[1º Ano] Platão - Fedro - Charlezine
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grande bizantino, o Dédalo dos discursos, fala também numa confirmação e numa pósconfirmação.<br />
FEDRO: - Refere-se ao grande Teodoro?<br />
SÓCRATES: - Justamente. E ele também afirmou que o orador que faz uma<br />
acusação ou uma defesa deve apresentar uma refutação e uma pós-refutação. Não<br />
deixemos tampouco de mencionar o admirável Eveno de Paros, que inventou a alusão e<br />
os elogios acrescentados. Há quem diga que ele se refere também à “censura<br />
acrescentada”, falando ritmicamente para ajudar a memória. Como Eveno é sábio! Mas<br />
deixaremos de lado Tísias e Górgias? Esses descobriram que o provável deve ser mais<br />
respeitado que o verdadeiro, e chegaram até a provar, pela força da palavra, que as<br />
coisas miúdas são grandes e que as grandes são pequenas, que o novo é antigo e que o<br />
velho é novo. Mostraram finalmente como se fala com poucas palavras e como se pode<br />
pronunciar um discurso de tamanho infinito. Quando contei isso a Pródico, o grande<br />
orador riu e afirmou que ele estava de posse do melhor método da arte retórica. É<br />
mister, segundo ele, evitar a concisão e a prolixidade; o que se deve fazer é ficar sempre<br />
nos limites convenientes.<br />
FEDRO: - Falou com muita sabedoria, Pródico!<br />
SÓCRATES: - E não mencionaremos Hípias? Creio que até o amigo eleata concorda<br />
com ele.<br />
FEDRO: - Como não?<br />
SÓCRATES: - E que diremos das regras retóricas de Polos? Ele fala em<br />
consonância, em repetições, em abuso de provérbios, alegorias, e demais termos<br />
recolhidos nas lições de Licínio, que o ensinaram a fazer belos discursos.<br />
FEDRO: - E Protágoras, caro Sócrates? Não formulou também regras semelhantes?<br />
SÓCRATES: - Sim, meu rapaz. Protágoras era notável pela habilidade no falar e<br />
ainda por outras qualidades. Mas quanto à arte de suscitar piedade em favor da velhice e<br />
da pobreza - ninguém ultrapassou nesse ponto o eloquente Calcedônio, pois a todos<br />
levou a palma. Sabia despertar a ira dos ouvintes para depois acalmá-los com suas<br />
fórmulas mágicas, como dizia ele. Tinha o talento de caluniar e desfazer as calúnias que<br />
tivessem sido levantadas.<br />
Quanto ao fim do discurso, alguns o chamam “peroração” e outros lhe dão outros<br />
nomes, mas a mim se afigura ser um simples amontoado de frases.<br />
FEDRO: - Tu te referes à recapitulação final, em que os ouvintes são lembrados de<br />
tudo que se disse.<br />
SÓCRATES: - Isso mesmo. Mas talvez possas dizer mais alguma coisa sobre a arte<br />
retórica.<br />
FEDRO: - Além do que dissemos, só sei coisas sem importância. Não vale a pena<br />
falar nelas.<br />
SÓCRATES: - Deixaremos de lado as coisas sem importância, e traremos à luz outra<br />
questão: que poder resulta do exercício dessa arte e em que ocasiões ele se revela?<br />
FEDRO: - Esse poder é imenso, Sócrates, sobretudo nas grandes aglomerações<br />
populares.<br />
SÓCRATES: - É verdade. Mas, meu divino amigo, reflete e dize-me se o tecido que<br />
ali tecem te parece tão frouxo quanto a mim.<br />
FEDRO: - Explica-te!<br />
SÓCRATES: - Ouve: se alguém viesse procurar teu amigo Erixímaco ou o pai dele,<br />
Acumeno, e lhes dissesse: “eu sei fazer muitas coisas com o organismo de um homem;<br />
sou capaz de fazer com que ele transpire ou sinta frio, sei provocar võmitos quando isso<br />
me parece oportuno e obrigá-lo a evacuar quando quero; sei fazer muitas outras coisas<br />
desse gênero, e por isso acho que sou médico e julgo-me capaz de ensinar a medicina a