15.04.2013 Views

[1º Ano] Platão - Fedro - Charlezine

[1º Ano] Platão - Fedro - Charlezine

[1º Ano] Platão - Fedro - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

celebra os seus mistérios. Os companheiros de Zeus buscam alguém que tenha alma<br />

semelhante a Zeus. Avaliam se ele tem viés de filósofo e de chefe, e quando encontram<br />

o que desejavam, tudo fazem para nele desenvolver os dons desse deus. Se antes não<br />

viviam sob o signo desse deus, agora dedicam-se inteiramente a cultivar as qualidades<br />

do deus e muito trabalham para aperfeiçoá-las pelo ensino, com toda energia. Outros<br />

procuram descobrir em si o caráter do seu deus e, se o conseguem, a isso se entregam.<br />

Quando o conseguem apanhar pela lembrança, são tomados de entusiasmo e põem-se a<br />

imitar, tanto quanto é possível ao homem, os hábitos e costumes divinos. Considerando<br />

o amado como causa desse fado, passam a amá-lo ainda mais.<br />

Se tiram o seu alimento de Zeus, como as Bacantes, eles o espalham sobre a alma do<br />

objeto amado e a fazem tanto quanto possível semelhante à do seu deus. Os seguidores<br />

de Hera procuram alguém que possua qualidades régias e, encontrando-o, também em<br />

tudo se comportam como reis. Os seguidores de Apolo e de cada um dos outros deuses<br />

também regulam seu procedimento conforme o deus a quem seguiram. Imitam-no,<br />

persuadem os amantes, convencendo-os e conformando-os ao costume e exemplo dos<br />

seus deuses.<br />

Em vez de sentirem inveja do amado, esses amantes fazem tudo para tornar os seus<br />

amados semelhantes a eles mesmos ou aos deuses que adoram. É desse zelo que estão<br />

animados os verdadeiros amantes. Se conseguem que o amado divida com eles o mesmo<br />

interesse, o mesmo amor, a sua vitória é, ao mesmo tempo, uma iniciação. O amado que<br />

se deixa conquistar por um amante que delira assim, entrega-se a uma nobre paixão que<br />

será, para ele, uma fonte de felicidades. É assim que tem lugar também desse modo.<br />

As alternativas do amor<br />

No princípio do mito dividi cada alma em três partes, sendo dois cavalos, e a terceira,<br />

o cocheiro. Assim devemos continuar. Dissemos que um dos cavalos é bom e o outro<br />

não. Esclareçamos agora qual é a virtude do bom e a maldade do outro.<br />

O cavalo bom tem o corpo harmonioso e bonito; pescoço altivo, focinho curvo, cor<br />

branca, olhos pretos; ama a honestidade e é dotado de sobriedade e pudor, amigo como<br />

é da opinião certa. Não deve ser fustigado e sim dirigido apenas pelo comando e pela<br />

palavra. O outro - o mau - é torto e disforme; segue o caminho sem firmeza; com o<br />

pescoço baixo, tem um focinho achatado e a sua cor é preta; seus olhos de coruja são<br />

estriados de sangue; é amigo da soberba e da lascívia; tem as orelhas cobertas de pelos.<br />

Obedece apenas - a contragosto - ao chicote e ao açoite.<br />

Quando o cocheiro vê algo amável, essa visão lhe aquece a alma, enchendo-a de<br />

pruridos e desejos. O cavalo obediente ao guia, como sempre, obedece e a si mesmo se<br />

refreia. Mas o outro não respeita o freio nem o chicote do condutor. Aos corcovos,<br />

move-se à força, embaraçando ao mesmo tempo o guia e o outro cavalo; obriga-os por<br />

fim a entregarem-se à volúpia. Os dois a princípio resistem, ficam furiosos, como se<br />

fossem coagidos a praticar um ato mau e imoral, mas acabam por se deixar levar e<br />

concordam em fazer o que manda o mau cavalo. E eles se dirigem ao amado para gozar<br />

de sua presença, que brilha ofuscante como um relâmpago.<br />

Quando o cocheiro vê o ser amado, a lembrança o reconduz para a essência da<br />

beleza. Este a revê no santo pedestal, ao lado da sabedoria, e ele se assusta, teme, e<br />

necessariamente puxa o freio. E com tal violência o retrai que ambos os cavalos recuam;<br />

o bom, voluntariamente e sem resistência; o ruim, entretanto, a contragosto. Afastam-se<br />

ambos do amado. Enquanto um, pela vergonha, banha de suor a alma, o outro, passada a<br />

dor causada pelo freio e pela queda, arfa ruidosamente, enraivece-se e luta com o<br />

condutor e o companheiro por terem abandonado o acordo por covardia e inépcia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!