a espiar através dos<br />
vidros o denso nevoeiro parisiense – por um uísque puro mesmo. (UVC, p. 32)<br />
Já Mary Batson. que sonhava ter os superpoderes atribuídos pelas deusas da<br />
mitologia greco-romana à heroína Mary Marvel, demonstra toda a sua vulnerabilidade ao<br />
admitir que consome álcool praticamente todos os dias:<br />
Mary foi à geladeira, pegou uma latinha de cerveja, despejou no copo. Cada dia bebia mais<br />
cervejinhas? E daí? Não era bom? Bebeu devagarinho e, antes de bater a porta e descer<br />
para ir à biblioteca em que trabalhava na parte da manhã, repassou o que, provavelmente,<br />
seria o seu dia. (UVC, 82)<br />
Dessa forma, todos os contos analisados representam a insatisfação feminina nos<br />
anos 80 e a sua (im)possível busca de ultrapassagem à margem. As atividades de análise,<br />
presente em todos os contos da coletânea e o consumo recorrente do álcool, apensas<br />
evidenciam os percalços a percorrer e a busca incessante por autocompreensão, mas não<br />
respondem às questões mais profundas e latentes dessas personagens que se descobriram no<br />
recalque, na repressão, na dor e na busca por liberdade e identidade.<br />
Segundo Laura Silveira de Paula (in CUNHA, 1999, p. 92), Sônia Coutinho é uma<br />
autora “capaz de mergulhar em abismos de interioridade existencial.” Assim, como representante<br />
da fase feminista da literatura de autoria feminina brasileira, ao estruturar suas obras em torno<br />
das relações desiguais de gênero, ela mostra nas diversas personagens femininas de seus<br />
contos a maestria de quem conhece seus conflitos, seus anseios e suas buscas.<br />
Referências bibliográficas<br />
CHIAMPI, Irlemar. O romance latino-americano do pós-boom se apropria dos gêneros da cultura<br />
de massa. Revista de Literatura Comparada. v. 3. nº3. 1996.<br />
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