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1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp

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ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DOS</strong> LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />

Nesse sentido, Jair Ferreira dos Santos argumenta que há na contemporaneidade um<br />

movimento de deserção social pela desmobilização do individualismo narcisista pós-moderno<br />

que tende ao descompromisso e à descrença nas instituições. Dessa forma, a deserção política<br />

marcada pela evasão dos eleitores e o êxito nas urnas de “políticos palhaços” nas últimas<br />

eleições brasileiras, bem como a deserção familiar com cada vez mais pessoas morando<br />

sozinhas e a falta de vínculos afetivos com familiares constituem-se como o inquietante ônus da<br />

derrocada do mundo patriarcal, da emancipação feminina e da liberalização sexual de nossos<br />

dias:<br />

O lar afunda. No lugar da família, guardiã moral, apoio psicológico, a pós-modernidade<br />

propõe ligações abertas, tipo amizade colorida. [...] O rei pênis e seus dois assessores<br />

impõem menos o sexo genital ante a vaga homossexual ou transexual em ascensão. Moral<br />

branda, amor descontraído. (1986, pp. 93-4).<br />

É justamente isso que causa tantos conflitos à personagem Madalena, protagonista-<br />

narradora do conto “Hipólito”, que mora em um pequeno apartamento em Copacabana que ela<br />

define como “redoma”. Divorciada de um marido e viúva de outro, é professora de música e<br />

trabalha em um conservatório, onde conhece o enigmático Hipólito. Com ele inicia um<br />

relacionamento no qual espera sanar suas profundas carências afetivas, mas ele, ao perceber<br />

que ela estava se envolvendo demais, acaba por romper o relacionamento, propondo que<br />

fossem apenas amigos:<br />

Quando me fez sofrer, eu o chamei de Hipólito – pois Hipólito era frio, enquanto Fedra, a<br />

besta apaixonada, se consumia em seu ardor. “Eu te amo”, declarei certa noite. “Estou<br />

apaixonada por você”. Cheio de medo, ele bradou: “Vamos ser amigos. Eu te ofereço minha<br />

amizade fraterna”. (UVC, p. 26).<br />

Sentindo-se sozinha e deprimida, nas atividades de análise com o Dr. Klaus, Madalena<br />

busca compreender a si mesma e reencontrar sua identidade fragmentada:<br />

(Quem sou eu afinal, Dr. Klaus – tenho interrogado meu psicanalista. Sim, quem sou eu,<br />

para além dos simples dados contidos na carteira de identidade: um nome, um endereço,<br />

uma profissão. Pois não parece estar realmente na pele dessa mulher madura e ainda bela<br />

que observo no espelho com estranheza. Separada de um marido, viúva de outro, alguns<br />

casos notórios já encerrados; sem filhos, parentes mortos, ganhando o próprio sustento.<br />

Serei eu, Dr. Klaus? (UVC, p. 23-4)<br />

Contudo, se o espelho reflete apenas a estranheza com que ela se vê e a psicanálise<br />

não aponta uma solução satisfatória aos seus conflitos existenciais, a resposta parece vir do<br />

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