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[1º Ano] Platão - Fedro - Charlezine

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outros, transmitindo-lhes os conhecimentos que mencionei” - que supões tu que<br />

responderiam eles?<br />

FEDRO: - De que modo poderiam responder, senão perguntando se ele também<br />

sabia a que pessoas devia aplicar esses tratamentos e quando e durante quanto tempo?<br />

SÓCRATES: - Mas que diriam os médicos se esse homem respondesse: isso não sei,<br />

mas exijo que os meus alunos sejam capazes de determinar por si mesmos o modo de<br />

aplicação desses tratamentos.<br />

FEDRO: - Creio que os médicos o considerariam louco, por julgar que se tornou<br />

médico depois de haver estudado essas coisas num livrinho ou descoberto por acaso<br />

alguns remédios, embora realmente nada conheça sobre medicina.<br />

SÓCRATES: - E se alguém viesse ter com Sófocles e Eurípides, dizendo-se capaz de<br />

fazer longos discursos em verso sobre pequenos fatos, ou pequenos poemas sobre<br />

grandes coisas, compor à vontade poemas que despertem compaixão ou medo, poemas<br />

ameaçadores e muitas outras coisas desse gênero? Se um homem desses afirmasse estar<br />

convencido de que ensina a arte de fazer tragédias transmitindo tais conhecimentos a<br />

outras pessoas?<br />

FEDRO: - Também esses luminares escarneceriam, segundo penso, de quem<br />

acreditasse que compor uma tragédia nada mais é que ajuntar tais veros de modo que se<br />

encaixem uns nos outros, formando assim um todo orgânico.<br />

SÓCRATES: - Creio, entretanto, que não os brindariam com ofensas grosseiras.<br />

Também um músico que encontrasse por acaso um homem convencido de ter<br />

competência na arte da harmonia, só porque aprendeu a afinar uma corda para obter a<br />

nota mais aguda e a mais grave - também esse não lhe falaria com rudeza, exclamando:<br />

“Palerma, tu não regulas bem da bola!” Admoestá-lo-ia com brandura, deste modo:<br />

“Meu caro amigo, quem quer tornar-se músico deve saber também isso, mas alguém<br />

que tenha a tua habilidade pode ser que ignore completamente a teoria da harmonia; tu<br />

tens os conhecimentos preliminares necessários para aprender essa teoria, mas quanto à<br />

teoria da harmonia, tu não a conheces.”<br />

FEDRO: - Exatamente.<br />

SÓCRATES: - Com certeza, também Sófocles assim diria ao homem que lhe viesse<br />

mostrar os seus trabalhos. Diria que tais coisas são os preliminares da tragédia, mas não<br />

a arte trágica propriamente dita; e Acumeno responderia ao outro que os seus<br />

conhecimentos são tão só preparatórios da medicina, mas não a medicina.<br />

FEDRO: - De pleno acordo.<br />

SÓCRATES: - E que mais? Que pensaremos de Adrasto, cujos discursos são doces<br />

como o mel? E de Péricles? Se eles ouvissem o que nós dissemos há pouco sobre as<br />

belas regras, a grandeza do discurso, as imagens de que convém orná-lo e as outras<br />

coisas que resolvemos trazer à luz, falariam com pouca delicadeza, assim como nós aos<br />

que escreveram tais regras e as ensinaram oralmente? Pronunciariam eles uma palavra<br />

rude ou grosseira contra os que chamam a isso retórica? Ou, sendo mais inteligentes,<br />

diriam: “Caro <strong>Fedro</strong> e caro Sócrates! Não se deve blasfemar, mas perdoar, se alguns que<br />

não sabem pensar não souberem definir o que é retórica; esses homens, pela sua falta de<br />

discernimento, só adquiriram o saber introdutório indispensável a essa arte, e acreditam<br />

ter aprendido a própria retórica; ensinam esse saber a outros e julgam poder formar<br />

oradores perfeitos, achando que os seus pupilos devem tentar falar sobre qualquer coisa<br />

de modo convincente e compor um todo orgânico nos seus discursos, como se nisso não<br />

houvesse dificuldade alguma”.<br />

FEDRO: - Sim, caro Sócrates, parece ser mais ou menos essa a arte que os homem<br />

de quem falaste ensinam como sendo a retórica, e sobre a qual escrevem livros

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