15.04.2013 Views

1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp

1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp

1 A REPRESENTAÇÃO DOS CONFLITOS FEMININOS ... - Unesp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ANAIS DO X SEL – SEMINÁRIO DE ESTU<strong>DOS</strong> LITERÁRIOS: “Cultura e Representação”<br />

diálogo com um amigo, quando este lhe pergunta o que ela faz com tanta liberdade, ela<br />

responde angustiada: “Você deveria perguntar o que faço com tanto solidão” (UVC, p. 23). Esse<br />

diálogo mostra a mais cruel faceta da liberação feminina, após os movimentos culturais dos anos<br />

60, ou seja, a emancipação trouxe independência financeira, mas também desamparo às<br />

mulheres. Ao ruírem as instituições sagradas da sociedade ocidental como o casamento e a<br />

família, as mulheres deixaram de ter um porto seguro.<br />

Já Lola, a aventureira de nome genérico, protagonista do conto “Aventureira Lola”, é<br />

assim como Madalena, uma mulher independente, bonita, culta, um pouco frívola, divorciada de<br />

cinco maridos, fez viagens ao exterior, mas sofre por causa de um telefone que não toca, numa<br />

“árida tarde de domingo em Copacabana, embora ele tivesse dito que telefonaria” (UVC, p. 23).<br />

Enquanto espera ansiosamente que o seu novo amante lhe telefone, ela começa a refletir sobre<br />

fatos de sua vida.<br />

Lola , assim como muitas personagens femininas da década de 80, é independente<br />

economicamente, liberada sexualmente, mas não consegue desvencilhar-se da carência<br />

emocional que a atinge irremediavelmente. Isso mostra, conforme dito anteriormente, que a<br />

independência feminina econômica não levou à emancipação emocional e que a busca por um<br />

homem ainda é o objetivo primordial dessas personagens: “Ah, agora todo mundo pensa que ela<br />

é uma Mulher Independente e Emancipada, quando não passa, ahn, de uma pequena criatura<br />

solitária e sofrida, marcada por tantas Carências Afetivas Insanáveis” (UVC, p.33). Nas sessões<br />

de análise com o Dr. Klaus – figura recorrente nos contos de Sônia Coutinho – ela analisa suas<br />

frustrações e constante insatisfação pela ótica “da rejeição dos pais, na infância e de tantos<br />

Amores Fracassados” (UVC, p. 34).<br />

O espelho, metáfora recorrente na literatura feminina contemporânea, que remete à<br />

busca pela identidade, confirma o que as sessões de análise indicam e representa o modo como<br />

Lola se vê: “Portanto se levanta agora e vai confirmar a declaração do espelho do banheiro, em<br />

que reencontra – sim, a Mulher como um Passado, esta Mulher Sofrida, um tanto frívola, é claro,<br />

mas só um tantinho”. (UVC, p. 37).<br />

Já a escritora Mary Batson aparece como protagonista-narradora de dois contos<br />

extremamente perturbadores: “O dia em que Mary Batson fez 40 anos” e “Reflexões sobre a<br />

(in)existência de papai Noel”. O primeiro conto mostra a protagonista no dia de seu aniversário<br />

de 40 anos, sentindo-se solitária e desamparada, com todos os sonhos fracassados. Mesmo<br />

procurando viver um dia normal indo à praia e depois ao trabalho numa biblioteca pública, Mary<br />

6

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!